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Ecos do tempo. A mobilidade de investigadores e estudantes brasileiros em Portugal

Echoes of time. The mobility of Brazilian researchers and students in Portugal

Resumos

A investigação que apresentamos, de caráter exploratório, recaiu sobre histórias biográficas de brasileiros que escolhem Portugal para prosseguir formação e ou investigação. Procura-se encontrar na sua experiência elos de ligação explicativos sobre as motivações e os processos que os trazem para Portugal, assim como as expetativas e os projetos que comportam para os seus futuros e que incluem, ou não, este país. Temos em conta, especialmente, a forma como essa narrativa transporta sentidos identitários decorrentes das formas de relacionamento intercultural e político entre Portugal e Brasil e formas de cooperação implícitas, assim como mapas representacionais acerca dos lugares de eleição para desenvolvimento de carreiras científicas e académicas. A nossa pesquisa incide sobre as informações recolhidas através de um inquérito por questionário e entrevistas realizadas junto de estudantes e bolseiros brasileiros em Portugal.

Mobilidade; Ciência; Conhecimento; Cultura.


We present an exploratory study that investigated biographical stories of Brazilians who choose to continue their education or develop research in Portugal. We sought to find in their experiences explanatory links connecting the motivations and processes that bring them to Portugal, as well as the expectations and projects that they hold for the future, which may include, or not, this country. We take into account, particularly, the way this narrative carries senses of identity arising from the forms of intercultural and political relationship between Portugal and Brazil, as well as implicit forms of cooperation and representations about the places chosen for the development of scientific and academic careers. Our research draws on information collected through a survey based on questionnaires and interviews with Brazilian students and scholarship holders in Portugal.

Mobility; Science; Knowledge; Culture.


1 Introdução

A análise realizada em contexto europeu tem mostrado um crescente e significativo aumento da mobilidade de cientistas e investigadores que partem de Portugal para o Brasil, nos anos mais recentes. Com efeito, a problemática da mobilidade de cientistas e da orientação dos seus fluxos é de suma importância para perceber as dinâmicas da ciência e da tecnologia no mundo. Neste artigo, debate-se essa mesma problemática, descrevendo alguns dos traços principais da mobilidade de Brasileiros para Portugal, entre 2008 e 2010, com enfoque sobre as suas principais motivações, apreciações de estadia em Portugal e projetos de regresso ao Brasil. Em Portugal, assistimos a três fluxos historicamente relevantes no que respeita à dinâmica dos campos científico e académico: um dirigido à Europa do Norte e Central; outro em direção aos Estados Unidos da América e outro em relação à América Latina e países de expressão portuguesa, em geral. Estes fluxos estão presentes sob a forma bidirecional, isto é, têm impulsionado quer a saída de portugueses, quer a entrada de estrangeiros1 Silvia Silva.Doutoranda FCT, Universidade do Minho. silviasilva.3942@gmail.com Baseamo-nos, sobretudo, em dados relativos ao número de bolsas concedidas a brasileiros em Portugal e a portugueses no Brasil. Temos em conta alguns estudos sobre a emigração brasileira em Portugal (Malheiros, 2007). . Todavia, de uma forma diferenciada: nas entradas destaca-se o último sentido mencionado e nas saídas os dois primeiros. Observa-se uma considerável procura de candidatos a graduação e pós - graduação, sobretudo a favor dos países histórica e culturalmente ligados a Portugal, como o Brasil e, por outro, um reforço da capacidade de atracção, mormente através do programa Ciência, de investigadores ou nacionais ou com trajetória em universidades norte-americanas ou da Europa central2 Este dado está bem patente nos resultados da análise de entrevistas realizadas a diretores de centros de investigação portugueses no âmbito do projeto MobiScience- PTDC/ESC/64411/2006 - Mobility of scientists in Portugal: trajectories and circulation of knowledge. . A investigação que apresentamos, de caráter exploratório, recaiu sobre brasileiros que escolhem Portugal para prosseguir formação e ou investigação. Procura-se encontrar, na sua experiência, elos de ligação explicativos sobre as motivações e os processos que os trazem para Portugal, assim como as expectativas e os projetos que comportam para os seus futuros e que incluem, ou não, este país. Temos em conta, especialmente, a forma como essa narrativa transporta sentidos identitários decorrentes das formas de relacionamento intercultural e político entre Portugal e Brasil e formas de cooperação implícitas, assim como mapas representacionais acerca dos lugares de eleição para desenvolvimento de carreiras científicas e académicas. A nossa pesquisa incide, principalmente, sobre representações, não sendo objeto desta reflexão as condições materiais efetivas no país de origem - o Brasil. O artigo organiza-se em três pontos. Primeiro, apresentamos uma breve problemática acerca da mobilidade de cientistas, investigadores e estudantes. Após a nota metodológica, prosseguimos com a apresentação e análise de dados relativos ao estudo conduzido junto de investigadores e estudantes brasileiros em Portugal.

