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Editorial

EDITORIAL

Profa. Dra. Fernanda Dreux M. Fernandes

O último editorial do ano é sempre uma oportunidade de reflexão e eu não posso deixar de pensar no que representaram esses últimos dois anos, nos quais eu tive a oportunidade de estar na presidência da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia. Foi um período de enorme aprendizado, muito trabalho e muitas alegrias.

Durante esse período, eu conheci muita gente e tive contato com diversas faces da Fonoaudiologia. Meu orgulho visceral pela profissão que escolhi cresceu na medida eu que foi ficando cada vez mais clara a posição da Fonoaudiologia brasileira no cenário internacional.

Procurei também demonstrar, sempre que possível, minha profunda consideração por todos os colegas de profissão. Algumas vezes isso significou contrapor opiniões, mas sempre significou completo respeito a todas as posições.

A revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia continua em seu processo de consolidação. Neste número contamos com nove artigos originais, dois relatos de caso, um artigo de revisão de literatura, um artigo refletindo sobre o novo, uma resenha e três resumos.

O Editorial convidado é escrito pelas diretoras científicas da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, Beatriz Mendes e Ana Luisa Navas, as grandes responséveis pelo sucesso no 15º Congresso Brasileiro e 7º Congresso Internacional de Fonoaudiologia.

No primeiro artigo original, Befi-Lopes, Puglisi, Rodrigues, Giusti, Gândara e Araújo descrevem estudo a respeito do perfil comunicativo de crianças com Alterações Específicas no Desenvolvimento da Linguagem: caracterização longitudinal das habilidades pragmáticas que determinou o desempenho, em prova de Pragmática, de 56 crianças entre 1a10m e 5a11m, com diagnóstico de Alteração Específica no Desenvolvimento da Linguagem. As autoras concluem que o desempenho inicial foi a variável que melhor predisse o desempenho após a terapia fonoaudiológica.

O estudo de Taucci e Bianchini, com título de Verificação da interferência das disfunções temporomandibulares na articulação da fala: queixas e caracterização dos movimentos mandibulares analisou os movimentos mandibulares durante a fala de 50 indivíduos adultos, 25 com disfunções temporomandibulares e 25 sem alterações. As conclusões indicam que parece haver associação entre as disfunções temporomandibulares e as características dos movimentos de fala observados.

Dalvi e motta apresentam o resultado da pesquisa que investigou a Visão dos médicos que atuam em Pediatria no extremo sul da Bahia em relação aos hábitos orais deletérios de 30 pediatras, através da aplicação de um questionário específico e concluiu que a amostra investigada atua parcialmente associada à Fonoaudiologia.

O estudo intitulado Disfagia orofaríngea em pacientes submetidos à entubação orotraqueal é apresentado por Grigio e Chehter e apresenta pesquisa com 30 adultos internados numa uti a que receberam entubação orotraqueal e conclui que pacientes submetidos a entubação orotraqueal, apresentam, após a extubação, alterações das fases oral e faríngea da deglutição.

O Perfil audiológico de pacientes com diabetes mellitus tipo II é apresentado por Ferreira, Sampaio, Coelho e Almeida. as autoras avaliaram 88 orelhas de pacientes adultos portadores de Diabetes Mellitius tipo II através de audiometria tonal liminar, audiometria vocal e imitância acústica e concluíram que foi possível observar perda auditiva nesses pacientes, o que torna importante o acompanhamento audiológico dessa população.

Gonçalves, Tochetto e Gambini estudaram a Hiperacusia em músicos de banda militar para identificar a presença de hiperacusia e as características dos estímulos desconfortáveis em 27 músicos de uma banda militar com idades entre 22 e 50 anos, com tempo de serviço militar entre quatro e 26 anos e com exposição diária ao ruído durante duas a oito horas. Foi verificada a presença de hiperacusia em 37% dos músicos e 90% referiram a presença de zumbido. dados como reações emocionais e uso de protetor auricular são também apresentados.

O estudo a respeito do Teste de padrão harmônico em escuta dicótica com dígitos – TDDH apresentado por rios, rezende, pela, ortiz e pereira descreve a elaboração de um teste de processamento auditivo com estímulos de fala cantada em tarefa dicótica, que se mostrou aplicável a indivíduos ouvintes. Os autores afirmam que estímulos de fala cantada podem modificar o desempenho nas tarefas de escuta dicótica em separação binaural.

