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Exposições sobre Comunicação Humana em museus interativos de ciências

Resumos

OBJETIVOS: Investigar a existência de exposições ou exibições sobre temas relacionados à Comunicação Humana em museus interativos de ciências nacionais e internacionais e analisar o conteúdo para verificar quais são os assuntos, relacionados à área de Fonoaudiologia, abordados nos museus. MÉTODOS: Análise dos sites de 40 museus de ciência e/ou tecnologia internacionais e 20 nacionais para identificação de exposições ou exibições relacionadas ao tema "Comunicação Humana". RESULTADOS: A maioria dos museus pesquisados possui exposições ou exibições relacionadas ao tema Comunicação Humana. Dentre os nacionais apenas quatro possuem uma exposição inteira relacionada ao tema e dentre os internacionais treze possuem exposições inteiras. A quantidade de exibições internacionais é maior que a encontrada nos nacionais, e a qualidade do material também diverge. A maioria dos museus trata da acústica e em segundo lugar da recepção da mensagem pela audição e fala menos sobre produção da mensagem, linguagem, e anatomia e fisiologia da voz. CONCLUSÃO: Os museus de ciência abordam as ciências básicas e por esse motivo a acústica é muito explorada. Foram encontradas muitas exibições sobre temas relacionadas à Comunicação Humana que possibilitam aos indivíduos conhecer o funcionamento do corpo humano, despertando a curiosidade em relação ao tema abordado. Como os museus são instituições de divulgação científica e educação informal que colaboram para a alfabetização científica da população a Fonoaudiologia pode aproveitar seus espaços para divulgação de suas pesquisas e de seu conhecimento sobre a Comunicação Humana.

Exposições científicas; Museus; Educação em saúde; Promoção da saúde; Comunicação; Audição; Voz; Fala; Linguagem


PURPOSE: To investigate the existence of exhibitions and displays on topics related to Human Communication in national and international interactive science museums, and analyze the content to determine what are the issues related to Speech-Language Pathology and Audiology discussed in the museums. METHODS: Website analysis of 40 international science and/or technology museums and 20 national museums to identify exhibitions or displays related to the theme "Human Communication". RESULTS: Most of the researched museums have exhibitions or displays related to Human Communication. Among the national museums only four have an entire exhibition related to the topic, and among the international museums, thirteen exhibitions were found. The number of international exhibitions is greater than the number identified in national museums, and the quality of the material also varies. The primarily discussed topic in museums is acoustics, followed by message reception by hearing sense. Most museums do not approach the topics of message production, language, and voice anatomy and physiology. CONCLUSION: Science museums address basic sciences and, for this reason, acoustics is much explored. Many exhibits were found on topics related to Human Communication that allow individuals to learn about how the human body works, arousing curiosity about the subject. Because museums are institutions of science communication and informal education that contribute to the population's scientific literacy, Speech-Language Pathology and Audiology can take advantage of these spaces to disseminate research and knowledge about Human Communication.

Scientific exhibitions; Museums; Health education; Health promotion; Communication; Hearing; Voice; Speech; Language


ARTIGO ORIGINAL

Exposições sobre Comunicação Humana em museus interativos de ciências

Tainá Soares FerreiraI; Cláudia Regina Furquim de AndradeII

IInstituto Central, Hospital das Clínicas, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP), Brasil

IIDepartamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo – FMUSP – São Paulo (SP), Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Cláudia Regina Furquim de Andrade R. Cipotânea, 51, Cidade Universitária, São Paulo (SP), Brasil, CEP: 05360-000 E-mail: clauan@usp.br

RESUMO

OBJETIVOS: Investigar a existência de exposições ou exibições sobre temas relacionados à Comunicação Humana em museus interativos de ciências nacionais e internacionais e analisar o conteúdo para verificar quais são os assuntos, relacionados à área de Fonoaudiologia, abordados nos museus.

MÉTODOS: Análise dos sites de 40 museus de ciência e/ou tecnologia internacionais e 20 nacionais para identificação de exposições ou exibições relacionadas ao tema "Comunicação Humana".

RESULTADOS: A maioria dos museus pesquisados possui exposições ou exibições relacionadas ao tema Comunicação Humana. Dentre os nacionais apenas quatro possuem uma exposição inteira relacionada ao tema e dentre os internacionais treze possuem exposições inteiras. A quantidade de exibições internacionais é maior que a encontrada nos nacionais, e a qualidade do material também diverge. A maioria dos museus trata da acústica e em segundo lugar da recepção da mensagem pela audição e fala menos sobre produção da mensagem, linguagem, e anatomia e fisiologia da voz.

