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Octávio Ianni: a ironia apaixonada

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Octávio Ianni: a ironia apaixonada

Renato Ortiz

Doutor em Sociologia/Antropologia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales. Professor titular na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)

Na sua aparência, a expressão afinidade eletiva algumas vezes nos induz ao erro. Ela nos dá a falsa impressão de que a dimensão da eleição prevalece sobre a afinidade, tornando-a fruto de uma escolha individual. Lida assim, o sujeito, na sua independência, seria o senhor de sua própria vontade. Contudo, quando Goethe a utiliza como título de um de seus livros, sua intenção é outra: os personagens, encerrados numa pequena propriedade fora da cidade, isolados do mundo, experimentam uma situação na qual a razão é suplantada por forças incontroláveis. Eles se perdem, desviam-se de suas rotas e planos originais, os subentendidos os envolvem e os impelem numa direção imprevisível. Arrastados pela torrente dos fatos, suas subjetividades transformam-se e se moldam à revelia de suas convicções. Afinidade eletiva era um termo da Química pré-moderna, que descrevia o movimento e a atração das partículas de substâncias diversas e contraditórias. Malgrado suas disparidades e incompatibilidades convergiam num mesmo sentido. Minha relação com Octávio tinha algo disso. Nossas diferenças gravitacionalmente nos impeliam para um ponto de fuga, o trabalho intelectual. Esse era um tema recorrente de nossas conversas, ele apagava momentaneamente os contrastes diluindo nossas idiossincrasias. Ao esboçar o retrato de alguém que partiu, este é o rosto que gostaria de gravar, ele é um traço individual, modal à uma personalidade determinada, mas transcende também sua singularidade, aproximando, talvez, os que exercem o artesanato das Ciências Sociais.

Ianni possui uma obra. Esta dimensão, pouco valorizada no contexto brasileiro, plenamente reconhecida no europeu, é importante. Damos pouca atenção à noção de obra, o desenvolvimento de um conjunto de trabalhos ao longo do tempo. Isso requer criatividade, tenacidade e constância. Uma obra é a realização de um trabalho, a rigor deveríamos dizer, diversos deles, no plural. Uma linha contínua os interliga, avizinha-os, sendo todos resultado da mesma potência. Apesar de suas diferenças e configurações, inscrevem-se num itinerário comum. A potência é sempre algo virtual, dizem os físicos, ela é trabalho na unidade de tempo. Como o tempo é uma variável futura, ainda não passou, falta-lhe a dimensão do espaço, o deslocamento, ao qual se aplica a força que o realiza. Uma obra é potência + trabalhos. A idéia de produtividade, hoje tão em voga, se aplica mal à apreensão de seu movimento, ela se apega demasiadamente à materialidade dos pontos descontínuos, focalizando separadamente as etapas de um mesmo esforço. Importa o resultado final: eu termino um texto, "produzo" um artigo ou um relatório. Isso encerraria um ciclo, posso inclusive mensurar meu rendimento, pois o resultado de minha atividade é palpável, tangível. Na sua duração temporal, uma obra desloca a atenção dos instantes para fixá-la na trajetória do todo. A riqueza encontra-se na sua complexidade, atualizada em cada trabalho singular e na sua variação contínua, envolvendo o conjunto de suas manifestações. Ianni tem uma obra extensa e diversificada, ela se ocupa da escravidão, questão nacional, cultura, agrarismo, Estado, globalização, literatura. Com o processo de institucionalização das Ciências Sociais, estamos habituados a uma compartimentalização do saber. Já não se trata unicamente das divisões consagradas, Sociologia, Antropologia, Ciência Política (era impensável para alguém educado nos anos 40 e 50 imaginar uma Sociologia na qual a política estivesse ausente). Cada tema ou subtema pertence ao domínio de um especialista. Ianni cultivava uma atitude clássica em relação ao conhecimento, ele transita pelos espaços discretos, deliberadamente desrespeitando as fronteiras instituídas. Era isso que lhe permitia circular entre assuntos aparentemente díspares, de Pedro Páramo, tinha uma grande admiração por Juan Rulfo, à questão nacional, da viagem como metáfora ao terrorismo mundial, da modernização do Estado brasileiro, à reflexão teórica. Para os que foram educados no padrão da taylorização do conhecimento, sua postura, à primeira vista, tal a diversidade dos assuntos e a maneira de tratá-los, poderia ser assimilada à idéia de multidisciplinaridade. No entanto, esta é uma apreensão parcial das coisas. Na verdade, ele pertencia a uma geração que absorveu um padrão intelectual anterior à sua própria segmentação. Para Ianni, as Ciências Sociais constituem um todo, pois os fenômenos sociais só podem ser satisfatoriamente compreendidos em seus diferentes níveis, integrados numa explicação totalizadora (creio que, para ele, o marxismo possuía justamente este atributo, aproximando-o de Mauss, que nos falava de "fenômenos sociais totais"). O trânsito entre as fronteiras disciplinares é uma exigência do rigor teórico.

