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Bioética ambiental: concepção de estudantes universitários sobre o uso de animais para consumo, trabalho, entretenimento e companhia

Environmental bioethics: college students' conception of the use of animals for food, work, entertainment and company purposes

Resumo

A sociedade demanda novos paradigmas éticos para pautar suas decisões quanto ao uso de animais. A intermediação do diálogo entre a dimensão cultural, social e pessoal requer a intervenção de ferramentas como a Bioética ambiental. Objetivou-se caracterizar a concepção de estudantes universitários sobre o uso de animais a fim de fornecer subsídios para programas de educação ambiental. Para tal, foram conduzidas 87 entrevistas quanto à concepção emocional e cultural, e o posicionamento ético no uso de animais para alimentação, vestimenta, trabalho, entretenimento e companhia. As análises indicam, além da tendência contemporânea de respeito na relação ser-humano/animal, que o posicionamento ético possui maior relação com a finalidade do que pela afinidade profissional. Fato que demanda a elaboração de programas que ultrapassem a mera informação e sensibilização, estimulando a discussão desses temas no ensino de ciências, a fim de capacitar o aluno na tomada de decisões e, assim, exercer a cidadania plena.

Palavras-chave:
Bem-estar animal; Bioética; Ética animal; Educação ambiental

Abstract

Society needs new ethical guidelines to underlie their decisions regarding the use of animals. However, the dialogue between the cultural, social and personal dimensions requires the intervention of tools such as Environmental Bioethics. This study aimed to characterize the conception of the use of animals of college students in order to provide grants for environmental education programs. We were conducted 87 interviews on the emotional and cultural conception, and their ethical position on the use of animals for food, vestment, work, entertainment and company. The analysis indicates that part of the contemporary tendency towards respect involved the human/animal relationship, that their ethical positions indicated a greater relationship with the purpose then with the professional affinity. This demands the development of intervention programs through information and awareness, in order to encourage the discussion of these subjects in science education, for the purpose of enabling students in making decisions and exercising full citizenship.

Keywords:
Animal welfare; Bioethics; Animal ethics; Environmental education

Introdução

O questionamento da idoneidade das condutas humanas direcionadas à natureza esteve, inicialmente, atrelado à percepção das atitudes dos homens em relação aos animais, caracterizando alguns dos primeiros dilemas éticos. O convívio natural entre oHomo sapiens e os demais animais foi alterado há 10.000 anos, com o advento da agricultura e consequente domínio de animais e plantas (MORRIS, 1990MORRIS, D. O contrato animal. Rio de Janeiro: Record, 1990.). A aceitação do uso de animais, sobretudo na experimentação, foi consolidada durante a revolução científica cuja visão mecanicista, defendida pioneiramente por Descartes (COELHO, 2012COELHO, J. G. Pessoalidade e cidadania em animais: o problema das outras mentes. In: MÍDIA e cidadania: conexões emergentes. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012. p. 171-192. ), foi plenamente incorporada no meio acadêmico, passando o antropomorfismo a ser veementemente reprimido, contribuindo, assim, para, paulatinamente, o distanciamento afetivo dos animais (FISCHER; OLIVEIRA, 2012FISCHER, M. L.; OLIVEIRA, G. M. Ética no uso de animais: a experiência do comitê de ética no uso de animais da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Estudos de Biologia, Curitiba, v. 34, n. 83, 2012. Disponível em: <http://www2.pucpr.br/reol/index.php/BS?dd1=7337&dd99=view>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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).

Atualmente, a ética com relação ao uso de animais ainda está centrada no debate da utilização acadêmica e educacional, reflexo da consolidação da bioética clínica e elaboração de regras para o uso do sujeito humano em pesquisa (FISCHER; TAMIOSO, 2013FISCHER, M. L.; TAMIOSO, P. R. Percepção e posicionamento de estudantes e professores de diferentes áreas do saber perante o uso de animais no ensino e pesquisa. Estudos de Biologia, Curitiba, v. 35, n. 84, p. 85-98, 2013. Disponível em: <http://www2.pucpr.br/reol/index.php/BS?dd1=7846&dd99=view>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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; SILLA et al., 2010SILLA, V. C. B.; SANS, E. C. O.; MOLENTO, C. F. M. An estimation of the extent of animal use in research in Brazil, as determined by bibliographic sampling from journals published in the state of Paraná. Alternatives to Laboratory Animals, Nottingham, v. 38, n. 1, p. 29-37, 2010. ). A legislação brasileira (BRASIL, 2008______. Lei nº 11.794, de 8 de outubro de 2008. Regulamenta o inciso VII do § 1º do art. 225 da Constituição Federal, estabelecendo procedimentos para o uso científico de animais; revoga a Lei nº 6.638, de 8 de maio de 1979; e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 9 out. 2008. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11794.htm>. Acesso em: 31 mar. 2014.
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) ordena que toda instituição de pesquisa que use animais institua uma Comissão de Ética que se responsabilize pelo cumprimento da legislação alicerçada no princípio dos "três erres", ou seja: que se considere a possibilidade de se substituir o modelo experimental por outro com menor senciência (replacement); que se reduza o número de animais ao mínimo justificável (reduction), e que haja investimento em tecnologia para refinar a manipulação, a fim de se causar o menor sofrimento possível aos animais (refine) (TINOCO, 2008TINOCO, I. A. P. Lei Arouca: avanço ou retrocesso? In: CONGRESSO MUNDIAL DE BIOÉTICA E DIREITO DOS ANIMAIS, 1., 2008, Salvador. Disponível em: <http://www.abolicionismoanimal.org.br/artigos/leiaroucaavanoouretrocesso.pdf>. Acesso em: 30 maio 2012.
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). Já para os demais usos, a normatização se pauta na Constituição Federal (BRASIL, 1988BRASIL. Constituição (1988). Constituição: República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> Acesso em: 31 mar. 2014.
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) e na lei de crimes ambientais (BRASIL, 1998______. Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998. Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 13 fev. 1998.), as quais criminalizam os atos de crueldade contra os animais. Essa abordagem genérica pode propiciar interpretações dúbias, endossando práticas discutíveis, como: a exposição de animais, reprodução seletiva, eutanásia, animais utilizados em rituais religiosos e zoofilia.

