Acessibilidade / Reportar erro

Erotismo vital: a “Gênese biopoética” de Claudio Rodríguez Fer

Vital erotism: the "Biopoetic Genesis" of Claudio Rodríguez Fer

Resumo

Depois de traduzir Uma temporada no paraíso (Valer, 2019), o primeiro livro de Claudio Rodríguez Fer publicado no Brasil, gostaria de apresentar ao leitor brasileiro os cinco textos que compõem “Gênese biopoética”, a primeira parte de ADN do infinito (Andavira Editora, 2021), o último poemário do autor galego. O principal objetivo deste trabalho é realizar uma aproximação à sua poesia e mostrar minha versão ao português desses poemas. Convém lembrar que Claudio Rodríguez Fer desenvolve sua obra literária em língua galega e que, com a irrupção de sua poesia de signo erótico, renovou a estética da literatura galega dos anos 1980.

Palavras-chave:
Claudio Rodríguez Fer; ADN do infinito; poesia galega

Resumen

Después de traducir Unha tempada no paraíso (Valer, 2019), el primer libro de Claudio Rodríguez Fer que se publicó en Brasil, deseo presentarle al lector brasileño los cinco textos que componen "Génesis biopoética", la primera parte de ADN do infinito (Andavira Editora, 2021), el último poemario del autor gallego. El objetivo principal de este trabajo es realizar una aproximación a su poesía y mostrar mi versión portuguesa de estos poemas. Cabe recordar que Claudio Rodríguez Fer desarrolla su obra literaria en lengua gallega y que, con la irrupción de su poesía de signo erótico, renovó la estética de la literatura gallega en los años 80.

Palabras clave:
Claudio Rodríguez Fer; ADN do infinito; poesía gallega

Abstract

After translating Unha tempada no paraíso (Valer, 2019), the first book by Claudio Rodríguez Fer to be published in Brazil, I would like to present to the Brazilian reader the five texts that make up "Génesis biopoética", the first part of ADN do infinito (Andavira Editora, 2021), the Galician author's latest collection of poems. The main aim of this work is to make an approach to his poetry and to show my Portuguese version of these poems. It is worth noting that Claudio Rodríguez Fer's literary work is written in Galician and that, with the irruption of his erotic poetry, he renewed the aesthetics of 1980s Galician literature in the 1980s.

Keywords:
Claudio Rodríguez Fer; ADN do infinito; Galician poetry

Apresentação

Isto é o ADN do amor:

potencialidade infinita.

Dá-lo e recebê-lo todo

sem renunciar a nada.

Claudio Rodríguez Fer (2021RODRÍGUEZ FER, Claudio. ADN do infinito. Santiago de Compostela: Andavira, 2021., p. 36)

Como comentei na nota biográfica de Uma temporada no paraíso (RODRIGUEZ FER, 2019RODRÍGUEZ FER, Claudio. Uma temporada no paraíso. Manaus: Valer, 2019. Tradução e apresentação de Saturnino Valladares.), o poeta, narrador, dramaturgo e ensaísta Claudio Rodríguez Fer (Lugo, Espanha, 1956) tem consagrado vários livros ao erotismo, desde os cinco primeiros de poemas, reunidos posteriormente em Vulva, seguindo por A unha muller desconhecidaRODRÍGUEZ FER, Claudio. A muller sinfonía: Cancioneiro vital. Ourense: Ouvirmos, 2018a., Viaxes a ti e Unha tempada no paraísoRODRÍGUEZ FER, Claudio. Unha tempada no paraíso. A Coruña: Toxosoutos, 2013.. Convém assinalar que essa paixão pelo erótico e vital do poeta tem estado íntima e radicalmente unida a um compromisso integrador pela liberdade, à justiça e à paz no mundo, como constata sua trilogia poética consagrada à memória histórica da Galícia e o reconhecimento oficial deste labor, tanto em Galícia - Premio Galiza Mártir à recuperação da memória histórica, em 2014, pela Fundação Alexandre Bóveda, Pontevedra - como fora de suas fronteiras - Presidência de Honra no 2012 da Associação Memória do Exílio dos Republicanos Espanhóis, com sede em Brest, Bretanha. O Patronato da Cultura Galega de Montevideo (Uruguai) reconheceu sua trajetória ao lhe dedicar o Dia da Poesia Galega em 2016. Na atualidade, Rodríguez Fer ocupa o cargo de Diretor da Cátedra José Ángel Valente de Poesia e Estética e da revista universitária Moenia, ambas da Universidade de Santiago de Compostela, Espanha, e coordena os cadernos interculturais Unión Libre. Sua obra está traduzida ao espanhol, catalão, francês, italiano, inglês, alemão, bretão, russo, árabe, grego e português; e um dos seus poemas, “A cabeleira” (RODRIGUEZ FER, 2011RODRÍGUEZ FER, Claudio. Amores e clamores. Santiago de Compostela: Ediciós do Castro, 2011., p. 90), foi traduzido em 70 línguas procedentes dos cinco continentes: https://acabeleira.com/historia_do_poema.html