2 Mobilidade de estudantes e investigadores

A mobilidade de pessoas altamente qualificadas é um fenómeno intrínseco à realidade do mundo moderno e caraterística envolvente dos processos de globalização e de transformação demográfica (Iredale, 1999; 2000; 2001IREDALE, R. Migration policies for the highly skilled in the Asia-Pacific region. International Migration Review, v. 34, n. 3, p. 882-906, 2000.; Solimano, 2008SIAYA, L.; HAYWARD, F. M. Mapping internationalization on U.S. Campuses, Washington, DC: American Council on Education, 2003.; Góis e Marques, 2007; Ivaturi et al, 2010; Moreira e Araújo, 2011MOGUEROU, P. The brain Drain of Ph. D.s from Europe to the United States: what we now and what we would like to now. EUI- working paper, p.1-34, 2005.). Podemos afirmar, com Bauman (2009BARUCH, Y., P. S.; BUDHAWAR, et al. Brain drain: Inclination to stay abroad after studies. Journal of World Busines, 42, p.99-112, 2007.), um autor que evidencia o peso estruturante e identitário da extra-territorialidade, que cada vez mais nenhum país é exclusivamente "migrante" ou "imigrante", isto é, nenhuma sociedade apresenta fronteiras identitárias definidas e acabadas. Mas, antes pelo contrário, são marcadas pela porosidade e pela interpenetração, muito em particular em contextos gradualmente imateriais. Num espaço-tempo de caraterísticas globais, cruzam-se diversas lógicas de apropriação e de administração, geradoras de novas configurações espaciais em que o conhecimento se destaca como recurso primordial de transmissão, troca e uso (Bell, 1973BAUMAN, Z. Cultura: aventuras líquidas-modernas de uma ideia. Revista Configurações, 3, p.11-21, 2009.; Castells, 1996BOURDIEU, P. Homo Academicus. Paris: Les Éditions de Minuit, 1984.; Urry, 2007TEICHLER, U. The changing debate on internationalisation of higher education. Higher Education, v. 48, n. 1, p. 5-26, 2004.). A sociedade da informação e do conhecimento impele, crescentemente, à "corrida" pela busca de talento e de capital humano (Sassen, 1988SANTOS, B. S. O estado, as relações salariais e o bem-estar social na semiperiferia: o caso português In: SANTOS, B.S. (Org.), Portugal: um Retrato Singular, Porto, Afrontamento, p. 15-56, 1993.). É nesse sentido que as competências são consideradas globais e em circulação permanente (Delicado, 2007COOPER, M. Creating Universities for a Multiethnic and Multicultural World: A Utopia?, Journal of studies in International Education, 11, p.522, 2007.; Fontes, 2007DIETZ, J. Scientists and Engineers in Academic Research Centers - An examination of career patterns and produtivity. Georgia: Institute of Technology, 2004. ). Os autores referem, aliás, que um dos assuntos capitais das sociedades modernas consiste em destrinçar as tipologias e os circuitos geográficos da circulação de capital humano em configurações económicas cada vez mais constituídas por redes, cujas ligações não são facilmente localizáveis (Góis e Marques, 2007: 15) nem identificáveis. Esta crescente mobilidade resulta da internacionalização dos mercados de trabalho ligados ao setor de investigação e desenvolvimento mas, também, do facto de os países assumirem o conhecimento como um bem altamente valorizável. Daí pressupondo-se que os seus recursos podem ser utilizados para comercializar ou trocar serviços educacionais geradores de receitas de exportação (Iredale, 2001IREDALE, R. Migration policies for the highly skilled in the Asia-Pacific region. International Migration Review, v. 34, n. 3, p. 882-906, 2000.; Baruch et al., 2004; 2007BARUCH, Y. Transforming careers: From linear to multidiretional career paths: Organizational and individual perspetives. Career Development International, v.9, n.1, p.58-73, 2004.). Na base desses incentivos, reside a ideia de que o conhecimento circula não só em coisas mas através de pessoas e sob diferentes formas (Polanyi, 1958OECD. The Global Competition for Talent: Mobility of the Highly Skilled. Paris, 2008; Stehr, 1994SOLIMANO, A. (Ed.). The International Mobility of Talent: Types, Causes, and Development Impat. Oxford: Oxford University Press, 2008.; Williams, 2006), pois o conhecimento, definido por epistemologias-base, define-se designadamente em processos profundamente interativos e complexos.Tal como propõem os autores Góis e Marques,

o imperativo de aderir ao universo da mobilidade crescente de conhecimento e garantir uma fungibilidade alargada de qualificações levou ao movimento de internacionalização das universidades europeias, dos respetivos cursos e certificados, expressos na célebre declaração de Bolonha, e bem assim em harmonização de estudos terciários (Góis; Marques, 2007, p. 16).

Os mesmos autores sugerem a necessidade de aprofundar o estudo sobre a mobilidade de imigrantes qualificados, mas no sentido inverso do habitual, isto é, dos que escolhem Portugal para estudar e trabalhar (Góis e Marques, 2007, p. 19). Em relação aos movimentos de investigadores e de estudantes, realidade que nos ocupa neste artigo, verifica-se que a sua mobilidade, especialmente a dos licenciados, constitui uma preocupação dos autores, pois é considerada uma entrada para futuras migrações permanentes (Góis; Marques, 2007; OCDE, 2008, p. 83-84). Com efeito, um crescente número de países reúne esforços no sentido de atrair estudantes estrangeiros para cursos ministrados em línguas estrangeiras. Tal ocorre, muitas vezes, em estruturas atrativas e a mobilidade entre diversos pólos de conhecimento permite densificar as redes sociais e desenvolver competências, conhecimentos e estratégias potencialmente contributivas para a produção e a disseminação de conhecimento. No fundo, trata-se do reforço de um sentimento crescente de que à mobilidade de pessoas com alta qualificação está associada a expansão dos sistemas de investigação e desenvolvimento. Neste quadro de crescente incentivo à internacionalização, vinca-se a necessidade de analisar a atratividade de Portugal, o seu lugar no seio das redes globais de mercados de conhecimento e as perspetivas para o seu desenvolvimento. Além disso, torna-se relevante problematizar a tipologia de fluxos de estrangeiros para Portugal, atendendo ao peso de fluxos mais "tradicionais" de migrações assentes na relevância de relações históricas entre países, incluindo a dimensão colonial. É nessa linha que se torna relevante estudar os perfis, as motivações e as experiências dos estrangeiros estudantes e investigadores em Portugal oriundos de países, como o Brasil. Com efeito, a mobilidade dos cientistas e estudantes é cada vez mais assumida como um fenómeno multifacetado e pluridirecional (cf. Ackers, 2005ACKERS, L. Moving People and Knowledge: The Mobility of Scientists within the European Union. International Migration Review. v. 43, n. 5, 2005b. Disponível em: <http://www.liv.ac.uk/www/ewc/docs/Migration%20workshop/Ackers-paper03.2004.pdf>. Acesso em: 2 dez. 2009.
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a)3 A visão do fenómeno seria limitada se nos retivéssemos apenas nos aspetos negativos deste tipo específico de mobilidade. Tem-se discutido os efeitos positivos da migração qualificada sobre a formação dos indivíduos e, mesmo, sobre o crescimento económico do país de origem do imigrante. . A experiência de mobilidade internacional, ao facilitar a saída dos grupos de origem, além de criar a expetativa de ganho de melhores oportunidades no exterior, também pode significar ganhar reconhecimento e vantagens nos mercados de trabalho do país de origem, isto atendendo não só à elaboração de competências técnicas, mas também simbólicas. Este processo de criação de expetativas sobre o valor da mobilidade no percurso profissional designa-se, segundo Ackers, expetativa de mobilidade (Ackers, 2005ACKERS, L. Moving People and Knowledge: The Mobility of Scientists within the European Union. International Migration Review. v. 43, n. 5, 2005b. Disponível em: <http://www.liv.ac.uk/www/ewc/docs/Migration%20workshop/Ackers-paper03.2004.pdf>. Acesso em: 2 dez. 2009.
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b), a qual tem, desse modo, um papel condicionante nas decisões individuais, ainda que não seja plenamente consciencializado. Por exemplo, os estudos sobre as altas taxas de migração que se registam para os EUA explicam a atração por este país com base no avanço tecnológico e na inovação nacional, o suporte financeiro para a pesquisa e a reputação do próprio sistema (Moguérou, 2005, p. 5). Tal como evidenciam alguns autores (Góis; Marques, 2007), atrair mão-de-obra qualificada passou a ser considerado, de uma forma geral, um meio importante para apoiar o crescimento económico. A cooperação entre Portugal e o Brasil plasma-se em várias modalidades, sendo de notar o recente impulso no sentido de alargar esta cooperação a várias dimensões na área da ciência e tecnologia. Como afirma Franco, a respeito do caso brasileiro, "o intercâmbio de conhecimentos técnicos, científicos, tecnológicos e culturais é uma prática em franca ascensão no mundo globalizado e, certamente, instrumento de promoção do desenvolvimento dos países, de aproximação e de entendimento, no confronto de tensões externas e no estreitar de laços político-económicos. A cooperação internacional, nas últimas décadas, no Brasil, foi reforçada a nível governamental e institucional tendo acompanhado, pari passu, a trajetória da educação superior brasileira" (Franco, 2002FONTES, M. Scientific mobility policies: how Portuguese scientists envisage the return home, Science and Public Policy, v. 34, n. 4, p.284-298, 2007., p. 306). Cada vez mais, os países têm firmado acordos para intercâmbio de conhecimentos técnicos, científicos e tecnológicos, muitos dos quais têm passado pelo ensino superior, pois este é cada vez mais tido como um potencial distributivo de conhecimentos tendo no horizonte a formação de novas gerações (Van Mol, 2008). A cooperação do Brasil com o exterior ampliou-se, sobretudo, durante a segunda metade do século XX e teve as suas repercussões no ensino superior. Na década de 60 do século passado, este país firmou acordos com diversos países, entre os quais Portugal. No panorama de distribuição de bolsas para estudantes brasileiros ou organismos que promovem a mobilidade internacional de estudantes a CAPES4 Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior. é o principal organismo brasileiro de estímulo à qualificação de quadros de pessoal (Franco, 2002FONTES, M. Scientific mobility policies: how Portuguese scientists envisage the return home, Science and Public Policy, v. 34, n. 4, p.284-298, 2007., p. 308). Esta fomenta a cooperação através da concessão de bolsas para estudantes brasileiros no exterior e para estudantes estrangeiros em universidades brasileiras, entre outras modalidades. Tem como principal objetivo promover a qualificação. A CAPES fomenta o intercâmbio internacional de estudantes através da concessão de bolsas de pós-graduação e de graduação (esta oferecida desde de 2000) em todas as áreas de conhecimento. Também leva a cabo programas de cooperação internacional para docentes e investigadores através de bolsas de pós-doutoramento. Está essencialmente ligada ao ministério da educação brasileiro.