A sociedade demanda novos paradigmas éticos para tomada de decisões, os quais, devido à aglutinação de regras de conduta oriundas da globalização, dependem da interferência da bioética ambiental como mediadora do diálogo entre a complexa dimensão cultural, social e pessoal (MUÑOZ, 2004MUÑOZ, D. R. Bioética: a mudança da postura ética. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia, São Paulo, v. 70, n. 5, p. 578-579, 2004. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0034-72992004000500001>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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). O posicionamento da sociedade diante do uso dos animais conduzirá o rumo das condutas morais e da atuação do poder público, pois possui alto potencial de influência na legislação, economia, políticas de sustentabilidade e nos setores socioeconômicos (COLEMAN; HAY, 2004COLEMAN, G.; HAY, M. Consumer attitudes and behaviour relevant to pork production. In: PROCEEDINGS of the Australian Association of Pig Veterinarians. Eight Mile Plains: Australian Association of Pig Veterinarians, 2004. p. 133-142.). A forma como diferentes profissionais tratam os animais é extremamente importante para o desenvolvimento de programas de educação, por meio da utilização de diferentes inferências e aplicação de instrumentos diversificados, cuja atuação em distintas frentes adequadas a um público diverso, vise conscientizar todos os segmentos da sociedade da necessidade de procedimentos éticos no uso dos animais. Embora ocorram, na literatura, inúmeros diagnósticos da percepção sobre o uso de animais em pesquisa, pouco foi explorado sobre os demais papéis exercidos pelos animais na sociedade. Além disso, ressalta-se a importância de diagnósticos locais para promoção de intervenções educacionais, seja no ensino formal ou não formal, de base ou técnico, que atendam demandas sociais específicas. Nesse contexto, é fundamental o diagnóstico da concepção sobre uso de animais por diferentes setores da sociedade, dentre os quais se destaca o meio universitário, pois, além de reunir público heterogêneo, resultado da educação básica formal e não formal (PHILLIPS; MCCULLOUGH, 2005PHILLIPS, C. J. C.; McCULLOUGH, S. Student attitudes on animal sentience and use of animals in society. Journal of Biological Education, Philadelphia, v. 40, n. 1, p. 1-8, 2005.), visa ao desenvolvimento e aprimoramento de habilidades e competências essenciais para a formação e atuação profissional. Fischer e Tamioso (2013)FISCHER, M. L.; TAMIOSO, P. R. Percepção e posicionamento de estudantes e professores de diferentes áreas do saber perante o uso de animais no ensino e pesquisa. Estudos de Biologia, Curitiba, v. 35, n. 84, p. 85-98, 2013. Disponível em: <http://www2.pucpr.br/reol/index.php/BS?dd1=7846&dd99=view>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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verificaram que o posicionamento diante do uso científico e acadêmico de animais apresentou pouca relação com a área de formação profissional; e, embora acadêmicos dos cursos da área biológica tenham demonstrado mais conhecimento técnico, predominou a visão mecanicista e utilitarista. Assim, objetivou-se caracterizar a concepção de estudantes universitários sobre o uso de animais para consumo, trabalho, entretenimento e companhia, a fim de fornecer subsídios para programas de educação ambiental e contribuir com a formação de cidadãos mais conscientes.

Relação entre humanos e animais

O ser humano contemporâneo utiliza diferentes paradigmas éticos para mediar sua relação com os animais, muitas vezes, adaptando as concepções conforme o valor atribuído. Tradicionalmente, a sociedade aplica o paradigma, ou seja, um modelo balizador de conduta, conforme um viés antropocêntrico e antropológico, não atribuindo, ao animal, valor inerente, mas meramente instrumental, utilitarista e econômico (FELIPE, 2006aFELIPE, S. T. Fundamentação ética dos direitos animais: o legado de Humphry Primatt. Revista Brasileira de Direito Animal, Salvador, v. 1, n. 1, p. 207-229, 2006a. Disponível em: <http://www.portalseer.ufba.br/index.php/RBDA/article/view/10249/7306>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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, 2006b_______. Valor inerente e vulnerabilidade: critérios éticos não-especistas na perspectiva de Tom Regan. ethic@, Florianópolis, v. 5, n. 3, p. 125-146, 2006b. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/ethic/article/view/24877>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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; TINOCO, 2008TINOCO, I. A. P. Lei Arouca: avanço ou retrocesso? In: CONGRESSO MUNDIAL DE BIOÉTICA E DIREITO DOS ANIMAIS, 1., 2008, Salvador. Disponível em: <http://www.abolicionismoanimal.org.br/artigos/leiaroucaavanoouretrocesso.pdf>. Acesso em: 30 maio 2012.
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). Jeremy Bentaham e John Stuart Mill, no século XVIII, foram pioneiros na promoção da visão contrária, propondo a expansão do universo da consideração moral e aplicação de caráter hedonista aos animais. Entretanto, foi na atualidade, com o filósofo Peter Singer, que esta visão ganhou força. A teoria moral consequencialista considera a capacidade de sofrer como um dos critérios morais mais relevantes, necessitando, para tal, da senciência, faculdade mental que possibilita a consciência da dor física e mental e geradora de interesses em não sofrer (SINGER, 2004SINGER, P. Libertação animal. Porto Alegre: Lugano, 2004.). Todavia, a ética utilitarista admite como moralmente aceitável o abate de alguns animais, desde que seja justificável e realizado de forma rápida e indolor (SILVA, 2012SILVA, J. M. Do senciocentrismo ao holismo ético: perspectivas sobre o valor da bioesfera. In: BARBOSA, A. et al. (Ed.). Gravitações bioéticas. Lisboa: Centro de Bioética, Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, 2012. p. 123-145.). Não obstante, os critérios de quem e como ser abatido têm gerado posicionamentos conflitantes entre diferentes sujeitos/atores da sociedade. A preocupação com o sofrimento desencadeou o surgimento da ética bem-estarista, exercida, sobretudo, por cientistas e agricultores, a qual visa propiciar boas condições de vida para os animais que, todavia, necessitam ser mantidos cativos sob a tutela do homem. Essa ética é socialmente percebida como moderada, razoável, reducionista e interessada em trabalhar dentro e com o sistema de forma racional e com bom senso, buscando na informação e na ciência os elementos para embasar a avaliação moral (SILVA, 2012SILVA, J. M. Do senciocentrismo ao holismo ético: perspectivas sobre o valor da bioesfera. In: BARBOSA, A. et al. (Ed.). Gravitações bioéticas. Lisboa: Centro de Bioética, Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, 2012. p. 123-145.). Concomitantemente, uma visão antagônica, inspirada em Kant, deu origem à ética do direito animal ou abolicionista, liderada por Tom Regan. Tal visão considera que os animais possuem um único direito moral: não ser prejudicado devido às necessidades utilitaristas da sociedade (REGAN, 2006REGAN, T. Jaulas vazias. Porto Alegre: Lugano, 2006.). Desta forma, deve-se evitar causar danos dentro de uma escala de valores, sugerindo que os sujeitos de consideração moral são aqueles que possuem valor intrínseco e que sejam "sujeitos-de-sua-vida" capazes de diferenciar experiências de prazer e de dor (FELIPE, 2006b_______. Valor inerente e vulnerabilidade: critérios éticos não-especistas na perspectiva de Tom Regan. ethic@, Florianópolis, v. 5, n. 3, p. 125-146, 2006b. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/ethic/article/view/24877>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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). Essa ética é socialmente encarada como extremista, abolicionista, violenta e libertária, atuando, emocional e irracionalmente, desvinculada dos dados científicos (SILVA, 2012SILVA, J. M. Do senciocentrismo ao holismo ético: perspectivas sobre o valor da bioesfera. In: BARBOSA, A. et al. (Ed.). Gravitações bioéticas. Lisboa: Centro de Bioética, Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, 2012. p. 123-145.).

