Acessibilidade / Reportar erro

Efeito do dióxido de carbono supercrítico em pastas de cimento contendo catalisador residual de FCC

Effect of supercritical carbon dioxide on cement pastes containing waste FCC catalyst

RESUMO

O catalisador residual (CR), oriundo do Craqueamento Catalítico Fluido (FCC) em refinarias de petróleo, tem sido estudado como pozolana em materiais cimentícios para avaliação do desenvolvimento de propriedades mecânicas e durabilidade. Contudo, estudos sobre a degradação destes materiais com dióxido de carbono supercrítico (scCO2) são recentes. Este artigo avalia a degradação de pastas endurecidas com substituição da massa do cimento por CR (0%, 15% e 30% de CR) expostas durante 7 h ao scCO2, na condição de temperatura e pressão estimada para 760 m de profundidade (53,55 °C/12,41 MPa). A densidade das pastas foi fixada em 1,89 g/cm3 e tempo de cura de 28 dias. A formulação das pastas e condição supercrítica visou simular a aplicação na estrutura de um poço onshore no nordeste do Brasil, considerando que o contato com scCO2 aconteça após ao enrijecimento das pastas. A microestrutura foi avaliada por Difratometria de Raios-X (DRX) e Análises Térmicas (TG/DTG e DTA), a rigidez mensurada por dureza superficial Rockwell (HR15T) e áreas carbonatadas calculadas após aspersão da solução indicadora de pH. As pastas com CR possuíram dureza superficial reduzida e maior teor de água livre, indicando maior porosidade em relação a pastas contendo somente cimento. As reações pozolânicas do CR causaram redução parcial do teor de hidróxido de cálcio [Ca(OH)2] e formação de compostos cimentícios [C-S-H, C-A-S-H, C-A-H e Af(t)]. Após a exposição ao scCO2, as pastas com CR possuíram área/profundidade de carbonatação maiores em relação à pasta 0% CR. A formação do CaCO3 acarretou acréscimo da dureza superficial principalmente nas pastas com CR. Devido as reações com scCO2, as pastas contendo CR tiveram compostos cimentícios parcialmente descalcificados, contudo, permanecendo com teores equivalentes ou superiores aos encontrados na pasta 0% CR cuja carbonatação causou redução parcial do Ca(OH)2.

Palavras-chave
Catalisador Residual; FCC; Dióxido de carbono supercrítico; Pasta de cimento

ABSTRACT

The residual catalyst (CR) from Fluid Catalytic Cracking (FCC) in petroleum refineries has been studied as pozzolan in cementitious materials to evaluate the development of mechanical properties and durability. However, studies on the degradation of these materials with supercritical carbon dioxide (scCO2) are recent. This article evaluates the degradation of hardened pastes with replacement of cement mass by CR (0%, 15% and 30% CR) exposed for 7 h to scCO2, in the temperature and pressure condition estimated at 760 m depth (53,55 °C / 12,41 MPa). The density of the slurries was set at 1.89 g/cm3 and curing time of 28 days. The formulation of the slurries and supercritical condition aimed to simulate the application in the structure of an onshore well in the northeast of Brazil, considering that the contact with scCO2 happens after the hardening of the slurries. The microstructure was evaluated by X-ray diffraction (XRD) and Thermal Analysis (TG / DTG and DTA), hardness measured by Rockwell surface hardness (HR15T) and carbonated areas calculated after the pH indicator solution was sprayed. The slurries containing CR had reduced surface hardness and higher free water content, indicating a higher porosity in relation to pure cement slurries. The pozzolanic reactions of CR caused partial reduction of calcium hydroxide [Ca(OH)2] content and formation of cementitious compounds [C-S-H, C-A-S-H, C-A-H and Af(t)]. After exposure to scCO2, the pastes with CR had a larger area/depth of carbonation than the 0% CR paste. The formation of CaCO3 resulted in an increase in surface hardness mainly in the pastes with CR. Due to the reactions with scCO2, the CR-containing pastes had partially decalcified cementitious compounds but remained equivalent to or higher than those found in the 0% CR paste whose carbonatation caused a partial reduction of Ca(OH)2.

Keywords
Residual Catalysts; FCC; Supercritical carbon dioxide; Cement paste

1. INTRODUÇÃO

Os materiais constituídos de cimento Portland são utilizados em ambientes com diversas classes de agressividade. O concreto pode ser aplicado tanto em construções convencionais quanto na imobilização de resíduos ou na criação de barreira contra elementos radioativos [11 GARCÍA-GONZÁLEZ, C. A, GROUH, N., HIDALGO A., et al., “New insights on the use of supercritical carbon dioxide for the accelerated carbonation of cement pastes”, The Journal of Supercritical Fluids, v. 43, n. 3, pp. 500-509, Jan. 2008.]. Além do concreto, as pastas cimentícias podem ser destinadas à cimentação de poços de petróleo em altas profundidades [22 NELSON, E. B. Well cementing fundamentals, Oilfield Review, v. 24, n. 2, pp. 59, Dec. 2012.]. Na maioria dos ambientes onde se encontra o material cimentício está presente o dióxido de carbono (CO2). Os compostos hidratados do cimento Portland podem sofrer degradação/alteração ao contato com o CO2, cujo fenômeno é conhecido como carbonatação [33 TAYLOR, H. F. W. The chemistry of cement, 2 ed., Londres, Ed. Thomas Telford, 1997.].

O mecanismo de ação da carbonatação tem início na difusão do CO2 em poros do material cimentício, encontrando a água intersticial oriunda da umidade relativa do ar ou de infiltração de água de chuvas ou subterrâneas. A água promove a solvatação do CO2 que libera o ácido carbônico e espécies iônicas conforme a Equação 1 [44 BERTOS, M. F., SIMONS, S. J. R., HILLS, C. D., et al., “A review of accelerated carbonation technology in the treatment of cement-based materials and sequestration of CO2”, Journal of hazardous materials, v. 112, n. 3, pp. 193-205, Jul. 2004.,55 KUTCHKO, B. G., STRAZISAR, B.R., DZOMBAK, D. A., et al., “Degradation of well cement by CO2 under geologic sequestration conditions”, Environmental science & technology, v. 41, n. 13, pp. 4787-4792, May. 2007.]. Consequentemente, o pH da solução porosa torna-se ácido causando desequilíbrio iônico que tende a ser normalizado com a liberação do Ca+2 dos componentes hidratados do cimento Portland. A carbonatação torna-se efetiva quanto o ácido carbônico reage com componentes predominantes na pasta cimentícia: o hidróxido de cálcio [Ca(OH)2], o silicato de cálcio hidratado (C-S-H), o trisulfoaluminato de cálcio hidratado [Af(t)- 3CaO.Al2O3.3CaSO4.32H2O)] e o monosulfoaluminato de cálcio hidratado (3CaO.Al2O3.CaSO4.12H2O) conforme, respectivamente, as Equações 2-5 [55 KUTCHKO, B. G., STRAZISAR, B.R., DZOMBAK, D. A., et al., “Degradation of well cement by CO2 under geologic sequestration conditions”, Environmental science & technology, v. 41, n. 13, pp. 4787-4792, May. 2007., 66 ZORNOZA, E., GARCÉS, P., MONZÓ, J., et al., “Accelerated carbonation of cement pastes partially substituted with fluid catalytic cracking catalyst residue (FC3R)”, Cement and concrete composites, v. 31, n. 2, pp. 134-138, Feb. 2009., 77 LI Z., WANG Z., “Researches on Concrete Carbonation”, Applied Mechanics and Materials, v. 357-360, pp. 737-742, Aug. 2013., 88 ZHANG, M., ZHANG, W., SUN, Y., “Durability of Concrete with Nano-particles under Combined Action of Carbonation and Alkali Silica Reaction”, Journal of Asian Architecture and Building Engineering, v. 18, n. 5, pp. 421-429, Out. 2019.]

