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O transplante de células-tronco hematopoéticas como opção no tratamento de doenças não hematológicas

Hematopoietic stem cell transplant: a therapeutic option for non-hematologic diseases

Resumos

Nesta revisão são abordadas as doenças em que existem dados e perspectivas do uso de transplante de células-tronco hematopoéticas em suas diversas modalidades. São apresentados também os aspectos referentes aos regimes de condicionamento empregados, e sua relação com toxicidade e taxa de mortalidade ligadas ao transplante. São apresentadas as doenças autoimunes e particularizados dados específicos do lúpus eritematoso sistêmico, esclerose sistêmica e esclerose múltipla e diabetes mellitus tipo 1. A base do procedimento nas doenças autoimunes é a reprogramação imunológica. Aparentemente o procedimento tem sua indicação nas doenças em que os tratamentos convencionais de imunossupressão tenham falhado, e o dano orgânico não tenha sido definitivo, mas tenha chance de ocorrer caso não seja realizado o transplante. A modalidade aparentemente indicada no momento deve ser o transplante de células-tronco autogênico com regimes de condicionamento não mieloablativo para se obter sobrevivência estimada em mais de 50% em todas as doenças, com baixa toxicidade e com mortalidade nula ligada ao transplante. São apresentados também os resultados nos tumores sólidos, que são discutíveis, e particularidades no câncer de mama. A aparente indicação para os tumores sólidos é transplante de células-tronco alogênico e se baseia no tratamento intensivo com doses mieloablativas com a finalidade de se induzir o efeito enxerto contra o tumor. Os regimes não mieloablativos são preconizados com a finalidade de redução da toxicidade e indução de imunossupressão, sendo os dados insuficientes e discutíveis, o que obriga a introdução de novas estratégias terapêuticas baseadas na terapia imune e celular.

Transplante de células-tronco hematopoéticas; autogênico; alogênico; regimes de condicionamento; doenças autoimunes; tumores sólidos


In this report we discuss data and perspectives of hematopoietic stem cell transplantation in non-hematologic diseases. Aspects related to the conditioning regimen and its relationship with toxicity and mortality are also presented. Specific autoimmune diseases are discussed, in particular systemic lupus erythematosus, systemic sclerosis, multiple sclerosis and type 1 diabetes mellitus. The aim of the procedure in autoimmune diseases is immune reprogramming. Apparently this procedure has indications for diseases in which conventional treatments have failed when organ damage is not definitive, but likely to occur if transplantation is not performed. The most promising method appears to be autologous stem cell transplantation with non-myeloablative conditioning regimens to obtain survival that is estimated at more than 50% for all autoimmune diseases, with low toxicity and no mortality related to transplantation. The controversial results of solid tumor treatment and particularities of breast cancer are also presented. Hematopoietic stem cell transplantation is the apparent indication for solid tumors based on intensive treatment with myeloablative doses in order to induce the graft versus tumor effect. The myeloablative conditioning regimens are introduced with the purpose of reducing the toxicity and inducing immunosuppression but the data are insufficient and questionable requiring the introduction of new therapeutic strategies based on cellular and immune therapy.

Hematopoietic stem cell transplantation; autologous; allogeneic; conditioning regimen; autoimmune diseases; solid tumors


REVISÃO REVIEW

O transplante de células-tronco hematopoéticas como opção no tratamento de doenças não hematológicas

Hematopoietic stem cell transplant: a therapeutic option for non-hematologic diseases

Milton A. RuizI; Lilian Piron-RuizII; Mario R. LagoIII; Angelo MasetIV; Adriana B. SantosV; Oswaldo T. GrecoVI

IProfessor colaborador da Disciplina de Hematologia e Hemoterapia da FMUSP-SP e coordenador do Grupo de Terapia Celular do IMC/HMC – São José do Rio Preto-SP

IIMédica Assistente da Unidade de TCTH, APB-Hospital Infante D. Henrique – São José do Rio Preto-SP

IIIBiomédico do IMC – São José do Rio Preto-SP

IVMédico da APB – Hospital Infante D. Henrique – São José do Rio Preto-SP

VMatemática. Estaticista do Ibilce, São José do Rio Preto – Unesp, SP

VIMédico. Chefe do Departamento Científico do IMC, São José do Rio Preto-SP

Correspondência Correspondência: Milton Artur Ruiz Avenida Dr. Enéas Carvalho de Aguiar, 144 – Cerqueira César 05403-000 – São Paulo-SP – Brasil E-mail: milruiz@yahoo.com.br