As atitudes da população com relação aos animais divergem de acordo com a sua função e características, sendo os mesmos categorizados de acordo com: utilidade, sensibilidade, periculosidade e importância (DRISCOLL, 1995DRISCOLL, J. W. Attitudes toward animals: species ratings. The White Horse Press, Cambridge, v. 3, n. 2, p. 139-150, 1995. ; KNIGHT et al., 2004KNIGHT, S. et al. Attitudes towards animal use and belief in animal mind. Anthrozoos, Abingdon, v. 17, n. 1, p. 43-62, 2004., 2009KNIGHT, S. et al. "Science versus human welfare?: understanding attitudes toward animal use". Journal of Social Issues, Hoboken, v. 65, n. 3, p. 463-83, 2009.), senciência para dor e aflição (KNIGHT et al., 2004KNIGHT, S. et al. Attitudes towards animal use and belief in animal mind. Anthrozoos, Abingdon, v. 17, n. 1, p. 43-62, 2004., 2009KNIGHT, S. et al. "Science versus human welfare?: understanding attitudes toward animal use". Journal of Social Issues, Hoboken, v. 65, n. 3, p. 463-83, 2009.; PHILLIPS, 2007PHILLIPS, C. How does pain rank as an animal welfare issue? In: AUSTRALIAN ANIMAL WELFARE STRATEGY SCIENCE SUMMIT ON PAIN AND PAIN MANAGEMENT, 2007, Melbourne. Proceedings... Disponível em: <http://www.australiananimalwelfare.com.au/app/webroot/files/upload/files/clive-phillips.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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; PHILLIPS; MCCULLOUGH, 2005PHILLIPS, C. J. C.; McCULLOUGH, S. Student attitudes on animal sentience and use of animals in society. Journal of Biological Education, Philadelphia, v. 40, n. 1, p. 1-8, 2005.;PLOUS, 1993PLOUS, S. Psychological mechanisms in the human use of animals.Journal of Social Issues, Hoboken, v. 49, n. 1, p. 11-52, 1993. ), grau de cognição (KNIGHT et al., 2004KNIGHT, S. et al. Attitudes towards animal use and belief in animal mind. Anthrozoos, Abingdon, v. 17, n. 1, p. 43-62, 2004., 2009KNIGHT, S. et al. "Science versus human welfare?: understanding attitudes toward animal use". Journal of Social Issues, Hoboken, v. 65, n. 3, p. 463-83, 2009.), estética e afetividade (KELLERT; BERRY, 1982KELLERT, S. R.; BERRY, J. K. Knowledge, affection and basic attitudes towards animals in American society. Springfield: US Department of the Interior, Fish and Wildlife Service, 1982. ) e táxon (KNIGHT et al., 2004KNIGHT, S. et al. Attitudes towards animal use and belief in animal mind. Anthrozoos, Abingdon, v. 17, n. 1, p. 43-62, 2004.). Diferenças no posicionamento têm sido relacionadas com aspectos individuais, como gênero (HERZOG; GOLDEN, 2009HERZOG, H. A.; GOLDEN, L. L. Moral emotions and social activism: the case of animal rights. Journal of Social Issues, Hoboken, v. 65, n. 3, p. 485-498, 2009.; KNIGHT et al., 2004KNIGHT, S. et al. Attitudes towards animal use and belief in animal mind. Anthrozoos, Abingdon, v. 17, n. 1, p. 43-62, 2004.; NICKELL; HERZOG, 1996NICKELL, D.; HERZOG, A. H. Ethical ideology and moral persuasion: personal moral philosophy, gender, and judgments of pro - and anti - animal research propaganda. Society and Animals, Leiden, v. 4, n. 1, p. 53-64, 1996.; PHILLIPS; MCCULLOUGH, 2005PHILLIPS, C. J. C.; McCULLOUGH, S. Student attitudes on animal sentience and use of animals in society. Journal of Biological Education, Philadelphia, v. 40, n. 1, p. 1-8, 2005.) e idade (KNIGHT et al., 2004KNIGHT, S. et al. Attitudes towards animal use and belief in animal mind. Anthrozoos, Abingdon, v. 17, n. 1, p. 43-62, 2004.); sociais, tais como: nacionalidade (PIFER, 1996PIFER, L. K. Exploring the gender gap in young adults's attitudes about animal research. Society and Animals, Leiden, v. 4, n. 1, p. 37-52, 1996. Disponível em: <http://animalsandsociety.org/assets/library/310_s413.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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), envolvimento em atividades pró-animal (SIGNAL; TAYLOR, 2007SIGNAL, T. D.; TAYLOR, N. Attitude to animals and empathy: comparing animal protection and general community samples. Anthrozoos, Abingdon, v. 20, n. 2, p. 125-130, 2007. ) e ideologia ética (NICKELL; HERZOG, 1996OLIVEIRA, L. M. et al. Carroceiros e eqüídeos de tração: um problema sócio-ambiental. Caminhos de Geografia, Uberlândia, v. 8, n. 24, p. 204-216, 2007. ); e subjetivos, como: atenção, ansiedade, sugestão e experiência (KNIGHT et al., 2004KNIGHT, S. et al. Attitudes towards animal use and belief in animal mind. Anthrozoos, Abingdon, v. 17, n. 1, p. 43-62, 2004.; PHILLIPS, 2007PHILLIPS, C. How does pain rank as an animal welfare issue? In: AUSTRALIAN ANIMAL WELFARE STRATEGY SCIENCE SUMMIT ON PAIN AND PAIN MANAGEMENT, 2007, Melbourne. Proceedings... Disponível em: <http://www.australiananimalwelfare.com.au/app/webroot/files/upload/files/clive-phillips.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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), hábito alimentar (KNIGHT et al., 2004KNIGHT, S. et al. Attitudes towards animal use and belief in animal mind. Anthrozoos, Abingdon, v. 17, n. 1, p. 43-62, 2004.), local de moradia (KNIGHT et al., 2004KNIGHT, S. et al. Attitudes towards animal use and belief in animal mind. Anthrozoos, Abingdon, v. 17, n. 1, p. 43-62, 2004.) e área de atuação (KNIGHT et al., 2009KNIGHT, S. et al. "Science versus human welfare?: understanding attitudes toward animal use". Journal of Social Issues, Hoboken, v. 65, n. 3, p. 463-83, 2009.). Segundo Coelho (2002)COELHO, J. G. Pessoalidade e cidadania em animais: o problema das outras mentes. In: MÍDIA e cidadania: conexões emergentes. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2012. p. 171-192. , a sociedade contemporânea tem mostrado um crescente interesse pela forma como animais selvagens e domésticos são tratados, estando o mesmo atrelado, sobretudo, à mudança de concepção de mente da ótica criacionista para a evolucionista. Segundo o autor, a convivência com os animais favorece a relação afetiva e a identificação com seu comportamento, mesmo não sendo essa compreensão determinante para a prevalência de atitudes altruísticas em detrimento dos maus-tratos, o que demanda a reflexão sobre as obrigações e responsabilidades dos agentes morais e respeito ao direito dos sujeitos morais.