C O 2 ( a q ) + H 2 O H 2 C O 3 ( a q ) H + + H C O 3 - 2 H + + C O 3 2 - (1)
C a ( O H ) 2 ( a q ) + H 2 C O 3 C a C O 3 + 2 H 2 O (2)
x C a O . y S i O 2 . z H 2 O + x H 2 C O 3 x C a C O 3 + y S i O 2 . t H 2 O + ( x - t + z ) H 2 O (3)
3 C a O . A l 2 O 3 . C a S O 4 . 32 H 2 O + 3 H 2 C O 3 3 C a C O 3 + 2 A l ( O H ) 3 + 3 C a S O 4 . 2 H 2 O + 26 H 2 O (4)
3 C a O . A l 2 O 3 . C a S O 4 . 12 H 2 O + 3 H 2 C O 3 3 C a C O 3 + 2 A l ( O H ) 3 + C a S O 4 . 2 H 2 O + 10 H 2 O (5)

Em momentos iniciais a reação do ácido carbônico é cineticamente favorecida com o hidróxido de cálcio (Equação 2). À medida que o teor de Ca(OH)2 é esgotado, o ácido carbônico reage com o C-S-H e o Af(t,m) (Equações 3-5). Durante a carbonatação, os grãos anidros do cimento podem hidratar, formando novos compostos hidratados que são posteriormente carbonatados [99 COSTA, B., FREITAS, J. C., SANTOS, P. H. S., et al., “Study of carbonation in a class G Portland cement matrix at supercritical and saturated environments”, Construction and Building Materials, v. 180, pp. 308-319, Aug. 2018., 1010 URBONAS, L., LENO, V., HEINZ, D., “Effect of carbonation in supercritical CO2 on the properties of hardened cement paste of different alkalinity”, Construction and Building Materials, v. 123, pp. 704-711, Oct. 2016., 1111 GARCÍA-GONZÁLEZ, C., HIDALGO, A., ANDRADE, C. et al., “Modification of composition and microstructure of Portland cement pastes as a result of natural and supercritical carbonation procedures”, Industrial & Engineering Chemistry Research, v. 45, pp. 4985–4992, Jun. 2006., 1212 SANTRA, A., REDDY, B. R., LIANG, F., et al., “Reaction of CO2 with Portland cement at Downhole Conditions and the Role of Pozzolanic Supplements”, SPE International Symposium on Oilfield Chemistry, v. 3, n. 1, pp. 1–9, Apr. 2009., 1313 PURNELL, P., SHORT, N.R., PAGE, C.L., “Super-critical carbonation of glass-fibre reinforced cement. Part 1: mechanical testing and chemical analysis”, Composites Part A: Applied Science and Manufacturing, v. 32, pp. 1777–1787, Dec. 2001.]. As reações de carbonatação (Equações 2-5) resultam na liberação da água, calor e na precipitação carbonato de cálcio em poros principalmente com morfologia associada a calcita [1111 GARCÍA-GONZÁLEZ, C., HIDALGO, A., ANDRADE, C. et al., “Modification of composition and microstructure of Portland cement pastes as a result of natural and supercritical carbonation procedures”, Industrial & Engineering Chemistry Research, v. 45, pp. 4985–4992, Jun. 2006.]. O volume molar da calcita, com estrutura trigonal, é 17% maior que o volume molar do hidróxido de cálcio, com isso os espaços vazios na microestrutura da pasta são preenchidos, aumentando a densidade da pasta e tende a reduzir a taxa de difusão do CO2 nos poros da pasta cimentícia [1111 GARCÍA-GONZÁLEZ, C., HIDALGO, A., ANDRADE, C. et al., “Modification of composition and microstructure of Portland cement pastes as a result of natural and supercritical carbonation procedures”, Industrial & Engineering Chemistry Research, v. 45, pp. 4985–4992, Jun. 2006.]. Neste estágio, a pasta carbonatada caracteriza-se por incremento na dureza e resistência mecânica [1313 PURNELL, P., SHORT, N.R., PAGE, C.L., “Super-critical carbonation of glass-fibre reinforced cement. Part 1: mechanical testing and chemical analysis”, Composites Part A: Applied Science and Manufacturing, v. 32, pp. 1777–1787, Dec. 2001.].

Ao passo que o teor de cálcio se torna escasso nas fases hidratadas do cimento, o ácido carbônico reage com o carbonato de cálcio (Equação 6) [44 BERTOS, M. F., SIMONS, S. J. R., HILLS, C. D., et al., “A review of accelerated carbonation technology in the treatment of cement-based materials and sequestration of CO2”, Journal of hazardous materials, v. 112, n. 3, pp. 193-205, Jul. 2004.], formando o bicarbonato de cálcio [Ca(HCO3)2]. Este composto é solúvel e tende a lixiviar da pasta, resultando em espaços vazios na microestrutura da pasta que facilitam a difusão de fluidos corrosivos e o avanço da degradação às camadas centrais do material [55 KUTCHKO, B. G., STRAZISAR, B.R., DZOMBAK, D. A., et al., “Degradation of well cement by CO2 under geologic sequestration conditions”, Environmental science & technology, v. 41, n. 13, pp. 4787-4792, May. 2007., 1212 SANTRA, A., REDDY, B. R., LIANG, F., et al., “Reaction of CO2 with Portland cement at Downhole Conditions and the Role of Pozzolanic Supplements”, SPE International Symposium on Oilfield Chemistry, v. 3, n. 1, pp. 1–9, Apr. 2009., 1414 HIDALGO A., DOMINGO, C., GARCIA, C., et al., “Microstructural characterization of leaching effects in cement pastes due to neutralisation of their alkaline nature: Part I: Portland cement pastes”, Cement and Concrete Research, v. 37, n. 1, pp, 63-70, Jan. 2007.]. O aumento da porosidade e permeabilidade da pasta origina-se principalmente da descalcificação do C-S-H cujo volume molar é superior ao do carbonato de cálcio precipitado e devido à possível liberação de sílica amorfa (SiOxOHx) da matriz do cimento [55 KUTCHKO, B. G., STRAZISAR, B.R., DZOMBAK, D. A., et al., “Degradation of well cement by CO2 under geologic sequestration conditions”, Environmental science & technology, v. 41, n. 13, pp. 4787-4792, May. 2007.].

C a C O 3 + H 2 C O 3 C a ( H C O 3 ) 2 (6)

No estágio final da carbonatação, a microestrutura da pasta de cimento é composta basicamente por gel de sílica (SiOxOHx) contendo mais espaços vazios e, consequentemente, com menor capacidade mecânica do que o C-S-H que lhe deu origem [55 KUTCHKO, B. G., STRAZISAR, B.R., DZOMBAK, D. A., et al., “Degradation of well cement by CO2 under geologic sequestration conditions”, Environmental science & technology, v. 41, n. 13, pp. 4787-4792, May. 2007., 1111 GARCÍA-GONZÁLEZ, C., HIDALGO, A., ANDRADE, C. et al., “Modification of composition and microstructure of Portland cement pastes as a result of natural and supercritical carbonation procedures”, Industrial & Engineering Chemistry Research, v. 45, pp. 4985–4992, Jun. 2006.]. A pasta cimentícia no estágio de bicarbonatação eleva riscos de surgimento de fissuras em detrimento da capacidade confinante à fluidos [55 KUTCHKO, B. G., STRAZISAR, B.R., DZOMBAK, D. A., et al., “Degradation of well cement by CO2 under geologic sequestration conditions”, Environmental science & technology, v. 41, n. 13, pp. 4787-4792, May. 2007., 1111 GARCÍA-GONZÁLEZ, C., HIDALGO, A., ANDRADE, C. et al., “Modification of composition and microstructure of Portland cement pastes as a result of natural and supercritical carbonation procedures”, Industrial & Engineering Chemistry Research, v. 45, pp. 4985–4992, Jun. 2006.]. Na condição atmosférica o estágio avançado da carbonatação normalmente acontece em longos períodos. Contudo, a degradação das pastas pode variar com parâmetros tais como concentrações elevadas do CO2, maiores pressões parciais, umidade relativa entre 50-70%, temperaturas em torno de 60 °C ou em contato com dióxido de carbono supercrítico (scCO2) [44 BERTOS, M. F., SIMONS, S. J. R., HILLS, C. D., et al., “A review of accelerated carbonation technology in the treatment of cement-based materials and sequestration of CO2”, Journal of hazardous materials, v. 112, n. 3, pp. 193-205, Jul. 2004.].