Em 2021, Claudio Rodríguez Fer publicou ADN do infinito (Andavira Editora), um cancioneiro amoroso, erótico e vitalista, que conecta naturalmente com o seu primeiro livro Poemas de amor sen morte (1979) e com a maior parte da sua poesia posterior a este, não só por continuar a renovação literária que trouxera consigo sua original e pioneira sensualização da linguagem, mas por estabelecer conexões com os dois grandes temas da sua escrita: os amores e os clamores. Consciente desta dualidade temática dominante, o poeta titulou sua poesia reunida Amores e clamores, em 2011. Posteriormente, sacou à luz A muller sinfonía. Cancioneiro vital, em 2018aRODRÍGUEZ FER, Claudio. A muller sinfonía: Cancioneiro vital. Ourense: Ouvirmos, 2018a., e o poemário que estamos apresentando, ADN do infinitoRODRÍGUEZ FER, Claudio. ADN do infinito. Santiago de Compostela: Andavira, 2021..

A maior parte dos textos de ADN do infinito foram escritos nas viagens que o autor fez pela Romênia ou, desde a memória, trazendo ao presente criativo o contexto romeno. Portanto, o transcendentalismo vital e o compromisso ético desta poesia se desenvolvem numa viagem erótica, utópica e libertária pelas paisagens dos Cárpatos, de Bucareste, de Sibiu, de Brasov ou de Transilvânia. Isto também explica as constantes alusões à cultura de Romênia, tanto aos seus poetas (Eminescu, Stanescu, Nina Cassian, Zaharia Stancu) quanto aos seus artistas mais representativos, como o escultor Constantin Brâncuși no carnal poema “Vivendo com um Brâncuși”: “Desde a espiral pré-histórica / das figuras Cucuteni / quisemos tocar o sublime, / percorrer a vida curva e curva, / acariciar uma obra de Brâncuși, / comprovar o orgânico matérico, / a tersura da forma, / a lisura da luz, / a curvatura definitiva do belo [...] E todos os dias / comprovo com as mãos / e com todo o meu corpo / a vida da beleza / e a beleza da vida” (RODRÍGUEZ FER, 2021RODRÍGUEZ FER, Claudio. ADN do infinito. Santiago de Compostela: Andavira, 2021., p. 32).

Como grande parte da obra de criação de Rodríguez Fer, o poemário foi ilustrado pela artista galega Sara Lamas, que realizou sensuais colagens tomando como modelo figuras femininas pré-históricas da cultura cucuteni, que teve seu esplendor no período Neolítico nas regiões atuais de Romênia, Moldávia e Ucraína. “O livro apresenta-se como transcrição de um moderno códice iluminado recorrendo à técnica do manuscrito encontrado, reproduzido ao início sobre um tecido com formas geométricas tipicamente transilvanas e rotulado com o título de ‘Caderno Cucuteni’” (BAO, 2021BAO, Marcela. O ADN do infinito de Claudio Rodríguez Fer. Galiciadigital, 2021. Disponível em: https://www.galiciadigital.com/opinion/opinion.28518.php . Acesso em: 6 dez. 2021.
https://www.galiciadigital.com/opinion/o...
), explica Marcela Bao. Depois desse inicial diálogo interartístico do paratexto - que continuará ao longo da obra, pois cada poema irá acompanhado de uma ou de várias imagens da pintora -, figuram as três partes do poemário, cujos títulos apresentam uma evidente relação com três livros da Bíblia: “Gênese biopoética”, “Êxodo emboscado” e “Apocalipse alquímica”. Como neste trabalho unicamente aparecem traduzidos os cinco textos de “Gênese biopoética”, farei alguns breves comentários sobre essa parte, deixando a análise das outras seções para uma posterior oportunidade.