Por outro lado, o CNPq5 Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. também tem importância, mas com objetivos diferentes. É a principal agência de fomento à pesquisa com atuação na cooperação internacional (Franco, 2002FONTES, M. Scientific mobility policies: how Portuguese scientists envisage the return home, Science and Public Policy, v. 34, n. 4, p.284-298, 2007., p. 308). Esta, em relação ao organismo anterior, concede menos bolsas para estudantes no exterior. Franco mostra, num artigo de 2002FONTES, M. Scientific mobility policies: how Portuguese scientists envisage the return home, Science and Public Policy, v. 34, n. 4, p.284-298, 2007., que das 1533 bolsas concedidas pela CAPES só 68 foram direcionadas para Portugal (que se torna o sexto país com maior número de bolsas deste organismo), um número bastante reduzido, quando comparado com os países mais procurados, como os Estados Unidos, país que apresenta um total de 458 bolsas. Relativamente às bolsas atribuídas pela CNPq, não há qualquer referência a Portugal (Franco, 2000). A CAPES desenvolve diversos tipos de programas de cooperação com diversos países, entre os quais o GRICES português (antigo ICTI). O objetivo consiste na realização de projetos conjuntos de pesquisa e de formação pós-graduada, sendo que, tal como consta do próprio quadro da instituição, os acordos bilaterais são os principais instrumentos de cooperação internacional estimulados pela CAPES. Por outro lado, um estudo feito pela Delloite (2008) intitulado Estudo comparativo de bolsas de doutoramento e pós-doutoramento, mostra que dos 8% (n=386) dos estrangeiros bolseiros em Portugal, 101 são de nacionalidade brasileira, a comunidade imigrante com maior número de bolsas (a Itália é o segundo país com maior número, embora com apenas 33 bolsas atribuídas pela FT). No que concerne ao destino dos bolseiros portugueses no estrangeiro (49%), a maior parte escolhe o Reino Unido, não havendo qualquer tipo de referência ao Brasil.

Também na União Europeia se têm reunido esforços para a cooperação no âmbito de projetos de mobilidade envolvendo as universidades, centros de formação superior ou investigação, entre outras diferentes organizações. Têm vindo a ser desenvolvidos programas de cooperação, entre estes os programas Alban e o Erasmus Mundus. O primeiro direciona-se àqueles que pretendem realizar estudos de mestrado, doutoramento ou especialização avançada em dezassete estados membros da União Europeia. O Erasmus Mundus aparece como um programa de cooperação e mobilidade no campo do ensino superior, cujo objetivo é o diálogo e a cooperação entre pessoas e culturas, especialmente dirigido à América-Latina. Tal como pretendemos explicitar, o fenómeno da mobilidade é complexo, abarcando diversas dimensões e incluindo a construção das redes de diáspora e sua tipologia, assim como a sua influência sobre os sistemas nacionais de origem (Millard, 2005MERTON, R.La Sociologia de la Ciencia (2 vols.), Madrid: Alianza Editorial, 1977. ). Neste texto, com base em informação recolhida junto de brasileiros em Portugal, pretendemos, sobretudo, apresentar as principais motivações que impelem esses investigadores à mobilidade, bem como as suas apreciações acerca da estadia em Portugal e perspetivas de futuro.

3 Metodologia

Este estudo desenvolveu-se em Portugal, incluindo um inquérito por questionário e entrevistas semi-diretivas. As principais dimensões de análise incluíram os motivos de vinda para Portugal, o balanço da experiência em Portugal e as perspetivas de futuro. Trata-se de um trabalho de caráter exploratório, não só pela novidade da temática, como por causa da inexistência de bases fiáveis sobre o número e o perfil de investigadores e estudantes brasileiros em Portugal.

O pedido de preenchimento de questionário foi enviado, primeiramente, para todos os centros de investigação registados na FT. Este estudo abrangeu os diversos graus de ensino, licenciatura, mestrado e doutoramento. Todavia, o estudo permanece com um caráter exploratório, dado não ter sido possível determinar uma base fidedigna acerca do número de estrangeiros em Portugal na situação de investigador e /ou estudante. O questionário incluiu diversas perguntas abertas que permitiram uma análise mais qualitativa, focada nas histórias individuais retratadas ao longo do próprio questionário.

No total, foram recolhidos mais questionários de estudantes do sexo feminino6 Trata-se de 64% no caso das mulheres e 36% dos homens. . Os respondentes são, maioritariamente, pessoas solteiras7 Representam 55,7%, apesar de haver 30% de alunos casados ou em união de facto e, ainda, 14,3% de divorciados ou separados. , facto relevante, tendo em conta a idade dos inquiridos que rondam os 20 e os 30 anos (58,6%), seguindo-se as idades compreendidas entre os 30 e 40 anos (27,1%), apenas um aluno com menos de 20 anos e dois com mais de 60, tal como se evidencia no quadro nº1. Foram ainda realizadas 8 entrevistas com brasileiros, seguindo o método de amostragem teórica, versando sobre as mesmas questões contempladas no questionário, abrangendo os motivos por que veio para Portugal, a descrição e a avaliação da experiência e projetos futuros.

