Acessibilidade / Reportar erro

Expressividade no rádio: a prática fonoaudiológica em questão

Resumos

OBJETIVO: Analisar, pelo relato de fonoaudiólogas, como tem sido a prática da expressividade oral com profissionais do rádio, no Brasil. MÉTODOS: Participaram do estudo seis fonoaudiólogas, com experiência profissional na área, por meio de entrevista semi-estruturada, transcrita e categorizada segundo características gerais de atuação e conceito de expressividade. As categorias foram ilustradas com recortes das falas das participantes. RESULTADOS: A atuação fonoaudiológica acontece de forma similar em escolas de locução e em emissoras de rádio. A prevenção de lesões tem espaço considerável nas práticas e acontece em forma de orientações sobre bem-estar vocal. O termo expressividade oral é relativamente novo, sendo que, ora a atribuição de sentido à mensagem é dada pelo sujeito e sua subjetividade, ora pelo teor da mensagem textual e, ainda, pelo estilo da emissora. A intervenção abarca o uso de pausas, qualidade de voz, ressonância, articulação, pitch, loudness, taxa de elocução e respiração. A estratégia mais usada é a leitura de textos, de diferentes gêneros, inclusive radiofônicos. CONCLUSÃO: O termo expressividade oral não é usualmente utilizado pelas fonoaudiólogas, pois o conceito é tido como novo pelas entrevistadas. Remete à transmissão de emoções e intenções, na mensagem, pelo falante. Foram considerados interferentes: o julgamento do ouvinte; a adequação da fala ao contexto; o estilo da emissora e o teor textual da mensagem, expondo a dinâmica relação entre o subjetivo e o social. Um aprofundamento teórico, no campo da Linguística, pode subsidiar uma atuação fonoaudiológica com menos divergências conceituais no que se refere ao trabalho com os recursos vocais na fala.

Voz; Treinamento da voz; Fala; Rádio; Qualidade da voz


PURPOSE: To analyze, based on speech-language pathologists reports, how oral expressiveness has been approached with radio professionals in Brazil. METHODS: Six speech-language pathologists experienced in working with radio professionals answered semi-structured interviews that were transcribed and categorized according to general performance characteristics and to the expressiveness concept. Categories were illustrated with excerpts of the participants' interviews. RESULTS: Speech-Language Pathology intervention happens similarly in schools for announcers and within radio stations. The prevention of vocal disorders has considerable space in these practices, and mostly occurs in the form of orientations regarding vocal health. The term oral expressiveness is relatively new, and, at times the meaning of the message is conveyed by the speaker's individual characteristics, by the content of the text message, or by the style of a particular station. Intervention aims include strategies approaching pause, voice quality, resonance, articulation, pitch, loudness, speed and breathing. The most used strategy is the reading of texts of different genres, including radio subjects. CONCLUSION: The term oral expressiveness is not generally used by the subjects interviewed, due to the fact that its concept is new to them. The term comprises the conveyance of emotions and intention by the speaker. The following aspects were considered to interfere on oral expressiveness: listeners' judgment; adequacy of the speech to the context; style of the radio station; and textual content of the message, evidencing the dynamics between subjective and social. More theoretical studies in Linguistics may subsidize less conceptually diverse practices when considering speech-language interventions.

Voice; Voice training; Speech; Radio; Voice quality


ARTIGO ORIGINAL

Expressividade no rádio: a prática fonoaudiológica em questão

Izabel Cristina ViolaI; Ana Carolina de Assis Moura GhirardiII; Léslie Piccolotto FerreiraIII

ICurso de Fonoaudiologia, Faculdades Integradas Teresa D'Ávila - FATEA - Lorena (SP), Brasil; Curso de Especialização em Fonoaudiologia - Voz, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP - São Paulo (SP), Brasil

IIPrograma de Pós-graduação (Doutorado) em Fonoaudiologia, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP - São Paulo (SP), Brasil

IIICurso de Especialização em Fonoaudiologia - Voz, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP - São Paulo (SP), Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Léslie Piccolotto Ferreira R. Ministro de Godoy, 969/ 4° andar, Perdizes São Paulo (SP), Brasil CEP: 05014-901 E-mail: laborvox@pucsp.br

RESUMO

OBJETIVO: Analisar, pelo relato de fonoaudiólogas, como tem sido a prática da expressividade oral com profissionais do rádio, no Brasil.

MÉTODOS: Participaram do estudo seis fonoaudiólogas, com experiência profissional na área, por meio de entrevista semi-estruturada, transcrita e categorizada segundo características gerais de atuação e conceito de expressividade. As categorias foram ilustradas com recortes das falas das participantes.

RESULTADOS: A atuação fonoaudiológica acontece de forma similar em escolas de locução e em emissoras de rádio. A prevenção de lesões tem espaço considerável nas práticas e acontece em forma de orientações sobre bem-estar vocal. O termo expressividade oral é relativamente novo, sendo que, ora a atribuição de sentido à mensagem é dada pelo sujeito e sua subjetividade, ora pelo teor da mensagem textual e, ainda, pelo estilo da emissora. A intervenção abarca o uso de pausas, qualidade de voz, ressonância, articulação, pitch, loudness, taxa de elocução e respiração. A estratégia mais usada é a leitura de textos, de diferentes gêneros, inclusive radiofônicos.

CONCLUSÃO: O termo expressividade oral não é usualmente utilizado pelas fonoaudiólogas, pois o conceito é tido como novo pelas entrevistadas. Remete à transmissão de emoções e intenções, na mensagem, pelo falante. Foram considerados interferentes: o julgamento do ouvinte; a adequação da fala ao contexto; o estilo da emissora e o teor textual da mensagem, expondo a dinâmica relação entre o subjetivo e o social. Um aprofundamento teórico, no campo da Linguística, pode subsidiar uma atuação fonoaudiológica com menos divergências conceituais no que se refere ao trabalho com os recursos vocais na fala.