Sublinho a idéia de atitude - era uma palavra que ele gostava de empregar - ela valoriza a conduta e o compromisso diante da reflexão. O trabalho intelectual requer a existência de um ethos, de um posicionamento que nos orienta no emaranhado da realidade. Ianni tinha uma visão das Ciências Sociais fundada na autonomia do pensamento. O campo do saber deveria idealmente ser livre, comprometido com os valores científicos, embora, no seu enraizamento histórico, estivesse sempre imerso nas contradições sociais. Há, pois, uma tensão necessária e criativa entre a intenção e sua concretização, o ethos é o fio condutor, a retidão que orienta ao largo desta tensão. Isso significa que a autonomia é construída, como costumo dizer, no terreno da porosidade das fronteiras. As Ciências Sociais são permanentemente desafiadas pelas exigências "externas", a política, as demandas mercadológicas, as instituições burocráticas universitárias, no entanto, para se afirmarem, a elas devem contrapor-se. Submeter-se seria abdicar à soberania. Ianni sabia que o engajamento político contradiz a "vocação" do pensamento. Isso o diferencia de alguns colegas seus, Florestan Fernandes e Fernando Henrique Cardoso. Florestan Fernandes, nos anos 50 e 60, tem uma postura de independência em relação à Política e, como seu professor, certamente o influenciou. Toda sua polêmica com os isebianos fundamentava-se na premissa: a liberdade do pensar não podia estar condicionada à sua utilidade. Entretanto, no final de sua vida, ele caminhou noutra direção, substituindo o compromisso anterior pela idéia de militância, colocando o saber a serviço das classes trabalhadoras. Fernando Henrique Cardoso interrompe prematuramente sua carreira de sociólogo para tornar-se um político em tempo integral, afastando-se dos ideais acadêmicos. Existe assim, um ponto de inflexão; no caso de Ianni, ele se recusa, conscientemente, a fazer tal opção; sua preferência pende para o outro lado. Dizem que Fernando Henrique Cardoso, ao ser eleito presidente da República, comentou: "esqueçam o que escrevi". A frase, não sabemos ser verdadeira ou não, é sugestiva e pode ser lida no seguinte registro: os parâmetros de julgamento da política e do mundo acadêmico são distintos.

É importante evitar eventuais mal-entendidos. O que entender por engajamento? Sobretudo no contexto latino-americano, no qual a compreensão da sociedade sempre esteve, de alguma maneira, vinculada à questão nacional. Muito antes de Sartre cunhar a expressão "literatura engajada", rompendo com o círculo de sua autonomia flaubertiana, os intelectuais deste continente articularam as Ciências Sociais à problemática do Estado nacional, à superação do capitalismo tardio. Ianni faz parte desta tradição, mas a percebe criticamente. Ele possuía convicções fortes e se interessava vivamente pelas questões políticas. Neste sentido, nunca se esquivou de "tomar partido", participar ativamente de um espaço público atravessado pelo debate e pela controvérsia (seu combate contra a ditadura militar). Inclusive, são as contradições sociais (racismo, desigualdade) e políticas (totalitarismo, socialismo, terrorismo) que nutrem sua reflexão. No entanto, é preciso ter claro, a soberania do pensamento não pode ceder às imposições do partido político, do Estado, do sindicato, ou dos movimentos sociais. Ele se batia assim contra a idéia de "intelectual orgânico" ou de "salvador da pátria", como denominava a ânsia dos isebianos na busca de um projeto nacional. Para esses, as Ciências Sociais eram um saber a serviço da ideologia do desenvolvimento nacional. Sua legitimidade não decorreria do reino da reflexão, mas da sua utilização prática na resolução dos problemas das nações periféricas. Se tivesse de utilizar uma imagem gramsciana para caracterizar o papel do intelectual, preferiria recorrer, não à metáfora orgânica, mas a uma outra, menos conhecida, a de ironia apaixonada. A ironia me separa do mundo, a paixão me recoloca no seio de suas contradições, a ironia apaixonada é o alimento da tensão entre pensar e estar no mundo.