Incluído em Poemas de amor sen morte (1979), Claudio Rodríguez Fer titulou o primeiro poema de seu primeiro livro “Máis alá da saudade”, fazendo confluir a Galiza física e a figura de Breogán, rei celta e pai mitológico do povo galego: “Eles virán. / Virán ergueitos / pola escura brétema / onde levita Galicia (...) / Un será un cabaleiro, / traguerá fouce de bronce, / e no porte mítico ollaredes / que descende de Breogán”. O tom profético e sacramental deste texto, de evidente conotação libertária e revolucionária, desenvolve seu erotismo através da múltipla identidade que proporciona o contato com os corpos femininos - “fun tantos homes / como mulleres tiven” - e da imagem do cervo, um dos símbolos mais assinalados do erotismo, o desejo carnal e o encontro amoroso nas cantigas galaico-portuguesas da Idade Média: “Xuntos cazaremos todos os cervos pardos / e voltaremos cubertos por pelexos de lobo. / Despois nos perderemos nos cavorcos, / ceibando cadeas, / prendéndonos de femias cabeleiras, / ata consumar o ciclo, / alá, / onde non hai estado, nin deus, nin poder”. Nesse poema inaugural, portanto, Rodríguez Fer agoura um futuro mítico e glorioso para o povo galego, reivindica sua origem celta, dignifica a língua própria e a idiossincrasia da sua nação. Outros textos de Poemas de amor sen morte e de livros posteriores incidiram nestas ideias,1 1 Se o leitor tivesse interesse em aprofundar neste assunto, sugiro a leitura do artigo La Galicia erótica de Claudio Rodríguez Fer (2021), em que realizo uma análise aproximativa sobre a poesia de temática erótico-galaica do autor e reflito sobre as manifestações mais habituais da mesma. como o primeiro poema de ADN do infinito.

Efetivamente, “Rapsódia romena” conecta de modos diversos com o texto anterior, ainda que o contexto geográfico e cultural seja a Romênia. Se em “Mais alá da saudade”, “Eles virán. / Virán ergueitos / pola escura brétema / onde levita Galicia”, o primeiro verso da “Rapsódia romena” informa que aquele futuro agourado já é presente em um entorno natural que se recorre em um ritmo erótico e feliz com um sujeito feminino singular: “Vieste de mais além do bosque / e as palavras voaram entre nós / até os galhos das árvores / convertendo-se em folhas / que arboresciam muito dentro, / enquanto tu corrias, corrias e corrias / salpicando imparável sobre o rio da vida”. A última estrofe do poema incide na importância de que o sujeito amado chegou de mais além do bosque para que, amorosos, as árvores e os pássaros do mundo se iluminassem cúmplices de uma paixão que discorre naturalmente, como o rio da vida, desde Galícia a Ardeal (região romena também conhecida como Transilvânia). Provavelmente, Victor Ivanovici e Adina Ioana Vladu tiveram em conta esse poema quando titularam sua tradução da poesia de Claudio Rodríguez Fer para o romeno Mais além do bosque (2018bRODRÍGUEZ FER, Claudio. Máis alá do bosque / Dincolo de pădure. Lugo, 2018b. Com imagens de Claudio Rodríguez Fer e tradução para o romeno de Ion Deaconescu, Adina Ioana Vladu e Victor Ivanovici.). Nesse poema, o galego afinca sua rapsódia ao estabelecer um diálogo com imagens dos poetas Mihai Eminescu - “espero que depois / de inclinar-me até o chão, / como fazia Eminescu” - e Nichita Stănescu - “Feliz numa pétala pousaste, / e aguardo que depois / de beijar a planta do teu pé / não coxeasses um pouco / por medo a esmagar meu beijo, / como temia Stanescu” -. Não será essa a única vez que nessa seção o eu lírico faz referência a suas leituras romenas, de modo individual, como no caso anterior, ou coletivo, como no existencial poema “A ostra”, onde o molusco marinho - “Como uma pérola excretada / pelo clitóris, como um vulcão / deflagrado pela vulva da vida” - o fez sentir “ainda mais vivo / que toda a poesia romanesca junta / antecipando a harmonia da plenitude”. O universo poético, humanístico e vital de Rodríguez Fer, dedicado às uniões livres, assenta-se num “paraíso antibíblico ligado com os prazeres da carne”, pois nasce de um “libertário anelo humanista, compassado às aperturas múltiplas da posvanguarda, abeirado aos limites cognoscíveis, assentado na entrega aos amores e animado por um nomadismo ancestral”,2 2 RODRÍGUEZ FER, Claudio. Unha tempada no paraíso, ed. Toxosoutos, A Coruña, 2013. Prólogo de Olga Novo. como Olga Novo assinalou sobre um livro anterior, Uma temporada no paraíso, mas que mantem plena vigência neste ADN do infinito e, de modo significativo, em “A ostra”.

O compromisso político e solidário se apresenta de forma explícita no terceiro poema de “Gênese biopoética”: “A república nua”. De mãos dadas com o amor - “O colo da felicidade permanente” -, se proclama a utopia libertária na “autossuficiente comuna / da poesia no éden”, entre sublimes aliterações - “do fundo do infinito infinitivo” - e movimentos sensuais que escrevem “os poemas viventes / dos orgasmos azuis”.