CONCLUSÃO: Os museus de ciência abordam as ciências básicas e por esse motivo a acústica é muito explorada. Foram encontradas muitas exibições sobre temas relacionadas à Comunicação Humana que possibilitam aos indivíduos conhecer o funcionamento do corpo humano, despertando a curiosidade em relação ao tema abordado. Como os museus são instituições de divulgação científica e educação informal que colaboram para a alfabetização científica da população a Fonoaudiologia pode aproveitar seus espaços para divulgação de suas pesquisas e de seu conhecimento sobre a Comunicação Humana.

Descritores: Exposições científicas; Museus; Educação em saúde; Promoção da saúde; Comunicação; Audição; Voz; Fala; Linguagem

INTRODUÇÃO

Os museus de ciência existem há mais de 300 anos, mas os que englobam os conceitos de dinamismo e interatividade surgiram por volta da década de 60, principalmente nos Estados Unidos. Um dos primeiros museus da época, o Exploratorium Museum em São Francisco inaugurado em 1969, logo provou ter mais valor educacional e impacto social do que se esperava(1). A partir de então surgiu uma nova geração de museus de ciência e tecnologia que são conhecidos como "science centres". Hoje em dia esses centros são vistos como suporte crucial ao sistema formal de educação oferecido pelas escolas(2). A partir da década de 80 foram criados os primeiros museus de ciência e tecnologia interativos do Brasil(3).

Os museus de ciência e tecnologia são considerados por diversos autores(2-8) como espaços educativos não-formais que complementam a aprendizagem formal de crianças em fase escolar e do público geral e visam estimular o público a buscar o conhecimento cientifico. No que diz respeito ao papel educativo dos museus cabe ressaltar que a educação é entendida como "um processo contínuo e ininterrupto que instrumenta o indivíduo para uma função na sociedade e constitui também processo de socialização"(4).

O espaço do museu possibilita a aprendizagem através de diversas linguagens e pode disponibilizar meios para que os visitantes possam interagir com o objeto de estudo, dessa forma, em um museu interativo, o indivíduo deixa de ser um expectador passivo e passa a ter uma posição ativa em relação ao ambiente, podendo assim manipular os aparatos do museu, interagir com o material disponibilizado e protagonizar ações e descobertas(8,9). Nos museus interativos "o público experimenta de forma direta, viva e lúdica o fato científico" (3) .

Interatividade é entendida como um processo que possibilita e favorece a experimentação de fenômenos e a participação na aquisição de informações, com o objetivo de ampliar conhecimentos pessoais e, neste sentido, a experimentação justifica a existência de museus interativos(3). Assim, o museu deve possibilitar a interação dos visitantes com objetos, fenômenos, e equipamentos para motivá-los a aprender, despertar curiosidade sobre determinado tema, e consequentemente, possibilitar novas aprendizagens e contribuir para a cultura científica dos mesmos(5).

Os museus têm o objetivo de criar ou mudar as concepções sobre a ciência(8,10-12) e as exposições são produtos culturais com um rico potencial educativo. Existem algumas propostas de educação em saúde nestes espaços(9,10,13). Uma pesquisa(10) desenvolvida no Museu da Vida no Rio de Janeiro indicou que a visita ao museu contribuiu para "estabelecer relações entre os principais temas abordados no museu (história, ciência, tecnologia, ambiente e saúde), ampliando as concepções sobre saúde dos jovens".

Existem alguns museus interativos no mundo que tratam de um assunto comum a Fonoaudiologia: a Comunicação Humana(14,15). O Cité des Sciences et de l'industrie – La Villette em Paris, por exemplo, possui uma grande exposição permanente chamada "Communication – Sounds". Nela são trabalhados conteúdos de produção e recepção de sons, fala sintetizada, mecanismos de comunicação animal, aproximação linguística entre a fala de um adulto e o balbucio de uma criança exposta à mesma língua, realização fonêmica dos sons da fala humana, entre outros temas relacionados.

Visto que os museus abordam assuntos que são da área de conhecimento do fonoaudiólogo este profissional pode colaborar no desenvolvimento das exposições interativas de modo a disponibilizar ao público um maior conhecimento sobre a Comunicação Humana(14,15). Além disso, o fonoaudiólogo também pode dispor dos museus para colaborar no processo de alfabetização cultural e científica dos seus pacientes propondo que visitem os museus da sua cidade e participem de atividades culturais.