Relação entre a área de formação profissional e a concepção dos animais

O curso de formação profissional também pode influenciar na percepção do animal (PHILLIPS, 2007PHILLIPS, C. How does pain rank as an animal welfare issue? In: AUSTRALIAN ANIMAL WELFARE STRATEGY SCIENCE SUMMIT ON PAIN AND PAIN MANAGEMENT, 2007, Melbourne. Proceedings... Disponível em: <http://www.australiananimalwelfare.com.au/app/webroot/files/upload/files/clive-phillips.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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). Enquanto estudantes de ciência animal reconhecem a necessidade de se evitar a dor, não consideram o sistema de criação como danoso, indicando aceitação ou insensibilidade às técnicas, priorizando a segurança alimentar em detrimento do bem-estar animal (NORDSTROM et al., 2000NORDSTROM, P. A. et al. Assessing student attitudes toward animal welfare, resource, use, and food safety. Journal of Agricultural Education, West Lafayette, v. 41, n. 3, p. 31-39, 2000. Disponível em: <http://www.jae-online.org/attachments/article/437/41-03-31.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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). Já estudantes de medicina veterinária acreditam que a capacidade cognitiva é maior nas espécies domésticas, embora não haja evidências anatômicas e fisiológicas (PHILLIPS; MCCULLOUGH, 2005PHILLIPS, C. J. C.; McCULLOUGH, S. Student attitudes on animal sentience and use of animals in society. Journal of Biological Education, Philadelphia, v. 40, n. 1, p. 1-8, 2005.). Analogicamente, cientistas tendem a ser mais resistentes à crença de que animais possuam processos mentais complexos, consequência do repúdio ao antropomorfismo (KNIGHT et al., 2009KNIGHT, S. et al. "Science versus human welfare?: understanding attitudes toward animal use". Journal of Social Issues, Hoboken, v. 65, n. 3, p. 463-83, 2009.). O aumento do conhecimento (KNIGHT et al., 2004KNIGHT, S. et al. Attitudes towards animal use and belief in animal mind. Anthrozoos, Abingdon, v. 17, n. 1, p. 43-62, 2004.) e o poder econômico (DAVEY, 2006DAVEY, G. Chinese university student's attitudes toward the ethical treatment and welfare of animals. Journal of Applied Animal Welfare Science, Philadelphia, v. 9, n. 4, p. 289-297, 2006. ) têm diminuído o apoio a procedimentos tradicionalmente aceitos, surgindo, no cenário social, o papel dos ativistas. Embora Herzog e Golden (2009)HERZOG, H. A.; GOLDEN, L. L. Moral emotions and social activism: the case of animal rights. Journal of Social Issues, Hoboken, v. 65, n. 3, p. 485-498, 2009. não tenham encontrado relação evidente entre moralidade e ativismo, Signal e Taylor (2007)SIGNAL, T. D.; TAYLOR, N. Attitude to animals and empathy: comparing animal protection and general community samples. Anthrozoos, Abingdon, v. 20, n. 2, p. 125-130, 2007. afirmaram que cidadãos envolvidos na proteção animal são mais empáticos aos animais. Serpell (2004)SERPELL, J. A. Factors influencing human attitudes to animals and their welfare. Animal Welfare, St Albans, v. 13, suppl. 1, p. 145-151, 2004. , revisando estudos sobre percepção, identificou dois determinantes motivacionais primários: afeto e utilidade, ambos possíveis de serem afetados por: atributos específicos dos animais, características individuais, experiências, fatores, normas e condutas culturais (HAIDT, 2001HAIDT, J. The emotional dog and its rational tail: a social intuitionist approach to moral judgment. Psychological Review, Washington, v. 108, n. 4, p. 814-834, 2001. ). Nickell e Herzog (1996)NICKELL, D.; HERZOG, A. H. Ethical ideology and moral persuasion: personal moral philosophy, gender, and judgments of pro - and anti - animal research propaganda. Society and Animals, Leiden, v. 4, n. 1, p. 53-64, 1996. ressalvam que a relação entre atitudes e comportamentos é complexa, havendo uma diferença entre o que os indivíduos acreditam e o que fazem. É possível que a predisposição para orientação moral direcione o envolvimento em causas sociais, contudo, é importante avaliar os paradigmas éticos para se verificar o nível de comprometimento de grupos específicos.

Considerando a possibilidade da maior proximidade afetiva com o objeto de estudo ser a norteadora da decisão profissional, e partindo da premissa que a maior ou menor proximidade com os animais pode ser resultado da educação formal recebida no Ensino Fundamental e Médio, bem como dos programas de educação não formal dos quais oportunizados ao estudante, foi conduzida, no período de fevereiro de 2008 a setembro de 2010, uma avaliação da concepção de estudantes de diferentes cursos de graduação do campus Curitiba da Pontifícia Universidade do Paraná (PUCPR). A fim de se obter uma amostra aleatória e homogênea, a determinação dos entrevistados foi realizada com base nas cinco áreas do saber da PUCPR, sendo obtida por sorteio uma amostragem de 30% dos cursos disponíveis em cada escola: Escola de Saúde e Biociências (ESB: Enfermagem, Fisioterapia e Psicologia), Escola de Educação e Humanidades (CEH: Filosofia, Educação Física - Bacharelado, Letras - Português e Pedagogia), Escola de Negócios (EN: Ciências Contábeis), Escola Politécnica (EP: Sistemas de Informação, Matemática (licenciatura), Engenharia Civil, Engenharia Mecânica e Engenharia Química) e Escola de Comunicação e Artes (ECA: Comunicação Social-Publicidade e Propaganda e Serviço Social). O curso de Ciências Biológicas não foi incluído no sorteio da ESB, uma vez que, devido à inerente proximidade com animais, as respostas de alunos do bacharelado e licenciatura foram consideradas como ponto de comparação com os demais cursos. Foi entrevistado, aleatoriamente, um aluno de cada ano do respectivo curso, totalizando, assim, 17 cursos e 87 entrevistados. A entrevista estruturada foi composta por 14 questões para caracterização do público e 38 relacionadas à concepção emocional e cultural, e o posicionamento ético no uso de animais para alimentação, vestimenta, trabalho, entretenimento e companhia. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da PUCPR (nº 0002344/08). Os valores absolutos das respostas de cada questão foram comparados em uma mesma área de conhecimento por meio do teste qui-quadrado, sob nível de confiança de 95% (P<0,05), a fim de se verificar se havia diferenças significativas entre os grupos, considerando, como hipótese nula, a homogeneidade da amostra. Para as questões abertas, foram efetuadas categorizações utilizando-se a técnica de Bardin (1982)BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1982..

A análise da concepção dos acadêmicos do Ensino Superior evidenciou que a postura diante do animal tem relação maior com a finalidade do uso do que com a área de formação. Sendo a maioria das atitudes favoráveis aos animais (88,5%) vinculadas, sobretudo, a sentimentos (χ2(2)=100,13, P<0,01). Porém, identifica-se nitidamente a visão antropocêntrica, ao se enfatizar a existência de diferenças óbvias entre humanidade e animais (89,6%) (χ2(1)=54,7; P<0,01), pautadas na atribuição do raciocínio (72,1%), negligenciando semelhanças, como emoções, sentimentos e consciência da dor, as quais deveriam ser suficientes para alcançar o almejado respeito na relação ser humano/animal, destacado pela maioria dos alunos (63,2%) (χ2(2)=88,5; P<0,01). Os acadêmicos da ESB exibiram posicionamento mais enfático com relação à ilegitimidade do domínio da humanidade sobre os animais, mas, assim como a maioria dos entrevistados que mostra compreender e identificar maus-tratos, parecem ter dificuldades de transformar pensamentos em atitudes, uma vez que, embora mais da metade dos respondentes tenha presenciado casos de maus-tratos contra animais, especialmente relacionados à agressão física (71,1 %) (χ2(8)=721,6; P<0,01) e em cães (67%) (χ2(3)=28,5; P<0,01), a maioria (71,1%) afirmou não ter coibido a ação (χ2(1)=9,3; P<0,01). Assim, fatores como temor à represália e ridicularização influenciam na decisão em se posicionar diante de um ato considerado errado.

Animais utilizados para alimentação

A associação do consumo de carne aos bovinos é reflexo cultural, direcionando a valoração para as demais espécies. A relação entre humanos e animais de produção é inevitavelmente desigual, uma vez que o manejo visa lucros e benefícios decorrentes da melhora do desempenho do animal ou do cumprimento legal (PHILLIPS; MCCULLOUGH, 2005PHILLIPS, C. J. C.; McCULLOUGH, S. Student attitudes on animal sentience and use of animals in society. Journal of Biological Education, Philadelphia, v. 40, n. 1, p. 1-8, 2005.). Os próprios profissionais se mostram tolerantes às práticas zootécnicas, mesmo cientes de que causam dor ou desconforto (PHILLIPS, 2007PHILLIPS, C. How does pain rank as an animal welfare issue? In: AUSTRALIAN ANIMAL WELFARE STRATEGY SCIENCE SUMMIT ON PAIN AND PAIN MANAGEMENT, 2007, Melbourne. Proceedings... Disponível em: <http://www.australiananimalwelfare.com.au/app/webroot/files/upload/files/clive-phillips.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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). Embora a população manifeste o desejo de que os animais de produção sejam bem tratados e que sua vida seja finalizada humanitariamente, o discurso não reflete na atitude, uma vez que não há incentivo por produtos certificados. Em geral, a sociedade reduz o conflito ético ao considerar o consumo de animais uma necessidade biológica, além de se conformar com a ausência de opções (PLOUS, 1993PLOUS, S. Psychological mechanisms in the human use of animals.Journal of Social Issues, Hoboken, v. 49, n. 1, p. 11-52, 1993. ).