A eficácia do treinamento auditivo formal em indivíduos com transtorno de processamento auditivo foi estudada por zalcman e schochat em 30 sujeitos com idades entre oito e 16 anos que foram submetidos a treinamento auditivo durante oito semanas para reabilitação de habilidades auditivas consideradas alteradas na avaliação inicial. Após o treinamento auditivo houve melhora em todos os testes aplicados, o que levou ã conclusão de que o programa utilizado foi eficaz.

Miranda, Andrade, Gil eIório descrevem pesquisa a respeito da efetividade do treinamento auditivo formal em idosos usuários de próteses auditivas no período de aclimatização, que estudou 18 sujeitos idosos de ambos os sexos adaptados com próteses auditivas intra-aurais binaurais há uma semana e que foram divididos em dois grupos, um que recebeu treinamento auditivo e outro que não recebeu esse treinamento. A conclusão sugerida é que um programa de reabilitação aural incluindo treinamento auditivo formal beneficia os idosos no período de adaptação das próteses auditivas.

Nos relatos de casos, Silva, Lopes-Herrera e De Vitto apresentam o artigo Distúrbio de linguagem como parte de um transtorno global do desenvolvimento: descrição de um processo terapêutico fonoaudiológico que descreve a intervenção fonoaudiológica com uma criança autista durante nove meses. Os resultados apresentados mostram desenvolvimento de comunicação, uso da linguagem oral e de outras formas de simbolismo.

Ieto e cunha apresentam o artigo Queixa, demanda e desejo na clínica fonoaudiológica: um estudo de caso clínico em que descrevem a inclusão da demanda latente no atendimento fonoaudiológico de um menino de 11 anos de idade com queixa paterna de ausência de oralidade.

O artigo de revisão de literatura apresentado por Goulart e Chiari aborda a Avaliação clínica fonoaudiológica, integralidade e humanização: perspectivas gerais e contribuições para reflexão enfatiza a importância de que os fonoaudiólogos considerem a importância das questões ligadas à relação entre o profissional, o paciente, seus familiares e outros profissionais durante a avaliação clínica inicial e avaliações sistemáticas para acompanhamento do progresso do tratamento.

O artigo Refletindo Sobre o Novo deste número é escrito por Navas e comenta o artigo What phonological deficit?, de Ramus e Szenkovits, que será publicado em 2008 e que traz uma "extensa e detalhada revisão crítica sobre a natureza do 'déficit de processamento fonológico' na dislexia do desenvolvimento".

Britto apresenta uma resenha sobre dois artigos: The faculty of language: what is it, who has it, and how did it evolve? e The faculty of language: what´s special about it? respectivamente de Hauser, Chomsky e Fitch e de Pinker e Jackendoff. ambos os artigos abordam, sob pontos de vista opostos, a questão de a linguagem ser uma habilidade exclusivamente humana ou partilhada com outros animais. O resultado é um debate instigante.

O primeiro resumo apresenta a tese defendida por Barbosa na Faculdade de Medicina da USP, com o título Avaliação das habilidades comunicativas de crianças surdas: a influência do uso da língua de sinais e do português pelo examinador bilíngüe que destaca a importância do conhecimento da língua de sinais pelo fonoaudiólogo.

O resumo seguinte apresenta a tese defendida por Sousa-Morato, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, e que tem o título Perfil funcional da comunicação e a adaptação sócio-comunicativa no espectro autístico.

Por fim, o último resumo traz a dissertação de mestrado defendida por Akyiama na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo com o título Análise comparativa da intervenção fonoaudiológica na surdez: com a família ou com os pais.

Este ano encerra-se também a gestão 2006/2007 desta diretoria. As eleições realizadas pela primeira vez pela Internet mostraram-se um sucesso e um percentual maior de associados participou do processo. O grupo atual foi reeleito, com algumas modificações.

Mesmo com poucas mudanças, um novo período será iniciado em 2008. No biênio que se encerra, espero ter aprendido um pouquinho só da sensibilidade da Ana Luisa Navas, da generosidade da Ana Paula Mackay, da afetividade da Ana Teresa Britto, da lealdade da Beatriz Mendes, da coragem do Fabio Lessa, da segurança da Ieda Russo e do otimismo da Zelita Guedes.

Agradeço de coração pela oportunidade de conviver com pessoas tão especiais e aprender "na fonte", coisas tão essenciais.

As festas de final de ano podem ser uma grande oportunidade de lembrar de conquistas e traçar planos para o futuro. Que isso seja feito com muita alegria, otimismo e energia.

Feliz 2008.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Jan 2008
  • Data do Fascículo
    Dez 2007
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