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Editorial

Editorial

Profa. Dra. Fernanda Dreux M. Fernandes

A edição de setembro da Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia é mais um amplo painel da produção de nossa ciência e evidencia o papel importante dessa publicação no cenário da Fonoaudiologia nacional. Temos artigos das mais significativas instituições de ensino e pesquisa nacionais e uma importante contribuição internacional. É importante também mencionar a representatividade nacional da produção científica, pois temos, além de São Paulo, trabalhos do Acre, de Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul. A quase totalidade dos artigos publicados tem a autoria de professores doutores, adjuntos, associados, livre-docentes e professores titulares, o que significa um aval ainda mais claro da qualidade do material publicado.

O primeiro artigo original, com o título O uso de metáforas como recurso didático no ensino do canto: diferentes abordagens tem a autoria de Sousa, Andrada e Silva e Ferreira, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUCSP), e envolveu a verificação do uso de expressões metafóricas por professores de canto de diferentes gêneros musicais. A amostra foi composta por 20 professores de canto que responderam a um questionário baseado em pesquisas anteriores. Os autores concluem que a maioria dos professores pesquisados utiliza metáforas como ferramenta didática.

Em estudo realizado na Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) a respeito da Postura crânio-cervical em mulheres disfônicas, Bigaton, Silvério, Berni, Distefano, Forti e Guirro analisaram 28 mulheres com e sem disfonia, divididas em grupo experimental e controle, submetidas à avaliação do Índice de Disfunção Crânio-Cervical (IDCC) e fotogrametria e concluíram que não houve diferença na posição da cabeça entre os grupos avaliados, mas as mulheres disfônicas apresentaram disfunção crânio-cervical mais acentuada que as do grupo controle.

Valentim, Côrtes e Gama, da Universidade Federal de Minas Gerais realizaram a pesquisa Análise espectrográfica da voz: efeito do treinamento visual na confiabilidade da avaliação. Seu objetivo foi verificar se o treinamento visual melhora a concordância inter e intra-avaliadores da interpretação da análise acústica espectrográfica. Participaram 20 sujeitos, estudantes de Fonoaudiologia, que analisaram 25 espectogramas. Os autores concluíram que o treinamento visual melhorou a confiabilidade inter e intra-avaliadores na interpretação de espectrogramas.

O estudo Avaliação da performance vocal antes e após a vibração sonorizada de língua foi realizado por Azevedo, Passaglio, Rosseti, Silva, Oliveira e Costa da Pontifícia Universidade de Minas Gerais e teve por objetivo verificar o tempo ideal de execução da técnica de vibração sonorizada de língua necessário para interferir nas medidas de perturbação a curto prazo, de frequência fundamental e intensidade vocal em 43 voluntárias. A conclusão foi de que a técnica de vibração sonorizada de língua foi mais efetiva a partir de três minutos.

O estudo Análise vocal e laríngea na hipótese diagnóstica de nódulos e cistos, apresentado por Barata, Madazio, Behlau e Brasil do Centro de Estudos da Voz (CEV) e da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), teve como objetivo verificar, via fonação inspiratória, se parâmetros visuais e perceptivo-auditivos relacionam-se com a hipótese diagnóstica de nódulos e cistos a levou à conclusão de que a fonação inspiratória evidenciou características diferentes para nódulos e cistos e que a análise perceptivo-auditiva proporcionou informação adicional para a caracterização das lesões.

Em estudo realizado no Hospital de Reabilitação de Alterações Craniofaciais da USP de Bauru, com o título Caracterização da fala de indivíduos submetidos à palatoplastia primária, Mituuti, Piazentin-Penna, Brandão e Bento-Gonçalves buscaram relacionar a fala de indivíduos submetidos à palatoplastia primária com o tipo de fissura, a técnica cirúrgica e a idade na ocasião da cirurgia; e, descrever as condutas fonoaudiológicas após a cirurgia em 167 casos, de ambos os gêneros. A maioria dos indivíduos apresentou ressonância equilibrada ou hipernasalidade aceitável e ausência de articulações compensatória, independente do tipo de fissura, da técnica cirúrgica e da faixa etária.