No entanto, a Política não é a única imposição que conforma o fazer sociológico, ao longo dos anos 70, novas estruturas irão transformá-lo. Ianni tinha uma certa dificuldade em se relacionar com elas. Sua formação o tornava estranho às mudanças em curso. Foi a minha geração, nascida no pós-guerra, que entrou na Universidade nos anos 60, fez pós-graduação logo em seguida, e que verdadeiramente conheceu e participou do processo de institucionalização das ciências sociais brasileiras. Criação dos mestrados, doutorados, ANPOCS, diretorias acadêmicas no CNPq, Fapesp, Capes, enfim, um conjunto de atividades pautadas pelas demandas institucionais. Da mesma forma que o Brasil pós-64 conhece uma difusão dos bens culturais (da televisão à publicidade, do cinema à imprensa) a Universidade irá também expandir-se, configurando novas oportunidades de ensino e pesquisa. Temos uma certa tendência, sobretudo nos meios acadêmicos, a perceber este movimento apenas pelo lado "positivo". Que evidentemente é verdadeiro: bolsas de estudo, consolidação de programas de pós-graduação em escala nacional (o que nos diferencia de vários paises latino-americanos), incentivo à pesquisa. Entretanto, há um lado insatisfatório nisso tudo, que normalmente terminamos por recalcar. Essa incongruência incomodava Octávio Ianni. Ele intuía que toda essa movimentação tinha um preço, a emergência de um padrão de legitimidade que entrava em conflito e contradição com uma "atitude clássica". O trabalho intelectual, diante dos valores institucionais, começava a ser deixado de lado, ou melhor, articulava-se subordinadamente aos critérios burocráticos (formas de se escrever um relatório, avaliação dos programas de mestrado e doutorado, classificação das revistas segundo o grau de sua "importância", etc.). A autonomia que ele tanto prezava era ameaçada por uma série de medidas, expectativas, novas maneiras "de estar no mundo" inteiramente alheias às virtudes propriamente intelectuais. Por isso, sua relação com as associações de docentes, os sindicatos de professores, com suas reivindicações e suas greves, era semelhante. Ele os percebia como uma restrição à autonomia universitária, estimulando uma lógica corporativa à parte da curiosidade e da inquietação acadêmica (o mesmo poderia ser dito em relação à autoridade da mídia no mundo contemporâneo). Ao se privilegiar a luta sindical, deixavam-se para segundo plano as questões substantivas.

Mas como realizar o trabalho intelectual, formular perguntas inteligentes, tirar proveito realidade que nos interpela, transformando as questões sociais em problemática sociológica? A discussão sobre a globalização pode ser vista dentro desta perspectiva (Ianni começa a abraçá-la no início dos anos 90, e a primeira guerra do Golfo foi importante para que ele tomasse consciência das transformações atuais). Não se trata simplesmente de um tema novo, esta é face aparente das coisas. Ele envolve uma dimensão mais ampla e problemas epistemológicos de envergadura considerável. Desafia nossa compreensão, as categorias com as quais as Ciências Sociais operam, convida-nos a deslocar o olhar e inventar categorias analíticas que possam ser aplicadas, com relativo proveito, ao novo contexto. Muitos dos conceitos das Ciências Sociais, cunhados no final do século XIX, tinham como premissa a existência do estado-nação: partido, cultura, identidade. O estado-nação era a unidade central de análise, inclusive no que diz respeito às relações internacionais. Ora, o processo de globalização, na sua totalidade, não coincide com o âmbito nacional ou internacional, trata-se de um movimento que atravessa as nações, os povos e as culturas (o que evidentemente não significa o "fim" do estado-nação). Seu entendimento requer outras categorias de pensamento (dificilmente o apreenderíamos através da noção de imperialismo, questão que Ianni havia abordado em seus escritos anteriores). Não se pode esquecer que as Ciências Sociais se fazem em contexto e, neste sentido, seus conceitos são históricos. O problema que se coloca, portanto, é: como problematizar esta nova situação dentro de um terreno teórico que ainda se encontra por fazer? Para isso, era necessário contrapor-se à herança intelectual brasileira e à própria tradição sociológica consolidada. No caso de Ianni, ele teve de redimensionar sua posição no campo do pensamento brasileiro e latino-americano. O que significou redefinir-se em relação a um debate centenário entre nós: a busca da modernidade e a construção de um projeto nacional. Esse foi o núcleo do interesse de autores e instituições distintas, de Rodó a Álvaro Vieira Pinto, do Estado-novo à Cepal. O projeto nacional concentrava o destino de "todos" e encontrava sua contrapartida nos debates da época. Entretanto, essa mesma perspectiva já não mais conseguia dar conta da natureza de um conjunto de fenômenos atuais. Era preciso redefini-la. Outro aspecto vincula-se à tradição das Ciências Sociais (Weber, Durkheim, Simmel, Marx, Parsons, escola de Frankfurt). O legado disponível era insatisfatório para trabalhar os novos desafios. Neste ponto, creio ser prudente sublinhar o lado, simultaneamente imprescindível e problemático da idéia de tradição. Ela encerra dois traços, muitas vezes contraditórios. Os antropólogos têm razão ao valorizá-la: sem ela não possuiríamos uma "identidade", um solo no qual apoiar-se. No caso das Ciências Sociais, a perspectiva pós-moderna, que decreta o fim de tudo o que a antecede, qualifica-a de superada e anacrônica, é inteiramente equívoca. Seria insensato abrir mão do ensinamento dos clássicos. No entanto, a tradição, ao se consolidar, marcando a rotina intelectual, torna-se também "pesada", impedindo-nos de entender a realidade que nos cerca. Por isso, é salutar uma certa dose de inconformismo; aí reside o lugar da invenção e da imaginação sociológica.