O quarto texto da seção é o poema em prosa “Conto do meu gato sem nome”, no qual o eu lírico, em contraposição com o “gatinho branco de rabinho preto que me alegrou a infância”, faz uma revisão dos gatos da literatura, citando a seus autores - Colette, Hemingway, Zambrano, Lope da Veja, Perrault, Carroll, Poe, Baudelaire, Neruda, Borges, Eliot, Cortázar ou Olga Novo (esta última de modo implícito em “Quem me dera ser gata, conjurou sete vezes quem quisera viver-me de todas as maneiras...”, pois dialoga com a “Naenia” final do seu poemário Nós nus: “Esta será na morte / a miña última palabra: / Quen me dera ser gata / para vivirte sete veces” -, dos gatos do cinema, nomeando os atores - Kim Novak, James Stewart, Audrey Hepburn -, ou dos que observou caminhando pelas ruas de Bucareste e lhe lembraram a Zarathustra, o lustroso gato que aparece nas pinturas da russa Svetlana Petrova.

“Porque a vida é uma gata à janeira miando de prazeres muito livres”, como se afirma libertariamente no texto anterior, o último poema de “Gênese biopoética”, “Gatas da lua, gatos da rua”, constitui uma espécie de prece profana e comunal pela liberdade, pela independência e pelo amor dos gatos e dos seres humanos: “E que a vida colme de prodígio e delícia / as vossas mentes curiosas e os vossos corpos sensuais, / nem mais nem menos que a mim, coleguinhas”.

Concordo com Armando Requeixo quando afirma que ADN do infinito é a obra de plenitude de Claudio Rodríguez Fer (REQUEIXO, 2022REQUEIXO, Armando. “Poética desoxidorribonucleica”. Santiago de Compostela: Letras atlánticas, 2022.), pois as leituras, os lugares e o amor livre deste Eros transilvano e humanista confluem intensamente até condensar, na última estrofe do poema “ADN do amor e do prazer”, o sentido total de uma vida e de uma escrita intimamente ligadas: “Isto é o ADN do amor: / potencialidade infinita. / Dá-lo e recebê-lo todo / sem renunciar a nada”. (REQUEIXO, 2022REQUEIXO, Armando. “Poética desoxidorribonucleica”. Santiago de Compostela: Letras atlánticas, 2022., p. 33)

Depois dessa breve aproximação, figuram os cinco poemas de “Gênese biopoética” em galego - sua versão original -, e minha tradução a língua portuguesa.

Tradução de “Gênese biopoética”, primeira parte de ADN do infinito (Andavira Editora, 2021), de Claudio Rodríguez Fer

RAPSODIA ROMANESA Viñeches dende máis alá do bosque e as palabras voaron entre nós ata as pólas das árbores converténdose en follas que arborescían moi dentro, mentres ti corrías, corrías e corrías batuxando imparable sobre o río da vida. Algunha folla caeu sobre a herba e aínda espero que despois de inclinarme ata o chan, como facía Eminescu, para absorber calquera verba acariciada polos teus beizos, nunca máis calases en ningunha lingua... Feliz nun pétalo pousaches, e agardo que despois de bicar a planta do teu pé non coxeases un pouco por medo a esmagar meu bico, como temía Stanescu, senón que dende entón só voases... Viñeras dende máis alá do bosque para beber vivir con boca aberta e voraz de lontra ou de salgueiro ata que todas as árbores e aves do mundo, de mans dadas, se iluminaron cómplices de súbito nunha ardente explosión de luz fluínte, como o río da vida dende Galicia a Ardeal. RAPSÓDIA ROMENA Vieste de mais além do bosque e as palavras voaram entre nós até os galhos das árvores convertendo-se em folhas que arboresciam muito dentro, enquanto tu corrias, corrias e corrias salpicando incessável sobre o rio da vida. Alguma folha caiu sobre a erva e ainda espero que depois de inclinar-me até o chão, como fazia Eminescu, para absorver qualquer verbo acariciado pelos teus lábios, nunca mais calasses em nenhuma língua... Feliz numa pétala pousaste, e aguardo que depois de beijar a planta do teu pé não coxeasses um pouco por medo a esmagar meu beijo, como temia Stanescu, senão que desde então só voasses... Vieste de mais além do bosque para beber viver com boca aberta e voraz de lontra ou de salgueiro até que todas as árvores e aves do mundo, de mãos dadas, se iluminaram cúmplices de súbito numa ardente explosão de luz fluente, como o rio da vida desde Galiza a Ardeal.

