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Obsessive-compulsive disorder and eating disorders: a continuum or separate diagnoses?

Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos alimentares: um contínuo ou diagnósticos separados?

CARTAS AOS EDITORES

Transtorno obsessivo-compulsivo e transtornos alimentares: um contínuo ou diagnósticos separados?

Obsessive-compulsive disorder and eating disorders: a continuum or separate diagnoses?

Caro Editor,

A relação entre transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e transtornos alimentares (TA) tem sido bastante discutida devido à semelhança entre suas manifestações clínicas.1 Alguns autores propõem a existência de um espectro obsessivo-compulsivo composto de quadros psiquiátricos com sintomas comuns ao TOC, entre os quais estariam os TA.2,3 Portanto, relatamos o caso de uma adolescente de 14 anos com queixa de aversão a alimentos doces, incapaz de tocar, ingerir ou permanecer em ambientes com tais alimentos, como chocolates e balas, alegando sentir-se nauseada, suja e contaminada.

A paciente foi diagnosticada com TOC sem comorbidades associadas por seu psiquiatra segundo os critérios do DSM-IV-TR. Foi escolhida como forma de tratamento a terapia cognitivo-comportamental (TCC) utilizando as técnicas de relaxamento muscular progressivo (RMP) de Jacobson, exposição e prevenção de respostas (EPR) e dessensibilização sistemática (DS), com sessões semanais de uma hora por 20 semanas, além de 80mg/dia de fluoxetina durante 5 meses. Foram realizadas avaliações pré- e pós-tratamento com as escalas Beck Depression Inventory (BDI), Beck Anxiety Inventory (BAI) e Yale-Brown Obsessive Compulsive Scale (Y-BOCS), versão reduzida. No pré-tratamento, verificaram-se os seguintes resultados: BDI 25 (moderado), BAI 32 (grave) e Y-BOCS 36 (extremo). As medidas no pós-tratamento foram: BDI 10 (mínimo), BAI 10 (mínimo) e Y-BOCS 7 (sub-clínico), indicando melhora significativa do quadro clínico.

Discussão

Existe uma relação próxima entre TA e TOC, já que alguns pacientes apresentam ruminações incessantes e intrusivas sobre alimentos, além de diversos comportamentos ritualizados como a ingesta alimentar.3 Porém, resultados sobre a associação entre tipos de TA, como a fobia alimentar, por exemplo, e TOC são escassos na literatura e alguns estudos sugerem a inclusão dos TA no espectro obsessivo-compulsivo.2

A fobia alimentar manifesta-se de diferentes formas. Quando o indivíduo apresenta um medo intenso de deglutir por receio de aspirar o alimento, ela recebe o nome de fobia de deglutição, enquanto a aversão por determinados tipos de alimentos (por exemplo, doces) é designada fobia de aversão. Corregiari e colaboradores relataram um caso clínico onde um paciente apresentava comorbidade entre TOC e fobia de aversão.3 Com a TCC associada à farmacoterapia, foi observada melhora do quadro clínico. A melhora deveu-se às alterações no comportamento alimentar, que respondeu em parte à especificidade do tratamento (exposição às sensações corporais resultante da ingestão de alimentos) permitindo que o paciente melhorasse pelo resultado farmacológico e aplicação da técnica de EPR.

Estudos de neuroimagem têm demonstrado alterações morfofuncionais nos núcleos caudados no TOC, sugerindo uma relação entre a fisiopatologia do TOC e os gânglios da base.2,4 Além disso, Baxter e colaboradores propuseram um modelo teórico sobre disfunções no circuito fronto-córtico-estriato-tálamo-cortical5 no qual o núcleo caudado não filtraria adequadamente os impulsos do córtex devido à não inibição do estriado, provocando a liberação da atividade talâmica. Portanto, impulsos excitatórios talâmicos atingiriam o córtex órbito-frontal proporcionando um "reforço" que impediria o sujeito de focar sua atenção em preocupações normalmente consideradas irrelevantes. Neste caso, possivelmente a intervenção farmacológica em conjunto com a TCC promoveu um equilíbrio no circuito fronto-córtico-estriato-tálamo-cortical que reduziu a manifestação comportamental do TOC, apesar de não terem sido utilizadas técnicas de neuroimagem na avaliação do paciente.

Flávia Paes

Laboratório de Pânico e Respiração, Instituto de Psiquiatria, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil;

Faculdade de Psicologia, Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação (IBMR), Rio de Janeiro, RJ, Brasil;

Instituto Nacional de Medicina Translacional (INCT-TM), Brasil

Sergio Machado

Laboratório de Pânico e Respiração, Instituto de Psiquiatria, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil;

Instituto Nacional de Medicina Translacional (INCT-TM), Brasil;

Instituto de Neurociências Aplicadas (INA), Rio de Janeiro, RJ, Brasil;

Bruna Velasques

Laboratório de Mapeamento Cerebral e Integração Sensório-Motora, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil;

Instituto de Neurociências Aplicadas (INA), Rio de Janeiro, RJ, Brasil;

Pedro Ribeiro

Laboratório de Mapeamento Cerebral e Integração Sensório-Motora, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ),

Rio de Janeiro, RJ, Brasil;

Instituto de Neurociências Aplicadas (INA), Rio de Janeiro, RJ, Brasil;

Escola de Educação Física, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

* O trabalho deve ser atribuído ao Instituto de Psiquiatria (IPUB) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Antonio Egídio Nardi

Laboratório de Pânico e Respiração, Instituto de Psiquiatria, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ, Brasil;

Instituto Nacional de Medicina Translacional (INCT-TM), Brasil

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  • 1. Altman SE, Shankman SA. What is the association between obsessive-compulsive disorder and eating disorders? Psychol Rev. 2009;29(7):638-46.
  • 2. Rosario-Campos MC, Mercadante MT. Transtorno obsessivo-compulsivo. Rev Bras Psiquiatr 2000;22(Supl II):16-9.
  • 3. Corregiari FM, Nunes PV, Neto FL, Bernik M. Transtorno obsessivo-compulsivo: aspectos psicopatológicos e terapęuticos. Rev Bras Psiquiatr. 2000;22(1):23-5
  • 4. Apostolova I, Block S, Buchert R, Osen B, Conradi M, Tabrizian S, Gensichen S, Schröder-Hartwig K, Fricke S, Rufer M, Weiss A, Hand I, Clausen M, Obrocki J. Effects of behavioral therapy or pharmacotherapy on brain glucose metabolism in subjects with obsessive-compulsive disorder as assessed by brain FDG PET. Psychiatry Res 2010;184(2):105-16.
  • 5. Baxter Jr LR, Saxena S, Brody AL, Ackermann RF, Colgan M, Schwartz JM, Allen-Martinez Z, Fuster JM, Phelps ME. Brain mediation of obsessivecompulsive disorder symptoms: evidence from functional brain imaging studies in the human and nonhuman primate. Semin Clin Neuropsychiatry 1996;1(1):3247.

Publication Dates

  • Publication in this collection
    01 Aug 2011
  • Date of issue
    June 2011
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