Uma obra nasce do trabalho e da inquietação. Mas como avivar a reflexão crítica? Em nossas conversas, Ianni reiteradamente dizia: é preciso alimentar os demônios. Não duvido de sua existência, a dificuldade está em alimentá-los. Ianni costumava referir-se a Weber a esse respeito. Intrigado, consultei um feiticeiro especializado, para localizar a citação. Ela se encontra em A ciência como vocação. Quando analisa as qualidades do homem de ciência, em determinado momento, dialogando com o leitor, Weber lembra um ditado popular: "não se esqueça de que o diabo é velho, torna-te velho para compreendê-lo". Sua interpretação vem em seguida: ao nos defrontarmos com o "demônio" não se deve trilhar o caminho da fuga, mas examinar a fundo suas intenções e assim conhecer sua força e os seus limites. Curioso, o texto não lhe confere nenhum atributo ativo ou positivo, mas meramente constata que o cientista, diante das situações adversas, necessita encontrar uma forma de superá-las. Sua atitude é um artifício para estender, a uma zona ainda desconhecida, os princípios da racionalidade. Eu diria que Ianni, como intelectual brasileiro, situa seus demônios nos Trópicos (nunca o confunde com o diabo). A questão não é superar as adversidades, importa encontrar um mecanismo que nos projete à frente algo dinâmico que contraste com a inércia das coisas e da vida. Esta preocupação está bem mais próxima de Bastide, quando ele opõe o "sagrado selvagem" ao "sagrado domesticado". Enquanto este último representa uma instituição específica, a Igreja, a Religião, contida pelos limites dogmáticos e ritualísticos, o primeiro é uma erupção que a contesta e a extrapola. O elemento "domesticado" é repetitivo e rotineiro, garante a sobrevida da instituição; o "selvagem" a renova, pois seu compromisso é com o tempo futuro, aquilo que ainda se desconhece. Neste sentido, o demônio de Ianni poderia ser representado por Exu. A tradição Irubá considera o Universo como um conjunto de compartimentos, cada um deles é atribuído a um orixá e encerra virtudes e especificidades distintas: Iemanjá (água salgada, maternidade), Oxum (água doce, sensualidade), Oxossi (floresta, espírito indômito). Há, no entanto, um problema. O mundo dos homens é dinâmico, como então colocar esses compartimentos em contato? Cabe a Exu o papel de mediador, ele quebra as fronteiras e estabelece a comunicação entre as divindades e as diversas partes que a constituem. Por isso, em alguns momentos, quando caminha para trás, a ordem das coisas é invertida, as catástofres acontecem (o rio transborda, a seca é interminável, as tempestades são destruidoras). Pode-se definir Exu como um trikster, seu movimento incessante entre os compartimentos mantém ou conturba o status quo. Nosso demônio possui uma qualidade similar (nada tem de weberiano), desfaz a aparência do mundo. Aqueles que o possuem (mas não são possuídos por ele) são capazes de embaralhar a ordem estabelecida das idéias e rearranjá-las através da linguagem das Ciências Sociais. A comparação com o universo afro-brasileiro é sugestiva. Ela pode ser ainda melhor explorada. As entidades do candomblé, para permanecerem ativas, devem ser cultuadas e, para isso, têm de comer. Disso depende o axé, a força que as mantém vivas. Caso não seja nutrido, ele declina, desfalece. Os fiéis são, portanto, obrigados a "dar de comer à cabeça" (o que nos rituais de iniciação é obedecido ao pé da letra). A inquietação intelectual tem algo de semelhante, ela exige que se "alimente a cabeça", cultive-se uma atitude de insatisfação em relação ao peso do senso comum acadêmico. Ianni possuía esta sabedoria, talvez isto o tenha levado a refletir, em seus últimos escritos, sobre o tema da viagem. Ela é uma metáfora do trabalho intelectual, o artifício para se construir uma alteridade que permite perceber o mundo numa posição singular: a de alguém que o experimenta e o analisa. Não residiria aí a idéia de contemporaneidade?

Recebido: 02/03/2008

Aceite final: 12/06/2008

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Set 2011
  • Data do Fascículo
    Dez 2008
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