Quadro nº1:
Nível de estudos por sexo e grupos etários

Os respondentes são em grande parte (47,1%) estudantes de mestrado, seguindo-se os de doutoramento (34,3%) e, por fim, em número inferior, os estudantes de licenciatura (18,6%). Segundo os dados que obtivemos, trata-se de pessoas que, durante a estadia em Portugal não desempenham, por norma, outras atividades profissionais. 34% dos inquiridos são portadores de uma bolsa, sendo a principal entidade financiadora a FT (n=10), seguindo-se a CAPES (n=4) e o Programa Alban (n=4).

4 Apresentação e discussão de resultados

4.1 O caráter socialmente construído da mobilidade

Diversos motivos explicam a vinda de estudantes e investigadores estrangeiros para Portugal. Tal como propõe Lalanda (1998KNIGHT, J. Internationalization of higher education: New diretions, new challenges. The 2005 IAU global survey report. Paris: International Association of Universities, 2006., p.877), na narrativa, o narrador, ao contar-se, constrói a sua identidade, reconstruindo o seu passado, revelando lugares de conflito, rupturas e aquisições /aprendizagens que faz com outros e consigo mesmo. Nestas circunstâncias, quase independentemente dos motivos elencados para a escolha de Portugal ou universidade, os brasileiros inquiridos atribuem a si próprios a decisão de saírem do Brasil para Portugal8 Com uma diferença relativamente grande em relação às outras opções, é a que reúne a maior percentagem. (58,5% no total de 70 respostas), desfiando uma série de justificações radicadas em caraterísticas auto-reconhecidas associadas ao que designam como espírito de aventura.

Eu sempre tive "rodinha no pé". Mesmo na época da licenciatura tinha ido para a Bolívia para fazer estágio e, depois, tinha ido para os Estados Unidos. E, quando terminei a minha licenciatura, eu já queria, e tinha intenção de fazer o mestrado e resolvi fazer fora do Brasil (E1, 22 anos, de São Paulo, aluna de mestrado na área das ciências sociais).

A "rodinha no pé" dá conta de uma predisposição incorporada para a mobilidade entendida como dimensão integrante do projeto de vida, incluindo a procura permanente de melhores alternativas como ato incessante de re-construção identitária. Mas, se a decisão de saída é assumida como autónoma, explicitada como automática, identificada como caraterística individual, a própria narrativa subleva o caráter social e culturalmente construído dessa predisposição à mobilidade. Daí atenuando o peso do espírito da aventura e de outras caraterísticas dadas como inatas quer na decisão de saída, quer na decisão sobre Portugal.

É relevante destacar existência de família em Portugal que uma parte importante de inquiridos distingue como tendo tido influência sobre a escolha deste país. A existência da família aproxima espacialmente o Brasil de Portugal e funciona como um mecanismo atrator que solidifica o projeto de saída, conferindo-lhe um grau mais elevado segurança, ao propor a possibilidade de encontrar familiares num outro país. Sobretudo para as camadas mais jovens, esta variável é extremamente importante para desviá-los de outros destinos. Este traço só pode ser percebido contrariando um pouco a importância da influência do espírito de aventura e de potenciais caraterísticas psico-genéticas.

A mobilidade de alguns povos, como dos portugueses ou brasileiros, é fortemente marcada pela tipicidade da sua diáspora. A rede de conhecimentos familiares, amigos e vizinhos emigrantes ou estabelecidos temporariamente noutro país são rapidamente mobilizadas quando a de saída (abstratamente concebida a partir de um certo espaço-tempo) é ativada. Nessa perspetiva, a predisposição para a mobilidade, cultivada em sede das agências de socialização familiar e universitárias, assim como a de engrandecimento de carreira, acerta-se com a existência de redes de conhecimentos familiares ou outros que amortecem o desenraizamento da ruptura com o espaço-tempo de pertença. Tal como tem sido refletido em vários outros estudos relacionados com o modo de ordenamentos dos contextos de trabalho científico e de investigação (Bourdieu, 1984BELL, D. The Coming of Post-Industrial Society: A Venture in Social Forecasting. Basic Books. New York, 1973. Disponível em: <http://www.questia.com/PM.qst?a=o&amp;d=91377007>.
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; Ávila, 1997, entre outros), as disciplinas organizam-se em subculturas específicas através das quais fluem metodologias e modos de estar na ciência e na investigação, produzindo formas de regulação dos comportamentos individuais.

A possibilidade de estabelecer novos contatos (referida em 90% dos casos) e, em estreita ligação, a de progressão na carreira (mencionada em 92,9% dos casos), afirmam a assumpção sobre a influência positiva nas carreiras. A expetativa acerca das vantagens da mobilidade só pode ser percebida e agarrada, atendendo à tipologia sociológica do grupo em questão. Trata-se de investigadores, alguns dos quais com vínculo contratual nas universidades de origem, e de estudantes, demonstrando uma forte propensão para a investigação e carreira universitária. Donde, ser reveladora a importância atribuída à reputação e ao prestígio das instituições, cursos e sistema de ensino europeus por considerarem que tal influencia sobre as suas trajetórias individuais (91,5% dizem ter contribuído de algo a muito). O grau de prestígio envolve indicadores como conteúdos programáticos, curricula de investigadores e condições de lecionação e prestígio (Mahroum, 2000MAHROUM, S. Europa y el desafío de la fuga de cerebros. IPTS, v. 29, 1998.; Ackers, 2005ACKERS, L. Moving People and Knowledge: The Mobility of Scientists within the European Union. International Migration Review. v. 43, n. 5, 2005b. Disponível em: <http://www.liv.ac.uk/www/ewc/docs/Migration%20workshop/Ackers-paper03.2004.pdf>. Acesso em: 2 dez. 2009.
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b). Mostra-se, aliás, em alguns casos, a procura antecipada de informação sobre as instituições em que se pretendem inserir:

"[... \ Sempre ouvi falar da Universidade do Minho por causa do pólo de pesquisa em comunicação e aí foi por isso que eu vim (E3, 20 anos, aluna de licenciatura).

A questão da área pesou muito, a receptividade que eu tive quando eu contatava as universidades, os professores daqui foram extremamente solícitos, responderam às questões todas. E antes já tinha uma excelente imagem de Portugal porque o meu pai morou aqui há 30 anos atrás então eu já tinha em mente. Então, eu pesquisei em França e Inglaterra, mas aí, no final, decidi Portugal (E7, 32 anos, aluna de doutoramento).

Bourdieu (1994) clarificava, em contexto de emergência da aceitabilidade de estudos científicos umbilicais, isto é, desenvolvidos na própria academia à qual são devolvidos, que os cientistas e investigadores e os meios académicos, em geral, se alimentam dramaticamente, de recompensas e sanções simbólicas em jogos de distinção infindáveis através dos quais a ambição pessoal à acumulação de indicadores e de visibilidade sobressaem, quando comparados com os indicadores objetivos de produtividade (Ávila, 1997). Num ciclo por vezes predominantemente construtivista, tal como o trabalhou Merton (1977MALHEIROS J. M. (Coord.) et al. Imigração brasileira em Portugal. Lisboa: Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural/ACIDI, 2007.), as escolhas por Portugal e por determinadas universidades dá-se contando com esse mesmo pressuposto de re-conhecimento no grupo de saída - neste caso, o Brasil. Uma das alunas de licenciatura entrevistadas vinca esta influência esperada da mobilidade sobre a sua credibilidade, como um "diferencial", afirmando que:

Eu acho que no Brasil estudar na Europa traz muito valor ao currículo independentemente do país ou da área e pude fazer algumas matérias que não teria no Brasil de jeito nenhum. Então, eu acho que isso me pode ajudar a enriquecer nas minhas escolhas futuras. É um diferencial em relação aos outros alunos (E2, 20 anos, mestranda).

