Acessibilidade / Reportar erro

Trombose arterial em leucemia promielocítica aguda

Arterial thrombosis in acute promyelocytic leukemia

Resumo

Acute promyeloclocytic leukemia can present coagulopathies which are frequently very serious due to hemorrhagic conditions. Treatment using anthracyclines and retinoids provide a good response. The development of arterial thrombosis is uncommon. In this work a 56-year-old male patient with acute arterial insufficiency was evaluated. This patient was immediately submitted to thromboembolectomy with the removal of a white thrombus. Postoperative tests showed acute promyelocytic leukemia with transposition (15;17) Treatment with ATRA and Idarubicin chemotherapy was initiated with the patients's response being satisfactory. Currently, the patient is incomplete remission and a recent cytogenetics test does not show the t(15;17).

Acute promyelocytic leukemia; arterial thrombosis; treatment; citogenetic remission


Acute promyelocytic leukemia; arterial thrombosis; treatment; citogenetic remission

CARTA AO EDITOR / LETTER TO EDITOR

Trombose arterial em leucemia promielocítica aguda

Arterial thrombosis in acute promyelocytic leukemia

Sonia Regina IantasI; Ricardo A. FockII

ICentro Médico Hospitalar Pitangueiras/Sobam, Jundiaí, SP

IILaboratório de Análises Clínicas Anchieta/Grupo Unilab, Jundiaí, SP

Correspondência Correspondência: Ricardo Ambrósio Fock Rua Anchieta, 341 13201-804 – Jundiaí, SP E-mail: ricfock@hotmail.com

ABSTRACT

Acute promyeloclocytic leukemia can present coagulopathies which are frequently very serious due to hemorrhagic conditions. Treatment using anthracyclines and retinoids provide a good response. The development of arterial thrombosis is uncommon. In this work a 56-year-old male patient with acute arterial insufficiency was evaluated. This patient was immediately submitted to thromboembolectomy with the removal of a white thrombus. Postoperative tests showed acute promyelocytic leukemia with transposition (15;17) Treatment with ATRA and Idarubicin chemotherapy was initiated with the patients's response being satisfactory. Currently, the patient is incomplete remission and a recent cytogenetics test does not show the t(15;17).

Key words: Acute promyelocytic leukemia; arterial thrombosis; treatment; citogenetic remission.

Senhor Editor

Paciente do sexo masculino, de 56 anos, procurou o pronto-socorro com história compatível com claudicação intermitente em membro inferior direito há aproximadamente 10 dias. Não havia antecedentes prévios de doença arterial e não era tabagista. Fez uso de antiinflamatório não esteroidal, porém apresentando pouca melhora. Ao exame físico apresentava pé direito frio e cianótico e redução importante do pulso femoral. Os exames laboratoriais apresentaram concentração de hemoglobina de 14,0 g/dL, discreta leucocitose 12.2 x109/L, sem desvio à esquerda, com um TTPa= 31,1s e R=0,82.

Diagnosticada insuficiência arterial aguda, foi imediatamente submetido à tromboembolectomia com a retirada de um trombo branco. Seu pós-operatório na UTI transcorreu sem intercorrências e o paciente foi mantido sob heparinização plena. No segundo pós-operatório, o paciente já não referia mais dor e sem evidências de novo processo trombótico. Entretanto, chamou a atenção do intensivista o seguinte hemograma: concentração de hemoglobina igual a 12.1g/dL, Leucócitos 1.7 x109/L, com valores absolutos de granulócitos igual a 0.35 x109/L e número total de plaquetas igual a 63 x109/L. Um novo hemograma foi solicitado após 24 horas e apresentava características semelhantes, sem mudança do quadro.

Solicitada avaliação hematológica, o mielograma mostrou: medula óssea hipercelular à custa da série granulocítica, sendo 67% promielócitos e 17% mieloblastos, com presença de bastonetes de Aüer e reação de peroxidase fortemente positiva. A imunofenotipagem mostrou marcação para os antígenos de superfície: CD117+, CD33+, CD13+ e MPO+, e a citogenética revelou: 46,XY, t(15;17)(q22;q21) que confirmaram o diagnóstico de leucemia promielocítica aguda (LPA).