RESUMO

Nesta revisão são abordadas as doenças em que existem dados e perspectivas do uso de transplante de células-tronco hematopoéticas em suas diversas modalidades. São apresentados também os aspectos referentes aos regimes de condicionamento empregados, e sua relação com toxicidade e taxa de mortalidade ligadas ao transplante. São apresentadas as doenças autoimunes e particularizados dados específicos do lúpus eritematoso sistêmico, esclerose sistêmica e esclerose múltipla e diabetes mellitus tipo 1. A base do procedimento nas doenças autoimunes é a reprogramação imunológica. Aparentemente o procedimento tem sua indicação nas doenças em que os tratamentos convencionais de imunossupressão tenham falhado, e o dano orgânico não tenha sido definitivo, mas tenha chance de ocorrer caso não seja realizado o transplante. A modalidade aparentemente indicada no momento deve ser o transplante de células-tronco autogênico com regimes de condicionamento não mieloablativo para se obter sobrevivência estimada em mais de 50% em todas as doenças, com baixa toxicidade e com mortalidade nula ligada ao transplante. São apresentados também os resultados nos tumores sólidos, que são discutíveis, e particularidades no câncer de mama. A aparente indicação para os tumores sólidos é transplante de células-tronco alogênico e se baseia no tratamento intensivo com doses mieloablativas com a finalidade de se induzir o efeito enxerto contra o tumor. Os regimes não mieloablativos são preconizados com a finalidade de redução da toxicidade e indução de imunossupressão, sendo os dados insuficientes e discutíveis, o que obriga a introdução de novas estratégias terapêuticas baseadas na terapia imune e celular.

Palavras-chave: Transplante de células-tronco hematopoéticas; autogênico; alogênico; regimes de condicionamento; doenças autoimunes; tumores sólidos.

ABSTRACT

In this report we discuss data and perspectives of hematopoietic stem cell transplantation in non-hematologic diseases. Aspects related to the conditioning regimen and its relationship with toxicity and mortality are also presented. Specific autoimmune diseases are discussed, in particular systemic lupus erythematosus, systemic sclerosis, multiple sclerosis and type 1 diabetes mellitus. The aim of the procedure in autoimmune diseases is immune reprogramming. Apparently this procedure has indications for diseases in which conventional treatments have failed when organ damage is not definitive, but likely to occur if transplantation is not performed. The most promising method appears to be autologous stem cell transplantation with non-myeloablative conditioning regimens to obtain survival that is estimated at more than 50% for all autoimmune diseases, with low toxicity and no mortality related to transplantation. The controversial results of solid tumor treatment and particularities of breast cancer are also presented. Hematopoietic stem cell transplantation is the apparent indication for solid tumors based on intensive treatment with myeloablative doses in order to induce the graft versus tumor effect. The myeloablative conditioning regimens are introduced with the purpose of reducing the toxicity and inducing immunosuppression but the data are insufficient and questionable requiring the introduction of new therapeutic strategies based on cellular and immune therapy.

Key words: Hematopoietic stem cell transplantation; autologous; allogeneic; conditioning regimen; autoimmune diseases; solid tumors.

Introdução

O transplante de células-tronco hematopoéticas (TCTH) é uma estratégia terapêutica eficaz no tratamento da anemia aplásica e das doenças onco-hematológicas.1 Ele é discutível, controverso ou experimental, nas imunodeficiências,2 doenças genéticas e metabólicas,3 doenças oncológicas4 e nas doenças autoimunes.5-7 Da mesma forma, as modalidades de transplantes autogênica ou alogênica aparentada e não aparentada, a fonte das células para o transplante e os regimes de condicionamento têm indicação precisa e determinada nas doenças hematológicas e onco-hematológicas, nas doenças citadas na sequência existe a necessidade de aferir com estudos controlados o papel do TCTH e todas as suas nuances.

Nesta revisão abordaremos as doenças não hematológicas que afetam pacientes em sua maioria na fase adulta, nas quais o TCTH pode ser cogitado como uma opção de tratamento. Os tumores de células germinativas, doenças metabólicas ou erros inatos do metabolismo não serão abordados, mas serão incluídas tabelas com aspectos indicativos da situação destas doenças em relação ao TCTH.

