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Análise imunofenotípica e avaliação nutricional na leucemia linfoblástica aguda da criança

Immunophenotypic analysis and evaluation of nutritional status in childhood acute lymphoblastic leukemia

CARTA AO EDITOR LETTER TO EDITOR

Análise imunofenotípica e avaliação nutricional na leucemia linfoblástica aguda da criança

Immunophenotypic analysis and evaluation of nutritional status in childhood acute lymphoblastic leukemia

Melissa B. NonatoI; Maria Helena O. de SouzaII; Stella B. G. de LucenaIII; Hilda R. DiamondIV

IMédica do Serviço de Onco-Hematologia do Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam), da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e do Centro Capixaba de Oncologia (Cecon)

IIProfessora Adjunta do Departamento de Patologia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj); Pesquisadora do Laboratório de Imunologia do Centro de Transplante de Medula Óssea (Cemo), do Instituto Nacional de Câncer (Inca)

IIIProfessora Adjunta da Disciplina de Hematologia da Uerj

IVPesquisadora Responsável pelo Laboratório de Imunologia do Cemo, Inca

Correspondência Correspondência: Melissa Bozzi Nonato Cecon Rua Eugênio Neto, 180 - Praia do Canto 29055-270 - Vitória-ES - Brasil Tel.: 55 27 2127-4420; Fax.: 55 27 2127-4444 Cel: 55 27 8824-8707 Email: melissabozzi@hotmaill.com

ABSTRACT

The cure rate for childhood acute lymphoblastic leukemia (ALL) differs between developed and developing countries. In developing countries there is a high prevalence of malnutrition thus it is important to evaluate the association between factors of nutrition and ALL prognosis, as well as to identify the prevalence of immunophenotypes and their association with nutritional status. Eighty-six children with acute lymphoblastic leukemia diagnosed in two universities in Rio de Janeiro were studied. The frequencies of each immunological subtype were: common ALL 57%, pre-B 9.3%; pro-B 8.1%; T-ALL 18% and biphenotypic ALL 7.0%. It was noticed that the typical incidence peak of common ALL is between 1 and 6 years old. The small number of malnourished children did not allow statistical analysis to compare data between the immunophenotype and nutritional status. For the same reason, a statistical approach comparing malnutrition status with complete remission and relapse rates was impaired. The relative incidence of each immunological subtype was similar to those found in developed countriess.

Key words: Acute lymphoblastic leukemia; immunophenotype; nutritional status.

Senhor Editor

A leucemia linfoblástica aguda (LLA) é um grupo heterogêneo de doenças de origem clonal de precursores linfóides, em um de seus estágios de desenvolvimento. É o câncer mais comum da infância, correspondendo a cerca de 80% das leucemias.1 Aproximadamente 80% das crianças diagnosticadas em países desenvolvidos alcançam a cura. O prognóstico nos países em desenvolvimento é pior do que nos países desenvolvidos, apesar do emprego dos mesmos protocolos de tratamento.1 Postula-se que os piores resultados do tratamento sejam atribuídos a vários fatores como: diferenças biológicas, étnicas e raciais, metabolismo das drogas, comprometimento do estado nutricional, concomitância de doenças infecciosas e difícil acesso aos cuidados de saúde e medicamentos.1,2

Visando dirimir as dúvidas em relação ao exposto acima, postulamos este estudo, que teve como critérios de inclusão: (a) diagnóstico de LLA confirmado por exame de medula óssea e imunofenotipagem; (b) idade inferior a 16 anos; (c) diagnóstico entre janeiro de 1999 e dezembro de 2004, no Hospital Universitário Pedro Ernesto (UERJ) e no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (UFRJ). Os critérios de exclusão foram: (a) administração prévia de quimioterapia e corticosteróides; (b) recusa por parte dos pais ou responsáveis em permitir a participação da criança no estudo; (c) leucemia do tipo B maduro. O estado nutricional foi avaliado através do escore Z do peso e estatura para idade e gênero e considerado desnutrição se z =-1,28.

Dos 88 pacientes avaliados, 47 (54,7%) eram do sexo feminino e 39 (45,3%), masculino. Sete pacientes (8,1%) tinham menos de um ano de idade, 70 (81,4%) tinham mais de um e menos de 10 anos e 09 pacientes (10,5%) tinham 10 anos ou mais.

Sessenta e nove pacientes (80,2%) apresentaram leucometria ao diagnóstico menor que 50,0 x 109/L, 08 (9,3%) entre 50,0 x 109/L e 100,0 x 109/L e 09 (10,5%) maior ou igual a 100,0 x 109/L.

A LLA de precursores B foi diagnosticada em 64 pacientes (74,4%) e a LLA comum em 49 pacientes (57%). O subtipo pré-B foi evidenciado em oito pacientes (9,3%), seguido pelo pró-B com sete (8,1%) e LLA bifenotípica com seis (7,0%). O pico de incidência da cLLA foi entre 1 e 6 anos de idade. A LLA-T foi diagnosticada em 16 pacientes (18,6%).

No momento da análise (31 de julho de 2005), 63 pacientes (73,2%) estavam em remissão completa contínua. A probabilidade de sobrevida livre de eventos aos cinco anos foi de 71% e a probabilidade de sobrevida global foi de 65%.

A Tabela 1 resume os dados dos grupos de pacientes segundo a imunofenotipagem e o estado nutricional. Não foi possível estabelecer associação entre as variáveis, devido ao pequeno tamanho da amostra.

A associação entre as condições nutricionais e os desfechos avaliados na análise do prognóstico apresentou-se como demonstra a Tabela 2.

A incidência relativa de cada subtipo imunológico no presente estudo foi semelhante àquela encontrada em países desenvolvidos.1 A freqüência do subtipo comum (57%) foi similar àquela descrita na literatura internacional nos países desenvolvidos,1 em alguns países da América Latina como Chile,3 México4 e em outros estudos realizados no Brasil,5 com o típico pico de incidência entre 2 e 5 anos de idade. Em discordância com alguns países africanos e orientais, a taxa de prevalência do subtipo T também foi semelhante a dos países desenvolvidos.1

A leucometria ao diagnóstico foi acima de 50,0 x 109/l em 17 crianças (19,8%), semelhante àquela encontrada nos países desenvolvidos (abaixo de 20%).

A prevalência da desnutrição em crianças com LLA foi de 7,0%, semelhante à encontrada nos países desenvolvidos (menor que 10%) e comparável com a encontrada em crianças brasileiras. Em discordância com os estudos de Lobato-Mendizábal et al,2 Mejía-Aranguré et al,6 e em concordância com o estudo de Weir et al,7 o estado nutricional não constituiu um fator prognóstico.

Os resultados da presente investigação permitem concluir que: a) as características imunofenotípicas dos casos de LLA infantil na cidade do Rio de Janeiro são similares às encontradas em países desenvolvidos e em algumas cidades da América Latina; b) não foi observada associação entre o perfil imunofenotípico e o estado nutricional.

Recebido: 21/01/2008

Aceito: 02/10/2008

Avaliação: Editor e dois revisores externos

Conflito de interesse: não declarado

Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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  • Correspondência:

    Melissa Bozzi Nonato Cecon
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Dez 2008
    • Data do Fascículo
      Out 2008
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