No caso da carbonatação em condição supercrítica, as reações ocorrem sob influência da temperatura e pressão acima do ponto crítico do dióxido de carbono (31,1 °C/7,28 MPa). O dióxido de carbono em estado supercrítico exibe densidade similar à da água, porém exibe baixa tensão superficial, o que lhe confere facilidade de ingresso em microporos de pastas cimentícias [1515 ABID, K., GHOLAMI, R., CHOATE, P., et al., “Review on cement degradation under CO2-rich environment of sequestration projects”, Journal of Natural Gas Science and Engineering, v. 27, pp. 1149–1157, Nov. 2015.]. Além disso, a solubilidade do scCO2 é elevada com a pressão, então maiores concentrações de ácido carbônico são formadas na solução porosa que tornam o pH ácido, com valores próximos a 2,9 [1010 URBONAS, L., LENO, V., HEINZ, D., “Effect of carbonation in supercritical CO2 on the properties of hardened cement paste of different alkalinity”, Construction and Building Materials, v. 123, pp. 704-711, Oct. 2016.]. Contudo, a solubilidade do CO2 pode ser diminuída por conteúdo de sais ou álcalis dissolvidos na solução porosa [1010 URBONAS, L., LENO, V., HEINZ, D., “Effect of carbonation in supercritical CO2 on the properties of hardened cement paste of different alkalinity”, Construction and Building Materials, v. 123, pp. 704-711, Oct. 2016.].

As pastas para cimentação de poços de petróleo são comumente testadas quanto a resistência ao scCO2 em reatores preenchidos parcialmente com salmoura (água com sais dissolvidos) e scCO2 úmido [1515 ABID, K., GHOLAMI, R., CHOATE, P., et al., “Review on cement degradation under CO2-rich environment of sequestration projects”, Journal of Natural Gas Science and Engineering, v. 27, pp. 1149–1157, Nov. 2015.]. Em ambientes profundos, com o avanço da profundidade, a temperatura e pressão aumentam conforme o gradiente geotérmico, além da possibilidade de haver sais, água e dióxido de carbono nas formações rochosas [22 NELSON, E. B. Well cementing fundamentals, Oilfield Review, v. 24, n. 2, pp. 59, Dec. 2012., 1616 THOMAS, J. E., Fundamentos de Engenharia de Petróleo, Editora Interciência, Rio de Janeiro, 2001., 1717 NG‘ANG‘A, S. I., “Cementing Processes in Geothermal Well Drilling: Application and Techniques”, Geothermal Trainning Programme, United Nations University. Iceland, 2014.]. A exposição da pasta ao scCO2 pode acontecer no momento da cimentação, com a pasta fluida, quando atinge reservatórios geológicos naturais do CO2 [1818 COSTA, B. L., FREITAS, J. C., SANTOS, P. H., et al., “Carbonation in oil well Portland Cement: Influence of hydration time prior to contact with CO2”, Construction and Building Materials, v. 159, pp. 252-260, Jan. 2018., 1919 RUBIN, E., CONINCK, H., “IPCC special report on carbon dioxide capture and storage”, UK: Cambridge University Press, TNO (2004): Cost Curves for CO2 Storage, Part, v. 2, pp. 14, 2005.]. De outro modo, a pasta de cimento endurecida pode entrar em contato com o scCO2 injetado com finalidade de armazenamento em campos de petróleo esgotados (Carbon Capture & Storage - CCS) ou com a finalidade de recuperação avançada de petróleo (Enhanced Oil Recovery -EOR) [1818 COSTA, B. L., FREITAS, J. C., SANTOS, P. H., et al., “Carbonation in oil well Portland Cement: Influence of hydration time prior to contact with CO2”, Construction and Building Materials, v. 159, pp. 252-260, Jan. 2018., 1919 RUBIN, E., CONINCK, H., “IPCC special report on carbon dioxide capture and storage”, UK: Cambridge University Press, TNO (2004): Cost Curves for CO2 Storage, Part, v. 2, pp. 14, 2005.].

No caso de poços de petróleo, o confinamento é parâmetro fundamental para o sucesso do armazenamento subterrâneo de CO2 ou outros fluidos contidos em formações geológicas. A capacidade confinante de um poço é limitada não somente por rachaduras/fraturas da formação rochosa em torno do poço, mas também pela possibilidade de falhas oriundas da alteração/degradação do cimento exposto a scCO2 [1818 COSTA, B. L., FREITAS, J. C., SANTOS, P. H., et al., “Carbonation in oil well Portland Cement: Influence of hydration time prior to contact with CO2”, Construction and Building Materials, v. 159, pp. 252-260, Jan. 2018.]. A durabilidade de pastas cimentícias expostas ao scCO2 envolve, entre as alternativas, a mistura do cimento com materiais com função pozolânica. A capacidade pozolânica do material consiste na reação com o Ca(OH)2 formado durante a hidratação do cimento, formando compostos cimentícios tais como silicato de cálcio hidratado (C-S-H), o silico aluminato de cálcio hidratado (C-A-S-H) e o aluminato de cálcio hidratado (C-A-H). Devido a isso, os materiais pozolânicos podem causar o preenchimento de espaços vazios na microestrutura da pasta pelos compostos cimentícios produzidos, além de reduzir a concentração do Ca(OH)2 que é suscetível a degradação química, conferindo durabilidade às pastas [33 TAYLOR, H. F. W. The chemistry of cement, 2 ed., Londres, Ed. Thomas Telford, 1997.].

Várias pesquisas surgiram para investigar a degradação de pastas produzidas parcialmente com materiais pozolânicos em contato com scCO2. ONAN [2020 ONAN D., “Effects of Supercritical Carbon Dioxide on Well Cements”, Permian Basin Oil and Gas Recovery Conference, Society of Petroleum Engineers of AIME, Midland, Texas, 1984.] descobriu que pastas cimentícias contendo pozolanas, com teor elevado de sílica, têm menor susceptibilidade na lixiviação do cálcio e a permeabilidade é mantida baixa por tempos mais longos e concluiu que a pasta contendo maior teor de pozolana tem diminuição na densidade no estado fluído, sendo recomendável em formações com baixa pressão de fratura. SANTRA et al. [1212 SANTRA, A., REDDY, B. R., LIANG, F., et al., “Reaction of CO2 with Portland cement at Downhole Conditions and the Role of Pozzolanic Supplements”, SPE International Symposium on Oilfield Chemistry, v. 3, n. 1, pp. 1–9, Apr. 2009.] testaram pastas de cimento com sílica escura e cinza volante que, após exposição ao scCO2, mostraram maiores áreas carbonatadas, contudo mantendo concentrações de compostos cimentícios tais como o C-S-H e Ca(OH)2. BRANDL et al. [2121 BRANDL, A., CUTLER, J., SEHOLM, A., et al., “Cementing Solutions for Corrosive Well Environments”, Society of Petroleum Engineers, Beijing, China, v. 26, n. 2, Jun. 2010.] verificaram que pastas produzidas com pozolana tiveram acréscimo na resistência à tração, redução do módulo elástico e do coeficiente de Poisson após 6 meses de exposição ao scCO2.

Entre os materiais pozolânicos, encontram-se os resíduos industriais a exemplo do Catalisador Residual (CR) do Craqueamento Catalítico Fluido (FCC) gerado na indústria petroquímica. A composição rica em sílica e alumina deste resíduo incentivou a aplicação em materiais cimentícios que comprovaram a atividade pozolânica, à partir do consumo do Ca(OH)2 e formação do C-S-H, C-A-S-H, C-A-H e AF(t), bem como a aceleração na hidratação do cimento Portland [2222 CASTELLANOS, N. e AGREDO, J., “Using spent fluid catalytic cracking (FCC) catalyst as pozzolanic addition — a review”, Ingeniería e Investigación, v. 30, n. 2, pp. 35-42, Aug. 2010., 2323 SILVA, F., JUNIOR, R., SILVA, J., et al., “Consumption of calcium hydroxide and formation of C–S–H in cement pastes”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v. 116, n. 1, pp. 287–293, Apr. 2014., 2424 SILVA, F., JUNIOR, R., SILVA, J., et al., “Hydration of the equilibrium catalyst (Ecat) calcium hydroxide system Thermogravimetric study of the formation of main hydrated phases”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v.120, n. 2, pp. 1089–1098, May. 2015., 2525 AL-JABRI, K., BAAWAIN, M., TAHA, R., et al., “Potential use of FCC spent catalyst as partial replacement of cement or sand in cement mortars”, Construction and Building Materials, v. 39, pp. 77-81, Feb. 2013., 2626 GARCES, P., GLASSER, F., BREW, D., et al., “Pozzolanic activity of a spent fluid catalytic cracking catalyst residue”, Advances in Cement Research, v. 23, n 3, pp. 105-111, May. 2011., 2727 PAYÁ, J., MONZÓ, J., BORRACHERO, M. V., et al., “Pozzolanic reaction rate of fluid catalytic cracking catalyst residue (FC3R) in cement pastes”, Advances in Cement Research, v. 25 n. 2, pp. 112–118, Feb. 2013., 2828 FERELLA, F., INNOCENZI, V. MAGGIORE, “Oil refining spend catalysts: A review of possible recycling technologies”, Resources, Conservation and Recycling, v. 108, pp. 10-20, Jan. 2016., 2929 CUNHA A., SANTOS, L., SERGIO, M., et al., “A study of the particle size effect on the pozzolanic activity of an equilibrium catalyst”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v. 106, n. 3, pp. 805-809, Mar. 2011., 3030 PINTO C, BUCHLER P, DWECK J., “Pozzolanic properties of a residual fcc catalyst during the early stages of cement hydration—evaluation by thermal analysis”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v. 87, n. 3, pp. 715-720, Mar. 2007.]. A geração do catalisador residual está associada a alta demanda pelo processo de FCC que promove o refino de hidrocarbonetos com longas cadeias, convertendo-os em gasolina ou outros produtos de maior valor econômico, cujo processo demanda menor dispêndio energético [2222 CASTELLANOS, N. e AGREDO, J., “Using spent fluid catalytic cracking (FCC) catalyst as pozzolanic addition — a review”, Ingeniería e Investigación, v. 30, n. 2, pp. 35-42, Aug. 2010.]. A utilização deste resíduo em materiais cimentícios tem importância por amenizar problemas associados à crescente geração e ao acúmulo do catalisador residual em aterros industriais.

