Acessibilidade / Reportar erro

Developmental approaches to understanding and treating autism

REFLETINDO SOBRE O NOVO

Developmental approaches to understanding and treating autism

Comentado por: Fernanda Dreux Miranda Fernandes

Professor associado do Curso de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP), Brasil

Endereço para correspondência Endereço para corrrespondência: Fernanda Dreux Miranda Fernandes R. Cipotânea, 51, Cidade Universitária São Paulo (SP), Brasil CEP: 05360-000 E-mail: fernandadreux@usp.br

Charman T. Developmental approaches to understanding and treating autism. Folia Phoniatr Logop. 2010;62(4):166-77.

A conferência apresentada pelo autor foi o principal evento do simpósio sobre autismo, organizado pela American Speech-Language and Hearing Association (ASHA) durante o 28º Congresso Mundial da International Association of Logopedics and Phoniatrics (IALP) realizado em Atenas, no último mês de agosto. Este artigo aborda temática semelhante. O autor apresenta um importante conjunto de evidências a respeito do diagnóstico precoce e da intervenção com crianças do espectro autístico.

Os estudos a respeito do diagnóstico dos distúrbios do espectro autístico no segundo ou terceiro ano de vida experimentaram um grande desenvolvimento na última década. Mais de 80% dos artigos disponíveis foram publicados a partir de 2005.

O autor discute os esforços visando o diagnóstico precoce e a importância da intervenção precoce. Um aspecto complicador para essa proposição envolve os recentes estudos que identificam que os relatos a respeito de regressões no desenvolvimento parecem ser a norma, e não a exceção, para crianças autistas. Esse seria mais um traço específico dessas crianças.

Muitos dos estudos envolvendo a identificação de crianças autistas durante o segundo ano de vida consideram a maior probabilidade da ocorrência de autismo em irmãos de autistas e, assim, dirigem-se especificamente a essas crianças, consideradas "de risco". Esse conjunto de estudos, entretanto, apresenta desafios importantes a começar pela determinação da idade a partir da qual é possível estabelecer o diagnóstico do espectro autístico. Estudos acompanhando crianças de 14, 18 e 20 meses chegaram a resultados pouco confiáveis, com índices de sub-identificação e sobre-identificação muito altos. Quando o diagnóstico é estabelecido em torno dos 24 meses há importantes questões a respeito da estabilidade do diagnóstico, pois algumas crianças posteriormente são diagnosticadas como tendo distúrbios específicos de linguagem, deficiência mental, atraso de desenvolvimento ou transtorno de hiperatividade e déficit de atenção. Em geral procedimentos que envolvem o relato dos pais para responder a escalas especificamente construídas para esse fim, duplamente checadas algumas semanas depois e associadas à impressão do profissional de saúde, resultam em diagnósticos mais confiáveis. Por outro lado, indivíduos com bom desempenho em linguagem ou em alguma área do desenvolvimento cognitivo (que depois receberão o diagnóstico de autismo de alto funcionamento ou de síndrome de Asperger), ou com algum outro diagnóstico, como síndrome do X-frágil ou esclerose tuberosa (normalmente associados à deficiência mental grave), dificilmente receberão o diagnóstico no espectro autístico antes dos quatro anos. Dessa forma, a lição parece ser a de que o autismo é um distúrbio de desenvolvimento e, dessa forma, varia ao longo desse processo, tornando o diagnóstico precoce mais impreciso e instável, o que não diminui sua importância. Essa consideração também nos remete à necessidade de determinação de perfis individualizados de desenvolvimento e verificação sistemática dos resultados das intervenções.

O autor comenta também iniciativas de identificação precoce dos transtornos autísticos na população em geral realizados no Reino Unido e na Holanda. Nesses casos a questão da precisão diagnóstica envolve aspectos referentes ao fornecimento de recursos especializados de tratamento em que a inclusão excessiva representa um aumento de custos para o sistema de saúde e a sub-inclusão representa prejuízos para a criança e sua família. A consideração atual de que até 1% das crianças têm distúrbios do espectro autístico coloca essa condição como uma questão de saúde pública fundamental e a falta de recursos para possibilitar o desenvolvimento do melhor potencial de cada uma é uma questão que precisa ser abordada por pesquisadores e gestores de saúde.

Assim, evidências a respeito da efetividade das diferentes propostas de intervenção são fundamentais. O autor comenta a necessidade de estudos mais controlados para evitar conclusões distorcidas; entretanto, informações úteis podem ser obtidas a partir de dados cumulativos envolvendo relatos sistematizados de processos de intervenção criteriosamente aplicados.

Segundo o autor, as evidências convergem para a noção de que intervenções precoces que se aproximam ao máximo de contextos e atividades naturalísticas envolvendo habilidades básicas de comunicação social geram bons resultados no uso da linguagem. Entretanto, ainda não há indícios suficientes para entender por que algumas crianças progridem bastante, outras mostram apenas alguma evolução e outras quase nenhuma mudança. Respostas a essa questão podem gerar propostas de intervenção melhor direcionadas a cada indivíduo e proporcionar a identificação dos elementos mais eficazes de uma determinada abordagem.

O artigo é finalizado com uma afirmação que sintetiza o estado atual dos estudos na área e de seu impacto na sociedade. O desafio que se coloca na próxima década é que transformemos essa compreensão em abordagens de tratamento informadas e baseadas no desenvolvimento. que sejam testadas de forma rigorosa e sem distorções.

A questão do diagnóstico precoce dos distúrbios do espectro do autismo foi também o tema central do IX Congresso Internacional da Autism-Europe, realizado no início do mês de outubro. As pesquisas mais recentes indicam que aspectos relacionados ao contato ocular e aos mecanismos de empatia podem ser indicadores de risco para transtornos autísticos desde antes dos 12 meses. A perspectiva mais atual argumenta que a identificação da hipótese de um distúrbio do espectro do autismo deve ser feita o mais precocemente possível para que a intervenção possa envolver um período essencial do desenvolvimento.

  • Endereço para corrrespondência:
    Fernanda Dreux Miranda Fernandes
    R. Cipotânea, 51, Cidade Universitária
    São Paulo (SP), Brasil
    CEP: 05360-000
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Dez 2010
    • Data do Fascículo
      Dez 2010
    Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia Al. Jaú, 684 - 7º andar, 01420-001 São Paulo/SP Brasil, Tel.: (55 11) 3873-4211 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: revista@sbfa.org.br