O grupo analisado igualmente revelou visão tradicionalista em relação ao uso de animais para o consumo, reflexo da ausência de maiores dilemas éticos da sociedade diante dessa temática (PETROIANU, 1996PETROIANU, A. Aspectos éticos na pesquisa em animais. Acta Cirúrgica Brasileira, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 157-64, 1996.). A maioria dos entrevistados considera correto o uso de animais para a alimentação humana, destacando-se os bovinos (ESB e EP). Entretanto, parte dos respondentes, predominantemente da ESB, reconhece que os animais são maltratados em todas as etapas da produção, e acredita que alimentos de origem vegetal, tais como leguminosas, podem substituir os de origem animal (Tabela 1). Justamente a inconsistência desta questão ética envolvida no uso de animais para consumo leva a diferenciação na moral intuitiva ser um dos motivos que torna o debate do direito animal fugaz, uma vez que, até mesmo muitos dos mais ativos e sensíveis defensores dos direitos animais, consomem carne (HERZOG; GOLDEN, 2009HERZOG, H. A.; GOLDEN, L. L. Moral emotions and social activism: the case of animal rights. Journal of Social Issues, Hoboken, v. 65, n. 3, p. 485-498, 2009.). A elevada frequência de consumo de carne e derivados, evidenciada na pesquisa, provavelmente está relacionada ao amplo, acessível e diversificado mercado nacional (GAGLEAZZI et al., 2002GAGLEAZZI, U. A. et al. Caracterização do consumo de carnes no Brasil. Revista Nacional da Carne, São Paulo, v. 27, n. 310, p. 35-46, 2002. ). Embora o consumo de carne e tutano tenha sido fundamental para o crescimento e evolução do cérebro doH. sapiens (ZIMMER, 2003ZIMMER, C. O Livro de ouro da evolução. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.), estudos têm comprovado efeitos nocivos no consumo exagerado (doenças coronárias, diabetes, osteoporose, neoplasias) e dos elevados custos ecológico e espacial, indicando que a substituição é possível (ARAGÃO, 2006ARAGÃO, M. J. Civilização animal: a etologia numa perspectiva evolutiva e antropológica. Pelotas: USB, 2006. ). Os entrevistados reconhecem as alternativas, porém, reproduzem as crenças relacionadas à desnutrição e ressaltam a satisfação sensorial e o contexto natural da cadeia alimentar, despreocupando-se efetivamente com o bem-estar dos animais, argumentando que a morte para consumo é a justificativa da sua existência. A nítida desinformação faz parte do cotidiano dos consumidores, que, na maioria das vezes, preferem se abster de maiores informações, uma vez que estas desencadeiam desconforto, sobretudo por serem expostas de maneira simplista e fortemente carregada de emoções (HÖTZEL; MACHADO FILHO, 2004HÖTZEL, M. J.; MACHADO FILHO, L. C. P. Bem-estar animal na agricultura do século XXI. Revista de Etologia, São Paulo, v. 6, n. 1, p. 3-16, 2004. Disponível em: <http://www.etologiabrasil.org.br/sbet/revista/Vol_6_1_003.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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). Assim, o produto final é apresentado de forma que não haja associação com o animal vivo (WEBSTER, 2005WEBSTER, J. Animal welfare: limping towards eden. Oxford: Blackwell, 2005. ). Contudo, gradativamente, a ciência tem comprovado a senciência dos animais e as consequências dos maus-tratos, fato que vem subsidiando o desenvolvimento de legislação e técnicas de bem-estar animal nos sistemas de produção (BROOM; FRASER, 2010BROOM, D. M.; FRASER, A. F. Comportamento e bem-estar de animais domésticos. 4. ed. São Paulo: Manole, 2010. ).

Tabela 1
Frequência relativa das respostas para as perguntas a respeito do uso de animais para alimentação pelo total dos entrevistados, bem como dos relativos às áreas do saber

Animais usados para vestimenta

Muitas pessoas não veem inconsistência ética em usar produtos de couro ou lã, por serem resultado da exploração de animais originalmente usados na alimentação, sendo uma destinação útil para um produto que, inevitavelmente seria descartado. Por outro lado, as peles se tornaram acessórios ultrapassados, provavelmente, reflexo dos movimentos pró-animal de repercussão internacional, bem como devido à eficácia e ao preço dos materiais sintéticos (REGAN, 2006REGAN, T. Jaulas vazias. Porto Alegre: Lugano, 2006.). Logo, o fato de a maioria dos entrevistados reconhecerem as questões éticas envolvidas no uso de animais para vestimentas/acessórios (Tabela 2) leva ao questionamento se essas respostas refletem conhecimento e conscientização ou se são reflexo de uma conduta politicamente correta, explorada há muitos anos pela mídia. Ressalta-se a importância de se estimular, nas próximas discussões éticas, o custo ambiental do processamento desses materiais.

Tabela 2
Frequência relativa das principais respostas para as perguntas a respeito do uso de animais para vestimenta pelo total dos entrevistados, bem como dos relativos às áreas do saber

Animais usados para trabalho

A sociedade aceita e até estimula a utilização de animais para trabalho, sobretudo, como meios de transporte, uma vez que foram a base do desenvolvimento econômico e tecnológico da humanidade (PETROIANU, 1996PETROIANU, A. Aspectos éticos na pesquisa em animais. Acta Cirúrgica Brasileira, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 157-64, 1996.). Mesmo diante de todo o avanço da urbanização, o sustento de mais da metade da população mundial ainda depende dos animais de carga (WORLD ANIMAL PROTECTION BRASIL, 2007WORLD ANIMAL PROTECTION BRASIL. Animais de trabalho. [2007]. Disponível em: <http://www.mosaicoanimal.org.br/Images/M%C3%B3dulo_21_Animais_de_trabalho_tcm49-29404.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2010.
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).

Estima-se que cerca de trezentos milhões de animais são utilizados para tração e geração de força em países em desenvolvimento, movimentando uma economia de bilhões de dólares e promovendo a agropecuária familiar (WORLD ANIMAL PROTECTION BRASIL, 2007WORLD ANIMAL PROTECTION BRASIL. Animais de trabalho. [2007]. Disponível em: <http://www.mosaicoanimal.org.br/Images/M%C3%B3dulo_21_Animais_de_trabalho_tcm49-29404.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2010.
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). Embora se utilizem, para transporte, gado, búfalo, mula, camelo, lhama, iaque, burro, elefante e cão (RAMASWAMY, 1998RAMASWAMY, N. S. Draught animal welfare. Applied Animal Behaviour Science, Amsterdam, v. 59, n. 1-3, p. 73-84. 1998. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1016/S0168-1591(98)00122-1>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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), o cavalo é o mais explorado. O uso de cavalos para coleta de recicláveis é uma realidade de diversas cidades, gerando uma importante questão de cunho ético (OLIVEIRA et al., 2007OLIVEIRA, L. M. et al. Carroceiros e eqüídeos de tração: um problema sócio-ambiental. Caminhos de Geografia, Uberlândia, v. 8, n. 24, p. 204-216, 2007. ). Os maus-tratos, muitas vezes dispensados não intencionalmente, são geralmente negligenciados, estando atrelados aos diversos outros problemas das sociedades modernas, tais como: exclusão social, leis de trânsito, trabalho infantil, pobreza, ignorância e destinação incorreta dos entulhos (OLIVEIRA et al., 2007OLIVEIRA, L. M. et al. Carroceiros e eqüídeos de tração: um problema sócio-ambiental. Caminhos de Geografia, Uberlândia, v. 8, n. 24, p. 204-216, 2007. ). Deve-se ressaltar que os próprios equídeos selecionados há milênios para desempenho de atividades de força não têm resistido à carga de trabalho exigida pelas demandas urbanas, demandando o conhecimento do padrão de locomoção específico da tração urbana a fim de se estabelecerem os limites de exigências fiscais (MARANHÃO et al., 2006MARANHÃO, R. P. A. et al. Afecções mais freqüentes do aparelho locomotor dos eqüídeos de tração no município de Belo Horizonte. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 58, n. 1, p. 21-27, 2006. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0102-09352006000100004>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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), assim como a modernização do sistema por meio de: tecnologia e manejo, legislação, educação, capacitação e assistência veterinária (OLIVEIRA et al., 2007OLIVEIRA, L. M. et al. Carroceiros e eqüídeos de tração: um problema sócio-ambiental. Caminhos de Geografia, Uberlândia, v. 8, n. 24, p. 204-216, 2007. ). A discordância dos entrevistados com o uso de animais para trabalho reflete provavelmente a associação com a função de carga na área rural e a desvinculação dessa categoria de uso animal com as emergentes polêmicas da exploração para serviços urbanos tais como: ferramenta militar e policial, cão-de-guarda, cão-guia e na zooterapia, e igualmente relacionados à desinformação, desinteresse e insensibilidade (PROJETO ESPERANÇA ANIMAL, 2015bPROJETO ESPERANÇA ANIMAL. Animais usados para tração. Disponível em: <http://www.pea.org.br/crueldade/tracao/>. Acesso em: 20 nov. 2015b.
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) (Tabela 3).