Os materiais cimentícios contendo catalisador residual tem despertado interesse dos pesquisadores para utilização em ambientes mais agressivos. Pesquisas demonstraram que estes materiais possuíram resistência a carbonatação em processos naturais e acelerados, a ação de íons cloretos e sulfatos, assim como a ciclos gelo e degelo [66 ZORNOZA, E., GARCÉS, P., MONZÓ, J., et al., “Accelerated carbonation of cement pastes partially substituted with fluid catalytic cracking catalyst residue (FC3R)”, Cement and concrete composites, v. 31, n. 2, pp. 134-138, Feb. 2009., 2222 CASTELLANOS, N. e AGREDO, J., “Using spent fluid catalytic cracking (FCC) catalyst as pozzolanic addition — a review”, Ingeniería e Investigación, v. 30, n. 2, pp. 35-42, Aug. 2010., 3131 ZORNOZA E, GARCÉS, P., PAYÁ, J., et al., “Improvement of the chloride ingress resistance of OPC mortars by using spent cracking catalyst”, Cement and Concrete Composites. v. 39, n. 2, pp. 126-139, Feb. 2009.]. Contudo, a investigação sobre a degradação de matrizes cimentícias contendo o CR expostas ao dióxido de carbono supercrítico (scCO2) é recente.

A pesquisa de SILVA et al. [3232 SILVA, J., MACHADO, C. L., SOUSA, L. R., et al., “Avaliação da temperatura e pressão na carbonatação de pastas de cimento contendo resíduo catalítico de UFCC em condições supercríticas”, Em: 23° Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais. 23 CBECIMAT, Foz do Iguaçu, Brasil, 4-8 de Novembro de 2018.] avaliou pastas com substituição à massa do cimento Portland Classe G nos teores de 0%, 15% e 30% por Catalisador Residual ou Catalisador de Equilíbrio (Ecat) em reator preenchido com scCO2, durante 7 horas, com as seguintes condições de temperatura e pressão: 42 °C/14 MPa; 78 °C/14 MPa; 78 °C/26 MPa. Segundo estes pesquisadores, a pasta contendo 15% de Ecat produziu menos carbonato de cálcio e manteve o C-S-H, principalmente na condição de maior pressão. Além disso, constataram diferentes efeitos da degradação nas pastas constituídas somente com cimento daquelas que possuíam Ecat de acordo com a condição de temperatura e pressão do scCO2.

Sabendo-se que a pasta de cimento sofre deterioração variável quando exposta à diferentes condições de pressão e temperatura do scCO2 e a depender da composição dos materiais (cimento, pozolana, adições minerais, por exemplo) utilizados para produzi-la [1212 SANTRA, A., REDDY, B. R., LIANG, F., et al., “Reaction of CO2 with Portland cement at Downhole Conditions and the Role of Pozzolanic Supplements”, SPE International Symposium on Oilfield Chemistry, v. 3, n. 1, pp. 1–9, Apr. 2009., 1313 PURNELL, P., SHORT, N.R., PAGE, C.L., “Super-critical carbonation of glass-fibre reinforced cement. Part 1: mechanical testing and chemical analysis”, Composites Part A: Applied Science and Manufacturing, v. 32, pp. 1777–1787, Dec. 2001., 1414 HIDALGO A., DOMINGO, C., GARCIA, C., et al., “Microstructural characterization of leaching effects in cement pastes due to neutralisation of their alkaline nature: Part I: Portland cement pastes”, Cement and Concrete Research, v. 37, n. 1, pp, 63-70, Jan. 2007.,1515 ABID, K., GHOLAMI, R., CHOATE, P., et al., “Review on cement degradation under CO2-rich environment of sequestration projects”, Journal of Natural Gas Science and Engineering, v. 27, pp. 1149–1157, Nov. 2015., 1818 COSTA, B. L., FREITAS, J. C., SANTOS, P. H., et al., “Carbonation in oil well Portland Cement: Influence of hydration time prior to contact with CO2”, Construction and Building Materials, v. 159, pp. 252-260, Jan. 2018., 1919 RUBIN, E., CONINCK, H., “IPCC special report on carbon dioxide capture and storage”, UK: Cambridge University Press, TNO (2004): Cost Curves for CO2 Storage, Part, v. 2, pp. 14, 2005., 2020 ONAN D., “Effects of Supercritical Carbon Dioxide on Well Cements”, Permian Basin Oil and Gas Recovery Conference, Society of Petroleum Engineers of AIME, Midland, Texas, 1984., 2121 BRANDL, A., CUTLER, J., SEHOLM, A., et al., “Cementing Solutions for Corrosive Well Environments”, Society of Petroleum Engineers, Beijing, China, v. 26, n. 2, Jun. 2010., 3232 SILVA, J., MACHADO, C. L., SOUSA, L. R., et al., “Avaliação da temperatura e pressão na carbonatação de pastas de cimento contendo resíduo catalítico de UFCC em condições supercríticas”, Em: 23° Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais. 23 CBECIMAT, Foz do Iguaçu, Brasil, 4-8 de Novembro de 2018.]. Verifica-se que além de serem escassos os estudos sobre pastas contendo o catalisador residual expostas ao scCO2, houve a avaliação de condições de pressão e temperatura do scCO2 sem a correlação com situações reais [3232 SILVA, J., MACHADO, C. L., SOUSA, L. R., et al., “Avaliação da temperatura e pressão na carbonatação de pastas de cimento contendo resíduo catalítico de UFCC em condições supercríticas”, Em: 23° Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais. 23 CBECIMAT, Foz do Iguaçu, Brasil, 4-8 de Novembro de 2018.]. Então, para viabilizar o uso do catalisador residual torna-se necessário investigar um cenário mais realístico de exposição. O objetivo deste artigo é avaliar a deterioração de pastas endurecidas contendo catalisador residual como substituto parcial do cimento expostas ao scCO2 em uma condição de temperatura e pressão de regiões profundas, a exemplo, de um poço de petróleo.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Materiais

Na produção das pastas foram utilizados o Cimento Portland Especial para Poços de Petróleo (CPP), em conformidade com a NBR 9831 [3333 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9831: Cimento Portland destinado à cimentação de poços petrolíferos. Rio de Janeiro, 2008.] e o Catalisador Residual (CR), sem tratamentos, com massa específica de 3,205 kg/m³ e 2,801 kg/m³, respectivamente. A hidratação das pastas foi feita com água destilada. As composições químicas dos materiais são apresentadas na Tabela 1. A Figura 1 apresenta as curvas obtidas nas análises térmicas (TG/DTG e DTA) dos materiais.

Tabela 1
Composição química do Cimento para Poços de Petróleo (CPP) e do Catalisador Residual (CR)
Figura 1
Análises térmicas (TG/DTG e DTA) do Cimento Especial para Poços de Petróleo (CPP) (a) e do Catalisador Residual (b).