Fontes de informações

Este trabalho foi baseado em uma pesquisa por meios eletrônicos no Medline, Science Citation Index, Food and Drug Administration (www.fda.gov) e na web site do National Institute of Health (www.clinicaltrials.gov) e no mecanismo de busca do site da Revista Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (RBHH) e na coleção SciELO Brasil (www.scielo.br/rbhh). Foram incluídos no texto manuscritos que consideramos consagrados independentes do período de publicação.

Método

Foram pesquisados, no período de janeiro de 2000 a 2009, as imunodeficiências, doenças neoplásicas, tumores sólidos, doenças metabólicas e doenças autoimunes e, em todos estes grupos de moléstias, as doenças específicas mais frequentes sob os termos que se seguem: Stem cell transplantation, Hematopoietic stem cell transplantation, e Peripheral blood stem cell transplantation.

Doenças autoimunes

As doenças autoimunes são um grupo de moléstias heterogêneas. Em modelos animais de doenças autoimunes (DAI), induzidas por autopeptídeos ou vacinação, o tratamento com o TCTH alogênico ou autogênico teve sucesso em moléstias como lúpus eritematoso sistêmico (LES), artrite reumatóide (AR), diabetes mellitus insulino dependente, glomerulonefrite crônica e determinados tipos de diabetes mellitus não insulino dependente.8

O tratamento das DAI com o TCTH está descrito desde a década de 90.9-12 Até o momento, o registro do Grupo Europeu de Transplante de Medula Óssea (EBMT) relata que mais de 1.300 pacientes com DAI isolada já foram submetidos a transplantes.5 O procedimento está ancorado na reprogramação imunológica.8,13-15 Esta é obtida após uma quimioterapia mielossupressiva e/ou mieloablativa, seguida da reinfusão de CTH de doadores ou próprias com a finalidade de restaurar a função medular e imunológica. A escolha da modalidade de transplante para as DAI, aparentemente, é o TCTH autogênico.5,16 Isto se deve a menor toxicidade imediata e tardia e a uma mortalidade relacionada ao transplante reduzida. O regime de condicionamento sugerido é o não mieloabalativo e esta escolha recai no fato de se tratarem de doenças não malignas, sendo, portanto, imprescindível à baixa toxicidade e mortalidade relacionadas ao transplante.16,17 Outro dado adicional é que não existem diferenças significativas em relação à sobrevida livre de sintomas de doenças após cinco anos quando os regimes de condicionamento são comparados.17-20 Outro aspecto a ser ressaltado é que os pacientes submetidos ao TCTH alogênico apresentam risco de desenvolverem tardiamente síndromes mielodisplásicas/leucemias,19 ou de segunda neoplasia em pacientes submetidos ao TCTH.21,22 Sempre é bom lembrar que o objetivo principal do tratamento das DAI é o de modificar a história natural da doença muito mais que a obtenção da cura, não devendo também ser esquecido que existem relatos de melhoras espontâneas ou de estabilidade destas doenças em diversos pacientes.8

A indicação do TCTH segundo o EBMT deve seguir os critérios abaixo:5

1. A doença deve ser grave, ter risco elevado, estar em fase avançada ou em progressão, com possibilidade de evoluir para comprometimento orgânico irreversível.

2. A doença deve ser refratária aos tratamentos convencionais.

3. O TCTH deve ser realizado antes do estabelecimento de um comprometimento orgânico irreversível, para que o possível benefício clínico do transplante possa ser aferido.

Dentre as doenças tratadas com o TCTH podemos citar: lúpus eritematoso sistêmico (LES),8-10 esclerose, sistêmica (ES),23-25 artrite reumatóide (AR),26 esclerose múltipla (EM)27-29 e diabetes mellitus do tipo 1(DM1),30 dentre outras.