Efeito da veloplastia intravelar sobre o fechamento velofaríngeo avaliado por meio da técnica fluxo-pressão é o título do estudo apresentado por Yamashita, Oliva, Fukushiro, Brustello e Trindade também do Hospital de Reabilitação de Alterações Craniofaciais da USP de Bauru. Seu objetivo foi avaliar o efeito da cirurgia sobre o fechamento velofaríngeo de 47 pacientes com fissura de palato reparada. Após a cirurgia, verificou-se melhora considerável no grau de fechamento velofaríngeo em 66% dos casos. Estes resultados mostraram que a veloplastia intravelar levou à melhora do fechamento velofaríngeo na maioria dos pacientes analisados repercutindo na redução dos sintomas de fala.

Mordida aberta anterior e hábitos orais em crianças é a pesquisa descrita por Lima, Cordeiro, Justo e Rodrigues, da Faculdade São Lucas. Ela teve por objetivo verificar a ocorrência de mordida aberta anterior e sua associação com os hábitos orais deletérios dentre 275 pré-escolares com idade entre quatro e seis anos, com dentição decídua completa. Os resultados indicaram a presença de mordida aberta anterior em 21,45% dos pré-escolares e, dentre os hábitos orais, a associação mais prevalente foi o uso de mamadeira e chupeta.

Câmara, Azevedo, Lima e Sartorato, da Universidade Federal de São Paulo estudaram o Efeito de fármacos ototóxicos na audição de recém-nascidos de alto risco, em uma análise retrospectiva dos prontuários de 250 crianças, com o objetivo de calcular a incidência de perdas auditivas sensorioneurais em neonatos de alto risco. A incidência desse tipo de perda auditiva foi de 11,6%.

Achados audiológicos em crianças com fenilcetonúria é o título da pesquisa descrita por Mancini, Starling, Penna, Ramos, Ferreira e Iório da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Seu objetivo foi investigar a existência de alterações na audição de crianças com fenilcetonúria diagnosticada e tratada precocemente. Foram realizadas imitanciometria e audiometria tonal e vocal em 63 crianças, sendo 30 no grupo controle e 33 com fenilcetonúria. Houve diferença estatística na comparação entre grupos para limiares aéreos, reflexos estapedianos, limiares de recepção da fala e índice de reconhecimento de fala.

Também da UNIFESP é o artigo Habilidades pragmáticas em crianças deficientes auditivas: estudo de casos e controles de Curti, Quintas, Goulart e Chiari, que avalia as habilidades pragmáticas de um grupo de crianças deficientes auditivas num estudo de casos e controles composto por 32 crianças com idades entre dois e seis anos, sendo 16 deficientes auditivas de grau moderadamente severo a profundo e 16 com audição normal sem queixas fonoaudiológicas. A avaliação e a análise da pragmática foram realizadas a partir do Teste ABFW-Pragmática. As crianças deficientes auditivas foram capazes de interagir em situações contextualizadas, utilizando funções comunicativas semelhantes às crianças ouvinte e diferindo destas quanto ao meio comunicativo prioritariamente utilizado.

O artigo intitulado Onset complexo pré e pós-tratamento de desvio fonológico em três modelos de terapia fonológica é apresentado por Attoni, Albiero, Berticelli, Keske-Soares e Mota da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Participaram da pesquisa 21 crianças com desvio fonológico, com idades entre quatro e sete anos e 11 meses, divididos em grupos de sete sujeitos de acordo com o modelo utilizado para o tratamento. Os autores concluem que os três modelos de terapia fonológica foram eficientes para o tratamento da estrutura silábica onset complexo.

Mezzomo, Quintas, Savoldi e Bruno, também da UFSM, descrevem pesquisa a respeito da Aquisição da coda: um estudo comparativo entre dados transversais e longitudinais. Trata-se de um estudo de amostras de fala em que 170 crianças foram analisadas transversalmente e uma criança que foi acompanhada longitudinalmente entre os 13 e os 44 meses. Os autores concluem que o perfil de aquisição da coda mostra um padrão semelhante de aquisição.