O Cimento Especial para Poços de Petróleo (CPP) tem 92,08% da sua composição formada pelos seguintes óxidos: CaO, SiO2, Fe2O3 e SO3 (Tabela 1) e a perda ao fogo de 0,50%, portanto inferior a máxima (2,00%) requerida pela NBR 9831 [3333 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9831: Cimento Portland destinado à cimentação de poços petrolíferos. Rio de Janeiro, 2008.]. A curva DTA do cimento (Figura 1) mostra picos relacionado aos eventos endotérmicos: em 35 °C devido à evaporação da água livre, entre 35-250 °C, associado a desidratação de compostos hidratados [C-S-H e Af(t,m)] e a gipsita (CaSO4.2H2O), entre 380-500 °C, pela desidroxilação do Ca(OH)2 e, entre 500-700 °C, relacionado à decomposição do carbonato de cálcio [3434 COLLIER N.C., “Transition and decomposition temperatures of cement phases – a collection of thermal analysis data”, Ceramics-Silikaty, v. 60, pp. 338-343, Jul. 2016.]. A perda de massa do cimento foi até 500°C foi de aproximadamente 0,25%, sendo oriunda, principalmente, da água livre absorvida da umidade do ar e pela desidratação de compostos hidratados (C-S-H, AF(t,m) e Ca(OH)2). Enquanto pico do carbonato de cálcio surge da carbonatação do Ca(OH)2 com CO2 presente na atmosfera (Equação 2).

No difratograma do cimento e do CR encontram-se na Figura 2. A quantificação por Rietveld para o cimento CPP encontra-se na Tabela 2.

Figura 2
Difratogramas do Cimento Especial para Poços de Petróleo (CPP) [Fichas cristalográficas: C3S (ICSD
Tabela 2
Quantificação de fases cristalinas do CPP por Rietveld e limites normativos NBR 9831.

No difratograma de raios-X do cimento (Figura 2) foram identificadas as fases: silicato tricálcico - C3S (Ca3SiO5), silicato dicálcico - C2S (Ca2SiO4), com estruturas α-C2S, β-C2S e γ-C2S [33 TAYLOR, H. F. W. The chemistry of cement, 2 ed., Londres, Ed. Thomas Telford, 1997.], aluminato tricálcico - C3A (Ca3Al2O6), ferroaluminato tetracálcico - C4AF (Ca2AlFeO5), gipsita (CaSO4.2H2O), óxido de magnésio MgO e óxido de cálcio - CaO. As fases CaCO3 e Ca(OH)2 também foram identificadas nos difratogramas de raios-X do cimento, corroborando com as análises térmicas (Figura 1). O teor de C3S no CPP foi de 67,83%, sendo superior ao máximo de 60% requerido pela norma [3333 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9831: Cimento Portland destinado à cimentação de poços petrolíferos. Rio de Janeiro, 2008.]. O teor de C2S com estruturas polimorfas corresponderam à 14,05% do cimento. As fases de silicato de cálcio, ao hidratar, formam principalmente o C-S-H responsável pelo desenvolvimento da resistência mecânica da pasta [33 TAYLOR, H. F. W. The chemistry of cement, 2 ed., Londres, Ed. Thomas Telford, 1997.]. O C3A foi quantificado em 2,19%, este baixo percentual indica que CPP possui resistência aos íons sulfato [33 TAYLOR, H. F. W. The chemistry of cement, 2 ed., Londres, Ed. Thomas Telford, 1997.]. O teor C3A e o cálculo C4AF+2(C3A) em 2,19% e 13%, respectivamente, atendem aos limites normativos da NBR 9831 (Tabela 2) [3333 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9831: Cimento Portland destinado à cimentação de poços petrolíferos. Rio de Janeiro, 2008.].

Conforme a Tabela 01, o Catalisador Residual (CR) apresentou teores de sílica (SiO2), alumina (Al2O3) e óxido de ferro (Fe2O3) em 92,64% (>90%) e a perda ao fogo de 2,45% (<6%) que o classificam quimicamente como um material pozolanico de acordo com a NBR12653 [3535 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12653: Materiais Pozolânicos- Requisitos. Rio de Janeiro, 2015.]. O difratograma do CR (Figura 2) revelou picos de baixa intensidade das fases Caulinita [Al2Si2O5(OH)4] e Faujasita (Al60.352Si139O371.52H5.984). A presença de halos na linha de base do difratograma de raios-X (2θ = 20°- 30° e 2θ=45°) surgem devido a difusão causada pelo material amorfo. Os picos de baixa intensidade das fases cristalinas e indícios do material amorfo se relacionam à deterioração da estrutura cristalina do catalisar original por aquecimento e ação de elementos químicos como o vanádio (V) durante processos de craqueamento catalítico [44 BERTOS, M. F., SIMONS, S. J. R., HILLS, C. D., et al., “A review of accelerated carbonation technology in the treatment of cement-based materials and sequestration of CO2”, Journal of hazardous materials, v. 112, n. 3, pp. 193-205, Jul. 2004.,2828 FERELLA, F., INNOCENZI, V. MAGGIORE, “Oil refining spend catalysts: A review of possible recycling technologies”, Resources, Conservation and Recycling, v. 108, pp. 10-20, Jan. 2016.].

Nas curvas térmicas [Figura 1 (b)], nota-se que 1,75% da perda de massa do catalisador residual corresponde à evaporação da água livre e/ou fisicamente adsorvida na estrutura da faujasita e nos poros do catalisador. A liberação da água adsorvida ocorre em maiores temperaturas como evidencia o pico endotérmico até 140 °C na curva DTA do CR na Figura 1(b) [3636 FÖLDVÁRI, M., Handbook of thermogravimetric system of minerals and its use in geological practice, Budapest, Geological Institute of Hungary, 2011.,3737 DWECK, J., PINTO, C., BÜCHLER, P. M., et al., “Study of a Brazilian spent catalyst as cement aggregate by thermal and mechanical analysis”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v. 92, pp. 121-127, Jun. 2008.]. Nas curvas térmicas [Figura 1 (b)], entre 200 – 600°C, ocorre a desidroxilização da caulinita [3636 FÖLDVÁRI, M., Handbook of thermogravimetric system of minerals and its use in geological practice, Budapest, Geological Institute of Hungary, 2011.,3838 GARDOLINSKI, J. E., MARTINS FILHO, H. P., WYPYCH, F., “Comportamento térmico da caulinita hidratada”, Química Nova, v. 26, n. 1, pp. 30-35, Jan./Feb. 2003.] e, entre 600 - 800 °C, da faujasita [3939 ALMEIDA, K., MARTINS, L., CARDOSO, D., “Preparação e propriedades de zeólitas faujasita contendo cátions amônio”, Química Nova, v. 33, n. 5, pp. 1077-1081, May. 2010.]. A perda de massa destes eventos juntos correspondeu a 0,43%, além de serem visualizados em picos de baixa intensidade nas curvas DTG e DTA. Isto ocorre, pois, estas fases contidas no catalisador residual já sofreram a desidroxilação durante processos de aquecimento no regenerador [3737 DWECK, J., PINTO, C., BÜCHLER, P. M., et al., “Study of a Brazilian spent catalyst as cement aggregate by thermal and mechanical analysis”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v. 92, pp. 121-127, Jun. 2008.].

2.2 Métodos

O procedimento experimental foi realizado com a caracterização dos materiais, produção das pastas cimentícias e exposição das pastas em reator contendo o dióxido de carbono supercrítico. Após a carbonatação, foram medidas a dureza superficial das pastas, análises físico-químicas (TG/DTG, DTA e DRX) e avaliação da área carbonatada posteriormente à aspersão da solução indicadora de pH.

