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Suicídio em Belo Horizonte entre 2004 e 2006

Suicide in Belo Horizonte between 2004 and 2006

CARTA AOS EDITORES

Suicídio em Belo Horizonte entre 2004 e 2006

Suicide in Belo Horizonte between 2004 and 2006

Sr. Editor,

O suicídio é um problema sério de saúde pública em todo o mundo, estando o Brasil entre os dez países com maior número absoluto de mortes.1 Além disso, alterações socioeconômicas em desenvolvimento resultam em uma expectativa de aumento substancial das taxas de mortalidade por suicídio nos próximos anos.1-2 A realização de pesquisas epidemiológicas adequadas para uma melhor compreensão do assunto possibilitaria o desenvolvimento de estratégias para prevenção e adequação dos serviços de saúde para lidar com o problema.

Devido à inexistência de estudos epidemiológicos envolvendo o assunto no Estado de Minas Gerais, selecionamos os laudos de suicídios (n = 438) do Instituto de Medicina Legal de Belo Horizonte, no período de setembro de 2004 – quando foi iniciada a informatização e uniformização dos laudos – a julho de 2006. Os dados analisados foram os sociodemográficos: idade, sexo, estado civil, localidade (região metropolitana ou não), além de dosagem sanguínea da alcoolemia e os dados referentes aos métodos utilizados para a execução.

Do total de laudos, 47 (10,73%) foram excluídos pela falta de dados ou pela grande maioria das informações não estarem preenchidas. Observamos que os suicídios foram mais freqüentes em pessoas do sexo masculino (77,23%), da região metropolitana de Belo Horizonte (64,45%) e entre solteiros (61,12%). A faixa etária mais atingida foi a de até 40 anos para ambos os sexos, respondendo por 58,05% de toda a amostra. Os métodos mais utilizados pelos homens foram enforcamento (52,64%) e arma de fogo (18,21%); e, pelas mulheres, intoxicação/veneno (34,83%) e enforcamento (23,59%). Entre os homens, 20,86% apresentavam exame positivo para consumo de álcool, fato observado em apenas 3,37% das mulheres. Através do teste Qui-Quadrado, observamos associação estatisticamente significativa (p < 0,05) entre o sexo feminino e métodos não violentos de suicídio, e o uso de álcool com métodos violentos. Essas características dos suicídios necropsiados no Instituto Médico Legal de Belo Horizonte guardam semelhanças com aquelas observadas em estudos de outras regiões do Brasil.2-3

Um problema que já foi previamente observado quando se trata de mortes por causa externa é o grande número de laudos inadequadamente preenchidos, fato preocupante, pois pode prejudicar a realização e validação de estudos mais completos e abrangentes. Estima-se que, no final da década de 90, cerca de 10% das mortes por causa externa no Brasil não apresentavam informações que possibilitassem averiguar se eram secundárias a homicídio, suicídio ou acidente.4 Além disso, acredita-se que os registros de óbito por suicídio são duas a três vezes menores que os reais, fato que, mais uma vez, pode levar a uma compreensão deficitária do problema.2

Apesar de se tratar de um estudo estritamente descritivo, que não permite, portanto, identificar fatores de risco ou características mais específicas dessa população, ressaltamos que mesmo esses tipos de estudos têm sido pouco realizados em nosso País, assim como pesquisas epidemiológicas sobre ideação, tentativas e situações concomitantes responsáveis por favorecerem o desencadeamento do comportamento suicida.

Felipe Filardi da Rocha, Karla Cristhina Alves de Sousa

Serviço de Psiquiatria, Hospital das Clínicas,

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),

Belo Horizonte (MG), Brasil

Naray Paulino

Instituto de Medicina Legal,

Belo Horizonte (MG), Brasil

Juarez Oliveira Castro, Humberto Correa

Serviço de Psiquiatria, Hospital das Clínicas,

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte (MG), Brasil

Departamento de Saúde Mental, Faculdade de Medicina,

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG),

Belo Horizonte (MG), Brasil

Referências

1. Mello-Santos C, Bertolote JM, Wang YP. Epidemiology of suicide in Brazil (1980 – 2000): characterization of age and gender rates of suicide. Rev Bras Psiquiatr. 2005;27(2):131-4.

2. Meneghel SN, Victora CG, Faria NM, Carvalho LA, Falk JW. Características epidemiológicas do suicídio no Rio Grande do Sul. Rev Saude Publica. 2004;38(6):804-10.

3. Marin-Leon L, Barros MB. Mortes por suicídio: diferenças de gênero e nível socioeconômico. Rev Saude Publica. 2003;37(3):357-63.

4. Jorge MH, Gotlieb SL, Laurenti R. O sistema de informações sobre mortalidade: problemas e propostas para o seu enfrentamento. II - Mortes por causas externas. Rev Bras Epidemiol. 2002;5(2):212-23.

Finaciamento: Inexistente

Conflito de interesses: Inexistente

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Jul 2007
  • Data do Fascículo
    Jun 2007
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