Descritores: Voz; Treinamento da voz; Fala; Rádio; Qualidade da voz

INTRODUÇÃO

Dentre os meios de comunicação em massa, o rádio é o único que se utiliza, exclusivamente, da voz como veículo de informações. Assim, o contexto, os gestos e as expressões visuais não auxiliam na significação das mensagens verbais, o que reverte em maior responsabilidade ao locutor, na transmissão informativa e emotiva(1).

Contudo, sendo o rádio, na atualidade, mais um veículo, dentre outros tantos, na obtenção das mais variadas notícias, para uma emissora ter sucesso em seu empreendimento (boa audiência e, portanto, lucros com informes publicitários) deve investir, cada vez mais, na boa comunicação de seus locutores para concorrer com a falta de imagem imposta por este meio.

Para que haja total clareza na comunicação e para que a atenção do ouvinte não seja desviada da mensagem, é necessário falar com articulação precisa, ter controle da respiração e possuir conhecimento e uso consciente da própria voz e de seus recursos. Aquilo que permite ao ouvinte detectar emoções na fala de seu interlocutor pode ser entendido como expressividade vocal e se manifesta pelo conjunto de traços suprassegmentais, empregados pelo falante, independentemente do contingente verbal de seu discurso(2).

Estes traços, também denominados prosódicos, compreendem os elementos acústicos de frequência fundamental, duração e intensidade. Suas combinações formarão a entoação, acentuação, velocidade (doravante, denominada taxa de elocução), pausas, alongamentos e ritmo da fala. A junção destes fatores determinará a compreensão da mensagem e carregará a expressão das emoções do sujeito, no ato da fala. São estes os elementos que fazem a intermediação entre a forma e o conteúdo, propriamente dito, do discurso. O conhecimento destes componentes é fundamental na formação profissional do locutor, cuja ocupação exige pleno uso de todos os seus recursos vocais, passando ao ouvinte uma imagem, única e exclusivamente, por meio de sua voz(1,3).

As propriedades prosódicas têm funções linguísticas e pragmáticas, são indicadoras do tipo de frase (negativa, interrogativa, exclamativa e afirmativa), estão associadas a diferenças de significado ou categoria gramatical das palavras, contribuem para exprimir a atitude e as emoções assumidas por aquele que fala e marcam o contraste entre a informação dada e a nova. A informação sobre a qual se fala é chamada tópico, enquanto a nova informação, que é o centro do interesse comunicativo, chama-se foco.

Quando se comparou os recursos vocais empregados em emissões locucionadas, lidas por locutores e não-locutores, por meio de avaliação perceptivo-auditiva e análise acústica, constatou-se que o locutor aplica padrões semelhantes aos da locução, na sua voz, em situação de fala espontânea. O aumento na duração da emissão, a distribuição mais homogênea de pausas, a frequência menor de fala, e maior número de semitons são características que diferenciam os locutores dos não-locutores, aspectos estes que conferem à fala uma maior variação melódica(4).

A primeira referência sobre o trabalho fonoaudiológico com locutores de rádio, no Brasil, registra a atuação destes profissionais em curso específico do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC) de Campinas/SP. Nesta época, foi discutido o relacionamento dos membros do grupo e as técnicas vocais(3).

As estratégias utilizadas buscaram o aprimoramento dos conhecimentos sobre: higiene vocal; fisiologia da voz e da fala; relaxamento e postura; respiração; ressonância; articulação e ritmo; coordenação pneumofônica; entoação e técnicas específicas nos diferentes contextos do rádio (variações de informes publicitários, notícias, narrações).

O objetivo desta pesquisa foi analisar, por meio de relatos de fonoaudiólogos, como tem sido abordada a prática da expressividade oral com profissionais do meio radiofônico, no Brasil.

MÉTODOS

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), sob número 415/02 - 10/10/03.

Participaram deste estudo seis fonoaudiólogas, com experiência profissional na área de rádio, entre dois e 19 anos, no Sudeste do Brasil, que trabalham em escolas de formação de locutores ou com assessoria vocal a esta mesma categoria profissional. Todos os sujeitos participantes assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido, anuindo com a realização e divulgação desta pesquisa e seus resultados, conforme Resolução 196/96.

Em data, horário e local combinados previamente e escolhidos de acordo com a disponibilidade de cada uma, as fonoaudiólogas responderam a uma entrevista semi-estruturada, sem tempo determinado, de caráter descritivo, sobre o trabalho fonoaudiológico realizado com locutores de rádio. As perguntas foram apenas eliciadoras e direcionadoras do discurso, a fim de compreender o que estes profissionais entendem por expressividade vocal e caracterizar a ênfase a ela atribuída, dentro do trabalho geral com os locutores (identificação; trabalho desenvolvido; conteúdo ministrado; aspectos específicos abordados; definição de expressividade vocal; aplicação deste conceito e estratégias).

As entrevistas foram registradas em gravador cassete da marca Sony, modelo TCM-16. Somente ao final, as participantes assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, a fim de não induzir suas respostas. Depois de transcritas, foi realizada uma inspeção dos relatos, por meio de sucessivas sessões de leitura e, posteriormente, o material foi organizado, segundo a caracterização da atuação fonoaudiológica com radialistas, em aspectos gerais e em relação à expressividade. Recortes das falas das participantes, identificadas pela letra F, numeradas de um a seis, ilustram as referidas categorias (F1, F2, etc.).

RESULTADOS

Das seis fonoaudiólogas entrevistadas, duas atuam apenas em escolas de locução e quatro, em rádios, sendo que uma delas trabalhou também na formação de locutores (Quadro 1).