A composição química dos materiais foi determinada por Fluorescência de Raios-X (FRX), com equipamento S8 Tiger-Bruker e massa específica obtida pelo Picnômetro a Gás (Micromeritics AccuPyc II 1340), utilizando o gás hélio. A microestrutura dos materiais e das pastas foi determinada por Análises Térmicas (TG/DTG e DTA) com o analisador térmico da Shimadzu (DTG-60H), com aproximadamente 10 mg da amostra e programação em etapas de acordo com Dweck et al. [3737 DWECK, J., PINTO, C., BÜCHLER, P. M., et al., “Study of a Brazilian spent catalyst as cement aggregate by thermal and mechanical analysis”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v. 92, pp. 121-127, Jun. 2008.] descritas a seguir: Etapa 1- aquecimento inicial até 35 °C; Etapa 2- isoterma a 35 °C durante 1 h e, Etapa 3- aquecimento a razão de 10 °C/min até 1000 °C, sob fluxo de nitrogênio de 50 ml/min. A caracterização mineralógica dos materiais e das pastas foi determinada por Difratometria de Raios-X (DRX) com o difratômetro Shimadzu (XRD 6000) com ânodo de cobre, passo de 0,5°/min, com faixa de varredura de 5-60° (2θ) e identificação das fases cristalinas a partir de fichas cristalográficas do Banco de Dados de Estruturas Cristalinas Inorgânicas (Inorganic Crystal Structure Database, ISCD). As fases cristalinas do cimento foram quantificadas pelo método de Rietveld [4040 RIETVELD, H., “A profile refinement method for nuclear and magnetic structures”, Journal of applied Crystallography, v. 2, n. 2, pp. 65-71, Jun. 1969.] através do programa GSAS II (General Structure and Analysis System II) [4141 TOBY, B., VON DREELE, R., “GSAS-II: the genesis of a modern open-source all purpose crystallography software package”, Journal of Applied Crystallography, v. 46, n. 2, pp. 544-549, Apr. 2013.]. A cada etapa foi verificada à diminuição do resíduo entre o perfil observado e o calculado pelo Rwp (R-perfil ponderado) e quando o indicador GOF (Godness of fit) for menor que 5 para obter um refinamento otimizado [4242 GOBBO, L., “Aplicação da difração de raios-X e método de Rietveld no estudo de cimento Portland”, Tese de D.Sc., Universidade de São Paulo, 2009.].

A formulação das pastas e condição de temperatura e pressão do scCO2 teve o objetivo de simular aplicação na cimentação de poço de petróleo onshore na região nordeste do Brasil. A condição de temperatura e pressão foi definida partir do gradiente geotérmico 13,18 °C/1000 m e profundidade média de 760 m, resultando em 53,55°C e 12,41 MPa. Na simulação foi considerado que o contato com o scCO2 ocorra após o endurecimento da pasta, por exemplo, em situações de injeção do CO2 sob pressão tais como Carbon Capture & Storage e Enhanced Oil Recovery [1818 COSTA, B. L., FREITAS, J. C., SANTOS, P. H., et al., “Carbonation in oil well Portland Cement: Influence of hydration time prior to contact with CO2”, Construction and Building Materials, v. 159, pp. 252-260, Jan. 2018.,1919 RUBIN, E., CONINCK, H., “IPCC special report on carbon dioxide capture and storage”, UK: Cambridge University Press, TNO (2004): Cost Curves for CO2 Storage, Part, v. 2, pp. 14, 2005.].

A densidade das pastas é definida de acordo com a pressão hidrostática exercida pela pasta fluida necessária para o preenchimento do espaço anelar do poço e a pressão hidrostática limitada pela resistência da formação rochosa. As pastas foram produzidas com a densidade de 15,8 lb/gal (1,89 g/cm3) que tem sido utilizada para pastas de cimentação expostas ao scCO2 [99 COSTA, B., FREITAS, J. C., SANTOS, P. H. S., et al., “Study of carbonation in a class G Portland cement matrix at supercritical and saturated environments”, Construction and Building Materials, v. 180, pp. 308-319, Aug. 2018., 4343 AIEX, C., CAMPOS, G., DESHPANDE, A., et al., “An experimental study on effects of static CO2 on cement under high-pressure/high-temperature conditions”, In: Offshore Technology Conference. SPE, Houston, Texas, USA, pp. 04-07, May. 2015.]. Segundo NELSON [4444 NELSON, E. B. Well cementing, 1 ed, Newnes, Elsevier Science, 1990.], o uso da densidade 16 lb/gal (1,93 g/cm3) em pastas de cimento Portland é comumente empregada pois conferem valores extremamente baixos de permeabilidade e podem ser fixadas no espaço anelar entre a formação rochosa e o tubo de revestimento de um poço de petróleo sem perturbações. Em baixas profundidades podem ser utilizadas menores densidades caso a formação rochosa seja frágil, considerando limite inferior recomendável entre 11,0 e 12,0 lb/gal, abaixo dos quais ocorre detrimento das propriedades mecânicas e a alta permeabilidade devido ao aumento da relação água/cimento [4444 NELSON, E. B. Well cementing, 1 ed, Newnes, Elsevier Science, 1990.].

A formulação das pastas foi feita conforme o estabelecido pela API RP10B-2 [4545 AMERICAN PETROLEUM INSTITUTE, API Recommended Practice 10B-2 - Recommended Practice for Testing Well Cements, second ed., Washington, 2013.]. As pastas foram produzidas com teores de 0%, 15% e 30% de substituição da massa de cimento por Catalisador Residual, densidade fixa em 1,89 g/cm3, fator água/cimento aproximadamente de 0,45 e volume fixo de 600 ml. A mistura das pastas foi realizada com o misturador da Chandler. A água total da mistura foi colocada no recipiente do misturador, em seguida foi acionada a rotação de 4.000 ± 200 rpm e, nos primeiros 10 s, foram dispostos o cimento ou a mistura sólida (Cimento + Catalisador Residual) e a mistura prossegue por 5 s. A etapa final da mistura foi efetuada com rotação de 12.000 ± 250 rpm por 35 s.

As pastas foram moldadas em compartimentos de material polimérico não aderente com capacidade de 120 amostras (área superior de 14x14 mm², 12 mm de altura e face inferior de 11x11 mm²), sendo vedados e mantidos sem vibrações durante 24 h. Em seguida, os corpos-de-prova foram retirados dos moldes e colocados em recipiente fechado preenchido com água até completar 28 dias de hidratação. Após este período, os corpos-de-prova foram secos em estufa à 35 °C durante 1h para uniformizar a umidade das pastas e encaminhados para o ensaio de carbonatação com condição supercrítica.

Figura 3
Esquema simplificado do sistema para atingir a condição supercrítica.

O sistema utilizado para realizar a carbonatação supercrítica encontra-se representado na Figura 3. Os corpos-de-prova foram primeiramente dispostos no interior do reator de alta-pressão de aço inoxidável, volume interno de 250 cm³ e controle de temperatura (R250W Reactor Assy, Thar Technologies, Inc.). O CO2 com 99,9% de pureza, fornecido pela White Martins, armazenado no cilindro sob pressão, teve a válvula V1 aberta para circulação na linha de transmissão e resfriamento do gás até a temperatura de 4 ºC, tornando-o líquido com auxílio do banho termostático da Quimis. O CO2 líquido comprimido preenche os reservatórios da bomba seringa. O painel de controle da bomba seringa modelo 260D (Series Syringe Pumps, Teledyne Isco) permitiu a injeção do CO2 com pressão programada nas linhas de transmissão e, com abertura da válvula V2 e V4, no interior do reator.

Inicialmente a pressão foi programada no painel do controle das bombas com valor inferior à pressão definida para o ensaio, pois o aquecimento do reator causaria o acréscimo da pressão. A condição do ensaio foi alcançada após aproximadamente 1h, efetuando-se ajustes na injeção do CO2 com a abertura da válvula V4, sendo a pressão e temperatura monitoradas pelos painéis de controle da bomba e do reator. O ensaio durou 7 h com o sistema aberto sob o fluxo contínuo do scCO2. Após o ensaio, o aquecimento do reator foi desligado e a válvula V4 foi fechada, a despressurização foi feita com a abertura lentamente da válvula V5, aplicando-se a fonte de calor para evitar congelamento por expansão do gás, cujo processo durou aproximadamente 1 h.

A dureza superficial foi medida pelo durômetro automático (Wizhard HR-500 Série 810, Mitutoyo). Conforme o modelo apresentado na Figura 4, os corpos-de-prova das pastas antes e após a exposição ao scCO2 foram colocados na base do durômetro, onde a carga aplicada pelo penetrador com ponta esfera metálica de 1/16 polegadas (indentador) com escala Rockwell 15 T superficial.

Figura 4
Modelo do durômetro e disposição do corpo-de-prova para medição da dureza superficial.

Após as medições de dureza superficial, os corpos-de-prova das pastas foram seccionados ao meio. A metade inferior foi utilizada para avaliar a frente de carbonatação a partir da aspersão de solução de fenolftaleína que indica o pH com coloração violeta nas áreas não carbonatadas (pH> 9) e a partir do registro fotográfico foram feitas análises das imagens com o programa Image J [99 COSTA, B., FREITAS, J. C., SANTOS, P. H. S., et al., “Study of carbonation in a class G Portland cement matrix at supercritical and saturated environments”, Construction and Building Materials, v. 180, pp. 308-319, Aug. 2018.]. A parte superior do corpo-de-prova foi pulverizada com almofariz e pistilo até obter partículas com granulometria inferior a 100 mesh para realização das análises físico-químicas (DRX, TG/DTG e DTA).