A entrevistada a seguir citada mostra, igualmente, a expetativa sobre o facto de estudar na Europa, dado haver uma ideia quase naturalizada, segundo a qual estudar neste continente constitui uma fonte de valorização profissional, por efeito do valor simbólico que representa, embora não seja possível identificar a realidade dessa representação:

[... \ eu imagino que ainda tem um pouco daquela coisa de "ah estudou na Europa e não sei quê!" Então, às vezes, pode ser que tenha algum peso na hora de procurar emprego ou alguma coisa assim (E1, 22 anos, de São Paulo, mestranda).

Em particular para os mestrandos e doutorandos, o prestígio é um eixo central de impulso à mobilidade com o qual se socializam em contexto académico, embora não de forma sistemática. O mestrando que citamos a seguir explicita o circuito informal pelo qual a representação sobre a relevância da mobilidade para Portugal e Europa circula.

É meio difícil de descrever isso porque é tanta informação que a gente recebe, informação sensível, não palpável que a gente recebe a todo o momento de relações entre pessoas e o aprendizado além da conta que eu não consigo nem expressar. É muito grande, eu só sei dizer que é muito grande (E4, 24 anos, mestrando).

Um dos temas tratados várias vezes na área da mobilidade e emigração é a própria experiência nos países de recepção e a forma como esta altera, ou não, os planos iniciais. Vamos dividir esta experiência em dois momentos: a integração social geral e a integração em contexto académico e profissional.

São justamente os alunos de mestrado de doutoramento que assinalam a importância do prestígio das instituições na decisão de escolha. O índice de prestígio, longe de constituir uma representação facilmente desmontável, configura-se hoje, e sobretudo na relação com o exterior, como decorrente das classificações "de excelência" das universidades e dos centros de investigação. Daí ser considerado também o curriculum do orientador como relevante na decisão sobre a universidade/centro a escolher. A existência de colaborações anteriores não é indicada como tendo sido relevante (62,9% do total de 70 respondentes indicam não ter contribuído). Esta observação encontra-se relacionada com o facto de os inquiridos assumirem protagonismo máximo na decisão de saída, não merecendo da integração em redes já existentes, inclusivamente de professores seus no Brasil.

No caso dos brasileiros, fica patente não serem considerados, de antemão, motivos marcadamente de atracção (pull). Com excepção para os alunos de mestrado inquiridos, que demonstram alguma negatividade, particularmente em termos de possibilidade de emprego na área da investigação e docência, a mobilidade não se retrata como tendo sido marcadamente impulsionada pela deficiência de condições de ensino e de aprendizagem no Brasil. Esta ideia encontra-se em congruência quer com o facto de ser vincada a predisposição individual e cultural para a mobilidade, quer com o facto de a mobilidade ser entendida como tendo efeitos positivos na construção da visibilidade e do valor do currículo individual. O quadro seguinte (quadro nº2), evidencia a distribuição das respostas pelos diversos factores.

Quadro nº2:
Factores que contribuíram para a decisão de sair do Brasil

Faz sentido que o enriquecimento cultural e a realização pessoal apareçam como fundamentais no desencadear da decisão de saída.

E sempre tinha ouvido falar bem de Portugal, sabia que era um país muito bonito, sabia que tinha muita coisa boa e eu gosto muito de história [... \ (E3, 20 anos, Licenciatura).

Estes dois motivos mais decisivos contemplam o espírito de aventura e o entendimento da mobilidade como fuel de novas experiências e abertura espacio-temporal da biografia. O mesmo acontece com os objetivos mais ego centrados, relacionados com condições de empregabilidade e valorização do curriculum. Ainda no que concerne ao caráter socialmente construído da mobilidade, assim como ao seu condicionamento intrínseco, destaca-se o papel da língua. É na língua que se concentram, em sinergia transcultural, todos os motivos, já não da saída, mas da escolha de Portugal.

Bom...primeiro eu falo inglês e falo espanhol, mas em questão de escrever uma tese, aí já complica. Então, foi um factor que pesou muito, na hora de escrever a dissertação poder escrever em português (E1, 22 anos, mestranda).

A mobilidade configura processos de reconstrução e reflexão identitária. A mudança de contexto espacio-temporal impõe o relacionamento com outros códigos comunicativos. E, além disso, sugere respostas, à partida distintas ou, pelo menos de diferentes matrizes, do próprio ator móvel, enredado num percurso identitário potencialmente híbrido.

Castells (1996BOURDIEU, P. Homo Academicus. Paris: Les Éditions de Minuit, 1984., p. 232) afirma que enquanto o capital cultural circula livremente, bem como os circuitos eletrónicos das redes financeiras locais, a força de trabalho ainda está contida e estará no previsto futuro, pelas instituições, a cultura, as fronteiras, a polícia e a xenofobia. A mobilidade configura um processo de intensificação da diversidade cultural que tanto possibilita o enriquecimento cultural, como requer equilibrar as marcas de desigualdade social e, neste mesmo contexto, os problemas e conflitos que resultam das relações interculturais. A mobilidade coloca uma questão fundamental, tal como proposta por Tedesco (1999STRAUBHAAR, T. Why Do We Need a General Agreement on Movements of People (GAMP)? Discussion Paper Series 26332, Hamburg Institute of International Economics, 2003.), isto é, saber como articular, em contexto globalizado, as identidades nacionais com a abertura e o diálogo intercultural. Do ponto de vista da integração social, vários podem ser os factores a terem contribuído para transformar Portugal num destino atrativo para os brasileiros, mas, tal como vem sendo evidenciado noutros estudos (Cooper, 2007CASTELLS, M. The rise of the network society. Oxford, UK: Blackwell Publishers, Cambridge, MA, 1996.), a existência de uma língua comum e também a existência de caraterísticas culturais (que despertam a curiosidade ou reforçam a pertença) apresentam-se como facilitadoras da integração social. Em relação ao grupo inquirido, tal como afirmámos, a língua e, muito notoriamente, a posse da história que liga os dois países formam o primeiro plano do código comunicativo de base, demonstrável no discurso e nas representações sobre a integração em Portugal.

