Carta ao Editor
Abortos em mulheres portadoras de hemoglobina S (AS)
Sr. Editor,
Entre as diversas complicações das mulheres com Doença Falciforme (SS, SC e STH), destacamos: abortos espontâneos, natimortos e partos prematuros (1, 2, 3 e 4). Estas não são complicações raras em serviços obstétricos, estando presentes em outras patologias além da Doença Falciforme.
Não é habitual associar-se a presença de abortos, natimortos e partos prematuros em mulheres portadoras de Hemoglobina S (AS).
Em trabalho anterior (5), levantamos a freqüência de antecedentes de abortos, natimortos e partos prematuros (7 e 8 meses de gestação) em 14 mulheres com Hemoglobina AS e comparamos com a freqüência apresentada por 263 mulheres com Hemoglobina AA (normais). Os principais resultados foram ¾ Abortos: AA = 40.3% e AS = 78.6% (significante, p < 0.01); Natimorto: AA = 20.6% e AS = 28.6% (não significante); Partos Prematuros: AA = 6.8% e AS = 7.1% (não significante).
Podemos observar que existiu maior freqüência de abortos nas mulheres AS (78.6%) do que nas AA (40.3 %).
Duchovni-Silva & Ramalho (6,7) referem que nas gestações de mulheres heterozigotas AS, cujos parceiros foram AA, existiu maior número de gestações a termo de fetos AS, do que de fetos AA e admitem "...a existência de um efeito materno na transmissão hereditária dos traços falciforme e talassêmico beta". Este autores (6,7) também admitem que "....o abortamento preferencial dos embriões AA pelas mães heterozigotas parece ser a hipótese mais atraente...".
Os achados de Duchovni-Silva & Ramalho (6,7) vêm de encontro aos nossos resultados (5) porque em um casal quando a mulher é AS e o parceiro é AA a possibilidade da geração de embrião AA e ou AS é semelhante, isto é, 50% AA e 50% AS. Se as mulheres AS tiveram maior número de recém-nascidos AS (6) e encontramos maior freqüência de abortos (5), é provável que os abortos das mulheres AS tenham sido de embriões AA.
Acreditamos que são necessários outros estudos científicos para melhor elucidação destes fatos, em conseqüência da importância médico-social dos portadores da Hemoglobina S.
Referências Bibliográficas
1.Nascimento, M.L.P.; Cardel, R.C. Complicações da gestação na Anemia Falciforme. Bol. Soc. Bras. Hematol. Hemot. 1996, 18 (Supl): Ref. 025-P.
2.Fiakpui, E.Z. & Moran, E.M. Pregnancy in sickle hemoglobinopathies. J. Reprod. Med. 1973, 11:28-34.
3.Gonçalves, M.M. & Ávila, I. Anemia Falciforme e Gravidez ¾ Femina. 1985. 13 (1): 23-30.
4.Pantaleão, S.; Nunes Maia, H.G.S.; Paiva, C.S.M.; Medeiros Filho, J.G. Gestational risk of sickle cell disease. J. Bras. Ginec. 1992, 102 (10): 405-417.
5.Nascimento, M.L.P. & Dumas, A. Transmissoras de Hemoglobina S (AS) e Beta Talassemia Menor: abortos e partos prematuros. Anais do Encontro Norte Nordeste sobre Anemias e Parasitoses, Salvador ¾ Bahia , 1999: 73.
6.Duchovni-Silva, I.; Ramalho, A.S. Maternal segregation distortion in sickle-cell and b-thalassaemia traits?. Lancet. 1996,347 (9002): 691-2.
7.Duchovni-Silva, I.; Ramalho, A.S. Efeito materno no traço de hemoglobina C. J. Bras. Patol, 2000. 36 (3): 146.
Recebido: 18/12/2000
Aceito: 15/01/2001
Maria de Lourdes Pires Nascimento
Fundação para Assistência às Anemias e Parasitoses (ANEPA)
Coordenadora do Serviço de Assistência às Anemias Genéticas (SAAG) do Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) ¾ Salvador, Bahia
Consultora Científica dos Programas de Anemias da Universidade do Estado da Bahia (UNEB)
Correspondência: Maria de Lourdes Pires Nascimento
E-mail: mlpnascimento@e-net.com.br
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
23 Jun 2003 -
Data do Fascículo
Dez 2000