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O monitoramento molecular dos linfomas B maduros e as estratégias terapêuticas, convencional e de alta dose

Editorial

O monitoramento molecular dos linfomas B maduros e as estratégias terapêuticas, convencional e de alta dose

Carmino Antonio de Souza

A Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia, neste número, traz uma importante revisão preparada pelo Prof. Marco Ladetto e seus colaboradores da Universidade de Turin, Itália, a respeito da relevância clínica do monitoramento molecular, através das técnicas de PCR, da Doença Residual Mínima nos linfomas B indolentes, particularmente, os linfomas foliculares. Como senso comum aos hematologistas e oncologistas, estes linfomas respondem ao tratamento citotóxico, mas não podem ser curados com estratégias de tratamento convencional (1-3). Apesar da quimiosensibilidade, a doença invariavelmente recai e, freqüentemente, surgem clones mais agressivos, resultando em evolução fatal.

A sobrevida é, geralmente, longa, podendo chegar a 15 anos, porém, estádios mais avançados resultam em sobrevida mais curta (4-7). Além disso, são linfomas que acometem pacientes mais idosos, quando comparados aos linfomas agressivos. Este cenário criou uma idéia de que tais linfomas são incuráveis, o tratamento quimioterápico é secundário, e visa, apenas, evitar ou retardar a progressão da doença. Porém, a introdução de terapêutica de alta dose, o transplante autólogo de medula óssea, inicialmente apenas nos pacientes recidivados ou em progressão de doença (8), pelo grupo do Dana Faber de Boston, trouxeram uma nova opção e podem ser vistas como cruciais para o amplo uso, particularmente, nos linfomas foliculares. Além disso, a utilização de marcadores moleculares, que sensibilizaram a detecção de doenças até o nível sub clínico, pode confirmar a importância deste método terapêutico, até então, apenas utilizado em linfomas agressivos (9-12).

Estes métodos permitiram ainda, confirmar a redução da doença abaixo dos níveis de detecção através do PCR e uma importância prognóstica (13-16). A introdução do purging in vivo, com a utilização de anticorpos humanizados específicos contra os linfócitos B, por exemplo o anti-CD20 (17-19) e in vitro com a utilização de colunas de seleção positiva ou negativa (20), foram outros fatores que trouxeram avanços relevantes na abordagem deste grupo de linfomas. Resta saber ainda, se este conjunto de estratégias diagnósticas, de monitoramento biológico e clínico, de terapêutica quimioterápica, auto-transplante e anticorpos específicos, combinadas em estudos prospectivos e controlados, trarão os resultados que todos nós esperamos nos próximos anos. Sabemos que a abordagem dos linfomas indolentes será o nosso maior desafio.

A cultura médica adquirida nas últimas décadas, em relação aos linfomas agressivos, não foi a mesma em relação aos indolentes. A distância entre o watch-and-wait e os transplantes de medula óssea é muito grande e encontrar os grupos certos para os tratamentos certos, nos linfomas indolentes, nos desafia e nos estimula. As técnicas de monitoramento e diagnóstico que nos foram apresentadas são fundamentais nesta nova fase que visa transformar, ao menos, parte deste grupo de doenças, em entidades curáveis.

Referências bibliográficas

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Recebido: 19/04/01

Aceito: 23/04/01

Professor Titular de Hematologia e Hemoterapia

Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). SP. Brasil

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    12 Jun 2003
  • Data do Fascículo
    Abr 2001
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