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Transtornos afetivos na infância e adolescência: diagnóstico e tratamento

BOOK REVIEW

Transtornos afetivos na infância e adolescência: diagnóstico e tratamento

Camila Morelatto de Souza

Psiquiatra da Infância e Adolescência. Pesquisadora do Laboratório de Cronobiologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas: Psiquiatria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Lee Fu-I, Miguel Angelo Boarati, Ana Paula Ferreira Maia et al. Porto Alegre: Artmed; 2012.

A capa idealizada por Paola Manica, na qual o personagem central (um garoto) está imerso em um universo de símbolos, já nos dá uma pista da complexidade do assunto de que o livro trata. Como há muito já se observa, mas apenas mais recentemente vem sendo documentado, parece que ainda quando criança é que as primeiras manifestações dos transtornos afetivos podem surgir com quadros algumas vezes semelhantes ao da vida adulta, contudo, mais frequentemente com particularidades da etapa do desenvolvimento em que cada um se encontra. Essa heterogeneidade na apresentação, a presença de sintomas além das alterações do humor e de comorbidades e fatores individuais e ambientais associados ainda fazem do diagnóstico e do tratamento dessas condições, desafios que impulsionam a busca por conhecimento.

Tanto no Prefácio do Professor Ricardo Moreno quanto na Apresentação do Professor Rodrigo Machado-Vieira, encontramos a maior certeza entre tantas dúvidas: a de que são doenças potencialmente devastadoras na vida desse e de tantos outros garotos, de suas famílias e da sociedade, e que a detecção e intervenção precoces são o melhor meio para reduzir esse impacto.

Os autores são psiquiatras da infância e adolescência, coordenadores, pesquisadores e colaboradores do Programa de Atendimento aos Transtornos Afetivos (PRATA) do Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência (SEPIA) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FM-USP). O PRATA foi criado há 20 anos pela Dra. Lee Fu-I e, atua através dos atendimentos prestados por profissionais de diversas áreas da saúde mental de crianças e adolescentes. Dessa forma, muita experiência clínica foi acumulada e uma valiosa fonte de dados a respeito dos transtornos afetivos foi gerada. Como relata no capítulo introdutório, esse livro resgata o material compilado e publicado a partir do primeiro Simpósio Nacional sobre Transtorno Bipolar na Infância e Adolescência (2005) e do livro Transtorno bipolar na infância e adolescência: aspectos clínicos e comorbidades (Artmed, 2009), somando uma atualização do conhecimento até o momento e incluindo capítulos também sobre depressão unipolar.

O livro tem 375 páginas distribuídas em 19 capítulos organizados em cinco partes. Na Parte I - Conceitos, Aspectos Históricos e Epidemiológicos , encontramos o relato dos esforços feitos, desde a Grécia Antiga até o momento, na busca pela descrição e compreensão das manifestações observadas e pelo estabelecimento de critérios diagnósticos mais apropriados. Os principais estudos epidemiológicos no Brasil e no mundo são apresentados através de tabelas comparativas, além de um questionamento crítico sobre a metodologia utilizada.

A Parte II - Aspectos Clínicos e o Diagnóstico dos Transtornos Afetivos na Infância e Adolescência - discute as manifestações clínicas da depressão unipolar e transtorno bipolar, bem como suas comorbidades através de uma perspectiva desenvolvimental. Destaque especial deve ser dado aos exemplos e casos ilustrativos, ricos em detalhes, que oportunizam ao leitor uma comparação com sua própria vivência clínica. Há um capítulo destinado à avaliação com enfoque específico ao diagnóstico de transtorno bipolar e descrição sucinta dos instrumentos diagnósticos disponíveis para esse fim.

Em Aspectos Neurobiológicos dos Transtornos Afetivos na Infância e Adolescência, na Parte III, estudos de genética e neuroimagem e sua busca por marcadores precoces da doença são descritos.A relação entre a cronobiologia e os transtornos do humor, desde os genes do relógio e endofenótipos, passando pelo sistema temporizador, cronotipos e intervenções cronoterapêuticas, ganha também um merecido capítulo.

A Parte IV trata dos Aspectos Psicológicos, de Linguagem, Aprendizagem e Psicossociais e, por fim, a Parte V, das Abordagens Terapêuticas. Neste último, a tabela de medicamentos que incluiu dose, indicações, efeitos adversos e cuidados, mostra-se extremamente prática. Considerando a complexidade dos quadros de humor, as diversas abordagens psicoterápicas individuais e familiares, a reabilitação neuropsicológica, a arteterapia e o trabalho multidisciplinar do hospital-dia complementam essa última parte.

Foi com satisfação que, como pesquisadora da área, encontrei um bom número de páginas que abordam, de forma abrangente, os conceitos da cronobiologia e seus métodos, além de relatar estudos sobre a associação entre os transtorno afetivos e fatores como a perda da ritmicidade circadiana, a dimensão matutinidade/vespertinidade (cronotipo) e o jet-lag social.

Dessa forma, com uma linguagem acessível, um ritmo fluido e uma organização lógica, esta obra nos oferece informações bastante atualizadas e não se antecipa em dar fim a essa caminhada, mas abre novos caminhos quando traz à tona as muitas controvérsias e dúvidas do momento atual.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jun 2012
  • Data do Fascículo
    Jun 2012
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