*

A OSTRA A eternidade naceu na ostra. Como unha perla excretada polo clítoris, como un volcán deflagrado pola vulva da vida. A eternidade naceu na ostra. Ela fíxome sentir aínda máis vivo que toda a poesía romanesa xunta anticipando a harmonía da plenitude. De súpeto abríronse os nosos poros como bocas de peixes devorantes e escoitamos o sangue correndo polas veas e sentimos a luz deslizarse polas córneas, notamos a gravitación como un vórtice no medio das pernas e doéronnos as omoplatas liberadas pola enerxía das ás despregándose. Enxordeceunos a caída da voaxa sobre as sabas e as sobrecellas voaron expandidas cara o abraio. E os nosos recordos comezaron realmente na xénese do mundo porque toda a eternidade está na ostra. As súas valvas carnais abríronse ofrecéndonos manxares de zinc durante milenios de epifanía continua por todas as estancias do infinito. Chovían as letras e as palabras de xiz polas paredes do corpo e do cuarto. Chovían versos de tinta sobre a pel e todo o ser era un poema que ama. Chovía amor, chovía amor, chovía amor, chovía amor sobre as nosas alas, ascendendo ao fondo do máis dentro. Chovía a lingua sobre a fala e o falo, chovía a vida sobre a ostra do desexo. Era imposible non beberse e non comerse sendo seme, suor, saliva, fluxo, carne viva, porque todo o voraz nace da ostra. E ficamos moluscos como ámbar rodeados de astros e de signos no espazo e no tempo transcendidos. Imposible non devorarse toda a vida. Imposible cifrar en tal ostra bivalva o desexo que incha e que se avulta no deserto nu máis alá do bosque xa cos doces cabelos arrincados do pube e rasuradas suaves sedas das illargas: sen límite ermos lambidos polos mares e océanos absorbidos polos páramos. Oh pequena boneca de trapo e delicia con ostra hermafrodita sucesiva que esgazada ou mordida nunca berra nin xeme máis que de puro pracer infinito cando se estremece por fin e cobra vida abríndose toda en labios a outros labios. Doce gata que se move e miaña cal leoa xove, cerva insaciable entregada a feroz tigre que a despeza enteira coas súas poutas tenras, áurea crisálida de feliz ostra picada polo ardente paxaro de ardido po dourado en cópulas bestialmente ambiguas, dous cabalos nun único rinchar que arrinca con forza da caluga mentres galopan desbocados ao infinito sentíndose máis vivos que nunca, porque a súa cama é o mundo... A OSTRA A eternidade nasceu na ostra. Como uma pérola excretada pelo clitóris, como um vulcão deflagrado pela vulva da vida. A eternidade nasceu na ostra. Ela fez-me sentir ainda mais vivo que toda a poesia romanesca junta antecipando a harmonia da plenitude. De repente abriram-se os nossos poros como bocas de peixes devorantes e escutamos o sangue correndo pelas veias e sentimos a luz deslizar-se pelas córneas, notamos a gravitação como um vórtice no meio das pernas e doeram-nos as omoplatas liberadas pela energia das asas despregando-se. Ensurdeceu-nos a queda da poeira sobre os lençóis e as sobrancelhas voaram expandidas para o portento. E as nossas lembranças começaram realmente na gênese do mundo porque toda a eternidade está na ostra. As suas valvas carnais abriram-se oferecendo-nos manjares de zinco durante milênios de epifania contínua por todas as estâncias do infinito. Choviam as letras e as palavras de giz pelas paredes do corpo e do quarto. Choviam versos de tinta sobre a pele e todo o ser era um poema que ama. Chovia amor, chovia amor, chovia amor, chovia amor sobre as nossas asas, ascendendo ao fundo do mais dentro. Chovia a língua sobre a fala e o falo, chovia a vida sobre a ostra do desejo. Era impossível não se beber e não se comer sendo sêmen, suor, saliva, fluxo, carne viva, porque todo o voraz nasce da ostra. E ficamos moluscos como âmbar rodeados de astros e de signos no espaço e no tempo transcendidos. Impossível não se devorar toda a vida. Impossível cifrar em tal ostra bivalves o desejo que incha e que se avulta no deserto nu mais além do bosque já com os doces cabelos arrancados do pube e rasuradas suaves sedas das ilhargas: sem limite ermos lambidos pelos mares e oceanos absorvidos pelos páramos. Oh pequena boneca de trapo e delícia com ostra hermafrodita sucessiva que esgaçada ou mordida nunca berra nem geme mais que de puro prazer infinito quando se estremece por fim e cobra vida abrindo-se toda em lábios a outros lábios. Doce gata que se move e mia qual leoa jovem, cerva insaciável entregada a feroz tigre que a despedaça inteira com as suas garras ternas, áurea crisálida de feliz ostra picada pelo ardente pássaro de ardido pó dourado em cópulas bestialmente ambíguas, dois cavalos num único rinchar que arrinca com força da nuca enquanto galopam desbocados ao infinito sentindo-se mais vivos que nunca, porque a sua cama é o mundo...

