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Intervenção psicoeducacional nos transtornos do humor: a experiência do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas (GRUDA)

CARTAS AOS EDITORES

Intervenção psicoeducacional nos transtornos do humor: a experiência do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas (GRUDA)

Sr. Editor,

A eficácia da farmacoterapia do transtorno bipolar já está bem documentada. Entretanto, fatores psicossociais contribuem em 25 a 30% das alterações no curso da doença,1 influenciando a recuperação social e funcional e comprometendo sua qualidade de vida. Entre as abordagens psicológicas estudadas, a intervenção psicoeducacional foi a que encontrou maior suporte de estudos controlados.2-3 Os estudos realizados, porém, utilizam grupos fechados de pacientes e não há estudos sobre a eficácia desta intervenção quando ela é oferecida a grupos abertos, com maior número de participantes e, portanto, mais adequados à realidade brasileira. Iniciamos o estudo e a implantação de intervenções psicoeducacionais em 1997.4 Em função da demanda por intervenções psicológicas integradas ao tratamento farmacológico, em 2002, as intervenções psicoeducacionais foram reestruturadas para o formato de encontros abertos, abrangendo, assim, maior número de pessoas. Os temas abordados foram escolhidos através de pesquisa acerca das principais dúvidas sobre o transtorno. Realizamos 10 encontros, com o seguinte formato: 30 minutos para a exposição do tema, 30 minutos para depoimentos e 1 hora para a discussão geral. Cada encontro reuniu, em média, 80 participantes novos, totalizando, aproximadamente, 800 participantes ao ano. Mais da metade (60%) retornou aos demais encontros, favorecendo a constância da maioria do grupo e indicando, de maneira indireta, os efeitos positivos alcançados.

A utilização de encontros psicoeducacionais em grupos abertos é uma experiência inédita e na literatura nacional não encontramos outros trabalhos. A medida de efetividade deste tipo de intervenção ainda precisa ser estabelecida. Por isso, os resultados encontrados são pouco objetivos, mas as conclusões tiradas podem ser assim resumidas: 1) os depoimentos e a discussão geral foram especialmente importantes para o caráter psicoeducativo desta intervenção; 2) as trocas de experiências estimularam a aquisição de habilidades em prevenir recorrências ou prejuízos psicossociais acarretados pela doença; 3) a linguagem clara e objetiva das palestras esclareceu dúvidas quanto ao caráter crônico da doença e o tratamento, diminuindo preconceitos e favorecendo a aderência. A organização dos encontros deve ser feita por uma equipe multiprofissional (psiquiatras, psicólogos e outros profissionais), coesa e treinada para lidar com grupos grandes de pessoas. A troca espontânea de experiências deve ser incentivada e, para isso, é importante criar, por um lado, um ambiente não crítico e sim de aceitação e, por outro, o estabelecimento de limites claros que restrinjam inadequações (freqüentes, em se tratando de bipolares nem sempre estáveis), principalmente com relação ao tempo utilizado e natureza da colocação pessoal.

A principal conclusão deste trabalho é que, além dos benefícios já conhecidos de intervenções psicoeducacionais associadas ao tratamento de bipolares, é possível adequar esta abordagem a grupos grandes e abertos que incluam pacientes, familiares e interessados no tema. Apesar da falta de medidas de avaliação para este tipo de experiência, este é, sem dúvida, um método de fácil aplicação, de baixo custo e de ampla abrangência, e deveria ser mais estimulado, particularmente em centros de assistência pública aonde o acesso a intervenções psicológicas individuais ou de grupo são mais difíceis.

Mireia C Roso, Ricardo A Moreno,

Elisabeth M Sene Costa

Grupo de Estudos de Doenças Afetivas -

Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

Referências

1. Bauer MS, Kirk GF, Gavin C, Williford WO. Determinants of funcional outcome and healthcare costs in bipolar disorder: a high-intensity follow up study. J Affect Disord. 2001;65(3):231-41.

2. Colom F, Vieta E. A perspective on the use of psychoeducation, cognitive-behavioral therapy and interpersonal therapy for bipolar patients. Bipolar Disord. 2004;6(6):480-6.

3. Jones S. Psychotherapy of bipolar disorder: a review. J Affect Disord. 2004;80(2-3):101-14.

4. Moreno RA, Andrade ACF. A psychoeducational approach in treatment of bipolar patients [abstracts]. In: 2º International Conference on Bipolar Disorder. Pittsburgh, Pennsylvania: 19-21 june 1997.

Financiamento: Inexistente

Conflito de interesses: Inexistente

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Nov 2005
  • Data do Fascículo
    Jun 2005
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