A Caracterização das habilidades simbólicas de crianças com síndrome de Down foi estudada por Ciciliato, Zilotti e Mandrá da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP. Participaram do estudo 26 crianças divididas em grupo pesquisa e controle, entre 12 a 36 meses. Os resultados indicaram um atraso significativo em relação à idade cronológica, colocando, segundo os autores, o nível de desenvolvimento simbólico como o melhor parâmetro de análise e acompanhamento para o grupo.

Befi-Lopes e Rondon da Faculdade de Medicina da USP estudaram as Características iniciais da comunicação verbal de pré-escolares com Alterações Específicas do Desenvolvimento da Linguagem em fala espontânea. Foram sujeitos 27 crianças com AEDL, entre três anos e cinco anos e 11 meses, em tratamento fonoaudiológico. As autoras afirmam que a grande variabilidade intra-grupo confirma a heterogeneidade dos quadros de AEDL e que a interação desenvolvida durante a prova de pragmática mostrou-se mais efetiva para a obtenção de amostra de fala espontânea para a análise da fonologia.

O estudo de Brito e Carrara, da Universidade Estadual Paulista (UNESP) de Marília é intitulado Alunos com distúrbios do espectro autístico em interação com professores na educação inclusiva: descrição de habilidades pragmáticas. Participaram da pesquisa 14 alunos com distúrbios do espectro autístico com idade entre três e oito anos filmados em situações de sala de aula. Os autores afirmam que foi possível identificar os déficits e as habilidades dos alunos com distúrbios do espectro autístico em sala de aula comum e confirmar a influência exercida pelo professor no desempenho comunicativo de tais alunos.

Moreira e Fernandes, da FMUSP, descrevem a pesquisa Avaliação da comunicação no espectro autístico: interferência da familiaridade no desempenho de linguagem da qual participaram 18 crianças e adolescentes com Distúrbios do Espectro Autístico filmados em interação com interlocutores e material familiares e com interlocutores e material não familiares. As autoras concluem que a interferência da familiaridade da situação comunicativa no desempenho comunicativo de sujeitos autistas é mínima, sendo que o procedimento de avaliação em situação familiar mostrou-se ligeiramente melhor.

Gertel e Maia, da PUC-SP, apresentam o primeiro Relato de Caso, intitulado Reflexões acerca do papel do fonoaudiólogo junto à família de uma criança com Transtorno Global do Desenvolvimento: estudo de caso. As autoras descrevem uma criança com Transtorno Global do Desenvolvimento atendida de julho/2002 a novembro/2004. A perspectiva clínica foi direcionada de forma a levar em conta a realidade da família e da comunidade, respeitando a individualidade da criança.

Abordagem terapêutica grupal com mães de crianças portadoras de distúrbios de linguagem é o título do Relato de Caso discutido por Wiethan, Souza e Klinger, da UFSM. Fizeram parte do estudo quatro díades mãe-criança. O grupo terapêutico constituiu-se de oito encontros com as mães destas crianças, nos quais se discutiram temas variados acerca do desenvolvimento infantil e, segundo as autoras, os resultados mostraram que a intervenção provocou melhorias na interação mãe-filho.

Venson, Fujinaga e Czluniak, da Universidade Estadual do Centro Oeste (Paraná) apresentam o Relato de Caso intitulado Estimulação da sucção não nutritiva na "mama vazia" em bebês prematuros: relato de casos, em que descrevem esse procedimento quanto ao tempo de utilização de sonda gástrica, tempo de internação hospitalar, ganho de peso e prevalência do aleitamento materno exclusivo na alta hospitalar. Os autores afirmam que esse pode ser um método eficaz no aumento da prevalência do aleitamento materno na alta hospitalar e como uma técnica alternativa de estimulação da sucção não-nutritiva.