As saudades de casa e a falta do ambiente estruturador das rotinas constituem duas evidências de choque cultural implícito da mobilidade. Mas, se a grande parte dos inquiridos se considera bem adaptada e integrada (55,7% do total de 70 respondentes), as histórias acerca dos primeiros contatos com os portugueses (e aqui referimo-nos a portugueses investigadores e estudantes) evidenciam dificuldades no acesso aos grupos portugueses. As principais dimensões em destaque pelos inquiridos são, por um lado, a atitude que consideram conservadora dos portugueses e, por outro, o preconceito alicerçado na generalização de caraterísticas aos brasileiros portadoras de carga negativa9 O preconceito em relação à mulher brasileira esteve patente nesta investigação, lembremos que "as mulheres brasileiras parecem ter-se tornado as principais vítimas de estereótipos da sociedade portuguesa, que tende a "exorcizar" a imagem do(a) Brasileiro(a), sendo frequentemente vistas como "exóticas e fáceis", quando não associadas à prostituição" (Malheiros, 2007: 35). . Nos próximos excertos registam-se considerações sobre os processos de construção da alteridade que evidenciam a interiorização e da experiencia da diferença entre brasileiros e portugueses e, ainda, entre os próprios brasileiros.

[...] no começo, quando cheguei, ainda foi um pouco difícil, e até acho que é uma coisa meio das duas partes, porque as pessoas são fechadas porque a gente é brasileira e a gente também, às vezes, se põe numa postura meio na defensiva :- "ai não quero que me interpretem mal então vou ficar quieta, na minha, discretinha". Então eu acho que tem muito disso de a gente ficar um pouco na defensiva. Pelo que e gente ouve falar de ter preconceito e da imagem que tem. Mas depois conforme... principalmente na residência tem gente de tudo quanto é canto, e me integrei com o passar do tempo numa boa e até que foi positivo (E1, 22 anos, mestranda).

O povo português é muito bom, mas muito fechado. As instituições, quando se trata de brasileiros, mudam a forma de atender havendo a ridícula necessidade de dizer quem sou para que mudem de atitude. Na realidade, há muita discriminação com os brasileiros, o que não acontece no Brasil com relação aos portugueses. Para falar a verdade, não somente Portugal como os demais países europeus tem tratado o Brasil assim. Só que esqueceram que o Brasil recebeu todos os seus patrícios quando das duas guerras mundiais, aqueles que fugiram de Hitler, Mussolini, Franco e Salazar e todos agora se voltam contra o Brasil. Isso, na realidade, é muito triste para nós (Q13, 48 anos, mestranda).

[...] tem um preconceito muito grande com brasileiras sim, principalmente, com mulheres, por todas aquelas coisas - "ah porque mulher brasileira em Portugal é prostituta" . Eu imagino, dentro do meio académico, que quem vem para estudar nem tanto, eu estou aqui estudando quem vai acreditar -"ah ela vem para cá para ser prostituta"- mas eu imagino para as pessoas que vêm para trabalhar, em outras condições, tenha um peso muito maior (E1, 22 anos, mestranda).

Pois então, uma dificuldade grande é porque eu sou muito sociável, eu converso muito, me relaciono muito com as pessoas, e aqui eu me senti um pouco menos aberto a conversar com as pessoas então...é isso (E4, 24 anos, mestrando).

Há uma tendência para os grupos de amigos destes inquiridos serem compostos por pessoas de várias nacionalidades e ou brasileiros, sendo que cerca de metade dos inquiridos admite ter dificuldades de relacionamento com portugueses, sobretudo no inicio da sua estadia10 Dos que dizem ter algumas e muitas dificuldades, completa no conjunto 70%, somente 28,6% dos inquiridos diz não ter nenhuma dificuldades. .

Quadro nº3:
Sociabilidades por grau de estudos

Uma das entrevistadas explicita o que, na sua óptica, pode ser entendida como caraterística de uma mobilidade opaca, concretizada sem contatos intensos com a comunidade receptora específica, isto é, estudantes e investigadores portugueses. A estudante afirma o seguinte:

Eu não fiz amizades, no começo eu estranhei porque eu cheguei e pensei: tudo bem, eu sou tímida, mas eles não são tão receptivos quanto os brasileiros, dizendo -'oi donde você é?'- É que todo o mundo ficou bem calado e cada um...ressenti pela acolhida (E2, 20 anos, licenciatura).

Todos os entrevistados aproveitam os seus tempos livres para conhecer a cultura portuguesa, mas mostram ainda estarem presos a rotinas que permitam vivenciar o Brasil em Portugal, tal como demonstrado por o entrevistado que citamos a seguir:

No início eu procurei mais, eu estou aqui desde Outubro. Então, até Dezembro, quando eu passei o reveillon e o natal em Lisboa, então, eu aproveitei mais para conhecer a cultura portuguesa. Fui ver alguns fados, é bem interessante eu sou músico, então, eu me interesso muito pelos instrumentos, a guitarra portuguesa me interessei bastante, muito mesmo. Só que, depois, a gente começa a sentir saudade de casa e parece que as coisas aqui começam a ficar normais e rotineiras. Então, depois, eu encarei isso como natural e comecei a andar mais com pessoal que vive e sente falta das mesmas coisas (E4, 24 anos, de , mestrando).

Em geral, a densidade temporal diária, definida pelo número e pelo tipo de relações que mantêm com a comunidade receptora, é bastante circunscrita ao universo académico. Sobre a relação com a academia, incluindo sobretudo professores, a opinião continua a ser contraditória, pois distinguem-se dois grupos: apesar da existência de um grupo que se reconhece subvalorizado, a maioria não identifica focos de discriminação por parte de professores e orientadores. No limite, essa ideia sobre a plena integração faz-se sob o pressuposto da não-mobilidade, dada a aproximação cultural que intermeia a relação. Uma das entrevistadas afirma que:

Não, muito pelo contrário! Às vezes, eu me sinto até no Brasil! (E4, 24 anos, mestrando).

A experiência no exterior (Portugal, no caso) é permanentemente sujeita a comparações com o país de origem. Muito em particular aos recursos, métodos e modos de ensino, os alunos entrevistados frisaram uma certa alteração no modo de entender e valorizar as próprias condições no país de origem. Uma das entrevistas explicita esta mudança de representações:

Não, não, eu acho que não. Eu acho que aquilo que a gente tem é "ai o ensino na Europa é maravilhoso! É tudo muito bom e não sei quê!" Mas (...) eu sei que a experiência me ajudou a valorizar um pouco mais do que tenho no Brasil também. Não desprezando o que se tem aqui na minha área, por exemplo, que nem é a área que existe aqui que é ciências sociais, eu acho que a gente não está muito atrás do que se aprende e se ensina aqui, então foi bom por isso também (E2, 20 anos, licenciatura)

À parte das considerações acerca dos ambientes académicos, ressalta-se do conjunto de avaliações sobre o Brasil a clara percepção de que ali a integração no mercado de trabalho é difícil (48,6% do total assinalam este facto).

É muito importante lembrar a abordagem de Polanyi (1958OECD. The Global Competition for Talent: Mobility of the Highly Skilled. Paris, 2008), argumentando ser o conhecimento resultado do cruzamento entre construções individuais e coletivas, integrando emoções e paixões. Para o autor, que se aproxima nesta asserção, de Weber [mais especialmente na contraposição entre vocação e ciência, quando este afirma que existe em ciência, um contributo "apaixonado" do conhecimento pessoal (Dolby, 1977, p. 1) \, o conhecimento não poderá ser conceptualizado como algo estanque, mas algo criado através da interacção.