A atuação ocorre de duas diferentes maneiras: avaliação e assessoria. A avaliação é realizada por todas as entrevistadas, de forma particular, numa sala da emissora, na escola em questão, ou in loco, no estúdio de gravação. A assessoria é realizada em grupo, ou individualmente, em forma de palestra ou sessões fonoaudiológicas. Geralmente, acontece na própria rádio ou em consultórios particulares. Neste último, pode ocorrer também em dupla. O cliente é referido como paciente ou aluno.

Três entrevistadas (F4, F5 e F6) mencionaram um convênio com a contratante, que presume um determinado número de atendimentos, em consultório, àqueles locutores que necessitarem.

A procura pelo atendimento ocorre de diferentes maneiras e a fonoaudióloga contratada faz avaliações in loco ou ouvindo o locutor pela rádio (Quadro 2). O serviço pode ser procurado também pela diretoria da rádio ou do programa, por detectar "inadequações" na fala do locutor, ou pelo próprio interessado, com o intuito de melhorar algum aspecto de sua comunicação.


A competitividade, no ambiente de trabalho, e a autocrítica dos locutores foram apontadas, por algumas das entrevistadas:

(...) eles nos procuram porque ou o diretor do programa ou eles próprios fizeram uma autocrítica e chegaram à conclusão de que alguma coisa tem que ser melhorada. Nem sempre eles sabem bem o quê. (F3)

Eles nunca acham que a agilidade articulatória deles (os locutores) é suficiente pra aquilo que eles fazem. (F4)

Houve momentos em que a assessoria fonoaudiológica apareceu como importante parceira para os radialistas, que reconhecem e valorizam o trabalho desenvolvido, para além das proibições de "abuso vocal".

O bem-estar vocal é apontado pelas fonoaudiólogas como parte integrante das atuações, junto aos locutores, área pioneira de atuação da Fonoaudiologia (Quadro 3).


(...) a orientação de voz, de higiene vocal. Quando eu comecei, eu passei, assim, orientações básicas gerais, mas as orientações eu passo, assim, a cada encontro porque todos abusam da voz, todos bebem bebida alcoólica, todos têm o hábito de ficar usando muito a voz, porque além de locutores eles apresentam bingos, apresentam leilões na região e isso faz com que eles usem a voz muito além do horário da locução. (F1)

Eu faço uma dinâmica com algumas figuras e eles têm que identificar o que é bom, o que é ruim e o que tanto faz para a voz. (...) Aí, a gente discute, e, com isso, eles aprendem o que é bom, o que é ruim. (...) (F5)

Esta prevenção vem ganhando enfoques diferentes, voltados para a promoção de saúde e o desenvolvimento de comportamentos de conservação vocal (F4), ao invés de se deter nos comportamentos vocais proibitivos. Nota-se também uma abordagem do trabalho fonoaudiológico para flexibilidade vocal, como indicador de boa saúde.

Minha preocupação é também saúde vocal, claro, que eles possam adquirir uma resistência vocal e usar a voz de forma resistente (...), mas o que eu acredito é que quanto mais eles conseguirem usar a voz de forma flexível, claro, e dentro de condições ideais de uso, sem grande esforço, sem tensão nem nada, quanto mais flexível, mais saudável vai ser essa voz, porque eles podem ter um rendimento melhor com essa variação toda. (F2).

Queixa vocal, problemas, eu acho que estão mais ligados à conservação, comportamentos de conservação da voz É... no caso pessoas que fumam, né? Ou abusam da voz, mas, geralmente, não é no trabalho. (F4).

As fonoaudiólogas que trabalham em centros de formação de locutores atuam, em conjunto, com professores de "locução" e "interpretação". No entanto, o papel destes profissionais, bem como o das fonoaudiólogas, não foi bem esclarecido (F2, F5):

(...) um pouco com técnicas de locução em que há uma troca muito grande entre a fono e os locutores. (F2).

(...) depois eles começam a fazer as perguntas de locução mesmo e é daí que eu dou a dica, então, é muito individual. Aí, eu começo a mexer com prosódia, articulação, entonação, ênfase, modulação. Sai um pouco da voz e vai mais pra linguística, né? Essas partes de fala, mais pra a fala. (F5).

No relato anterior (F5), percebe-se que a entrevistada faz uma separação entre os componentes, dando a entender que o conceito de prosódia não comporta entoação, ênfase e modulação. Diferente do relato de F2, a seguir, que passou a atentar para a expressividade, a partir das colocações do professor de locução, ou seja, esta relação gerou uma interdisciplinaridade:

Eu comecei a trabalhar com isso, quer dizer, me dar conta disso tendo a oportunidade de dar aula com o professor de locução e, principalmente, professor de interpretação. O professor de interpretação virava e falava assim: "hummm, esse texto tá bem lido, mas não tá passando a emoção", ou "não ta passando uma intenção legal, ele não ta me convencendo... Não fico atraído por esse texto". Então, eu comecei a pensar em como traduzir, em termos fonoaudiológicos, ou em termos de voz, essa interpretação que o professor queria e, daí, eu vi que é justamente isso. São os traços prosódicos. É a modulação, são as ênfases e a entonação que é usada. (F2).

O levantamento dos materiais utilizados nos treinamentos identifica que, embora os textos da área sejam usados por todas as entrevistadas, são enfocados também aspectos relacionados às questões da anatomia e fisiologia da fonação. Os principais materiais utilizados são: textos radiofônicos, apostilas e mídia com aspectos de anatomia e fisiologia vocal, além de exemplos de exames laringológicos.

No momento em que as entrevistadas deveriam definir o termo expressividade vocal, observam-se hesitações, pausas e digressões, que podem indicar o quanto a palavra não faz parte do fazer fonoaudiológico embora o conceito exista sob a designação de outros termos. F2, inclusive, se refere a esta questão diretamente:

Eu não sabia trabalhar com isso e a gente encontra muito pouco disso. A gente até encontra descrição disso, mas poucas pessoas dizendo como que trabalham com ênfase, prosódia, com modulação, com entonação. Então, eu trabalho com isso sim, de um tempo pra cá, isso é um pouco mais recente. Eu estou tentando descobrir como trabalhar com isso, inclusive de uma forma eficaz. (F2).