A LPA corresponde de 10% a 15% das leucemias agudas, sendo que 90% dos casos estão associados a translocação (15,17) (q22;q21); clinicamente distingue-se pela elevada freqüência com que se acompanha de coagulação intravascular disseminada (CIVD) e pela boa resposta ao tratamento com ácido alfa-transretinóico (ATRA).1 O desenvolvimento de trombose arterial é pouco freqüente, sendo encontrado na literatura poucos casos com essa característica inicial; estima-se que 9.6% dos casos de LPA2 podem apresentar um perfil trombótico, entretanto complicações hemorrágicas são mais comuns. A fisiopatotologia da trombose arterial permanece pouco clara, na LPA, mas acredita-se que uma menor expressão de trombomodulina e moléculas de adesão possam estar envolvidas, propiciando o desenvolvimento de uma endotélio pró-coagulante.1,3,4

O tratamento da LPA foi iniciado com ácido alfa-trans- retinóico (ATRA) na dose de 45mg/m2 V.O. e quimioterapia de indução com idarrubicina. O ATRA, além de agir como um agente de diferenciação celular, diminui a expresssão do fator tecidual e da cisteína proteinase câncer procoagulante e aumenta a expressão de trombomodulina, os quais são fatores importantes na contenção da CIVD.1,3,5

Durante o tratamento, o paciente foi mantido sob terapêutica anticoagulante; entretanto, 48 horas depois do início do tratamento desenvolveu quadro hemorrágico pela ferida cirúrgica, além de sangramento gengival e equimoses pelo corpo. A avaliação laboratorial mostrou: TP= 24,3s; RNI= 1,83; TTPa= 80,3s R= 2,13 e fibrinogênio = 156mg/dL, levando ao diagnóstico de CIVD. O paciente foi tratado com PFC (plasma fresco congelado) e heparina em baixa dose, com controle do quadro, e evoluiu satisfatoriamente, recebendo alta 25 dias após o inicio do tratamento, continuando o tratamento ambulatorialmente.

Resultados atuais mostram que o paciente encontra-se em remissão completa e sua nova avaliação citogenética mostrou negativação da t(15;17).

Recebido: 26/05/2006

Aceito após modificações: 23/03/2007

Conflito de interesse: não declarado

  • 1. Sharma JB, Gupta N, Vimala N, Anand M, Deka D, Mittal S. Acute promyelocytic leukemia: an unusual cause of fatal secondary postpartum hemorrhage. Arch Gynecol Obstet. 2006; 273(5):310-1.
  • 2. De Stefano V, Sora F, Rossi E, Chiusolo P, Laurenti L, Fianchi L et al. The risk of thrombosis in patients with acute leukemia: occurrence of thrombosis at diagnosis and during treatment. J Thromb Haemost. 2005;3(9):1985-92.
  • 3. Kalk E, Goede A, Rose P. Acute arterial thrombosis in acute promyelocytic leukaemia. Clin Lab Haematol. 2003;25(4):267-70.
  • 4. Barbui T, Falanga A. Disseminated intravascular coagulation in acute leukemia. Semin Thromb Hemost. 2001;27(6):593-604.
  • 5. Gupta V, Yi QL, Brandwein J, Lipton JH, Messner HA, Schuh AC et al. Role of all-trans-retinoic acid (ATRA) in the consolidation therapy of acute promyelocytic leukaemia (APL). Leuk Res. 2005; 29(1):113-4.
  • Correspondência:
    Ricardo Ambrósio Fock
    Rua Anchieta, 341
    13201-804 – Jundiaí, SP
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      06 Mar 2008
    • Data do Fascículo
      Dez 2007

    Histórico

    • Aceito
      23 Mar 2007
    • Recebido
      26 Maio 2006
    Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia e Terapia Celular R. Dr. Diogo de Faria, 775 cj 114, 04037-002 São Paulo/SP/Brasil, Tel. (55 11) 2369-7767/2338-6764 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: secretaria@rbhh.org