Tal como propusemos na parte introdutória ao artigo, espera-se que a mobilidade seja multidimensional e, em termos ideias, entendida como eixo de circulação do conhecimento, permita enraizamento entre modos, culturas e esquemas de trabalho e de pensamento diversos. Esse enraizamento converte-se em integração dos estudantes, de forma diferenciada conforme os níveis de ensino, nos métodos e nos contextos de investigação portugueses, incluindo projetos de investigação e recrutamento. Só nestes casos se pode falar em efetiva vantagem da mobilidade, desde logo considerando o investimento de Portugal na promoção desta mobilidade. O que ressalta do nosso estudo, no entanto, não permite afirmar que tal mobilidade se efetive, de facto, nessas condições. Ainda que as representações e as narrativas sejam algo distintas, quando comparamos estudantes em vários graus de ensino, os inquiridos tendem a destacar, deste tempo de mobilidade e de estadia em Portugal, a valorização pessoal e cultural da experiência, sendo menos retratada a "integração adicional da mobilidade". Quer dizer, o que afetivamente se faz com o estudante/investigador móvel, no que se refere de facto, ao contexto académico e científico, assim como social (segurança e tranquilidade).

[Como aspeto positivo] foi de ter conhecido outro país, outra cultura, os costumes, aqui é completamente diferente. É engraçado que tem muita coisa muito parecida, mas, ao mesmo tempo, tem coisas que são completamente diferentes. E as pessoas, as amizades que eu fiz aqui. Tudo foi muito positivo (E1, 22 anos, mestranda).

No entanto, alguns escolheriam outra universidade se tomassem a decisão de vir para Portugal de momento, muito particularmente por não considerarem a integração em contexto académico a mais interessante, sobretudo ao nível da orientação e da chamada para seminários e conferências. Duas tendências assumem particular interesse neste contexto: por um lado, a grande maioria deseja regressar ao Brasil. Poder contribuir para o desenvolvimento do país e rentabilizar a escolha feita de ter vindo para Portugal constituem dois motivos para esse desejo de regresso. Ressalta daqui elevada consistência na "expetativa da mobilidade" (Ackers, 2005ACKERS, L. Moving People and Knowledge: The Mobility of Scientists within the European Union. International Migration Review. v. 43, n. 5, 2005b. Disponível em: <http://www.liv.ac.uk/www/ewc/docs/Migration%20workshop/Ackers-paper03.2004.pdf>. Acesso em: 2 dez. 2009.
http://www.liv.ac.uk/www/ewc/docs/Migrat...
ª;2005b;2008) e, muito particularmente, a consciência do tempo aberto a novos saberes, pois esta experiência, independentemente do grau de riqueza técnica que possa ter implicado, é percepcionada e antecipada como sendo valorizada no Brasil, no mercado de trabalho. Por outro lado, uma parte considerável afirma explicitamente que só escolheu Portugal porque, apresentando caraterísticas atrativas diversas - a língua e ser um país Europeu - permite atuar como espaço de passagem para outros países Europeus, por referência, o Reino Unido e a França, embora a Alemanha apareça mencionada nos casos de estudantes/investigadores de áreas tecnológicas.

Dissemos em parágrafo anterior que a intenção de regresso ao Brasil é marcada e está muito presente no momento de saída deste país. No momento em que contatámos esses estudantes e investigadores, porém, a própria biografia está reatualizada, sendo atravessada por momentos diversos de reflexividade. Por um lado, ressalta que as perspetivas de futuro destes inquiridos continuam a incluir o regresso ao Brasil, denotando o peso, o alicerce identitário e biográfico dos locais de origem sobre os trajetos sociais. Todavia, uma parte considerável alinhava-se em aspirações vincadamente orientadas de saída para outros países, nomeadamente os EUA e o Reino Unido, especificamente Londres.

Quadro nº4:
Intenção de sair para o estrangeiro

Grande parte dos trabalhos teóricos acerca da mobilidade e migração qualificada e académica dá conta da relevância constitutiva de certos pólos científicos e tecnológicos que, ao longo dos anos, se impuseram como sendo de referência para a formação e carreira individual, atuando sob a configuração espacial de uma divisão internacional do trabalho de investigação e desenvolvimento. Moguérou, embora seguindo de perto a perspetiva do brain drain, estudou trajetórias biográficas de cientistas europeus para os EUA. O autor sustenta que a mobilidade académica, particularmente evolvendo cientistas e investigadores, representa uma possibilidade de conhecer e interagir entre pares em contexto internacional. Mas, acrescenta serem a reputação e o prestígio das instituições duas variáveis determinantes na explanação da mobilidade científica (Moguérou , 2005, p. 5).

Na presente investigação, de entre os motivos que pesam na intenção de sair para o exterior novamente, estão em destaque os de ordem académica, mais especificamente, as melhores condições de graduação e pós-graduação e/ou investigação e a busca de conhecimentos e outras abordagens académicas (n=9). Alguns inquiridos anotam no questionário algumas frases sobre essa intenção, destacamos duas delas:

Melhores condições no pós-doutorado (Q1, 31 anos, doutorando)

Pretendo realizar estudos mais aprofundados na área da moda (Q16, 23 anos, mestranda).

Aparecem mencionados, também, com alguma importância, factores do ponto de vista cultural, tais como o enriquecimento cultural (n=9) e o estudo ou prática de outro idioma (n=5). Num dos questionários, o inquirido explicita que:

Não penso em morar definitivamente fora do Brasil, mas gostaria ainda de passar algum tempo num outro país, no futuro. Me interesso por outras culturas, por viver em outros lugares (Q17, 22 anos, mestranda).

Conhecer "novas culturas" e "outros lugares" é uma vontade indicada por vários inquiridos. Em causa, continua a estar a acumulação de capital científico, acesso a redes de investigação mas, sobretudo, o acesso a capital simbólico e de prestígio, com eventual assentamento num desses países. Em vários destes casos, tendo residência em Portugal, esses estudantes/investigadores brasileiros ou passam uma significativa parte do tempo em viagens e estadias em outras universidades europeias ou aproveitam para analisar hipóteses de prosseguimento dos estudos nesses países, enquanto estão em Portugal. Um dos licenciados entrevistados afirma claramente pretender terminar o mestrado e conseguir estágio profissional dentro da União Europeia com a expetativa de ser efetivado numa empresa (Q11, 23 anos aluno de mestrado).

A mobilidade académica constitui um dos meios de internacionalização da investigação e da ciência mas, tal como propõem os autores, a sua organização implica alargar os horizontes da própria investigação e do ensino superior num sentido internacionalizado e global (Altabach, 2004; Siaya e Hayward, 2003SASSEN, S. The mobility of labor and capital: A study in international investment and labor flow. Cambridge: Cambridge University, 1988.; Cooper, 2007CASTELLS, M. The rise of the network society. Oxford, UK: Blackwell Publishers, Cambridge, MA, 1996.). Um doutorando entrevistado e que citamos abaixo, considera que a melhoria da cooperação e da integração entre brasileiros, portugueses e outras nacionalidades em contexto nacional passa pelo retrabalho sobre a integração em projetos de continuidade, com intervenção governamental na redução de burocracia e no reforço das possibilidades de equivalência/reconhecimento de graus académicos.