Expressividade vocal? (longa pausa) Olha, se for pegar assim ao pé da letra, expressividade vocal; eu acho que é o que a sua voz passa...Tem que ser isso, né? Espontâneo. (F3).

Expressividade?... Seria um termo que você... me explica um pouquinho melhor o que você quis chamar de expressividade vocal (...) Hummm, a expressão vocal... Aí, sim, eu acredito que seja a tal da expressividade, eu não sei em que contexto as pessoas tão falando isso. (F4).

Hummm, expressividade vocal é você conseguir passar não só... deixa eu ver... passar uma mensagem de forma diferente... (F5).

Os relatos de F3, F5 e F6, a seguir, abordam o conceito de expressividade para além do verbal, enfocando as emoções e intenções do individuo. Os depoimentos de F3 e F5 relacionam a expressividade ao conceito de psicodinâmica vocal:

(...) expressividade vocal, eu acho que é o que a sua voz passa. Expressividade vocal: o que a sua voz passa pra você? Eu acho que taria muito ligado à psicodinâmica, não sei, é expressão daquela voz, o que a voz ta te passando... te passa... uma pessoa ansiosa, uma pessoa carente, uma pessoa ansiosa, uma pessoa tensa, nervosa. (F3)

Expressividade vocal é você conseguir passar uma mensagem de forma diferente, é conseguir expressar pela voz o que você ta querendo, é qual é a emoção, é o que é que você quer passar quando você fala assim... você fala uma mensagem, mas não é aquilo que você quer passar, eu acho que é conseguir transmitir seu sentimento. Não só a mensagem, não só o conteúdo, mas tudo que ta por fora. Da psicodinâmica, né? (F5)

Expressividade é a maneira como a gente se coloca no mundo, é o que a gente passa pro outro por meio da nossa comunicação. É algo muito mais profundo do que o verbal, do que a intenção mais formal do nosso discurso e as mensagens são muito fortes porque elas são bem mais primitivas do ponto de vista de quem demonstra e praticamente, assim, inconscientes do ponto de vista de quem recebe a informação. Então, é uma forma muito fiel de comunicação. É muito difícil você manipular, vamos dizer, as impressões relacionadas à expressividade. Você pode mudar o verbal, deixar de um jeito ou de outro, com palavras mais suaves ou menos suaves, mas a expressão ela vai ta demonstrando o tempo todo como a gente está, como a gente ta se sentindo e qual é a nossa intenção. (F6)

A definição de F2, a seguir, dá ênfase à interação entre as intenções do locutor e a interpretação do texto, e é através dos recursos vocais que ela é realizada:

Expressividade vocal é um termo que ta muito relacionado com a interpretação do texto. Com a forma como a pessoa consegue passar por meio da voz a intenção e a interpretação e um significado que ela dá pra aquele texto. Quer dizer, o texto tem um significado em si e a pessoa quando tem o texto nas mãos dá também o seu próprio significado pra ele e a forma de passar o significado desse texto e a intenção desse texto, é a expressividade da voz. E o que é expressividade da voz? São todos os traços prosódicos da nossa fala, todos os aspectos melódicos de entonação, de modulação, da utilização dos recursos de ênfase. (F2)

Na definição de F4, a tônica está na mensagem do texto, ressaltando o sentido semântico e sintático explícito nas palavras do texto:

Seria a capacidade de você conseguir transmitir a mensagem no verdadeiro sentido que aquela mensagem possui (...). Então, expressão pra mim é isso, é você conseguir expressar um fato ou um fato e um contexto, ou só um contexto no caso do rádio por meio da voz. (F4)

O conceito de F1, a seguir, não é claro quanto ao que ela entende como expressividade, mas faz menção a requisitos que uma voz deve ter para executar um determinado programa, em outras palavras, o locutor deve ter a expressividade vocal de acordo com o seu estilo do programa:

Olha, expressividade é um termo que ultimamente nós estamos usando. Pra mim, nessa experiência clínica que eu estou tendo nessa rádio do interior, pra mim essa expressividade seria juntar todas as qualidades que uma voz pode oferecer. O locutor tem que ser expressivo, ele tem que passar expressão na voz. Tem que ter entonação, ele tem que ser a cara do programa dele. Então, expressividade é você passar para a sua voz todos os pré-requisitos para o seu programa. (F1)

Várias são as relações feitas, pelas entrevistadas, ao conceito expressividade vocal. Algumas acreditam que é o próprio sujeito quem atribui sentido ao texto, demonstrando, nele, suas emoções e sentimentos:

(...) ele tem que passar emoção na voz.Tem que ter entonação, ele tem que ser a cara do programa dele. (F1)

(...) é muito difícil você manipular, vamos dizer, as impressões relacionadas à expressividade. Você pode mudar o verbal, deixar de um jeito ou de outro, com palavras mais suaves ou menos suaves, mas a expressão ela vai ta demonstrando o tempo todo como a gente está como a gente ta se sentindo e qual é a nossa intenção. (F6)

A importância de o locutor interpretar a mensagem, de acordo com o seu conteúdo e seu público, como ator, é apresentada nas seguintes palavras:

(...) é super importante pro locutor isso (expressividade), eles têm que saber que eles são atores da voz, né? Eles vão interpretar aquele texto, eles não vão só passar uma mensagem. Eles têm que saber o que que é que eles querem fazer com aquele produto, que mensagem eles querem passar. É pra jovem, é pra idoso, é uma coisa triste, é uma coisa feliz? (F5)

A expressividade conferida na dependência da intenção ou da interpretação do texto pode ser exemplificada com os depoimentos a seguir:

