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Aspectos psicossociais da anemia falciforme

Psychosocial aspects of sickle cell anemia

EDITORIAIS E COMENTÁRIOS / EDITORIALS AND COMMENTS

Aspectos psicossociais da anemia falciforme

Psychosocial aspects of sickle cell anemia

Maria Stella Figueiredo

Professora Associada da Disciplina de Hematologia e Hemoterapia da Unifesp/EPM - São Paulo-SP, Disciplina de Hematologia e Hemoterapia Departamento de Oncologia Clínica Experimental Universidade Federal de São Paulo, Escola Paulista de Medicina - São Paulo-SP

Correspondência Correspondência: Maria Stella Figueiredo Rua Botucatu, 740, 3º andar 04023-900 - Vila Clementino - São Paulo-SP - Brasil E-mail: stella.figueiredo@unifesp.br

Pouco tempo após a primeira descrição da anemia falciforme por Herrick, em 1910,1 pesquisadores brasileiros, como Silva e Accioly, já demonstraram seu interesse pela doença, realizando trabalhos pioneiros publicados na década de 40.2,3 Entre as décadas de 60 a 80, surgiram estudos sobre a incidência da anemia falciforme em diferentes regiões brasileiras. Tais trabalhos revelaram uma distribuição heterogênea, mas de grande relevância clínica.4,5

A constatação de que a anemia falciforme era a doença monogênica de maior frequência no Brasil6,7 e, portanto, um problema de saúde pública,8foi um dos principais subsídios para a inclusão da triagem para hemoglobinopatias no Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN), determinada em 2001, através da Portaria nº 822/01 do Ministério da Saúde. Desde então, vem sendo possível a obtenção de dados mais acurados sobre a frequência da doença em nosso meio.6,9 Reflexo da instituição desta portaria pode ser visto no crescente número de publicações enfocando a incidência regional da hemoglobina S e de suas variantes.

Acreditamos que o maior conhecimento da frequência da anemia falciforme é premissa importante, porém não suficiente para que o objetivo primordial de se estudar esta doença seja alcançado: a melhora da qualidade de vida de seus portadores. Para atingirmos esse objetivo, é necessário o desenvolvimento de ações eficazes nas áreas médica, psicológica e social, o que torna imprescindível que elucidemos os aspectos psicossociais característicos desse grupo de indivíduos.

Mesmo em termos mundiais, são poucos os estudos nessa área, em especial quando comparados com as publicações relativas à fisiopatologia e/ou tratamento da anemia falciforme. Em recente pesquisa, de 3.100 artigos sobre a anemia, publicados em 2009, apenas 11 (0,35%) tratavam dos aspectos psicossociais. Entretanto, se não compreendermos o meio em que vive o portador de anemia falciforme, suas condições de escolaridade, trabalho e seguridade social, estaremos tendo uma visão míope da doença e, consequentemente, as soluções eventualmente propostas carecerão de eficácia.

A publicação atual10 vem ao encontro da necessidade de esclarecimento das condições psicossociais da população portadora de anemia falciforme. Esperamos que esse estudo venha a estimular outros pesquisadores a realizarem investigações na área, que é importante, porém ainda pouco valorizada.

Recebido: 19/07/2010

Aceito: 20/07/2010

Avaliação: O tema abordado foi sugerido e avaliado pelo editor.

  • 1. Herrick JB. Peculiar elongated and sickle-shaped red blood corpuscles in a case of severe anemia. Arch Inter Med 1910; 6:517-521.
  • 2. Da Silva EM. Estudos sobre índice de siclemia. Memórias do Inst Oswaldo Cruz. 1945. 42(2):315-342.
  • 3. Accioly J. Anemia Falciforme: apresentação de um caso com infantilismo. Arq Fac Med Univ Federal Bahia. 1947; 2:169-198.
  • 4. Tondo CV, Salzano FM. Abnormal hemoglobins in a Brazilian negro population. American Journal of Human Genetics. 1962; 14: 401-409.
  • 5. Zago MA, Costa FF, Tone LG, Bottura C. Hereditary hemoglobin disorders in a Brazilian population. Human Heredity. 1983; 33: 125-129.
  • 6. Cançado R, Jesus JA. A doença falciforme no Brasil. Rev Bras Hematol Hemoter. 2007; 29(3):204-206.
  • 7. Zago MA. Anemia falciforme e doenças falciformes. Manual de Doenças mais Importantes, por Razões Étnicas, na População Brasileira Afro-Descendente. Série A. 2001. Normas e Manuais Técnicos no. 123, Ministério da Saúde, Brasília.
  • 8. Silva RBP, Ramalho AS, Cassorla RMS. A anemia falciforme como problema de Saúde Pública no Brasil. Rev. Saúde Pública. 1993; 27(1): 54-58.
  • 9
    Portaria nº 1.391/GM de 16 de Agosto de 2005. Art. 1º Instituir, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS, como diretrizes para a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doença Falciforme e outras Hemoglobinopatias. http://dtr2001.saude.gov. br/sas/gab05/gabago05.htm
  • 10. Felix AA, Souza HM, Ribeiro SBF. Aspectos epidemiológicos e sociais da doença falciforme. Rev Bras Hematol Hemoter. 2010; 32(3):203-8.
  • Correspondência:
    Maria Stella Figueiredo
    Rua Botucatu, 740, 3º andar
    04023-900 - Vila Clementino - São Paulo-SP - Brasil
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      03 Ago 2010
    • Data do Fascículo
      2010
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