As curvas termogravimétricas das pastas com diferentes teores de CR e após a carbonatação foram corrigidas em base à massa calcinada do cimento através da Equação 7, de acordo com Dweck et al. [2626 GARCES, P., GLASSER, F., BREW, D., et al., “Pozzolanic activity of a spent fluid catalytic cracking catalyst residue”, Advances in Cement Research, v. 23, n 3, pp. 105-111, May. 2011., 4646 DWECK J., CUNHA, A. L., PINTO, C. A., et al., “Thermogravimetry on calcined mass basis—hydrated cement phases and pozzolanic activity quantitative analysis”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry. v. 97, n. 1, pp. 85-89, Jul. 2009., 4747 DWECK, J., MELCHERT, M.B.M, VIANA, M.M., et al., “Importance of quantitative thermogravimetry on initial cement mass basis to evaluate the hydration of cement pastes and mortars”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v. 113, n.3, pp. 1481–1490, Feb. 2013.]. Esta correção considera o cimento substituído e permite, por exemplo, a análise correta sobre a formação das principais fases hidratadas do cimento com diferentes idades de hidratação, após processos de deterioração, assim como, permite determinar diretamente a fixação de Ca(OH)2 por resíduos que são adicionados à matriz cimentícia, indicando à atividade pozolânica [4747 DWECK, J., MELCHERT, M.B.M, VIANA, M.M., et al., “Importance of quantitative thermogravimetry on initial cement mass basis to evaluate the hydration of cement pastes and mortars”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v. 113, n.3, pp. 1481–1490, Feb. 2013.].

T G B M I C = T G B M I A M c , c i m Y . M c , p a s t a × 100 (7)

Em que:

TGBMIA= Valor da curva TG da pasta em base da massa inicial da amostra;

TGBMIC= Valor da curva TG da pasta na base inicial da massa de cimento;

Mc,cim = Porcentagem de massa calcinada final da curva TG da amostra do cimento anidro a 1000 °C;

Mc,pasta= Porcentagem da massa calcinada final da curva TG da pasta a 1000 °C;

Y = % de óxidos de cimento na massa calcinada da amostra.

Y = mcim.Mc,cim/( mcim.Mc,cim + m1.Mc,1+ m2.Mc,2 +........ + mn.Mc,n)

Mc,n= Porcentagem da massa calcinada final da curva TG do catalisador residual ou outra adição mineral a 1000 °C.

mcim e mnsão, respectivamente, as massas de cimento e catalisador residual ou outra adição mineral.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Avaliação do efeito da substituição parcial do cimento por Catalisador Residual nas pastas

Os difratogramas das pastas de referência (não carbonatadas) e após a exposição ao scCO2 estão apresentados na Figura 5.

Figura 5
Difratogramas de raios X das pastas. Símbolos: XCR- (X- teor de substituição do cimento por CR) Ref.- Pastas não expostas ao scCO2, Carb.- Pastas carbonatadas com scCO2, CaCO3-x- onde (x=T- Trigonal, H- Hexagonal e O- Ortorrômbica), Af(t)- 3CaO.Al2O3.3CaSO4.32H2O, Af(m)- 3CaO.Al2O3.CaSO4.12H2O, C2S e C-S-H [Ca5Si6O16(OH)2·4H2O].

Nos difratogramas de raios-X (Figura 5) foram identificadas fases de produtos hidratados do cimento: Af(t)- 3CaO.Al2O3.3CaSO4.32H2O (ICSD# 016045), Af(m) (3CaO.Al2O3.CaSO4.12H2O) (ICSD# 165511) e o Ca(OH)2 (ICSD# 034241) e o C-S-H com estrutura ortorrômbica semelhante à tobermorita [Ca5Si6O16(OH)2·4H2O] (ICSD# 087689). As fases de grãos de cimento anidro residuais foram identificadas, em picos de baixa intensidade: C3S (ICSD# 94742), β-C2S (ICSD# 81096) e C4AF (ICSD# 27112). Também foi identificado o CaCO3 com estrutura trigonal referente à calcita (ICSD# 20179) nas pastas de referência e carbonatadas, enquanto os polimorfos do CaCO3 com estrutura ortorrômbica e hexagonal associadas à aragonita (ICSD# 15194) e à vaterita (ICSD# 027827), respectivamente, foram identificadas nas pastas carbonatadas.

As pastas de cimento são constituídas predominantemente pelo C-S-H amorfo, no entanto, também podem ser formadas estruturas cristalinas do C-S-H, conforme as condições ambientais de temperatura e pressão, relação CaO/SiO2 da matriz cimentícia, durante a hidratação dos silicatos de cálcio (C3S e C2S) [33 TAYLOR, H. F. W. The chemistry of cement, 2 ed., Londres, Ed. Thomas Telford, 1997.]. Nos difratogramas de raios-X (Figura 5), encontram-se indícios do C-S-H amorfo na linha de base entre os ângulos de difração 2θ=33° a 35°[1818 COSTA, B. L., FREITAS, J. C., SANTOS, P. H., et al., “Carbonation in oil well Portland Cement: Influence of hydration time prior to contact with CO2”, Construction and Building Materials, v. 159, pp. 252-260, Jan. 2018.], pois não são identificados com precisão por difração de raios-X. Além de indícios da fase amorfa do C-S-H, as pastas com e sem CR possuíram C-S-H de estrutura cristalina similar à tobermorita, em 2θ =28,64°, em picos de baixa intensidade, devido à menor formação desta fase.

A hidratação dos silicatos produz, além do C-S-H, menores concentrações do Ca(OH)2 [33 TAYLOR, H. F. W. The chemistry of cement, 2 ed., Londres, Ed. Thomas Telford, 1997.], identificado nos picos em 2θ = 18,04°, 2θ=33,98°, 2θ=41,10°, 2θ=50,80° e 2θ=54,44°. Ao analisar as intensidades do pico do Ca(OH)2, em 2θ = 18,04°, nos difratogramas de raios-X, em comparação à pasta com 0% de CR, nota-se que houve diminuição de intensidade similarmente entre as pastas com 15 e 30% de CR. Esta diminuição de intensidade é causada pela substituição do cimento e pela atividade pozolânica, logo que a pasta com 15% de CR, com maior conteúdo de cimento, apresentou intensidade do pico de Ca(OH)2 próxima à encontrada na pasta com 30% de CR.

O carbonato de cálcio pode ser formado a partir da reação entre dióxido de carbono atmosférico e as pastas, durante a produção e cura, em razão disso a fase CaCO3 com estrutura trigonal foi identificada nos picos em 2θ = 22,99°, 2θ = 29,50°, 2θ = 39,44° e 2θ = 44,02° nos difratogramas de raios-X de todas as pastas. A hidratação das fases de aluminato do cimento anidro (C4AF ou C3A) produz a fase Af(t) [33 TAYLOR, H. F. W. The chemistry of cement, 2 ed., Londres, Ed. Thomas Telford, 1997.] que foi identificada em picos em 2θ=9,10°, 2θ=15,30°, 2θ=35,02°, bem como o Af(m) [33 TAYLOR, H. F. W. The chemistry of cement, 2 ed., Londres, Ed. Thomas Telford, 1997.], em 2θ = 11,14° e 2θ = 22,28°. Conforme observa-se em relação a intensidade dos picos das fases Af(t,m) e CaCO3 nos difratogramas de raios-X não foram notadas alterações com o acréscimo no teor de CR.

Além dos produtos hidratados do cimento Portland, picos de pequena intensidade relativos as fases C3S, C2S e C4AF de grãos residuais do cimento anidro foram identificados nos difratogramas de raios-X das pastas (Figura 5). A presença de grãos anidros do cimento é justificada pela ausência de água necessária à completa hidratação que pode ser ocasionada por evaporação ou por materiais finos que a absorvem, assim como pelo contato impedido entre a água e o grão do cimento anidro por camada de revestimento de produtos hidratados [33 TAYLOR, H. F. W. The chemistry of cement, 2 ed., Londres, Ed. Thomas Telford, 1997., 1414 HIDALGO A., DOMINGO, C., GARCIA, C., et al., “Microstructural characterization of leaching effects in cement pastes due to neutralisation of their alkaline nature: Part I: Portland cement pastes”, Cement and Concrete Research, v. 37, n. 1, pp, 63-70, Jan. 2007., 1818 COSTA, B. L., FREITAS, J. C., SANTOS, P. H., et al., “Carbonation in oil well Portland Cement: Influence of hydration time prior to contact with CO2”, Construction and Building Materials, v. 159, pp. 252-260, Jan. 2018.].