O texto tem um significado em si, e a pessoa quando tem o texto nas mãos dá também o seu próprio significado pra ele e a forma de passar o significado desse texto e a intenção desse texto, é a expressividade da voz. (F2)

Seria a capacidade de você conseguir transmitir a mensagem no verdadeiro sentido que aquela mensagem possui... por exemplo, numa notícia a gente sempre pede pra fazer destaques nas principais palavras do texto. Essa é uma forma de você ler notícia... Então, você vai registrar, acentuar os elementos mais importantes. Geralmente, isso ta ligado às palavras. Se você vai dar uma notícia onde você vai dar em destaque o quem, o onde ele fez aquilo, o que aconteceu... são aquelas famosas frases de pergunta "quem, onde, por que, como?". Então, quando você ta dando a notícia são nesses elementos que você tem que prestar mais atenção e destacá-los da notícia... toda voz fluida, voz muito nasal, ela tem um apelo mais voltado... eles próprios chamam de voz de motel, mais voltado pra aqueles programas assim, "Companhia da Madrugada", ou coisas do tipo, né? (F4)

A associação da expressividade com os recursos vocais foi mencionada, como demonstrado, a seguir:

São todos os traços prosódicos da nossa fala, todos os aspectos melódicos de entonação, de modulação, da utilização dos recursos de ênfase. (F2)

(...) mas a gente chama a atenção de que as inflexões também podem sugerir mais que aquele chocolate pode ser gostoso, ou sugerir menos (...). (F4)

O conceito de expressividade entendido como qualidade da locução, no sentido de ser uma fala que prende a atenção, que transmite credibilidade e confiança, está indicado nos seguintes depoimentos:

(...) Então, a expressividade vocal dele não ta de acordo. (F3)

(...) tem que ter uma voz expressiva, mas não exagerada, não afetada. (F4)

(...) hoje em dia, não basta o cara ter uma voz boa na rádio. Ele tem que ser capaz de garantir a atenção, ele tem que ser capaz de passar confiança, credibilidade. E as pessoas só confiam em quem parece natural e à vontade se expressando. (F6)

A expressividade, como marca de um estilo do locutor, do programa ou da emissora, pode ser percebida nos seguintes relatos:

(...) principalmente aqueles (locutores) que fazem o programa sertanejo, que são vozes mais características. Por ser uma região do interior de São Paulo, esses locutores têm muito sotaque e isso vai caracterizando a locução deles... é a marca registrada do locutor. Lá na rádio onde eu trabalho, nós temos locutores que já têm a sua marca registrada e onde quer que eles irão, todo mundo reconhece ele pela sua marca registrada. (F1)

(...) dependendo do tipo de emissora tem que ter um ajuste desses recursos também que é diferente da locução comercial. Então, tem um estilo clássico, um estilo mais varejão que a gente fala, que é um estilo mais dinâmico. (F2)

(...) um locutor de FM. Ele tem toda uma expressividade vocal alegre, dinâmica, super gostoso de ouvir... E até a gente usa esse parâmetro pra saber se aquela pessoa ta ou não dentro do padrão daquela rádio (...) muitas vezes acontece isso, de vir um locutor de uma outra rádio e o diretor fala pra gente assim: "Ó, põe um padrão (da rádio) nele, ele não tem um padrão (da rádio). (F3)

E trabalhar expressividade seria fazer com que o locutor percebesse a forma, a melodia da fala dele, a forma como ele está expressando aquilo, sendo que na grande maioria das vezes ele tem que fazer de acordo com padrões pré-estabelecidos da emissora. (F4)

Observa-se, na explicação das entrevistadas, que, em algumas categorias, há mais menções do que o número total de entrevistados (Quadro 4). Tal fato demonstra a utilização de sinônimos ou nomes com conceitos próximos para designar um mesmo recurso. Dois exemplos podem ser apresentados: no primeiro relato de F2, percebe-se que a entoação está estritamente relacionada à pontuação e à sintaxe do texto, além do termo ser diferenciado de modulação e altura. Os termos intensidade e volume também aparecem, separadamente:


Então, isso começa com leitura de texto, pontuação, fluência de leitura, entonação, dependendo do tipo de texto que se tem, da pontuação que se tem, respiração, articulação, intensidade, volume, altura, projeção de voz, modulação, entonação, velocidade... (F2)

O segundo exemplo refere-se à menção de F3, que não diferencia os conceitos de entoação e qualidade vocal:

Entonação a gente trabalha também, porque, às vezes, eles vão ler uma lauda, alguma coisa super animada e eles lêem com uma voz super grave, super pra baixo. Então, você tem que fazer todo um trabalho: "Ó, a notícia é animada, é uma coisa de verão, de sol, então, vamos fazer com a voz, com uma qualidade vocal mais aguda, uma qualidade vocal mais animada né? Do que uma qualidade vocal mais pra baixo, mais desanimada. (F3)

A leitura de textos de diferentes gêneros é a estratégia predominante na prática com locutores e é realizada com os variados objetivos (Quadro 5).


