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Editorial

EDITORIAL

Profa. Dra. Vera Lúcia Ferreira Mendes

A atuação da Fonoaudiologia dentro do Sistema de saúde é bastante extensa, perpassando diferentes níveis de assistência, o que requer o desenvolvimento de distintas tecnologias de trabalho em saúde que sejam capazes de cuidar dos processos de adoecimento de pessoas e de grupos sociais de risco ou em situação de vulnerabilidade social e, consequentemente, desenvolver ações de promoção, prevenção e educação em saúde, diretamente relacionadas à melhoria dos indicadores de qualidade de vida e de saúde da população.

Nesta perspectiva, a Atenção Básica, a Saúde da Família e os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), merecem destaque, uma vez que, buscam organizar suas práticas em bases territoriais definidas a partir do conhecimento das necessidades de saúde da população e de perfis epidemiológicos específicos, sendo responsável pelos processos de cuidado de 90% dos agravos à saúde.

Pode-se dizer que a proposta dos NASF, em boa medida anunciadas na Portaria do Ministério da Saúde n. 154/2008, propõem ampliar a abrangência e o escopo das ações da atenção básica, bem como sua resolutividade, apoiando a inserção da estratégia de Saúde da Família na rede de serviços e o processo de territorialização e regionalização a partir da atenção básica (Ministério da Saúde, 2007).

Tenho defendido, juntamente com alguns colegas da Fonoaudiologia e de fora dela, a idéia de que a Atenção Básica atua na fronteira do campo clínico e do campo social, cumprindo importante papel na rede de cuidados à saúde, desde que seja capaz de articular ações individuais e coletivas com o objetivo de tratar e monitorar os processos de adoecimento e ampliar as possibilidades de circulação e de participação social.

As ações aqui desenvolvidas exigem, necessariamente, a atuação de equipes interdisciplinares, implicadas em processos de trabalho transdisciplinar e na criação/invenção de dispositivos terapêuticos, ampliando os horizontes da atuação dos profissionais de saúde.

Se for assim, a atuação do fonoaudiólogo para além de suas especificidades científicas e em práticas clínicas tradicionais, pede esforço radical para entrar em conexão com diferentes saberes e desenvolver projetos capazes de lidar com a dimensão da pluralidade da vida e a complexidade dos processos de saúde/doença.

Pode-se dizer que o desafio da inserção da Fonoaudiologia nos NASF evidencia, mais uma vez, os novos arranjos tecnológicos em curso no campo da saúde. Seremos capazes de entrar neste barco? Com que agilidade?

Se a produção da Saúde é um arranjo tecnológico centrado na potência de ação dos coletivos e de sua capacidade de interagirem e de se porem em relação, poderíamos nos perguntar: Como temos contribuído para a ampliação da potência dos coletivos de que fazemos parte?

A meu ver, a presença mais efetiva do fonoaudiólogo na Atenção Básica, na Saúde da Família e nos NASF, depende, entre outras coisas:

- da discussão e participação organizada dos profissionais na definição de estratégias de convencimento e sensibilização dos gestores e profissionais da saúde sobre a importância da inserção do Fonoaudiólogo nos NASF, através da sistematização e análise dos agravos à saúde, das necessidades de sujeitos e grupos sociais, bem como de propostas e ações que possam contribuir com a melhoria dos indicadores de saúde;

- da ampliação da participação dos fonoaudiólogos em fóruns de associações profissionais (da Fonoaudiologia, Fisioterapia/Terapia Ocupacional, Saúde Mental, Saúde Coletiva, entre outros) conselhos gestores, reuniões de equipes e de comunidade, etc.;

- de um maior alinhamento das ações do fonoaudiólogo às atuais proposições das políticas públicas nacionais: Atenção Básica, Promoção à Saúde, Integração à Pessoa com Deficiência, Saúde do Idoso, Saúde Auditiva, Humanização, entre outras;

- da reorganização das ações do fonoaudiólogo na rede de atenção à saúde e dos processos de trabalho em equipe, supondo uma outra ética na produção dos saberes, das práticas e das relações no campo da saúde.

Este pode ser um bom começo para a reflexão e análise das experiências de atuação da Fonoaudiologia na Saúde da Família e, mais recentemente, ao trabalho que começa a ser desenvolvido nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), uma vez que estamos diante de uma das propostas mais promissoras de ampliação do acesso da população à Atenção Integral à Saúde.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Abr 2009
  • Data do Fascículo
    2009
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