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Análise de marcadores intracelulares por citometria de fluxo nas leucemias

Flow cytometry of intracellular markers in leukemias

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Análise de marcadores intracelulares por citometria de fluxo nas leucemias

Flow cytometry of intracellular markers in leukemias

Dewton de Moraes Vasconcelos

Médico responsável pelo Ambulatório de Manifestações Dermatológicas das Imunodeficiências Primárias – ADEE3003 e pesquisador associado ao Laboratório de Investigação Médica em Dermatologia e Imunodeficiências – LIM56, Hospital das Clínicas da FM–USP

Endereço para correspondência Correspondência: Dewton de Moraes Vasconcelos. E–mail: dmvascon@usp.br

Um artigo de Pereira et al. publicado neste fascículo da Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia realça um aspecto notável no diagnóstico de leucemias com características biológicas específicas. Nos últimos vinte anos, estudos de citometria de fluxo estabeleceram em grande parte as características antigênicas das leucemias. Este editorial tenta emitir algumas considerações sobre o impacto das técnicas de citometria de fluxo utilizadas em hematologia clínica, particularmente em relação aos antígenos intracelulares.

O processo de categorizar as moléculas e epítopos associados a antígenos com leucócitos humanos data dos anos 80 e, na atualidade, mais de trezentas moléculas relacionadas aos leucócitos são conhecidas. Com o passar dos anos, a citometria de fluxo hematológica revelou uma série de características importantes, tais como a clareza, rapidez, exatidão, visibilidade e multiplicidade. A citometria de fluxo hematológica é clara porque seu princípio é sólido, sem qualquer teoria complicada, e o envolvimento do operador experimentado é livre de problemas. É rápida, pois os resultados iniciais estão disponíveis dentro de vinte minutos do processamento da amostra e, em um laboratório especializado, o diagnóstico de uma leucemia pode ser realizado dentro de uma hora. A citometria de fluxo é uma tecnologia exata, porque o processo analítico é altamente controlado e os dados expressos quantitativamente. É visível, pois grande parte da análise é baseada no reconhecimento dos padrões visuais dos dot plots da citometria de fluxo, onde os plots de densidade e contorno podem ser utilizados para identificar anormalidades, acrescida da expressão de diversos marcadores identificados pela ligação a anticorpos específicos conjugados a fluorocromos. Finalmente, a multiplicidade é uma característica crescente da hematocitometria, pois os aparelhos atuais perfazem análise policromática de seis ou mais parâmetros, facilitando sobremaneira a avaliação de doença residual mínima.

A avaliação multiparamétrica objetiva de células individuais faz com que a citometria de fluxo seja absolutamente diferente de qualquer outra ferramenta utilizada em diagnóstico hematopatológico. A citometria de fluxo já foi descrita como um tipo de proteômica de células individuais, devido à sua habilidade de detectar e quantificar simultaneamente muitas proteínas em uma única célula.

Todos os investigadores envolvidos na tipagem de leucemias e linfomas são freqüentemente chamados para dar sua opinião avalizada em quase todos os casos, mesmo naqueles casos que parecem facilmente classificáveis por citologia convencional. Além disso, a citometria de fluxo é fundamental para a distinção entre leucemia linfóide aguda imatura (ALL) e leucemia mielóide aguda (AML), subtipagem imunológica e predição de anormalidades biomoleculares cariotípicas, expressão de marcadores prognósticos, descoberta de moléculas potencialmente exploráveis como objetivo para imunoterapia (CD20, CD52, CD33), presença e quantificação do número de células na doença residual mínima, avaliação de clonalidade de células B e células T, entre muitas outras características passíveis de identificação por citometria de fluxo.

A estrutura mais acessível à citometria de fluxo é a superfície da célula, mas podemos avaliar também estruturas e antígenos intracitoplasmáticos e intranucleares. O que torna a membrana especial é a presença facilmente detectável de uma quantia enorme de diferentes proteínas de superfície que são usadas para várias funções como adesão, ligação de fatores de crescimento ou quimiocinas, adesão à fração Fc das imunoglobulinas ou complemento, atividade enzimática e transporte de íons. Por outro lado, a avaliação de antígenos intracelulares permite a identificação de diversas moléculas associadas a enzimas como a deoxinucleotidil transferase terminal (TdT), moléculas intermediárias, como a cadeia intracelular, proteínas tirosina–quinases, que são alvos potenciais de terapia por drogas como o imitinib, componentes de cascatas de sinalização, citocinas, moléculas ligadas a fenômenos citolíticos como as granzimas e a perfurina, moléculas associadas a apoptose como as caspases e proteínas do complexo Bcl, avaliação da perda do potencial de membrana das mitocôndrias, quantificação de compostos reativos derivados do oxigênio e da atividade de mieloperoxidase, entre muitas outras.

O artigo de Pereira et al, que relata a padronização de uma técnica de permeabilização celular com saponina, que permite alto grau de eficácia, precisão, reprodutibilidade e baixo custo, é de fundamental importância para todos os que trabalham com citometria de fluxo, tanto ao nível de pesquisa básica ou aplicada, quanto para utilização clínica no diagnóstico de diversas doenças hematológicas, entre as quais as leucemias e outras doenças proliferativas, como a síndrome hipereosinofílica idiopática, assim como no diagnóstico de diversas imunodeficiências primárias.

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Recebido: 23/02/2007

Aceito: 17/04/2007

Avaliação: O tema abordado foi sugerido e avaliado pelo editor

Conflito de interesse: não declarado

  • Correspondência:
    Dewton de Moraes Vasconcelos.
    E–mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      12 Nov 2007
    • Data do Fascículo
      Jun 2007
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