Tabela 3
Frequência relativa das principais respostas para as perguntas a respeito do uso de animais para trabalho pelo total dos entrevistados, bem como dos relativos às áreas do saber

Animais usados para o entretenimento

O injustificável - ainda que aceitos e até estimulados pela sociedade - uso e subjugação de animais em circos, rodeios, farra-do-boi, vaquejadas, rinhas, espetáculos, caça, práticas esportivas e religiosas e zoológicos, tem levantado a discussão de questões éticas complexas (PETROIANU, 1996PETROIANU, A. Aspectos éticos na pesquisa em animais. Acta Cirúrgica Brasileira, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 157-64, 1996.). Mesmo que exista legislação conservacionista, o peso cultural conduz para que sejam realizadas clandestinamente, justificadas como práticas culturais cujo divertimento sádico do ser humano demanda que o animal continue sendo tratado como objeto desprovido de dor, sensibilidade, ética ou respeito (CHALFUN, 2008CHALFUN, M. Animais, manifestações culturais e entretenimento, lazer ou sofrimento? In: CONGRESSO MUNDIAL DE BIOÉTICA E DIREITO ANIMAL, 1., 2008, Salvador. Disponível em: <http://www.abolicionismoanimal.org.br/artigos/animaismanifestaesculturaiseentretenimentolazerousofrimento.pdf>. Acesso em: 1 abr. 2011.
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). Embora de maneira geral os entrevistados tenham mostrado posicionamento contundente contra ao uso de animais para entretenimento, refletindo um repúdio inerente à futilidade da prática, também evidenciaram terem visão parcial da amplitude dessa utilização, generalizando o uso para exibições em shows (Tabela 4).

Tabela 4
Frequência relativa das principais respostas para as perguntas a respeito do uso de animais para entretenimento pelo total dos entrevistados, bem como dos relativos às áreas do saber

A experiência de presenciar espetáculos com animais em circos e o abandono recente da prática, pela maioria significativa dos entrevistados, evidenciam a influência do contexto cultural na tomada de decisão. Resultado este provavelmente reflexo de uma atuação, mesmo que ainda tímida, de ativistas e ONGs nesse segmento (PETROIANU, 1996PETROIANU, A. Aspectos éticos na pesquisa em animais. Acta Cirúrgica Brasileira, São Paulo, v. 11, n. 3, p. 157-64, 1996.). Apesar de a visão tradicional persistir, informações sobre as aversivas técnicas de manejo, confinamento, condicionamento por punição, redução do comportamento natural têm levado à demanda de substituição das performances animais pelo artista humano (REGAN, 2006REGAN, T. Jaulas vazias. Porto Alegre: Lugano, 2006.). É possível que a exploração de animais a partir de outras mídias, tais como cinema, TV, internet e jogos, tenha suprido a necessidade de presenciar os espetáculos. Legalmente, o uso de animais em circos foi proibido em diversos estados brasileiros, contudo, apesar dos inerentes maus-tratos, práticas como o rodeio são mantidas sob uma motivação econômica e cultural (PROJETO ESPERANÇA ANIMAL, 2015aPROJETO ESPERANÇA ANIMAL. Animais em circos. Disponível em: <http://www.pea.org.br/Crueldade/circos/index.htm>. Acesso em: 20 nov. 2015a.
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).

A limitação da compreensão da exploração animal para entretenimento ficou evidente na condenação aos circos, mas não na percepção da problemática envolvida no confinamento de animais para exposição nos zoológicos, criados com o propósito de expor espécies exóticas (SANDERS; FEIJÓ, 2007SANDERS. S.; FEIJÓ. A. G. S. Uma reflexão sobre animais selvagens cativos em zoológicos na sociedade atual. Uma reflexão sobre animais selvagens cativos em zoológicos na sociedade atual. In: CONGRESSO INTERNACIONAL TRANSDISCIPLINAR AMBIENTE E DIREITO, 3., 2007, Porto Alegre.Anais... Porto Alegre: PUC RS, 2007.). Provavelmente, a diversidade de informações sobre a vida animal transmitida pelos documentários tem sensibilizado a sociedade, levando a cobrança por atitudes éticas, superando a demanda pública pela estética natural (MORRIS, 1990MORRIS, D. O contrato animal. Rio de Janeiro: Record, 1990.). Contudo, o ambiente artificial do cativeiro tem exposto, ao público, animais doentes e transfigurados, sendo os próprios visitantes fatores estressantes e desencadeadores de estereotipias e comportamentos agressivos, sobretudo pequenos primatas, que podem interpretá-los como predadores (AGORAMOORTHY, 2004AGORAMOORTHY, G. Ethics and welfare in southeast Asian zoos.Journal of Applied Animal Welfare Science, Philadelphia, v. 7, n. 3, p. 189-195, 2004.). Deve-se considerar que as demandas conservacionistas e educacionais dos zoológicos ainda não conseguiram superar a visão tradicional de um local de recreação onde bons momentos em família são ilustrados por animais raros totalmente dominados pelo homem. Essa percepção, aliada ao desserviço promovido pela mídia, possibilitam que ocorram casos como o menino que teve seu braço dilacerado por um tigre no zoológico de Maringá por não conceber a natureza selvagem do animal (MEU pai..., 2014MEU pai não teve culpa, diz menino que perdeu braço após ataque de tigre no zoo. O Globo, Rio de Janeiro, 10 ago. 2014. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/brasil/meu-pai-nao-teve-culpa-diz-menino-que-perdeu-braco-apos-ataque-de-tigre-no-zoo-13556209>. Acesso em: 6 out. 2015.
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). A inviabilidade de eliminação dos zoológicos, pelo menos a curto e médio prazos, tem conduzido à busca de melhoria dos recintos, tornando-os mais enriquecidos e estimulantes e proporcionando melhores condições e bem-estar para os animais (MARINO et al., 2010MARINO, L. et al. Do zoos and aquariums promote attitude change in visitors?: a critical evaluation of the American zoo and aquarium study.Society and Animals, Leiden, v. 18, p. 126-138, 2010. Disponível em: <http://animalsandsociety.org/assets/322_marinoazastudy.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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). Até mesmo o impacto da concentração, densidade, atividade, tamanho, posição e barulho dos visitantes pode ser reduzido com estruturas que criem barreiras visuais, olfativas e sonoras (DAVEY, 2006DAVEY, G. Chinese university student's attitudes toward the ethical treatment and welfare of animals. Journal of Applied Animal Welfare Science, Philadelphia, v. 9, n. 4, p. 289-297, 2006. ). A cobrança da visitação é tida como uma solução pelos entrevistados, a fim de que os recursos possam ser direcionados para manutenção dos animais. Ressalva-se que essa prática já é exercida em inúmeras instituições e que, de fato, viabiliza tanto os programas de enriquecimento ambiental e educação ambiental e mudança na conduta ética, quanto de conservação ex-situ, reintrodução, pesquisa e expansão de parcerias no segmento do turismo. Segundo Marino et al. (2010)MARINO, L. et al. Do zoos and aquariums promote attitude change in visitors?: a critical evaluation of the American zoo and aquarium study.Society and Animals, Leiden, v. 18, p. 126-138, 2010. Disponível em: <http://animalsandsociety.org/assets/322_marinoazastudy.pdf>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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, mundialmente, existem cerca de 12 mil zoológicos e parques, os quais atraem em torno de seiscentos milhões de visitantes, destes cerca de mil são reconhecidos pelas boas práticas no bem-estar animal.