O trabalho de prevenção e promoção da Saúde faz parte do trabalho fonoaudiológico e o Código de Ética Profissional determina que o profissional deve participar de campanhas preventivas ou de promoção da saúde sempre que possível(16). Assim, ações relacionadas ao tema "Comunicação Humana" são extremamente importantes uma vez que a comunicação possibilita ao indivíduo colocar-se como agente transformador da sociedade e da sua realidade(17).

Tanto na atenção primária quanto na reabilitação fonoaudiológica o profissional deve estar atento não só à patologia que está sendo tratada, mas também aos fatores meta-pessoais (como a realidade social e cultural e o acesso aos serviços de saúde e de lazer) e aos fatores pessoais (incluindo as características linguísticas e sociais e os hábitos de vida e de saúde) determinantes da qualidade de vida(18). Neste contexto o fonoaudiólogo pode orientar e estimular seus pacientes a participarem de atividades culturais e educacionais.

Os objetivos desta pesquisa foram: investigar a existência de exposições ou exibições sobre temas relacionados à Comunicação Humana em museus nacionais e internacionais e analisar o conteúdo encontrado de modo a verificar quais são os assuntos, relacionados à área de Fonoaudiologia, abordados nos museus.

MÉTODOS

A metodologia desta pesquisa envolveu a análise dos sites de 40 museus internacionais e 20 museus nacionais, todos de ciência e/ou tecnologia, que foram citados nos 25 artigos científicos da área de museologia que embasaram a proposta deste trabalho.

Estes artigos científicos foram levantados em bases de dados (SciELO Brasil, Springer Link, Interscience Wiley e ScienceDirect) cruzando-se as seguintes palavras-chave: museu(s) AND ciência, exposições AND interativas, "interactive science museum", e "interactive science center". A pesquisa resultou em 104 artigos, sendo que 46 deles não eram relacionados a museus, 12 eram repetidos, e três eram em outras línguas. Os 43 artigos restantes eram relacionados a museus, porém 18 textos foram excluídos, pois se relacionavam a museus de arte ou de história natural ou os textos completos não estavam acessíveis. Dos 25 artigos analisados para o embasamento teórico desta pesquisa 14 eram discussões teóricas, oito eram pesquisas de campo centradas no usuário, e três eram relatos de experiências desenvolvidas em museus.

Em cada artigo científico foram levantados os museus e/ou centros de ciências citados no corpo do texto ou identificados como local de realização da pesquisa.

Este levantamento identificou um número reduzido de museus nacionais, portanto a este grupo foram agregados os museus cujos representantes apresentaram trabalhos ou palestras em dois eventos que ocorreram no Brasil durante o ano de 2008: o Workshop Sul-Americano de Mediação em Museus e Centros de Ciência realizado no Rio de Janeiro e o 5th International Conference Hands-On Science realizado em Recife.

Após o levantamento dos museus os respectivos sites foram analisados via Internet durante o ano de 2009. Para cada instituição criou-se uma tabela com os seguintes dados: nome, local, URL, título da exposição identificada, títulos das exibições relacionadas, descrição do material encontrado e principal assunto abordado.

Neste trabalho considerou-se que o termo exposição refere-se ao espaço do museu com objetos de aprendizagem sobre um mesmo tema e exibição é um objeto museal individual, ou seja, uma exposição é formada por mais de uma exibição e uma exibição é um objeto construído com o objetivo de oferecer informações ou experimentos e com o qual o visitante interage.

No caso das exibições relacionadas à Comunicação Humana foram encontrados objetos desenvolvidos com modelos anatômicos, painéis estáticos ou interativos, software de computadores, equipamentos com filmes informativos, instrumentos musicais, instalações, entre outros. O material utilizado em cada exibição pode variar muito, por exemplo: uma exibição da exposição Listen do Exploratorium Museum é composta por um corredor com pedras no chão e microfones muito sensíveis que captam a intensidade do som produzido enquanto o visitante anda sobre as pedras.

Dessa forma, tanto as exposições sobre Comunicação Humana quanto as exibições dispostas nos diferentes espaços dos museus foram analisadas e para isso foram considerados tanto os aspectos anatômicos, fisiológicos e físicos da audição e da fonação quantos os aspectos mais abrangentes relacionados às línguas naturais, aos meios de comunicação, e à habilidade comunicativa.

