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Topiramato reduz irritabilidade e automutilação em crianças autistas

Topiramate reduces irritability and self-injuries in autistic children

CARTAS AOS EDITORES

Topiramato reduz irritabilidade e automutilação em crianças autistas

Topiramate reduces irritability and self-injuries in autistic children

Sr. Editor,

O topiramato foi inicialmente introduzido para o tratamento da epilepsia.1 No entanto, com o tempo, foram surgindo outras indicações para o seu uso psiquiátrico, tais como o comer compulsivo ou a agressividade/irritabilidade em pacientes com transtornos mentais devidos a disfunções cerebrais: demência,2 retardo mental,3 síndrome de Willi-Prader.4 Outros pacientes com doenças psiquiátricas funcionais, como transtorno de personalidade tipo borderline, também parecem beneficiar-se de sua ação "anti-irritabilidade".5 No autismo, o único estudo realizado com topiramato foi feito na tentativa de reduzir o ganho ponderal induzido por neurolépticos.6 Pacientes com transtorno invasivo do desenvolvimento podem exibir comportamentos automutilatórios, clásticos, com grande irritabilidade.

Esses casos são, geralmente, refratários às diversas medicações disponíveis. A seguir, resumimos o caso de uma dessas crianças. Caso Clínico: M., 9 anos de idade, é um garoto autista que está internado para o tratamento de gravíssimas automutilações: bate a cabeça nas pontas das mesas, nas paredes, dá murros nos olhos, nas orelhas, desenvolvendo hemorragias oculares, otorragias, otohematomas, fratura de mastóide, orelha pugilística, descolamento de retina, odontoextração. Tem uma grande irritabilidade, grita muito, uma importante agitação motora. Fez uso das seguintes medicações, sem sucesso, em doses adequadas e por um tempo correto: clorpromazina (chegou a 800 mg/dia, usou a medicação por aproximadamente nove meses, entre a introdução e a dose final de 800 mg/d), diazepam (até 70 mg/dia, aproximadamente por quatro meses), haloperidol (até 50 mg/dia, por três meses), naltrexone (até 150 mg/dia, por três meses), levomepromazina (200 mg/dia, por um mês), carbamazepina (até 600 mg/dia, por dois meses), carbonato de lítio (900 mg/dia, por dois meses), citalopram (até 40 mg /dia, por três meses), fluoxetina (até 60 mg/dia, por 45 dias), valproato de sódio (1,2 g, por dois meses), propranolol (até 440 mg/dia, por seis meses), buspirona (até 20 mg/dia, por três meses), trazodona (125 mg/dia, por 45 dias). Algumas destas medicações foram utilizadas em conjunto com outras. De todas elas, a única que produziu um alívio temporário (aproximadamente sete meses) e parcial dos sintomas, foi a clorpromazina e, em menor escala, o propranolol (aproximadamente seis meses). Efeitos colaterais e tóxicos impediram o aumento delas e parece que, com o tempo, M. desenvolveu certa tolerância ao seu efeito. Com a introdução de 150 mg de topiramato/dia (50 mg 3x/dia), os níveis de irritabilidade e agressividade caíram muito, o que permitiu a redução e a retirada de outras medicações concomitantes. Já temos hoje um seguimento de nove meses e não houve, até o momento, o desenvolvimento de tolerância, como ocorreu com a clorpromazina e com o propranolol. O paciente, no momento, está em monoterapia com topiramato, 50 mg, 3x/dia. Eventualmente, quando necessita de um hipnótico, utiliza-se lorazepam 3 mg ao deitar. Assim, o topiramato mostrou-se uma medicação muito efetiva na redução da agressividade, irritabilidade auto e heterodirigida em uma criança autista. Ao nosso conhecimento, este é o primeiro relato da utilização exitosa do topiramato na agressividade/irritabilidade de pacientes com autismo automutilatório severo.

Marcelo Caixeta, Leonardo Caixeta

Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia (GO), Brasil

Referências

1. Sander S. Topiramate, a new antiepileptic drug. Epilepsia. 1997;38(Supl 1):56-8.

2. Fhager B, Meiri IM, Sjogren M, Edman A. Treatment of aggressive behavior in dementia with the anticonvulsivant topiramate: a retrospective pilot study. Int Psychogeriat. 2003;15(3):307-9.

3. Janowsky DS, Kraus JE, Barhill J. Effects of topiramate on aggressive, self-injurious, and disruptive/destructive behavior in the intellectually disabled: an open-label retrospective study. J Clin Psychopharmacol. 2003;23(5):500-4.

4. Shapira NA, Lessing MC, Lewis MH, Goodman WK, Driscoll DJ. Effects of topiramate in adults with Prader-Willi syndrome. Am J Ment Retard. 2004;109(4):301-9.

5. Nickel MK, Nickel C, Kaplan P, Lahmann C, Muhlbacher M, Tritt K, et al. Treating aggression with topiramate in male borderline patients: a double-blind placebo-controlled study. Biol Psychiatry. 2005;57(5):495-9.

6. Canitano R. Clinical experience with topiramate in 10 individuals with autistic spectrum disorders. Brain Dev. 2005;27(3):228-32.

Financiamento: Inexistente

Conflito de interesses: Inexistente

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Dez 2005
  • Data do Fascículo
    Dez 2005
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