Animais usados para companhia

Os benefícios dos animais de companhia para a saúde física e mental, sobretudo de crianças e idosos, têm sido amplamente enfatizados (AL-FAYEZ et al., 2003AL-FAYEZ, G. et al. Companion animal attitude and its family pattern in Kuwait. Society & Animals, Leiden, v. 11, n. 1, p. 17-28, 2003. ), porém, ainda são pouco compreendidas as razões pelas quais as pessoas confinam animais domésticos ou selvagens em suas moradias, uma vez que, paradoxalmente ao amor (PLOUS, 1993PLOUS, S. Psychological mechanisms in the human use of animals.Journal of Social Issues, Hoboken, v. 49, n. 1, p. 11-52, 1993. ) e à busca por companhia, cerca de 60% dos cães vivem sós, apenas 10% dos tutores dispendem tempo para caminhadas diárias, o que resulta em danos físicos e psicológicos, tais como agressividade e ansiedade (STAFFORD, 2008STAFFORD, K. The human-animal bonds. In: INTERNATIONAL ANIMAL WELFARE CONFERENCE, 2007, Gold Coast, Australia. Proceedings...Canberra: Department of Agriculture, Fisheries and Forestry, 2008. Disponível em: <http://www.australiananimalwelfare.com.au/app/webroot/files/upload/files/The%20human-animal%20bond.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2015.
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). Portanto, uma atitude ética e responsável é esperada por parte de todos aqueles que possuem, ou desejam possuir animais de estimação. Já é possível perceber mudança social em que animais domésticos têm assumido o papel de membros das famílias e os selvagens, tradicionalmente usados para caça, agora são objetos de fascinação e explorados pelos programas de TV e parques selvagens (SANDOE; CHRISTIANSEN, 2009SANDOE, P.; CHRISTIANSEN, S. B. Animal futures: the changing face of animal ethics. In: MILLAR, K.; WEST, P. H.; NERLICH, B. (Ed.). Ethical futures: bioscience and food horizons. Wageningen: Wageningen Academics, 2009. p. 27-33. ). Contudo, deve-se considerar que os animais elegidos para companhia estão vinculados a expressões culturais (AL-FAYEZ et al., 2003AL-FAYEZ, G. et al. Companion animal attitude and its family pattern in Kuwait. Society & Animals, Leiden, v. 11, n. 1, p. 17-28, 2003. ), sendo comum, em regiões tropicais, o confinamento de animais selvagens, o que gera outra questão ética contemporânea, cujo costume incentiva o tráfico de animais e diminuição de populações naturais, chegando a levar algumas espécies à extinção (GOMES; OLIVEIRA, 2013GOMES, C. C.; OLIVEIRA, R. L. D. O tráfico internacional de animais: tratamento normativo e a realidade brasileira. Direito e Liberdade, Natal, v. 14, n. 2, p. 29-42, 2013. ).

A maioria dos entrevistados, sobretudo da ESB, possui, pelo menos, um animal de companhia, sendo citados até oito, predominando o cão. A justificativa passional foi a mais frequente, contudo, os entrevistados da ESB e EN foram os que relataram maiores frequências de outros motivos. Apesar de a maioria não saber responder se o animal que possui pertence à fauna silvestre ou exótica, nem conhecer a sua origem, afirma que se preocupa com a história natural e acredita que as condições oferecidas suprem as suas necessidades básicas (Tabela 5).

Tabela 5
Frequência relativa das principais respostas para as perguntas a respeito do uso de animais para companhia pelo total dos entrevistados, bem como dos relativos às áreas do saber

Os resultados a respeito do uso de animais para companhia elucidam um descompasso entre percepção e posicionamento ético, bem como a falta de informação. O foco de quem adquire um animal de estimação parece ser mais as gratificações emocionais do que a promoção do bem-estar dos mesmos. A maioria dos entrevistados acredita que as condições oferecidas aos seus animais suprem as necessidades básicas, contudo, deve-se considerar que o que é bom para o tutor necessariamente não será para o animal, tais como: humanização, seleção de raças e mutilações com fins estéticos (BROOM; FRASER, 2010BROOM, D. M.; FRASER, A. F. Comportamento e bem-estar de animais domésticos. 4. ed. São Paulo: Manole, 2010. ). O cão é a espécie mais utilizada para companhia reflexo do intenso processo de domesticação (REGAN, 2006REGAN, T. Jaulas vazias. Porto Alegre: Lugano, 2006.) e, também, a espécie mais abandonada, decorrente, sobretudo, da compra por impulso, gerando elevada e preocupante densidade populacional de animais errantes, especialmente nos centros urbanos, potenciais transmissores de zoonoses e geradores de acidentes (SANTANA et al., 2004SANTANA, L. R. et al. Posse responsável e dignidade dos animais. In: CONGRESSO INTERNACIONAL EM DIREITO AMBIENTAL, 8., 2004, São Paulo.Anais... São Paulo: Instituto O Direito por um Planeta Verde, 2004. ).