O termo Comunicação Humana é entendido como o processo amplo que envolve os seguintes elementos: emissor ou codificador da mensagem, a mensagem, o receptor que interpreta a mensagem, o veículo ou canal ou uma cadeia de canais que facilita e promove a transmissão da mensagem, feedback ou realimentação – o elemento que garante o monitoramento da mensagem e ruído (erro, interferência ou barreira no processo). A comunicação realizada por meio da linguagem promove a interação entre os indivíduos e está relacionada à audição, à expressão corporal e à expressividade oral que engloba a fala, a voz, a dicção, a respiração, e os elementos linguístico-discursivos(19-21).

A partir desse ponto de vista foi criada uma classificação para os materiais encontrados dividida em quatro assuntos principais: acústica, sistema auditivo, comunicação humana geral e/ou linguagem, e voz e/ou fala. Todas as exposições e exibições encontradas foram classificadas de acordo com este critério podendo entrar em mais de uma categoria, já que muitas exposições/exibições abordam mais de um assunto, por exemplo acústica e sistema auditivo.

A partir das tabelas criadas para cada instituição os dados foram analisados de forma quantitativa e qualitativa chegando-se ao mapeamento das exposições e exibições referentes à Comunicação Humana existentes atualmente nos museus de ciências investigados.

Por fim desenvolveu-se uma tabela com as "Principais Informações sobre os Museus de Ciência Nacionais pesquisados" com os dados encontrados sobre os 20 museus brasileiros analisados.

Os sites de nove museus nacionais apresentavam poucas informações relacionadas ao conteúdo das suas exposições ou estavam desatualizados então foi enviado um e-mail questionando se o museu tinha alguma exposição ou exibição sobre Comunicação Humana e solicitando maiores informações sobre o material. Apenas três museus não retornaram o contato.

RESULTADOS

Em relação aos 20 museus nacionais sete (35%) estão localizados no estado do Rio de Janeiro, seis (30%) no estado de São Paulo, dois (10%) em Minas Gerais, um no Ceará, um em Alagoas, um em Pernambuco, um na Bahia e um no Rio Grande do Sul. Dentre os 40 museus internacionais 14 (35%) ficam nos Estados Unidos, quatro (10%) no Reino Unido, quatro na Austrália, quatro no Canadá, três (7,5%) na França, e um (2,5%) em cada um dos países a seguir: Alemanha, Chile, Colômbia, Espanha, Holanda, Israel, Itália, Malásia, México, Nova Zelândia, e Uruguai.

Dentre os 20 museus nacionais pesquisados foram encontrados 16 museus (80%) que possuem exposições ou exibições relacionadas ao tema Comunicação Humana e dentre os 40 museus internacionais foram identificados 26 museus (65%) que exploram o tema. Dentre os 16 museus nacionais apenas quatro possuem uma exposição inteira relacionada à Comunicação Humana e os outros museus possuem uma ou mais exibições relacionadas. Já em relação às instituições internacionais, foram encontrados seis museus com exposições relacionadas, 13 museus que possuem apenas algumas exibições relacionadas, e sete museus que, além de possuírem uma exposição especificamente relacionada à Comunicação Humana, também possuem mais exibições relevantes que fazem parte de outras exposições.

A análise de todos os museus demonstrou que o assunto mais recorrente nas exibições levantadas é "acústica" e em segundo lugar "sistema auditivo". A maioria das exibições relaciona-se com a física do som e/ou com a anatomia e fisiologia da audição, ou seja, os museus tratam da recepção da mensagem pela audição ou da física envolvida na comunicação e não abordam, por exemplo, a produção da mensagem, a linguagem, e a anatomia e fisiologia da voz (Quadro 1).


As principais informações sobre os Museus de Ciência Nacionais pesquisados encontram-se em anexo (Anexo 1).

DISCUSSÃO

De forma geral a quantidade de exibições encontradas nos museus internacionais foi maior que a encontrada nos nacionais, e a qualidade do material exposto também divergiu. Alguns museus brasileiros (quatro dentre os pesquisados) possuem apenas uma exibição relacionada à acústica - os espelhos sonoros (ou parabólicas) em que um visitante fala no centro de uma estrutura parabólica e o indivíduo localizado na outra a metros de distância consegue ouvi-lo. Outros museus disponibilizam painéis explicativos impressos ou modelos anatômicos para serem lidos e visualizados e que não propõem interatividade. Já nos museus estrangeiros foram encontradas grandes exposições com mais de 25 exibições, recursos tecnológicos avançados e aparatos manipuláveis que possibilitam interatividade.