*

A REPÚBLICA NÚA O amor proclama sempre a república núa. O colo da felicidade permanente. A liberdade líquida e alauda, desvestida, descalza e desbocada. A autosuficiente comuna da poesía no edén. Cando chega espido en espiral do fondo do infinito infinitivo ruxe flamexante como tigre tríscele miaña tenro como gata tensa agroma plenitude en pura entrega de magnolias abertas e troncos florecendo baixo sol cenital ou chuvia oblicua, baixo o ceo das mámoas milenarias estoupando radiante en supernova, baixo o cristal ácrata do ático onde a utopía é luz en unión libre. Incendia e arrasa lume e lumen cal monte de venus lirio liso, arde cuíña a cuíña ata o montouto en sexo sobre sexo sempre extremo. E sobre as colchas das follas felinas que florecen no inverno en plenitude escríbense os poemas viventes dos orgasmos azuis. A REPÚBLICA NUA O amor proclama sempre a república nua. O colo da felicidade permanente. A liberdade líquida e louvada, desvestida, descalça e desbocada. A autossuficiente comuna da poesia no éden. Quando chega despido em espiral do fundo do infinito infinitivo ruge flamejante como tigre tríscele mia terno como gata tensa gruma plenitude em pura entrega de magnólias abertas e troncos florescendo sob sol zenital ou chuva oblíqua, sob o céu das mamoas milenárias explodindo radiante em supernova, sob o cristal ácrata do ático onde a utopia é luz em união livre. Incendeia e arrasa lume e lúmen qual monte de vênus lírio liso, arde colina a colina até o montouto em sexo sobre sexo sempre extremo. E sobre as colchas das folhas felinas que florescem no inverno em plenitude escrevem-se os poemas viventes dos orgasmos azuis.

*

CONTO DO MEU GATO SEN NOME

Un gato non é o gato nin a gata é unha gata, pois nada hai nunca de especial nunha especie: o único que existe é o individuo e o demais son tan só coincidencias.

Un gato salvaxe non é o sagrado exipcio, nin o sublimado en mito ou cousificado en arte, nin ten que ver con debuxos desanimados que tanto o desgatan humanizándoo, parécese máis ben ás sensuais gatas de Colette, reprodúcese como os polidáctilos de Hemingway, filosofa como os gatos de María Zambrano sen perder dignidade nin animalidade noctámbula e nictálope.

Para min en concreto o gato non é un gato, senón o gatiño branco de rabiño negro que me alegrou a infancia coa súa lingüiña bebedora de leite, o seu miado doce de criatura cómplice e as súas acrobáticas patiñas intrépidas brincando con incribles saltos de circo para atrapar reclamos pendurados en cordeis.

Despois, cumprindo coa tradición popular, consumiu ledamente as súas sete vidas, ou as nove, contando as dúas veces que volveu malferido das guerras do barrio e case non pode salvalo meu pai. Porque o meu gato foi libre sempre de ir e de vir, xamais tivo nome e de ninguén foi mascota, ata que elegantemente desapareceu. Así que souben máis da gatomaquia por el que polo mesmísimo Lope de Vega.

Nada tiña que ver co gato con botas que o conto de Perrault me presentou de neno nin co sorriso sen gato que me deixou pampo no país das marabillas de Lewis Carroll, nin moito menos coas coitas terribles do gato negro e chosco do sinistro relato de Poe. Quizais non foi tan misterioso e máxico como os gatos místicos de Baudelaire, pero tiña o corpo así mesmo eléctrico e os ollos mesturados de metal e de ágata, ademais de ser algo amigo da ciencia, da poesía e ata da voluptuosidade.

Como o gato da oda de Neruda camiñaba só e sabía o que quería, cal un pequeno tigre albino pródigo en tenrura, mais fera independente. E, como anticipou Borges nun par de poemas complementarios, ao tempo era un gato secreto que de lonxe parecía unha pantera e o doméstico gato branco que non se recoñece no espello da casa onde se mira a diario.

Non era un gato de estilizada raza siamesa co que Kim Novak puidese embruxar a James Stewart no cine de Hollywood, non era un elegante gato turco de Angora, nin un leopardo gato manchado de Bengala, nin un gato persa de sofisticada pelaxe, nin un precioso ragdoll de ollos azul zafiro, tampouco era gato abisinio ou esfinxe, nin traía a beleza barroca dos bosques de Escocia, de Noruega ou de Maine, nin sequera era o gato perdido e achado por Audrey Hepburn cal laranxa que miaña, tigriño mollado polas rúas de Manhattan... simplemente era o gato máis amado do universo por un neno encantado de ser seu amigo.

Para min foi máis divertido que o manso manés sen rabo ou que os gatos de tres nomes concibidos por Eliot, así que nunca lle puxen un, intuíndo que as condescendentes sílabas humanas serían para el o mesmo que mirar calendarios xeroglíficos para unha gata namorada sen percepción do tempo.

El foi antecedente da miña convivencia con gatos e gatanas dende a infancia, por exemplo con aquel gatiño tolo que a miña familia acolleu paciente e que por fedello non chegou a vello, e logo cos entrañables azuis rusos e co danzante negro de Brooklyn, co mínimo minino chegado a Cerracín ou cos lustrosos micos en Bucarest adoptados que parecen pinturas de Svetlana Petrova, comezando polo moldavo clandestinamente acollido como residente universitario venturoso e secreto.