Há relatos do trabalho com "expressividade vocal" se realizar como um todo, por acreditarem que as estratégias empregadas sejam globais para este fim, abordando todos os parâmetros vocais, ao mesmo tempo:

(...) Então, eu acabo falando de respiração, mas não só de respiração. Eu já to dando o toque de como ta a voz, a pontuação, o final da frase, o volume, a velocidade, a articulação (...) toda vez que eles pensam em falar um pouco mais devagar, eles automaticamente tiram o volume e usam tons mais graves, então, eu trabalho a dependência e a independência no uso desses recursos todos. (F2)

Você pode variar a duração, a intensidade e a altura da fala (...). Você vai variar a curva melódica. Então, há variação do pitch, há uma variação do ritmo da fala e do prolongamento dela, dos elementos chaves mais importantes das palavras do texto. (F4)

(...) Então, ele tem que conhecer esses recursos (vocais) pra fazer o seu papel da melhor maneira. (F6)

Entretanto, os recursos também são treinados independentemente. Às vezes, relacionados ao gênero do texto, como no depoimento de F2, ou, às vezes, destacando uma emoção ou uma atitude, dependendo da ênfase específica dada numa palavra da frase, como no relato de F5:

Então, na primeira parte (da aula) a gente viu, por exemplo, fez um aquecimento geral com todo mundo, daí, eu levei um texto pra eles mexerem. Numa aula determinada, eu levei pra eles mexerem com tons de voz, grave, médio e agudo. Na segunda parte da aula, eu vou levar três tipos diferentes de comerciais: um comercial que ele tenha que usar tons mais agudos de voz que são os de varejão e outro que pode ser médio; então, uma notícia que ele vai colocar um tom médio de voz... Eu quero que eles sejam bem versáteis... Versatilidade, naturalidade, espontaneidade, dinamismo... porque eu acho que essa é uma característica importante do perfil do locutor. (F2)

(...) sabe aquela frase típica que tem, é que eu não lembro ela de cor. Eu fui lá no centro, estava chovendo... e você tem que colocar ênfase, cada hora, numa palavra. Eu trabalho muito isso com eles porque isso é uma das coisas que eles mais sentem dificuldade, de onde dar a ênfase. Eu trabalho muito com eles quando eles tão em estúdio... quando têm uma mensagem e aí eu peço pra eles passarem essa mensagem feliz, triste, eu quero que eles passem pela articulação, pelas mudanças que eles vão fazer... (F5).

DISCUSSÃO

A atuação fonoaudiológica de assessoria ao profissional locutor, embora tenha conseguido entrar em lugares a que antes não tinha acesso, como, por exemplo, as emissoras de rádio, apresenta, muitas vezes, princípios e métodos que mantêm ainda o caráter terapêutico, marca do início da Fonoaudiologia nesta área (Quadros 1 e 2). O trabalho se desenvolve nos moldes clínicos, a partir das alterações detectadas pela profissional ou pelo próprio locutor e a demanda é tratada em grupo ou individualmente, na emissora, consultório particular ou na escola de formação.

O foco do trabalho continua sendo o bem-estar vocal (Quadro 3), pelo considerável "risco vocal" que a categoria profissional apresenta. No entanto, observa-se uma mudança no enfoque de saúde, quando as entrevistadas assumem a importância da "conservação" e da flexibilidade vocal, para o uso confortável dos recursos. Desta forma, tais termos destacam-se por serem pouco encontrados na literatura e, claramente, fazerem oposição à interpretação de saúde vocal meramente como listas de "proibições vocais", ou seja, ações compatíveis com os preceitos de promoção de saúde em oposição às de caráter preventivo(5).

Entre os objetivos de trabalho (Quadro 4), as entrevistadas destacam os aspectos de expressividade, articulação, melodia/ritmo e respiração. Embora a respiração seja a base para qualquer emissão oral, pode-se entender esta inclusão por ser um dos aspectos mais considerados, pelos locutores, como problemático(3).

O termo expressividade, muitas vezes, é complementado de diferentes formas, tanto pelas entrevistadas, como na literatura. Ocorrem os seguintes termos: expressão vocal, expressividade vocal, expressividade oral, expressividade da fala e expressividade da comunicação (englobando a expressividade oral e corporal). A base desta diversidade está na ênfase em diferentes aspectos da comunicação e no modo de se interpretar as relações entre qualidade e dinâmica da voz(6).

Nos relatos das entrevistadas, há diversos aspectos associados ao conceito de expressividade. Ora o sentido é dado pelo sujeito, suas emoções e intenções (com ou sem controle consciente), ora pelo teor da mensagem textual, ora pelo estilo da emissora ou pelas características estilísticas do locutor.

A associação do termo expressividade com transmissão de emoções aparece relacionada à psicodinâmica vocal(7), vinculada ao fato de se atribuir à fala características positivas de alegria, confiança, dinamismo, credibilidade e naturalidade(8). É preciso lembrar que não somente emoções e atitudes positivas são transmitidas pela voz, mas também tristeza, insegurança, apatia, falsidade e artificialidade. A naturalidade reflete um momento particular da expressão, sendo que, em outro, essa expressão pode ser desajeitada, nervosa, entre outros. Toda fala é expressiva e usa recursos variados para se materializar(9,10).

Ao abordar a forma como o ouvinte é afetado pelo locutor, as entrevistadas se referiram a uma fala que prende a atenção, que transmite credibilidade, confiança e é interpretada pelos ouvintes de forma mais agradável que outras; a interação entre a interpretação do texto e a intenção do locutor pode ou não ser coincidente. Embora o texto tenha um significado semântico explicitado na sua construção vocabular e sintática e, ainda, a sintática intrinsecamente conduza a uma determinada construção prosódica, a interpretação do locutor pode modificá-la, se esta for a sua intenção. Este é o caso típico da ironia.

O abrandamento de sotaque foi mencionado, por uma das entrevistadas, e busca-se, neste meio, amortizar as características prosódicas correspondentes a ele, o que possui relação direta com a forma como a fala do locutor afeta o ouvinte, devido a questões sociais e culturais de cada região(11).

A expressividade não pode ser tomada como sinônimo de estilo do locutor, do programa ou da emissora de rádio. O estilo é parte da expressividade e é definido pela marcas recorrentes usadas na animação oral, nas combinações e variação dos recursos prosódicos e gramaticais, sejam elas determinadas pela emissora e/ou pelo locutor(10,12).