Ano passado, quando foram comemorados os 200 anos da chegada da família real no Brasil, o Presidente de Portugal falou que havia a necessidade de reduzir o hiato entre Brasil e Portugal. Na realidade, o que existe é um grande abismo. Primeiramente, há que melhorar o processo atual utilizado para pedir visto para Portugal, pois é um calvário a ser percorrido com enormes exigências burocráticas e sem finalidades. Depois, o Brasil tem que ser encarado como um país sério, que tem grandes problemas para serem resolvidos, mas que possui pessoas honestas e interessadas em fazer um país melhor. Que há grande atividade cultural e científica no Brasil e que a língua portuguesa deve ser valorizada e não somente a língua inglesa como tanto vemos (em Portugal). Bem, essas ideias são utópicas, pois as coisas somente acontecem quando as pessoas e os povos quiserem, mas vale a pena tentar e nunca devemos deixar de sonhar (Q13, 48 anos, doutorando).

O facto de os brasileiros que Portugal recebe, num primeiro estádio pretenderem sair do país configura, aparentemente, uma situação de perda para Portugal: pessoas nas quais o sistema português investe (se não apenas em termos monetários, em termos científicos e culturais) voltam para o seu país de origem ou porque pretendem regressar imediatamente ao Brasil - o que em alguns casos é ajustado, atendendo ao contrato de trabalho que têm com instituições Brasileiras - ou porque desejam entrar noutros países europeus11 Neste estudo, a principal entidade financiadora dos bolseiros de origem brasileira é a FT. . Para além disso, não se configura a existência de sólidas expetativas de emprego em Portugal ou de integração em projetos de investigação portugueses, ainda que tal integre o amplo espetro motivacional, sobretudo dos doutorados para quem ingressar na carreira docente como professores universitários se configura como um projeto: Ser professor universitário, estabelecer ligação com instituições Brasil - Portugal e prestar consultoria (Q39, 39 anos, aluno de doutoramento).

Conclusão

Neste artigo, pretendemos explicitar a ordem dos factores com influência sobre o aumento do fluxo de estudantes e investigadores brasileiros em Portugal, destacando o papel de dimensões de âmbito cultural e outras de ordem organizacional e científica. A mobilidade de investigadores e estudantes foi, durante muito tempo, conceptualizada a partir dos paradigmas que a problematizaram sob a óptica da perda e do ganho de cérebros (Mahroum, 1998LALANDA, P. Sobre a Metodologia Qualitativa na Pesquisa Sociológica.Análise Social, v. XXXIII, n.148, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, p.871-883, 1998.). A teoria do capital humano e, muito em concreto, os contributos propostos pela definição de conhecimento de Polanyi (1958OECD. The Global Competition for Talent: Mobility of the Highly Skilled. Paris, 2008), cruzada com as abordagens mais recentes no âmbito da teoria do desenvolvimento, nas quais o conhecimento ocupa um lugar central no entendimento dos desequilíbrios entre norte e sul e entre centro-periferia, têm permitido desconstruir o caráter unidirecional do fenómeno, adiantando a necessidade de problematizar a mobilidade num espetro mais amplo de complexidade de relações entre indivíduos e organizações que se estabelecem em contextos dominados pela imaterialidade e impessoalidade.

No caso português, há razões práticas a considerar, as quais podem até ser entendidas como paradoxais, por um lado, dada a necessidade de retenção de "cérebros" e, por outro, a divergência dos fluxos no sentido da Europa - América do Norte e no sentido da América Latina. Tem havido uma acção por parte de algumas entidades governativas, no sentido da intensificação da cooperação com os países da CPLP, dando-se relevo à formação individual e aos processos de transferência e de aplicação do conhecimento. Contudo, conhecem-se ainda só superficialmente os processos de integração nos universos organizacionais.

Os dados recolhidos aferem que durante a estada em Portugal mais de metade (54,3%) dos inquiridos não participou em projetos de investigação portugueses e só uma percentagem muito baixa indica ter participado em projetos ligados às instituições de origem. De um e de outro modo, sobressai o facto de a deslocação para Portugal ter um caráter bastante individualizado e, até certo ponto, voluntarista. Daí se entenda que os inquiridos falem da importância dos acordos de intercâmbio e de facilitação dos processos de interacção entre investigadores e estudantes brasileiros e as instituições de recepção que, até certo ponto, são também entidades interessadas na sua permanência em Portugal, muito em especial ao nível da pós-graduação.

Ainda que sobre um espetro exploratório, se considerarmos o reduzido grupo de inquiridos, a informação recolhida através de inquérito por questionário, cruzada com dados provindos de fontes documentais e outras pesquisas realizadas no âmbito das migrações, assim como de entrevistas semi-estruturadas, permite delinear uma expressiva singularidade da experiência de mobilidade que carateriza os cidadãos brasileiros em Portugal. Uma análise mais sintética dos motivos que os trazem a Portugal, assim como de projetos futuros, dá conta da prevalência de uma orientação estratégica, ainda que individualmente orientada, sobre um qualquer condicionamento tradicional atribuível a relações históricas coloniais entre os dois países. Este último, contudo, aparece vincado quando o objeto da reflexão recai sobre a avaliação da experiência em Portugal, mais precisamente a respeito da integração em grupos de investigação portugueses e possibilidades de inserção no mercado de trabalho académico e científico.

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  • Este dado está bem patente nos resultados da análise de entrevistas realizadas a diretores de centros de investigação portugueses no âmbito do projeto MobiScience- PTDC/ESC/64411/2006 - Mobility of scientists in Portugal: trajectories and circulation of knowledge.
  • A visão do fenómeno seria limitada se nos retivéssemos apenas nos aspetos negativos deste tipo específico de mobilidade. Tem-se discutido os efeitos positivos da migração qualificada sobre a formação dos indivíduos e, mesmo, sobre o crescimento económico do país de origem do imigrante.
  • Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior.
  • Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
  • Trata-se de 64% no caso das mulheres e 36% dos homens.
  • Representam 55,7%, apesar de haver 30% de alunos casados ou em união de facto e, ainda, 14,3% de divorciados ou separados.
  • Com uma diferença relativamente grande em relação às outras opções, é a que reúne a maior percentagem.
  • O preconceito em relação à mulher brasileira esteve patente nesta investigação, lembremos que "as mulheres brasileiras parecem ter-se tornado as principais vítimas de estereótipos da sociedade portuguesa, que tende a "exorcizar" a imagem do(a) Brasileiro(a), sendo frequentemente vistas como "exóticas e fáceis", quando não associadas à prostituição" (Malheiros, 2007: 35).
  • Dos que dizem ter algumas e muitas dificuldades, completa no conjunto 70%, somente 28,6% dos inquiridos diz não ter nenhuma dificuldades.
  • Neste estudo, a principal entidade financiadora dos bolseiros de origem brasileira é a FT.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2014

Histórico

  • Recebido
    13 Jan 2014
  • Aceito
    07 Jul 2014
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