Outros autores(22) analisaram os temas gerais apresentados no Palais de la Découverte (Paris) e no Exploratorium e apontaram que o tema Física foi o mais abordado. A conclusão desta pesquisa foi que este conteúdo, mais do que qualquer outro, possibilita o desenvolvimento de demonstrações e exibições em que o visitante manipula experimentos, mostrando a potencialidade da Física nos museus interativos.

Uma exposição que merece destaque é a Listen do Exploratorium que é composta por 48 exibições e cujo desenvolvimento baseou-se nas histórias contadas por quatro pessoas que são "ouvintes experientes" e dão uma importância maior ao sentido da audição: um usuário de implante coclear, uma mecânica que identifica os problemas de acordo com o barulho do carro, uma pessoa que monitora a vida selvagem e um cego que interpreta os sons a sua volta para se localizar e se movimentar na sua cidade. Suas exibições abordam anatomia e fisiologia da audição, habilidades auditivas, transmissão sonora, música e possuem diferentes fontes sonoras para que o visitante crie novos sons e perceba, de diferentes formas, os existentes no ambiente.

Outra exposição de destaque é a "Communication – Sounds" do Cité des Sciences et de l'industrie – La Villette em Paris (França) cujas exibições também foram inspiradas em pesquisas atuais envolvendo distintos profissionais relacionados à Comunicação Humana incluindo Fonoaudiólogos. Existe uma exibição que compara o balbucio de bebês de diferentes nacionalidades com os traços linguísticos da língua falada por suas mães, outra exibição mostra uma representação gráfica da posição da língua na articulação das vogais e permite que o visitante vá modificando a posição articulatória da língua em relação à cavidade oral e ouvindo o som que seria produzido, entre outras 31 exibições.

Também foram encontradas exibições sobre próteses auditivas, implante coclear, nível de ruído suficiente para causar lesão das células ciliadas, produção vocal com vídeos de um exame de laringoscopia, exibições com fala sintetizada, uma exibição em que o visitante pode testar qual material é melhor para isolar o ruído, entre outros materiais.

Foram observadas algumas particularidades ao comparar os museus brasileiros e os estrangeiros. No que se refere aos museus brasileiros pesquisados verificou-se que muitos (45%) não possuem informações online sobre suas exibições e foi necessário entrar em contato via e-mail para conseguir mais informações sobre alguns dos museus. Já as informações levantadas nos sites dos museus internacionais estavam mais completas e detalhadas, pois as instituições costumam descrever suas exposições e até disponibilizar material online para os visitantes acessarem de casa, sendo abundante a quantidade de exposições e exibições descritas. Porém, ainda assim, a visita presencial a alguns dos museus internacionais da amostra estudada evidenciou que nem todas as exibições expostas são contempladas nos sites(15).

CONCLUSÃO

De forma geral, os museus interativos de ciência abordam as ciências básicas e, por este motivo, a acústica e a física envolvida na audição são muito discutidas. Ainda assim foram encontradas várias exibições interessantes que discutem temas relevantes da Comunicação Humana e possibilitam a interação dos visitantes com os objetos a fim de envolvê-los na aprendizagem e torná-los protagonistas das descobertas. As exibições possibilitam que os indivíduos conheçam o funcionamento do corpo humano e despertam a curiosidade em relação ao sentido da audição, à transmissão do som e à comunicação.

Os museus, como instituições de divulgação científica, de educação não-formal e que colaboram para a introdução científica da população podem ser aproveitados pela Fonoaudiologia para divulgação de suas pesquisas e de seu conhecimento sobre a Comunicação Humana. Além disso, já se sabe que o museu pode contribuir para a educação em saúde, oferecendo um ambiente favorável à troca de significados importantes para a compreensão de conteúdos relativos à ciência e à saúde, o que facilita a aprendizagem e, portanto, pode ser utilizado em ações de promoção de saúde.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) – processo 2008/04544-7.

Recebido em: 27/10/2010

Aceito em: 22/8/2011

Trabalho realizado no Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo – USP – São Paulo (SP), Brasil.

Anexo 1 - Clique para ampliar

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  • Endereço para correspondência:
    Cláudia Regina Furquim de Andrade
    R. Cipotânea, 51, Cidade Universitária, São Paulo (SP), Brasil, CEP: 05360-000
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      02 Mar 2012
    • Data do Fascículo
      Mar 2012

    Histórico

    • Recebido
      27 Out 2010
    • Aceito
      22 Ago 2011
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