Entre os objetivos de com os radialistas trabalho, apontados pelas entrevistadas (Quadro 3), a expressividade ocupa o segundo lugar. Ela é trabalhada com o objetivo de fornecer ao locutor a possibilidade de domínio consciente do uso dos recursos vocais para exercer sua função com maior liberdade, o que se relaciona com as denominações plasticidade ou flexibilidade vocal. As características que diferenciam os locutores dos não-locutores foram a distribuição mais homogênea de pausas e o maior número de semitons(4). Entretanto, a expressão não se restringe a usar variabilidade de recursos, da mesma forma que não existe adequação ou inadequação no uso deste ou daquele recurso(9,10,12).

O uso variável e flexível será condizente com um tipo de expressão, enquanto em outras a prosódia será diferente. As correlações entre som-sentido são dadas a partir do simbolismo estabelecido entre eles. Neste tipo de (des)alinhamento, devem-se observar os processos de compatibilidade e incompatibilidade simbólica(9,10,12). Certamente, numa locução comercial, onde o maior objetivo é a persuasão, para aderência a um tipo de produto, a fala usada terá que ser mais modulada e mais rápida, que a usada em apresentação de notícias.

A estratégia da leitura é, ainda, a mais usada pelos fonoaudiólogos. São selecionados palavras, frases, versos, trava-línguas e textos. Os textos são de diferentes gêneros, como poesia, crônica, conto, textos teatrais e radiofônicos, como notícias, propagandas e comerciais.

Em relação aos recursos vocais, listados pelas entrevistadas, entre seus objetivos de trabalho (Quadro 4), faz-se necessário discutir sobre a sua conceituação, não apenas porque um mesmo recurso foi nomeado de diferentes formas, inclusive pela mesma entrevistada, como também porque não é correto classificar saúde, aquecimento e resistência vocal como recursos expressivos.

Todas as fonoaudiólogas relataram realizar exercícios de respiração e coordenação pneumofonoarticulatória (CPFA) (Quadros 4 e 5) e incluem, entre as estratégias, exercícios de demarcação de pausas respiratórias no texto (Quadro 5). Duas observações são pertinentes, neste quesito: a primeira, diz respeito ao tipo e modo da respiração e à própria coordenação pneumofônica, que não podem ser desconsiderados no trabalho de expressividade oral, dada à afinidade das alterações na CPFA com a veiculação de estados orgânicos e emocionais. Neste caso, não apenas é desejado o melhor desempenho da CPFA para ter boa variabilidade e agilidade articulatória, como também é preciso entendê-la associada aos sentidos dos textos. A segunda observação diz respeito à pausa, visto que as entrevistadas consideraram pausa respiratória, associada ou não à pontuação do texto (de caráter gramatical), mas desconsideram outros tipos de pausas, como a expressiva, a de planejamento e a de mudança de turno(10,13).

O termo variação de duração refere-se ao tamanho das pausas e dos segmentos (também conhecido como alongamento), o que gera diferentes velocidades de fala.

Para entoação, os termos que aparecem relacionados, indistintamente, foram: modulação, curva melódica e variação de pitch (Quadro 4). Embora todas se refiram à variação de pitch, cada uma a relaciona às particularidades no seu trabalho, e podem ser descritas em tons ou curvas melódicas(9,10).

O trabalho isolado com o pitch (Quadro 5), em forma de variação e modulação de escalas, em glide ou staccatto, feito com sons não verbais e verbais (vogais e consonantais) em sequência, opera com similar flexibilização das pregas vocais exigidas na realização de curvas melódicas na fala(14). É preciso lembrar que, fisiologicamente, é muito difícil realizar a estratégia de associar loudness e pitch, de forma a variar um, enquanto o outro se mantém estável (Quadro 5). Isto demanda cuidado na indicação e observação da profissional do nível de loudness que pode ser alcançado sem modificação substancial de pitch.

As estratégias, descritas pelas fonoaudiólogas para trabalhar com articulação, (Quadro 5) abrangeram técnicas que objetivam a abertura da articulação, agilidade articulatória, como o uso de exercícios miofuncionais, leitura ou fala com abertura vertical da boca, emissão de diferentes vogais em sequência e leitura de trava-línguas. Estes fatores interferem na duração dos segmentos, e, consequentemente, na velocidade de fala (taxa de elocução), ou seja, quanto mais rápida, menores devem ser os segmentos e/ou as pausas, da mesma forma que um alongamento.

As entrevistadas referiram utilizar algumas estratégias de caráter geral para trabalhar com ênfase, como se este fosse um recurso isolado (Quadro 5). É preciso lembrar que ênfase não é sinônimo de prosódia e não é recurso vocal. A ênfase é a proeminência perceptiva à determinada palavra de uma frase (que pode ser de uma só palavra). A técnica de mudança de posição da ênfase, que ocorre quando a frase é composta de várias palavras, acarreta na mudança de sentido da frase - trabalho difundido na Fonoaudiologia. A ênfase oral pode ser dada por um ou mais recursos vocais incidindo na palavra, como: entoação, acentuação, articulação, velocidade e alongamento de vogais, pausa; e está associada ao seu contexto interpretativo(10).

A única estratégia descrita (Quadro 5), por uma das entrevistadas, para o trabalho com ritmo, foi a mudança da taxa de elocução, ao longo de uma frase, desacelerando. Esta técnica é descrita na literatura com o intuito de trabalhar a velocidade de fala, de forma que é um equivoco tomá-los como sinônimos. Na literatura, as estratégias de ritmo descritas incluem falar um poema com alteração da métrica e marcar o ritmo da leitura, ou da fala espontânea, com metrônomo, palmas ou batidas de pé. Tais técnicas baseiam-se na isocronia rítmica (intervalos regulares), fato que não se encontra na fala, pois a duração é variável por questões lexicais, estilísticas e expressivas e interage com a velocidade e duração dos segmentos(15,16).

