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Mutações do gene p53 em linfomas de Burkitt: muito além do gene c-myc

P53 Gene mutations in Burkitt's lymphoma: far beyond c-myc gene

EDITORIAIS

Mutações do gene p53 em linfomas de Burkitt: Muito além do gene c-myc

P53 Gene mutations in Burkitt's lymphoma: Far beyond c-myc gene

Fábio Rodrigues Kerbauy

Professor da Universidade Federal de São Paulo - Unifesp

Endereço para correspondência Correspondência: Fábio Rodrigues Kerbauy Universidade Federal de São Paulo, Departamento de Medicina, Disciplina de Hematologia R. Botucatu, 740 – Vila Clementino 04023-900 – São Paulo-SP – Brasil Tel.: (11) 55764240 E-mail: fkerbauy@gmail.com

O linfoma de Burkitt causa fascínio na comunidade médica desde sua descrição por Denis Burkitt em 1958.1 Embora nesta época sua patogênese fosse desconhecida, pôde-se descrever um tipo de linfoma que guardava não só características clínicas e histológicas distintas como caracterizar seu comportamento endêmico. Posteriormente, na década de 1960, estudos comprovaram a íntima relação do LB com o vírus Epstein-Barr.

Atualmente, sabe-se que o LB pode ocorrer não só endemicamente, mas também na sua forma esporádica, ou associada ao vírus da imunodeficiência humana (HIV).2 Sabe-se também que no LB a ativação de um proto-oncogene específico, o c-myc, é uma das principais causas do desequilíbrio de expressão de proteínas anti e pró-apoptóticas, causando proliferação desordenada destas células, caracterizada por alto índice proliferativo.3

Entretanto, estudos mais recentes demonstram que além do c-myc, outras alterações genéticas estão relacionadas à patogênese do LB. Dentre estas alterações, mutações no gene p53 são as mais freqüentes, ocorrendo em cerca de 30% dos LB4.

O gene p53 é um gene supressor de tumor que codifica uma fosfoproteína nuclear denominada p53 wild-type (P53 WT), que é componente de uma das vias responsáveis pelo controle da apoptose e do ciclo celular. Quando ocorre algum dano à estrutura do DNA, observa-se um acúmulo da proteína p53 WT na célula que irá, em última estância, efetuar reparo ao DNA lesado. Caso estas alterações sejam muito importantes e não possam ser reparadas, a proteína p53 WT irá enviar sinais para outras proteínas pró-apoptóticas que irão induzir à morte celular. Sabe-se que quase todos os agentes quimioterápicos destroem as células tumorais, tanto in vitro como in vivo, através da apoptose. Desta forma, a presença de mutações no gene p53 vem sendo apontada como um dos principais fatores relacionados à refratariedade e recidiva dos linfomas não-Hodgkin, incluindo o LB.5-6

Nesta edição da Revista da SBHH, Eliane Pereira Simões Magluta e Claudete Esteves Klumb estudaram os efeitos de diferentes agentes quimioterápicos sobre linhagens celulares de LB que apresentam mutações do gene p53 específicas. Em resultados preliminares demonstraram a importância do tipo de mutação do gene p53 encontrada em resposta aos diferentes quimioterápicos. Sendo assim, mutações específicas produziriam proteínas p53 com conformações distintas e, conseqüentemente, com diferentes funções, levando a uma resposta diferente à indução de apoptose. Desta forma, de Avaliação: O tema abordado foi sugerido e avaliado pelo editor acordo com o tipo de mutação no gene p53 encontrado, vários níveis de apoptose e resistência puderam ser correlacionados.

Estudos nesse caminho vêm sendo conduzidos na esperança de podermos, através de um painel gênico de uma célula tumoral, escolher a melhor combinação de agentes quimioterápicos para cada paciente.7-8 Talvez esta realidade esteja ainda distante. Entretanto, estudos como este, além de mostrarem que esse sonho é possível, colocam o Brasil neste cenário como ativo colaborador.

Recebido: 29/01/2008

Aceito: 29/01/2008

  • 1. Burkitt D. A sarcoma involving the jaws in African children. Br J Surg. 1958;46:218.
  • 2. Harris N, Jaffe E, Diebold J et al World Heath Organization Classification of Neoplastic Diseases of Lymphoid Tissues: Report of Clinical Advisory Committee Meeting-Arlie House, Virginia, November 1997. J Clin Oncol. 1999; 17:3835-49.
  • 3. Magrath I. The pathogenesis of Burkitt's lymphoma. Adv Cancer Res. 1990;55:133-270.
  • 4. Lindstrom MS, Wiman KG. Role of genetic and epigenetic changes in Burkitt lymphoma. Semin Cancer Biol. 2002;12:381-7.
  • 5. Isobe M, Emanuel BS, Givol D et al. Localization of gene for human p53 tumor antigen to band 17p13. Nature. 1996;320:84-5.
  • 6. Hannun YA. Apoptosis and the dilemma of cancer chemotherapy. Blood. 1997;89:1845-53.
  • 7. Wilda M, Bruch J, Harder L et al. Inactivation of the ARF-MDM-2-p53 pathway in sporadic Burkitt's lymphoma in children. Leukemia. 2004;18:584-8.
  • 8. Cinti C, Claudio PP, Howard CM et al. Genetic alterations disrupting the nuclear localization of the retinoblastoma-related gene RB2/p130 in human tumor cell lines and primary tumors. Cancer Res. 2000;60:383-9.
  • Correspondência:
    Fábio Rodrigues Kerbauy
    Universidade Federal de São Paulo, Departamento de Medicina, Disciplina de Hematologia
    R. Botucatu, 740 – Vila Clementino
    04023-900 – São Paulo-SP – Brasil
    Tel.: (11) 55764240
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      17 Jun 2008
    • Data do Fascículo
      Fev 2008
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