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Bad boys, bad men: confronting antisocial personality disorder

Livro

Bad boys, bad men: confronting antisocial personality disorder

Donald Black. Nova York (EUA): Oxford University Press, 1999. 240 páginas.

O autor traça uma visão panorâmica sobre os portadores de transtorno anti-social da personalidade (TASP), que é assim definido pelo DSM-IV: "é um padrão de menosprezo por violação do direito dos outros".

Todas as vertentes do TASP são comentadas e analisadas: a família, a adolescência, os sintomas, a aceitação ou não do diagnóstico e as causas que levam ao TASP.

É interessante que tais causas são denominadas de "as sementes do desespero" (seeds of dispair), e realmente os acontecimentos no decorrer da existência de um portador de TASP são um desenrolar de aflições, de mágoas, de agressividade, enfim, de atos desesperados que afetam não só ele mesmo mas também os familiares que o cercam e, por vezes, a sociedade como um todo.

Vários exemplos de indivíduos diagnosticados com TASP foram descritos no livro, inclusive um caso que melhorou com o passar do tempo. Este é muito importante, porque é uma demonstração de que não se pode ter uma atitude negativa ou niilista perante os transtornos da personalidade em geral e, em especial, perante os TASP. Sim, o livro demonstra que é possível vislumbrar uma terapêutica e ajudá-los. Inclusive, no capítulo em que trata da inter-relação entre a família e o TASP, ele coloca uma série de regras ou conselhos para o TASP.

As dificuldades inerentes ao contato com tais indivíduos são cabalmente demonstradas no decorrer da leitura, e isto decorre do alto grau de periculosidade que envolvem os relacionamentos entre os pesquisadores e os entrevistados. Dificuldades estas decorrentes do contato com um psiquismo cujos padrões éticos não estão bem constituídos.

Na universidade onde trabalha o autor, há um hospital especializado onde os pacientes com TASP são internados e estudados (University of Iowa's Psychopathic Hospital). A meu ver, para que pesquisas possam ser realizadas, tal unidade hospitalar é imprescindível.

Os capítulos se sucedem de forma a termos uma progressiva idéia das problemáticas atitudes do TASP, sem envolvimento com as leis e a justiça. São descritas as vivências nos limites da vida social normal, os roubos, a agressividade, a impulsividade.

O relacionamento com a família, o papel que a família deve exercer, a responsabilidade dos pais são destacados em capítulo especial.

O autor estuda o diagnóstico, sua aceitação pelo indivíduo ou pelos familiares, pois é interessante notar que nem todos o aceitam, e mesmo os familiares têm dificuldade em compreender as atitudes anti-sociais como alterações da personalidade que necessitam de tratamento.

Os pacientes com TASP homicidas são descritos e estudados, salientando-se, porém, que nem todos os portadores de transtorno anti-social praticam o homicídio.

Em relação ao diagnóstico, coloca o autor que não há necessidade de exames subsidiários, e sim de uma história clínica muito bem-feita, e que devemos nos esmerar para que o contato com o entrevistado seja o melhor possível.

Alguns mitos que cercam os TASP são expostos, como por exemplo:

• os TASP não existem;

• pessoas com TASP não melhoram;

• anti-social é outro termo para criminoso;

Não, não devemos nos ater a tais conceitos errôneos, e sim procurar encarar a problemática gerada por tais indivíduos com competência e realismo.

Os conhecimentos, a vivência e a erudição do autor são evidentes, mas gostaríamos de conhecer a opinião dele sobre os TASP em outras culturas que não a ocidental.

Sérgio Paulo Rigonatti

Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas Faculdade de Medicina da USP

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Mar 2002
  • Data do Fascículo
    Dez 2001
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