Algunhas veces a gata foi unha concreta gata, como a parisiense Franelle de Cortázar, cuxa fiestra visitei cunha miquiña idéntica, ou a neoiorquina que me mira cal diana ata xirar completos trescentos sesenta graos revirando o seu flexible pescozo en redondo.

Quen me dera ser gata, conxurou sete veces quen quixera vivirme de todas as maneiras... Porque a vida é unha gata á xaneira miañando de praceres moi libres sobre ou debaixo do tellado dun ático, como soubo sempre o meu gato sen nome e como saben agora o tigre e a gata.

CONTO DO MEU GATO SEM NOME

Um gato não é o gato nem a gata é uma gata, pois nada há nunca de especial numa espécie: o único que existe é o indivíduo e o demais são tão só coincidências.

Um gato selvagem não é o sagrado egípcio, nem o sublimado em mito ou coisificado em arte, nem tem que ver com desenhos desanimados que tanto o desgatam humanizando-o, parece-se mais bem às sensuais gatas de Colette, reproduz-se como os polidáctilos de Hemingway, filosofa como os gatos de María Zambrano sem perder dignidade nem animalidade noctâmbula e nictalope.

Para mim em concreto o gato não é um gato, senão o gatinho branco de rabinho preto que me alegrou a infância com a sua linguinha bebedora de leite, o seu miado doce de criatura cúmplice e as suas acrobáticas patinhas intrépidas brincando com incríveis saltos de circo para pegar reclamos pendurados em cordéis.

Depois, cumprindo com a tradição popular, consumiu ledamente as suas sete vidas, ou as nove, contando as duas vezes que voltou malferido das guerras do bairro e quase não pode salvá-lo meu pai. Porque o meu gato foi livre sempre de ir e de vir, jamais teve nome e de ninguém foi animal de estimação, até que elegantemente desapareceu. Assim que soube mais da gatomaquia por ele que pelo mesmíssimo Lope de Vega.

Nada tinha que ver com o gato de botas que o conto de Perrault me apresentou de criança nem com o sorriso sem gato que me deixou atônito no país das maravilhas de Lewis Carroll, nem muito menos com as coitas terríveis do gato preto e zarolho do sinistro relato de Poe. Talvez não foi tão misterioso e mágico como os gatos místicos de Baudelaire, mas tinha o corpo também elétrico e os olhos misturados de metal e de ágata, ademais de ser algo amigo da ciência, da poesia e até da voluptuosidade.

Como o gato da ode de Neruda caminhava sozinho e sabia o que queria, qual um pequeno tigre albino pródigo em ternura, mais fera independente. E, como antecipou Borges num par de poemas complementares, ao tempo era um gato secreto que de longe parecia uma pantera e o doméstico gato branco que não se reconhece no espelho da casa onde se olha a diário.

Não era um gato de estilizada raça siamesa com o que Kim Novak pudesse enfeitiçar a James Stewart no cine de Hollywood, não era um elegante gato turco de Angorá, nem um leopardo gato pintado de Bengala, nem um gato persa de sofisticado pelame, nem um precioso ragdoll de olhos azul safira, também não era gato abissínio ou esfinge, nem trazia a beleza barroca dos bosques da Escócia, da Noruega ou de Maine, nem sequer era o gato perdido e achado por Audrey Hepburn qual laranja que mia, tigrinho molhado pelas ruas de Manhattan... simplesmente era o gato mais amado do universo por uma criança encantada de ser seu amigo.

Para mim foi mais divertido que o manso manés sem rabo ou que os gatos de três nomes concebidos por Eliot, assim que nunca lhe pus um, intuindo que as condescendentes sílabas humanas seriam para ele o mesmo que mirar calendários hieroglíficos para uma gata apaixonada sem percepção do tempo.

Ele foi antecedente da minha convivência com gatos e gatanhas desde a infância, por exemplo com aquele gatinho louco que a minha família acolheu paciente e que por travesso não chegou a velho, e depois com os entranháveis azuis russos e com o dançante preto de Brooklyn, com o mínimo felino chegado a Cerracín ou com os lustrosos micos em Bucarest adotados que parecem pinturas de Svetlana Petrova, começando pelo moldavo clandestinamente acolhido como residente universitário venturoso e secreto.

Algumas vezes a gata foi uma concreta gata, como a parisiense Franelle de Cortázar, cuja janela visitei com uma gatinha idêntica, ou a nova-iorquina que me olha qual diana até girar completos trezentos sessenta graus revirando o seu flexível pescoço em redondo.

Quem me dera ser gata, conjurou sete vezes quem quisera viver-me de todas as maneiras... Porque a vida é uma gata à janeira miando de prazeres muito livres sobre ou debaixo do telhado de um ático, como soube sempre o meu gato sem nome e como sabem agora o tigre e a gata.