A Bioética animal e o ensino de ciências

O ensino de ciências tanto no nível Fundamental quanto no Médio deve ultrapassar a visão tradicional de desenvolver as óbvias e necessárias habilidades e competências tecno-científicas, e transmitir informações atualizadas (PRAIA; GIL-PÉREZ; VILCHES, 2007PRAIA, J.; GIL-PÉREZ, D.; VILCHES, A. O papel da natureza da ciência na educação para a cidadania. Ciência & Educação, Bauru, v. 13, n. 2, p. 141-156, 2007. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1516-73132007000200001>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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; SANTOS; MORTIMER, 2001SANTOS, W. L. P.; MORTIMER, E. F. Tomada de decisão para ação social responsável no ensino de ciências. Ciência & Educação, Bauru, v. 7, n. 1, p. 95-111, 2001. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1516-73132001000100007>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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). As sociedades contemporâneas globalizadas e com sérias questões éticas oriundas de um sistema capitalista, individualista e imediatista demandam mudanças de paradigmas e o desenvolvimento de valores morais que balizem a tomada de decisões para problemas novos, complexos e globais (BAUMAN, 2004BAUMAN, Z. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.). O rápido desenvolvimento tecnológico tem se mostrado incompatível com as primitivas necessidades biológicas do homem e da natureza. Apenas por meio de uma contemplação mais ampla que promova a construção de uma percepção do cidadão como corresponsável pela saúde de todos os habitantes do planeta será possível a retomada de um convívio ético com a natureza. Santos e Mortimer (2001)SANTOS, W. L. P.; MORTIMER, E. F. Tomada de decisão para ação social responsável no ensino de ciências. Ciência & Educação, Bauru, v. 7, n. 1, p. 95-111, 2001. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1516-73132001000100007>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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ressaltam que a decisão responsável implica a consciência dos problemas e dos valores e normas sociais utilizados para orientação da conduta. Políticas públicas presentes desde acordos internacionais, como a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento até os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), reclamam a ação dos educadores na construção do cidadão crítico e autônomo. Embora o PCN não fale claramente em ética no uso de animais, aborda, como objetivo do ensino de ciências, a formação de um cidadão participativo social e politicamente, e que contribua ativamente na melhoria da relação com meio ambiente por intermédio do respeito à vida com um todo. Os professores de ciência devem preparar o aluno para perceber as questões éticas como problemas e muni-los de valores e atitudes aplicadas em situações reais que devem ser discutidas em aula (SANTOS; MORTIMER, 2001SANTOS, W. L. P.; MORTIMER, E. F. Tomada de decisão para ação social responsável no ensino de ciências. Ciência & Educação, Bauru, v. 7, n. 1, p. 95-111, 2001. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1516-73132001000100007>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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). As crianças levam para o ambiente escolar representações construídas pela mídia, família e religião. Esses saberes acumulados devem ser considerados no desenvolvimento de ações educativas ambientalmente comprometidas com a formação do indivíduo por meio de uma prática pedagógica criativa, democrática e que dialoga com diferentes gerações e culturas, estimulando a ética nas relações entre os seres vivos (MARTINHO; TALONI, 2007MARTINHO, L. R.; TALAMONI, J. L. B. Representações sobre meio ambiente de alunos da quarta série do ensino fundamental. Ciência & Educação, Bauru, v. 13, n. 1, p. 1-13, 2007. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S1516-73132007000100001>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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).

Assim, a escola passa ter a missão de equipar os estudantes de ferramentas para refletirem sobre as informações cotidianas e elaborarem suas próprias conclusões (DOURADO; MATOS, 2014DOURADO, L.; MATOS, L. A problemática dos organismos geneticamente modificados e a formação científica do cidadão comum: um estudo com alunos de escolas portuguesas. Ciência & Educação, Bauru, v. 20, n. 2, p. 279-296, 2014. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/1516-73132014000400005>. Acesso em: 19 nov. 2015.
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), as quais devem ultrapassar o aspecto de empatia pelo ser-vivo, fundamental no direcionamento da área de atuação profissional, levando ao balizamento do seu dever como cidadão independente do papel que irá exercer na sociedade. A maioria significativa dos entrevistados universitários apontou carência de debates das condutas éticas na utilização de animais. Contudo, os acadêmicos da área biológica foram os que evidenciaram maior preocupação, apontando a possibilidade de substituição dos usos, sobretudo das vestimentas. A maioria dos estudantes ainda considera o uso animal como um mal necessário, porém acredita que o mesmo deva ser controlado: seja pela redução do uso, maior respeito, pesquisas, ações diretas, penalidades, controle de compra e venda ou implementação de Comitês de Ética mais rígidos (Tabela 6).

Tabela 6
Frequência relativa das principais respostas quanto às consequências, substituição e soluções para o uso de animais pelo total dos entrevistados, bem como dos relativos às áreas do saber.

Conclusão

A avaliação global dos resultados do presente estudo evidencia a existência de preocupação ética e apoio para que o tema "ética no uso de animais" e "bem-estar animal" seja mais abordado em ambientes educacionais. Ainda assim, a maioria absoluta dos entrevistados acredita que o uso de animais é justificável. Mesmo não sendo evidente a preocupação com as consequências em todas as áreas analisadas, é importante ressaltar que os entrevistados sabem que elas existem. O fim do uso de animais pelo ser humano parece ser utópico em face de uma sociedade consumista e utilitarista. Porém, a redução e a substituição são válidas sob o ponto de vista científico, ecológico, legal e, sobretudo, ético. O fato de a sociedade endossar menos atividades de pesquisa com animais de companhia ou mamíferos de grande porte em detrimento dos roedores ou espécies não mamíferas, impacta no apoio público para conservação de espécies como insetos, répteis ou peixes, demandando mais esforços para a educação (DRISCOLL, 1995DRISCOLL, J. W. Attitudes toward animals: species ratings. The White Horse Press, Cambridge, v. 3, n. 2, p. 139-150, 1995. ). A sociedade tende a ser intolerante com os usos que possuem alternativas, julgando-os frívolos ou desnecessários, como o entretenimento e a vaidade, contudo, apoiam o uso em pesquisas e no ensino, pois os benefícios são maiores do que os custos (KNIGHT et al., 2004KNIGHT, S. et al. Attitudes towards animal use and belief in animal mind. Anthrozoos, Abingdon, v. 17, n. 1, p. 43-62, 2004., 2009KNIGHT, S. et al. "Science versus human welfare?: understanding attitudes toward animal use". Journal of Social Issues, Hoboken, v. 65, n. 3, p. 463-83, 2009.). Segundo Serpell (2004)SERPELL, J. A. Factors influencing human attitudes to animals and their welfare. Animal Welfare, St Albans, v. 13, suppl. 1, p. 145-151, 2004. , as atitudes e opiniões da sociedade, somadas a evidências científicas, forçam a elaboração de legislação e políticas públicas; por isso, entender as atitudes e valores da sociedade é fundamental. Logo, é evidente a necessidade de maior discussão desses temas no ensino de ciências para habilitar e instrumentalizar a sociedade na tomada de decisões sobre as aplicações da ciência e, assim, exercer cidadania plena. Esse processo é denominado "alfabetização científica", sendo os valores éticos a base para o julgamento, opção por ideologias, crenças ou teorias. Assim, a educação deve proporcionar os aportes para que os cidadãos compreendam as informações e tomem decisões com base sólidas, contribuindo para construir uma sociedade cujo limite da ciência seja o respeito à biodiversidade e à dignidade de todos os seres vivos (SCHEID, 2011SCHEID, N. M. J. Temas controversos no ensino de ciências: apontamentos de natureza ética. Diálogo, Canoas, v. 19, n. 1, p. 65-79, 2011.).

Os dados do presente estudo não evidenciam diferenças claras entre a percepção ética sobre a utilização de animais para diferentes finalidades e as áreas de saber avaliadas, sugerindo que as atitudes éticas ultrapassam a afinidade da atuação profissional. Esse resultado fundamenta a hipótese do presente estudo, de que a pouca relação com os mecanismos envolvidos com a vida, objeto de trabalho da área biológica, faria com que os acadêmicos e os profissionais dessa área mostrassem maior compreensão e preocupação com o bem-estar dos animais. No entanto, o resultado conduz a uma interpretação importante de que a falta de informação e conscientização parecem ser componentes essenciais para mudança nas atitudes éticas. A preocupação e a reflexão sobre as questões éticas contemporâneas não devem ser tratada apenas no Ensino Superior, mas os valores devem ser paulatinamente construídos desde o Ensino Básico e, concomitantemente, com a incorporação de conceitos sobre história natural, tecnologia e sociedade. Contribuindo, desta forma, com a formação profissional mais consistente e consciente. Uma vez que o universo a ser trabalhado é homogêneo quanto a suas percepções, remete a elaboração de programas globais de sensibilização e conscientização que despertem a visão do animal como ser senciente. Esse estudo apresenta uma visão global, contudo, o aprofundamento em cada um dos usos é extremamente necessário para que sejam elaboradas políticas de intervenção mais contundentes.

Agradecimentos

Agradecimento especial aos respondentes, cuja dedicação e paciência foram fundamentais para a realização deste trabalho.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2016

Histórico

  • Recebido
    14 Ago 2014
  • Aceito
    04 Out 2015
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