No LES refratário, sintomático e com comprometimento orgânico, os resultados com o TCTH autogênico com regime não mieloablativo é semelhante ao de estudo com regime mieloablativo. Em ambos foi observado que a sobrevida livre de doença após cinco anos foi de 50%. No entanto, a taxa de mortalidade ligada ao procedimento entre o TCTH autogênico e o alogênico foi de 2% para 13%.31,32

Nos estudos da esclerose sistêmica, doença que apresenta o maior número de transplantes no EBMT após a esclerose múltipla (MS), o TCTH autogênico não mieloablativo mostrou também ter uma menor taxa de mortalidade, inferior a 4%, enquanto no regime mieloablativo ela foi de 23%. Em ambos os estudos, após cinco anos foi descrita uma taxa de 64% de sobrevida livre de eventos.23,24

A MS é uma doença inflamatória imune mediada. Após diversos estudos com regimes mieloablativos seguidos de alta toxicidade e de mortalidade relacionada ao transplante, existe hoje o consenso de que o TCTH autogênico com regimes não mieloabalativos deve ser a praxe, pois o mesmo reverte a disabilidade enquanto a mortalidade relacionada ao transplante está ao redor de zero.29,33 Nesta última década, o TCTH autogênico tem sido explorado na MS em seus vários aspectos, quais sejam factibilidade, toxicidade, impacto na progressão da doença, achados de Ressonância Magnética e a utilização de mobilizações e associações medicamentosas. Iremos nos ater a dados sólidos, publicados pelo Grupo de Trabalho de Doenças AutoImunes da Sociedade Européia de Transplantes de Medula Óssea que iniciou a coleta de informações através de um banco de dados organizado em 1997. Já houve 2 comunicações (28,33). Na segunda comunicação, ocorrida em 2006, Saccardi e col (33) relataram a experiência acumulada em 183 pacientes que se submeteram ao TCTH autogênico. As taxas de mortalidade foram de 5,3 %, e se restringiram ao período anterior ao ano de 2000, relacionadas a regimes terapêuticos distintos. Também existiu correlação entre toxicidade, técnicas de transplante, e condições clínicas no momento do transplante. A melhora ou estabilização do quadro neurológico ocorreu em 63 % dos pacientes, com um seguimento médio de 41,7 meses. Assim, aquele grupo de trabalho concluiu que o TCTH autogênico em esclerose múltipla era um procedimento promissor e que diminuia a progressão da doença em pacientes acometidos de MS severa e progressiva, e um estudo fase III foi iniciado. Obviamente, a segurança e aplicabilidade do TCTH autogênico dependem da correta seleção de pacientes e associações medicamentosas. Outras moléstias que apresentam resultados alvissareiros são as doenças de Chrön, polineuropatia inflamatória desmielinizante crônica, dermatomiosite/poliomiosite, poliarterite nodosa, doença de Behcet, arterite de Takayasu e diabetes mellitus tipo 1.8,30,34,35 Em relação a esta doença, recentes relatos demonstram que a precocidade do TCTH com regime não mieloablativo propicia remissão do quadro desta doença com suspensão do uso de insulina na maioria dos pacientes (14/15) com baixa toxicidade e ausência de mortalidade relacionada ao transplante.35

Apesar dos resultados serem promissores, existem dúvidas que ainda persistem em relação ao TCTH. Isto pode ser observado na plataforma de registro de estudos clínicos americana. Um grande número de DAI encontra-se sob estudo (46 registros), sendo que mais da metade destes abordam especificamente o lúpus e a esclerose múltipla.

Observa-se também uma grande preocupação em relação à segurança do procedimento, e em vários deles a abordagem é do TCTH versus altas doses de imunossupressão, com o emprego de anticorpos monoclonais com a finalidade de se obter a depleção de células T.36,37,38

A impressão final é que, apesar dos resultados promissores em diversas doenças, o papel definitivo do TCTH e de suas várias nuances, como já dito anteriormente, ainda está por ser definido.

Na sequência, como exposto, apresentamos várias tabelas. Na Tabela 1 estão as imunodeficiências mais comumente tratadas com TCTH; na Tabela 2 apresentamos a situação atual frente ao TCTH nas doenças metabólicas; e nas Tabelas 3 e 4 algumas doenças hematológicas menos frequentemente transplantadas e a sua situação atual.3

Tumores sólidos

O TCTH nos tumores sólidos permanece controverso e discutível. Desde o inicio da década de 90, inúmeros ensaios clínicos foram propostos, principalmente os dirigidos para o tratamento do carcinoma metastático ou inflamatório de mama.39,40,41 Em 1995, um artigo sul-africano apresentou resultados impressionantes com altas doses de quimioterápicos seguido do TCTH em relação à sobrevida global e livre de doença.42 Estes resultados inibiram outros estudos randomizados que estavam em evolução, e os resultados de outros estudos não confirmaram o estudo sul-africano. Em 1999, o mesmo autor confirmou os resultados em nova publicação.43 Após uma auditoria, os estudos foram considerados fraudulentos.44 O comunicado logo se fez sentir com denúncias frente a novos estudos como censura à imprensa leiga e a órgãos governamentais que haviam desestimulados novos estudos em decorrência dos resultados sul-africanos e propunham restrito seguimento em relação ao código de ética para condução de novos estudos para o câncer de mama.45