Flabiano-Almeida e Limongi, da FMUSP, apresentam o Artigo de Revisão O papel dos gestos no desenvolvimento da linguagem oral de crianças com desenvolvimento típico e crianças com síndrome de Down, realizado a partir de amplo levantamento bibliográfico em bases de dados, abrangendo as duas últimas décadas de estudos na área. São discutidos o papel dos gestos no desenvolvimento da linguagem oral, a função social dos gestos nesse processo, o valor preditivo dos gestos para o desenvolvimento lexical de crianças com Síndrome de Down e as características dos gestos na interação comunicativa entre mãe e criança nessa população.

O próximo Artigo de Revisão, Fonoaudiologia e Núcleos de Apoio à Saúde da Família: conceitos e referências apresentado por Molini-Avejonas, Mendes e Amato da FMUSP e da PUC-SP visa subsidiar a análise do trabalho do Fonoaudiólogo na Atenção Básica, mais especificamente nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família. A pesquisa realizada aponta a necessidade de desenvolvimento de distintas tecnologias de trabalho em saúde referentes à Fonoaudiologia. As autoras enfatizam a importância do monitoramento e da sistematização dos limites e potencialidades deste modelo, visando seu aprimoramento e apropriação do mesmo.

Giannini, Latorre e Ferreira, da PUC-SP e da Faculdade de Saúde Pública da USP, apresentam o artigo Refletindo Sobre o Novo Voice disorders (dysphonia) in public school female teachers working in Belo Horizonte: prevalence and associated factors.

A Resenha escrita por Rong-Cheng e Grech, da Universidade de San Diego e da Universidade de Malta, refere-se às Diretrizes para a Educação Inicial em Fonoaudiologia, um importante documento publicado em agosto de 2010 pela International Association of Logopedics and Phoniatrics (IALP).

Os resumos são, respectivamente, Análise do efeito imediato da aplicação de técnicas vocais, referente à dissertação de mestrado defendida por Pereira na UTP; Discriminação fonêmica, processamento auditivo e reflexo acústico em crianças com desenvolvimento de fala normal e desviante a respeito da dissertação de mestrado defendida por Attoni na UFSM, e Caracterização do fenótipo comportamental e de linguagem na síndrome de Williams-Beuren referente à tese de doutorado defendida por Rossi na UNESP de Botucatu.

No Editorial escrito por Mara Behlau, presidente da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia e da International Association of Logopedics and Phoniatrics (IALP), são comentados dois dos maiores congressos de Fonoaudiologia do mundo: o Congresso da IALP, realizado em agosto em Atenas e o Congresso Brasileiro de Fonoaudiologia, realizado em setembro, em Curitiba.

Para finalizar esse editorial, apenas algumas palavras sobre minha primeira experiência como representante de área no Comitê Assessor Multidisciplinar da Saúde do CNPq, tarefa que tive o prazer de dividir com a colega Liliane Desgualdo. Nessa oportunidade foram distribuídos os recursos referentes ao Edital Universal e graças ao primoroso trabalho dos grupos que nos antecederam, foi possível observar o crescimento constante de nossa área. Iniciamos nossa representação com a demanda de 50 projetos, em comparação com a demanda de 36 projetos em 2007 (início dos trabalhos das colegas Cláudia Regina Furquim de Andrade e Léslie Picollotto Ferreira). Entretanto, os valores distribuídos para a Fonoaudiologia tiverem um crescimento de 8,3% em relação ao ano anterior, o que é bastante inferior ao aumento dos recursos disponibilizados pelo CNPq. Isso indica que estamos crescendo, mas precisamos crescer mais, com qualidade e fundamentação científica. Nesse sentido, a Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia tem cumprido seu papel e agradece aos autores pela confiança demonstrada pelo encaminhamento de seus manuscritos e, principalmente, aos avaliadores que sempre contribuem pontual e generosamente para o aperfeiçoamento ainda maior da qualidade do material publicado.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Set 2010
  • Data do Fascículo
    2010
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