*

GATAS DA LÚA, GATOS DA RÚA Que poidades vivir libres e independentes como animais silvestres que sodes. Que a xente solidaria e protectora impida que vos envelenen a vida ou que vos maten de fame ou a golpes. Que mentres sexades crías indefensas coñezades a xenerosidade da veciñanza que deixa ante a porta un pratiño con leite. Que os elfos e as fadas dos micos do barrio vos leven comida e bebida coa ledicia que tan pura brilla nos seus bos corazóns. Que gocedes todo o ano de amor sen barreiras polas libertarias comunas dos tellados antes de que vos confinen polo voso ben... E que a vida colme de prodixio e delicia as vosas mentes curiosas e os vosos corpos sensuais, nin máis nin menos que a min, coleguiñas. GATAS DA LUA, GATOS DA RUA Que possais viver livres e independentes como animais silvestres que sois. Que as pessoas solidárias e protetoras impeçam que vos envenenem a vida ou que vos matem de fome ou a pancadas. Que enquanto sejais filhotes indefesos conheçais a generosidade da vizinhança que deixa ante a porta um pratinho com leite. Que os elfos e as fadas dos gatos do bairro vos levem comida e bebida com a alegria que tão pura brilha nos seus bons corações. Que gozeis o ano todo de amor sem barreiras pelas libertárias comunas dos telhados antes de que vos confinem pelo vosso bem... E que a vida colme de prodígio e delícia as vossas mentes curiosas e os vossos corpos sensuais, nem mais nem menos que a mim, coleguinhas.

Agradecimentos

Os editores de Alea agradecemos a Claudio Rodriguez Fer a autorização concedida para publicar em nossa revista uma mostra de sua obra poética em tradução ao português. Nosso agradecimento ao tradutor Saturnino Valladares, pelo trabalho desenvolvido e por mediar na comunicação com o escritor.

Referências

  • BAO, Marcela. O ADN do infinito de Claudio Rodríguez Fer. Galiciadigital, 2021. Disponível em: https://www.galiciadigital.com/opinion/opinion.28518.php Acesso em: 6 dez. 2021.
    » https://www.galiciadigital.com/opinion/opinion.28518.php
  • REQUEIXO, Armando. “Poética desoxidorribonucleica”. Santiago de Compostela: Letras atlánticas, 2022.
  • RODRÍGUEZ FER, Claudio. Amores e clamores Santiago de Compostela: Ediciós do Castro, 2011.
  • RODRÍGUEZ FER, Claudio. Unha tempada no paraíso A Coruña: Toxosoutos, 2013.
  • RODRÍGUEZ FER, Claudio. A muller sinfonía: Cancioneiro vital. Ourense: Ouvirmos, 2018a.
  • RODRÍGUEZ FER, Claudio. Máis alá do bosque / Dincolo de pădure Lugo, 2018b. Com imagens de Claudio Rodríguez Fer e tradução para o romeno de Ion Deaconescu, Adina Ioana Vladu e Victor Ivanovici.
  • RODRÍGUEZ FER, Claudio. Uma temporada no paraíso Manaus: Valer, 2019. Tradução e apresentação de Saturnino Valladares.
  • RODRÍGUEZ FER, Claudio. ADN do infinito Santiago de Compostela: Andavira, 2021.
  • VALLADARES, Saturnino. La Galicia erótica de Claudio Rodríguez Fer. Entreletras, v. 1, n. 9, p. 125-129, 2021.
  • 1
    Se o leitor tivesse interesse em aprofundar neste assunto, sugiro a leitura do artigo La Galicia erótica de Claudio Rodríguez Fer (2021VALLADARES, Saturnino. La Galicia erótica de Claudio Rodríguez Fer. Entreletras, v. 1, n. 9, p. 125-129, 2021.), em que realizo uma análise aproximativa sobre a poesia de temática erótico-galaica do autor e reflito sobre as manifestações mais habituais da mesma.
  • 2
    RODRÍGUEZ FER, Claudio. Unha tempada no paraíso, ed. Toxosoutos, A Coruña, 2013RODRÍGUEZ FER, Claudio. Unha tempada no paraíso. A Coruña: Toxosoutos, 2013.. Prólogo de Olga Novo.
  • Parecer Final dos Editores

    Ana Maria Lisboa de Mello, Elena Cristina Palmero González, Rafael Gutierrez Giraldo e Rodrigo Labriola, aprovamos a versão final deste texto para sua publicação

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    04 Ago 2023
  • Data do Fascículo
    May-Aug 2023

Histórico

  • Recebido
    27 Jan 2023
  • Aceito
    15 Mar 2023
Programa de Pos-Graduação em Letras Neolatinas, Faculdade de Letras -UFRJ Av. Horácio Macedo, 2151, Cidade Universitária, CEP 21941-97 - Rio de Janeiro RJ Brasil , - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: alea.ufrj@gmail.com