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Visita domiciliar no tratamento de pacientes dependentes de álcool: dados preliminares

Home visit in the treatment of alcohol dependent patients: preliminary data

CARTAS AOS EDITORES

Visita domiciliar no tratamento de pacientes dependentes de álcool: dados preliminares

Home visit in the treatment of alcohol dependent patients: preliminary data

Sr. Editor,

Diante da baixa adesão de dependentes de álcool ao tratamento e do elevado índice de abandono (75%),1 propomos a Visita Domiciliar (VD) como uma nova intervenção na área de dependência química.

A VD é uma prática utilizada por diversas áreas ligadas à saúde. Pode auxiliar no engajamento de pacientes psiquiátricos em tratamentos convencionais, sendo eficaz também para aqueles resistentes ao tratamento.2-4

Apresentaremos resultados preliminares quanto às variações no padrão de consumo em uma amostra de 70 pacientes com dependência primária de álcool em início de tratamento ambulatorial, divididos em grupo experimental (GE, que recebeu as VDs) e grupo controle (GC, que não as recebeu). Até o momento, 42 destes 70 participantes já terminaram o tratamento proposto.

Os participantes foram avaliados em três momentos distintos: após a desintoxicação (tempo 1), após a conclusão da décima sessão de grupo de prevenção de recaída (tempo 2) e, posteriormente, após a vigésima e última sessão de grupo (tempo 3).

Os pacientes sorteados na randomização (GE) receberam quatro VDs durante as 10 primeiras sessões de grupo. Essas VDs foram realizadas por duplas de psicólogo e assistente social, capacitadas para utilizarem os princípios e estratégias da Entrevista Motivacional.5

A amostra apresentou prevalência do sexo masculino (85,9%), idade média de 43 anos (25-59), cor branca (74,3%), casados (41,4%), ensino fundamental incompleto (34,3%), renda de 3 à 5 salários-mínimos (42,2%) e dependência alcoólica grave (80,0%).

Na avaliação dos resultados preliminares, foi percebida redução significativa no padrão de consumo em ambos os grupos (Tabela 1). O GE atingiu 76,7% de abstinência no tempo 2 (momento da realização das quatro VDs), enquanto, no mesmo período, o GC apresentou 65,2% de abstinência. No tempo 3, os índices de abstinência foram equivalentes nos dois grupos, sendo 78,3% no GE e 78,9% no GC.

Por se tratar de dados preliminares, não podemos afirmar que a redução do padrão de consumo apresentada pelo GE nas primeiras 10 sessões de grupo seja decorrente da intervenção VD. No entanto, os resultados mostram que o índice de abstinência apresentado pelo GE após 10 sessões de grupo e quatro visitas domiciliares só foi alcançado pelo GC após 20 sessões de grupo, o que pode indicar, ainda que de forma prematura, a efetividade da intervenção proposta.

Esses resultados nos remetem, também, à possibilidade de um programa de tratamento mais breve ser tão efetivo quanto o aqui proposto (20 sessões), propiciando uma redução de tempo e custos e, consequentemente, um maior número de pacientes dependentes de álcool beneficiados.

Aguardamos a finalização da amostra inicialmente programada para podermos avaliar o impacto das VDs no tratamento de dependentes de álcool. Porém, enquanto isso, já nos chamou atenção o fato de que, em ambos os grupos, GE e GC, uma resposta robusta ao tratamento foi obtida em 20 semanas ou menos, fato que por si só motivou esta comunicação antecipada de resultados preliminares.

Este dado parece subsidiar os argumentos em favor da eficácia de intervenções breves no tratamento da dependência de álcool. A elevada prevalência desses transtornos determina que a oferta de tratamento estará sempre aquém da demanda. A intervenção breve poderá ajudar na redução desse desequilíbrio ao propiciar economia de recursos e agilidade no atendimento desses pacientes.

Acreditamos que, ao final deste estudo, poderemos contar com dados mais conclusivos sobre a efetividade não só das intervenções breves, como também da Visita Domiciliar no tratamento de pacientes dependentes de álcool.

Agradecimentos

À equipe responsável pelos atendimentos e visitas domiciliares; à UNIFESP-EPM; à UNIAD e à FAPESP.

Edilaine Moraes

Departamento de Psiquiatria, Escola Paulista de Medicina,

Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP),

São Paulo (SP), Brasil

Geraldo Mendes de Campos, Soraia Paganini da

Silva, Neliana Buzi Figlie, Ronaldo Laranjeira

Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD),

Departamento de Psiquiatria, Escola Paulista de Medicina,

Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP),

São Paulo (SP), Brasil

Referências

1. Mann NC. Improving adherence behaviour with treatment regimens. Galveston: University of Texas Medical Branch; 2000. [Behavioural Science Learning Modules].

2. Kanter J, editor. Clinical studies in case management. New directions for mental health services. San Francisco: Jossey - Bass; 1995. v. 65

3. Kanter J. Case management with longterm patients: a comprehensive approach. In: Soreff S, editor. Handbook for the treatment of the seriously mentally ill. Seattle: Hogrefe & Huber; 1996.

4. Zellmer D, Maurer CL, Kanter JS. Treating the whole elephant: delivering comprehensive services to the chronic mentally ill. In: Kanter J, editor. New directions for mental health services. San Francisco: Jossey - Bass; 1985. v. 25.

5. Miller WR, Rollnick S, Caleffi A, Dornelles C Entrevista motivacional - preparando as pessoas para a mudança de comportamentos adictivos. Porto Alegre: Artes Médicas; 2001.

Financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP (processo nr. 04/15062-2).

Conflito de interesses: Inexistente

Pesquisa realizada na Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas (UNIAD), Departamento de Psiquiatria, Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo.

Aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFESP. CEP Nº 0271/03

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Dez 2005
  • Data do Fascículo
    Dez 2005
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