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Hemoterapia moderna, práticas antigas
Modern hemotherapy, ancient practices
Ivan de Lucena Angulo
Médico, hematologista e hemoterapeuta do Centro Regional de Hemoterapia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP
Endereço para correspondência Correspondência: Ivan de Lucena Angulo Rua Tenente Catão Roxo, 2501 Monte Alegre 14051140 Ribeirão PretoSP Tel.: (16) 21019300 Email: angulo@pegasus.fmrp.sup.br
Coerente com a visão de que a medida dos riscos e dos benefícios do ato transfusional é a mais adequada forma para se indicar este procedimento, a busca do risco zero, apesar de utópica, é a que mais se aplica ao princípio do primum non nocere.1 A hemoterapia moderna é multiprofissional e pressupõe um elevado nível de conhecimento, treinamento e experiência dos executores, de todas as categorias profissionais.2 A participação, no Brasil, da enfermagem na hemoterapia ainda se dá de maneira tímida, restrita à seleção dos doadores, à coleta e aférese, porque o corporativismo médico tem impedido a ampliação de suas funções, ao contrário de outros países. No outro lado da cadeia transfusional, na hemoterapia hospitalar, encontramse profissionais militantes marcados por excessos de atribuições, muitas vezes complexas e carregadas de procedimentos burocráticos. E, como mostraram os autores, com nível educacional insuficiente. Isto numa época em que se fala a todo momento em educação continuada, ensino à distância, tecnologia da informação na educação e outros avanços.3
A gestão da qualidade pressupõe formação e educação contínua. De nada adianta produzir um produto com qualidade e entregálo nas mãos de pessoas despreparadas para o seu uso. O Brasil é campeão em acidentes do trabalho pela baixa educação dos trabalhadores. Não basta treinar, é preciso educar. A hemoterapia moderna é complexa, exige a presença de novos profissionais de enfermagem especializados, como o flebotomista, o especialista em aféreses e o transfusionista. Este último, com conhecimentos básicos, porém sólidos, em imunohematologia, terapia transfusional e infusional, e sobre os aspectos clínicos das doenças, das reações transfusionais, seu diagnóstico e tratamento.4 A grande maioria das reações agudas é passível de prevenção. E a enfermagem, que acompanha o paciente em todos os momentos do ato transfusional, é a linha de frente na prevenção e no combate ao risco de reações.
Os autores mostraram que, com procedimentos simples, mas não isentos de esforço, se conseguem resultados surpreendentes em termos de aprendizado. Resta adequar a parte material dos hospitais a estas condutas e exercícios de hemovigilância, para que possamos dizer que estão diminuindo os riscos, mas seguramente a iniciativa aqui apresentada é o primeiro passo para a melhoria contínua. Outros serão, sem dúvida, necessários. Tive a honra de participar como professor do treinamento dos profissionais citados no artigo de Ferreira et al sobre um tema que considero, na Hemoterapia, da mais alta relevância as reações adversas e complicações transfusionais.
Referências Bibliográficas
1. Blood Transfusion Safety and Clinical Technology. The Clinical Use of Blood. World Health Organization, 2002, em http://www.who.int/bloodsafety/clinical_use/en/Module_P.pdf, acesso em 17 de abril de 2007.
2. Angulo IL. Prática transfusional normas para o Hospital de Base. HB Científica. 1998;5(1):7084.
3. World Health Organization, em http://www.who.int/bloodsafety/education_training/en/, acesso em 17 de abril de 2007.
4. Shulman IA, Lohr K, Derdiarian AK, Picukaric JM. Monitoring transfusionist practices: a strategy for improving transfusion safety. Transfusion. 1994;34(1)11.
Recebido: 22/04/2007
Aceito: 22/04/2007
Avaliação: O tema abordado foi sugerido e avaliado pelo editor
Conflito de interesse: não declarado
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
12 Nov 2007 -
Data do Fascículo
Jun 2007