Discutir a questão da qualidade vocal, integrada com a ressonância e com a articulação, é importante, uma vez que esta tem sido tratada, na Fonoaudiologia, dentro de um conceito que faz distinção entre fala e voz e descreve as mobilizações do aparelho fonador em nível glótico, separadamente do supraglótico. Seria uma mudança importante de posicionamento teórico enfocar a qualidade vocal como produto de características da anatomia do aparelho fonador e derivado de ajustes musculares laríngeos e supralaríngeos, ao invés de subdividir a qualidade de voz em fatores laríngeos, ressonantais e articulatórios(10,11).

Os termos projeção e ressonância foram considerados, pelas entrevistadas, como sinônimos (Quadro 4), o que não é correto. Ressonância refere-se à ampliação do som nas cavidades nasal e oral, enquanto projeção se refere à propagação do som no espaço, o que requer ajuste corporal diferenciado, de modo a aumentar o loudness, sem esforço corporal. Para se trabalhar ressonância, a única técnica mencionada foi o humming (Quadro 5), embora uma grande quantidade de estratégias seja descrita na literatura.

A variação de loudness em estrofes, durante a leitura de uma poesia, foi a única estratégia lembrada pelas entrevistadas (Quadro 5).

CONCLUSÃO

A análise dos relatos de fonoaudiólogas, que atuam com profissionais do meio radiofônico no Brasil, evidencia que o conceito de expressividade oral aparece como "novo" para elas, embora esteja descrito na literatura fonoaudiológica e linguística.

Tal conceito apareceu não somente relacionado à manifestação do falante, na expressão de emoções e intenções, mas também ao julgamento do ouvinte e à sua adequação social, expondo a dinâmica relação entre o subjetivo e o social. Embora inter-relacionados, em algum momento da fala, um destes fatores pode preponderar sobre outros. Além de a expressividade ser dada pelo sujeito e sua subjetividade, o teor da mensagem textual e o estilo da emissora também apareceram como interferentes.

A variedade na nomenclatura dos recursos vocais revela a necessidade do aprofundamento conceitual na área linguística, uma vez que um modelo teórico referencial poderá ser norteador de ações práticas, na área da prosódia, em Fonoaudiologia.

A estratégia mais usada pelos fonoaudiólogos, na intervenção, é a leitura de diferentes textos, inclusive radiofônicos.

Recebido em: 23/9/2009

Aceito em: 10/8/2010

Trabalho realizado no Curso de Especialização em Fonoaudiologia, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP - São Paulo (SP), Brasil.

  • 1. Kyrillos LCR, Lourenço IC, Ferreira LM, Toledo FB. Posturas comunicativas de radialistas de AM e FM. Pró-Fono. 1995;7(Ed Esp):28-31.
  • 2. Madureira S. A materialidade fônica, os efeitos de sentido e os papéis do falante. DELTA. 1996;12(1):87-93.
  • 3. Oliveira IB. A educação vocal na radiofusão: relato de trabalho fonoaudiológico desenvolvido com noventa radialistas. In: Ferreira LP, organizadora. Trabalhando a voz: vários enfoques em fonoaudiologia. 4a ed.São Paulo: Summus; 1988. p. 28-39.
  • 4. Medrado R, Ferreira LP, Behlau M. Voice-over: perceptual and acoustic analysis of vocal features. J Voice. 2005;19(3):340-9.
  • 5. Penteado RZ, Chun RYS, Silva RC. Do higienismo às ações promotoras de saúde: a trajetória em saúde vocal. Distúrb Comun. 2005;17(1):9-17.
  • 6. Chun RYS, Madureira S. A qualidade e a dinâmica de voz. Distúrb Comun. 2004;15(2):383-92.
  • 7. Zellner Keller B. Speech prosody, voice quality and personality. Logoped Phoniatr Vocol. 2005;30(2):72-8.
  • 8. Azevedo JBM, Ferreira LP, Kyrillos LR. Julgamento de telespectadores a partir de uma proposta de intervenção fonoaudiológica com telejornalistas. Rev CEFAC. 2009;11(2):281-9.
  • 9. Madureira S. Sobre a expressividade da fala. In: Kyrillos LR, organizadora. Expressividade: da teoria à prática. Rio de Janeiro: Revinter; 2005. p.15-26.
  • 10. Viola IC. O gesto vocal: a arquitetura de um ato teatral [tese] São Paulo: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; 2006.
  • 11. Lima MFB, Camargo ZA, Ferreira LP, Madureira S. Qualidade vocal e formantes das vogais de falantes adultos da cidade de João Pessoa. Rev CEFAC. 2007;9(1):99-109.
  • 12. Viola IC. Efeito expressivo das variantes estilísticas do /r/. Intercâmbio. 2006;15:1-10.
  • 13. Cotes C. O uso das pausas nos diferentes estilos de televisão. Rev CEFAC. 2007;9(2):228-37.
  • 14. Watson PJ, Schlauch RS. The effect of fundamental frequency on the intelligibility of speech with flattened intonation contours. Am J Speech Lang Pathol. 2008;17(4):348-55.
  • 15. Barbosa PA. É possível integrar o discreto e o contínuo em um modelo de produção do ritmo da fala? Cad Estud Linguíst. 2002;(40):29-38.
  • 16. Pedroso MIL. O uso de técnicas vocais como recursos retóricos na construção do discurso. Rev GEL. 2008;5(2):139-61.
  • Endereço para correspondência:
    Léslie Piccolotto Ferreira
    R. Ministro de Godoy, 969/ 4° andar, Perdizes
    São Paulo (SP), Brasil
    CEP: 05014-901
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      27 Out 2011
    • Data do Fascículo
      Mar 2011

    Histórico

    • Recebido
      23 Set 2009
    • Aceito
      10 Ago 2010
    Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia Al. Jaú, 684 - 7º andar, 01420-001 São Paulo/SP Brasil, Tel.: (55 11) 3873-4211 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: revista@sbfa.org.br