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Substance abuse treatment and care for woman: case studies and lessons learned

LIVROS

Substance abuse treatment and care for woman: case studies and lessons learned

Lisandra Soldati FraçãoI; Sérgio de Paula RamosII

IUniversidade Estadual de Maringá (UEM)

IIUniversidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

United Nations Office on Drugs and Crime – UNODC. New York: United Nations; 2004. ISBN 92-1-148194-5

A publicação Substance abuse treatment and care for woman: case studies and lessons learned (2004) é parte de um projeto da UNODC (United Office on Drugs and Crime) que visa desenvolver ferramentas para aprimorar os serviços de tratamento de abusadores e dependentes de substâncias psicoativas, objetivando aumentar a conscientização sobre a necessidade de tratamentos específicos para mulheres.

Embora saibamos o quanto é difícil se ter um quadro completo acerca da questão do uso/dependência de substâncias por mulheres e dos problemas associados a este uso, o texto nos lembra que programas de tratamento precisam enfocar as peculiaridades de gênero e que temos urgência em qualificar profissionais capazes de trabalhar com essas diferenças.

O livro está dividido em cinco capítulos. Todos eles estão baseados em evidências coletadas na literatura e nos estudos de casos que ilustram as distintas experiências, bem como as lições aprendidas em serviços de tratamento para abuso ou dependência de substâncias psicoativas de diversas partes do mundo.

O primeiro capítulo – Mulheres, gênero e uso nocivo de substâncias – aborda as características, experiências, resultados dos tratamentos e diferenças existentes entre mulheres e homens no contexto da dependência química. As mulheres apresentam maior probabilidade de usarem ou abusarem de drogas lícitas e menor probabilidade de usarem substâncias ilícitas. Contudo, essas diferenças são minimizadas quando se trata de adolescentes.

Em termos epidemiológicos, evidências apontam para o fato de que mulheres podem se tornar dependentes de substâncias ilícitas com maior rapidez do que homens e, geralmente, se engajam com maior facilidade em comportamentos de risco, aumentando a probabilidade de contrair HIV e assim apresentando maiores taxas de mortalidade. É também relatado que substâncias psicoativas afetam e seu efeito é afetado pelas diferentes fases do ciclo menstrual.

Por outro lado, as mulheres usuárias de substâncias apresentam maiores probabilidades de terem sofrido abuso ou traumas e apresentam altas taxas de problemas psiquiátricos concomitantes ao uso.

O capítulo 2 enfoca a questão das barreiras existentes para as mulheres buscarem tratamento. Existem barreiras sistêmicas, estruturais, políticas, culturais e pessoais que refletem a falta de conhecimento sobre as diferenças existentes entre homens e mulheres no que diz respeito ao uso de substâncias psicoativas e problemas relacionados a este uso. As barreiras impedem o desenvolvimento de serviços que atendam às necessidades femininas, tais como facilidade de acesso, assistência aos filhos, desenho diferenciado dos programas, custo reduzido, segurança, equipe especializada, critérios adequados de admissão, cronogramas mais flexíveis possibilitando às mulheres que desempenhem tanto as funções maternas quanto domésticas. Barreiras culturais, sociais e pessoais como culpa, vergonha, estigmatização, medo de perder a guarda dos filhos e o apoio da família também dificultam não só a procura e o ingresso de mulheres no tratamento, como também a finalização do mesmo.

O capítulo 3 – Promovendo serviços sensíveis ao gênero – ilustra como instituições públicas e governamentais podem promover políticas de desenvolvimento para programas de tratamento, captação de recursos, implementação de melhores práticas e padrões para melhor atender as particularidades do gênero. Assim, a promoção de serviços de tratamento específico para mulheres requer apoio político, rede social e contatos no nível internacional, nacional e comunitário. Transferência de conhecimento, treinamento e uma boa rede de relacionamento entre os profissionais da área podem facilitar o desenvolvimento e o aprimoramento de serviços que atendam às necessidades das mulheres.

O capítulo 4 – Engajando mulheres em tratamento – foca atividades educativas e a conscientização da importância de reduzir estigmas e preconceitos incentivando as comunidades a abordarem o problema do uso nocivo de álcool e drogas por mulheres. Para tanto, apresenta iniciativas simples que demonstram a relevância de um trabalho integrado de líderes comunitários e religiosos, profissionais da área da saúde, associações e organizações femininas, educadores e voluntários em geral. O envolvimento da comunidade informando sobre a doença e sobre programas de tratamento disponíveis pode superar tabus e aumentar a adesão das mulheres ao tratamento.

O último capítulo – Serviços de tratamento para dependência de substâncias que são sensíveis ao gênero – examina como os serviços podem ser planejados e estruturados para atenderem a população feminina. O planejamento e desenvolvimento de programas devem ser baseados em uma cuidadosa verificação das necessidades da população-alvo, com mecanismos construídos através do monitoramento das etapas do programa, dos resultados finais e dos objetivos dos clientes. Programas para mulheres devem ser sensíveis a essa filosofia e precisam abordar aspectos como a gravidez, maternidade, relacionamentos, violência doméstica, abuso sexual, problemas de saúde mental, incluindo suicídio. Torna-se importante lembrar que oferecer programas baseados nos modelos de tratamento já existentes dificilmente produzirá resultados mais satisfatórios. O texto deixa claro que a manutenção programada e reintegração social são componentes bastante importantes em programas para mulheres e que a abordagem cognitivo-comportamental tem se mostrado efetiva com esta população.

Estudos de casos de várias partes do mundo, não só América do Norte e Europa, mas principalmente América do Sul, Oceania e África, oferecem exemplos práticos dos dados encontrados na literatura. Assim, iniciativas e experiências realizadas em um país podem ser adaptadas para outro país, respeitando-se as diferenças socioculturais do novo contexto. No entanto, a lição aprendida é que ainda existe necessidade de pesquisas qualitativas e quantitativas sobre intervenções efetivas para mulheres e também de como adaptar estas intervenções para diferentes países.

O texto se apresenta de forma clara, preservando as diferenças lingüísticas evidenciadas nos estudos de caso, respeitando-se os contextos culturais em que as práticas foram realizadas. Desse modo, convida o leitor a fazer uma interessante passagem, ainda mais realista, pelo universo desafiador do tratamento de mulheres usuárias ou dependentes de substâncias psicoativas e suas complexidades.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Nov 2005
  • Data do Fascículo
    Set 2005
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