Os tumores sólidos em geral continuam a utilizar o TCTH como uma forma de tratamento.46 Isto pode ser aferido na Tabela 5, onde podemos observar que, no ano de 2006, na Europa foram realizados 1.564 transplantes (85 Alo e 1.479 Auto). A doença que mais se transplantou foi o neuroblastoma seguida do câncer de mama.47

Em 66 pacientes de alto risco com câncer de mama metastático de 15 centros, foi avaliada a eficácia do TCTH alogênico. Trinta e nove pacientes (59%) receberam regime mieloablativo e 27 (41%) regime de intensidade reduzida (RIC). O grupo que recebeu RIC tinha um pior performance status (PS), (63% vs 23%), e foi também o que desenvolveu menos doença enxerto versus o hospedeiro (DECH) após um ano (8/36%). A taxa de mortalidade após cem dias foi menor no grupo RIC (7/29%), e a sobrevida livre de progressão também foi menor neste grupo após um ano de avaliação (8/23%). Ficou claro, principalmente, que as mulheres do grupo RIC, que desenvolveram DECH agudo, tiveram menor chance de recaída ou de progressão de moléstia, dado consistente com o desenvolvimento do efeito enxerto contra o tumor.48

Outro estudo recente em 28 pacientes com câncer de mama inflamatório de estágio III B foi avaliado em relação ao TCTH autogênico. O transplante foi realizado nos pacientes após altas doses de quimioterapia (thiotepa + mitoxantrone + carboplatina) como regime de condicionamento e a mobilização para coletas de CTH com fatores de crescimento. Alguns pacientes que tiveram indicações receberam, após o transplante, radioterapia e tamoxifen. A sobrevida global e a sobrevida livre de progressão de doença avaliadas após 15 anos apresentaram os seguintes resultados: a sobrevida global foi de 49,5 meses e a mediana de sobrevida livre de progressão de doença de 40 meses. Na última avaliação, 16 pacientes haviam recidivado e o procedimento foi considerado seguro, com baixa toxicidade, além de não ter ocorrido nenhum óbito relacionado ao transplante.49

Apesar do apresentado, não existem dados suficientes que indiquem como rotina o uso de altas doses de quimioterapia seguido do TCTH. O TCTH alogênico apresenta alta taxa de morbidade, piora a qualidade de vida dos pacientes, assim como pairam dúvidas em relação à melhora significativa após um ano do procedimento, sendo necessário, então, melhor seleção dos pacientes e a realização de estudos clínicos randomizados para responder a questão da indicação do transplante nos vários tipos e fases do câncer de mama. Na plataforma de registros de estudos clínicos americana existem 117 estudos de câncer de mama com TCTH.

Em outros tumores sólidos, o TCTH tem sido utilizado e a literatura sempre demonstra casuística pequena e preferência para a modalidade alogênica com a finalidade de erradicação da moléstia, induzir a DECH para se obter um efeito antitumoral.50-54 Os resultados atuais são tímidos, com alta toxicidade seguida de morbidade e mortalidade, abrindo perspectivas para novas estratégias baseadas na terapia imune e celular, que podem ser apropriadas ao tratamento de tumores sólidos e a cânceres refratários.55

Recebido: 24/03/2009

Aceito: 31/03/2009

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo – FMUSP-SP

Avaliação: O tema apresentado consta da pauta elaborada pelo Editor, Professor Milton Artur Ruiz, e Coeditores deste suplemento, Professores Sergio Paulo Bydlowski e Adriana Seber.

Conflito de interesse: não declarado

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  • Correspondência:
    Milton Artur Ruiz
    Avenida Dr. Enéas Carvalho de Aguiar, 144 – Cerqueira César
    05403-000 – São Paulo-SP – Brasil
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      13 Jul 2009
    • Data do Fascículo
      Maio 2009

    Histórico

    • Aceito
      31 Mar 2009
    • Recebido
      24 Mar 2009
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