As curvas DTA (Figura 6) das pastas de referência e nas carbonatadas possuem picos endotérmicos associados as reações de decomposição dos compostos cimentícios que são apresentadas na Tabela 3. A isoterma em 35 °C por 1 h realizada durante as análises térmicas das pastas causou à evaporação da água livre, permitindo a quantificação separadamente da água de desidratação do C-S-H e Af(t,m) segundo Dweck et al. [4747 DWECK, J., MELCHERT, M.B.M, VIANA, M.M., et al., “Importance of quantitative thermogravimetry on initial cement mass basis to evaluate the hydration of cement pastes and mortars”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v. 113, n.3, pp. 1481–1490, Feb. 2013.]. Na faixa de temperatura 35-380 °C encontra-se um pico largo em razão a sobreposição dos eventos endotérmicos da desidratação do C-S-H e Af(t) (entre 38-180 °C) e do C-A-S-H e C-A-H (entre 100-250 °C). Em maiores temperaturas aparecem picos relacionados à desidroxilação do Ca(OH)2, entre 380-500 °C, e à descarbonatação do CaCO3, entre 500-750 °C.

Tabela 3
Reações de decomposição dos composto cimentícios nas Análises Térmicas.
Figura 6
Curvas termogravimétricas (TG/DTG) corrigidas em base à massa calcinada do cimento e Análise Térmica Diferencial (DTA) das pastas com teores de CR (0, 15 e 30%) de referência (não carbonatadas) e carbonatadas com scCO2

Observa-se nas curvas DTA (Figura 6) que a substituição do cimento por CR nas pastas causou a diminuição da intensidade do pico do Ca(OH)2 devido ao efeito pozolânico e à redução do teor de cimento. Similarmente ao observado nos difratogramas de raios-X (Figura 5), as curvas DTA mostram intensidades similares dos picos do Ca(OH)2 das pastas com 15% e 30% de CR, indicando que parte do Ca(OH)2 produzido pelo cimento foi utilizado pela atividade pozolânica na pasta com 15% de CR.

As curvas termogravimétricas em base à massa calcinada do cimento encontram-se na Figura 6 e a quantificação da perda de massa de decomposição dos componentes das pastas são apresentadas na Figura 7.

Figura 7
Quantificação da perda de massa de decomposição dos principais componentes das pastas com 0, 15 e 30% de CR antes (ref.) e após (carb.) da exposição ao scCO2.

De acordo com a Figura 7, as pastas de referência contendo CR mostraram alterações nos teores de perda de massa de água livre, da desidratação ou desidroxilização dos compostos cimentícios e da descarbonatação do CaCO3. A água livre foi quantificada em 10,69%, na pasta com 0% de CR e aumenta para 15,11% e 21,60% nas pastas com 15% e 30% de CR, respectivamente. Este aumento no teor de água livre pode indicar maior porosidade da microestrutura das pastas com CR. O acréscimo da porosidade em pastas contendo o catalisador residual em substituição ao cimento, após 28 dias de cura, fixando-se a relação água/aglomerante (rel. a/agl.), foi relatado anteriormente por Goméz [5050 GÓMEZ, M., “Viabilidad científica, técnica y medioambiental del catalizador gastado de craqueo catalítico (FCC) como material puzolánico”, Tese de D.Sc., Universidad Autónoma de Madrid, 2015.] (rel. a/agl. = 0,5) e por Allarvedi e Maddavan [5151 ALLAHVERDI, A., MAHDAVAN, M., “Durability performance of rfcc spent catalyst-blended portland cement paste exposed to sea water attack”, Ceramics–Silikáty, v. 57, n. 4, pp. 305-312, Nov. 2013.] (rel. a/agl. 0,3). A porosidade extra é causada pois os materiais pozolânicos tem reação mais lenta, necessitando de idades maiores e da disponibilidade do Ca(OH)2 para formar compostos cimentícios que ocupem os poros oriundos do menor conteúdo do cimento [33 TAYLOR, H. F. W. The chemistry of cement, 2 ed., Londres, Ed. Thomas Telford, 1997.]. Além disso, as partículas com estrutura porosa do catalisador residual podem contribuir para o aumento na porosidade da pasta à nível gel [<0,05 μm] [5151 ALLAHVERDI, A., MAHDAVAN, M., “Durability performance of rfcc spent catalyst-blended portland cement paste exposed to sea water attack”, Ceramics–Silikáty, v. 57, n. 4, pp. 305-312, Nov. 2013.].

O catalisador residual ao hidratar com o cimento pode formar fases C-S-H, Af(t), C-A-S-H e C-A-H [2626 GARCES, P., GLASSER, F., BREW, D., et al., “Pozzolanic activity of a spent fluid catalytic cracking catalyst residue”, Advances in Cement Research, v. 23, n 3, pp. 105-111, May. 2011., 3636 FÖLDVÁRI, M., Handbook of thermogravimetric system of minerals and its use in geological practice, Budapest, Geological Institute of Hungary, 2011.]. Isto pode ser observado na Figura 7, em que as pastas com 15% e 30% de CR possuíram perda de massa de compostos cimentícios [C-S-H, C-A-S-H, C-A-H e Af(t,m)] em 16,99% e 21,94%, respectivamente, em relação à 14,81% na pasta com 0% de CR. A atividade pozolanica do CR pode ser confirmada pela perda de massa do Ca(OH)2 (Figura 7) que foi reduzida em 1,3-1,5% nas pastas contendo CR, logo que esta diminuição ocorre exclusivamente pelo CR devido à correção das curvas termogravimétricas das pastas em base à massa calcinada [4444 NELSON, E. B. Well cementing, 1 ed, Newnes, Elsevier Science, 1990.]. O teor de Ca(OH)2 consumido pelo CR pode ser calculado pela Equação 8 [4747 DWECK, J., MELCHERT, M.B.M, VIANA, M.M., et al., “Importance of quantitative thermogravimetry on initial cement mass basis to evaluate the hydration of cement pastes and mortars”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v. 113, n.3, pp. 1481–1490, Feb. 2013.].

% Ca ( OH ) 2 = MmCa ( OH ) 2 / Mm H 2 O * a (8)

Em que:

a = perda de massa (%) devido a desidratação do Ca(OH)2;

Mm Ca(OH)2: Peso molecular do hidróxido de cálcio;

Mm H2O: Peso molecular da água;

A partir da Equação 8 foram calculados os teores de Ca(OH)2 em 26,10%, 21,05% e 23,60% para pastas com 0%, 15% e 30% de CR, respectivamente. Deste modo, em comparação à pasta com 0% de CR, houve a redução de 5,05% e 2,50% do teor de Ca(OH)2 para as pastas com 15% e 30% de CR, respectivamente. Estes valores confirmam o observado nos difratogramas de raios-X (Figura 5) e na curva DTA (Figura 6), em que o teor de 15% de CR possuiu maior atividade pozolânica em relação à pasta com 30% de CR.

Ainda de acordo com a Figura 7, as pastas de referência possuíram teores de carbonato de cálcio entre 2-4%. O carbonato de cálcio se forma da reação preferencialmente do Ca(OH)2 com o CO2 atmosférico durante a preparação e cura das pastas [1111 GARCÍA-GONZÁLEZ, C., HIDALGO, A., ANDRADE, C. et al., “Modification of composition and microstructure of Portland cement pastes as a result of natural and supercritical carbonation procedures”, Industrial & Engineering Chemistry Research, v. 45, pp. 4985–4992, Jun. 2006.].

Os valores médios de dureza superficial das pastas de referência apresentados na Figura 8.

Figura 8
Dureza Rockwell Superficial (HR15T) das pastas antes (ref.) e após (carb.) a exposição ao scCO2.

A Figura 8 revela que a substituição do cimento por CR resultou na menor dureza superficial das pastas, sendo que a pasta 0% CR apresentou valor médio de 32,8 HR15T que se torna inferior em 37% e 28% nas pastas com 15% e 30% CR, respectivamente. Ao analisar a Figura 7, verifica-se que as pastas com CR possuem maior teor de água livre, indicando estrutura mais porosa em relação à pasta com 0% de CR. Ainda de acordo coma Figura 7, a pasta com 30% de CR possui maior formação de compostos C-S-H, Af(t), C-A-S-H e C-A-H, no entanto, possui também o acréscimo de água livre, sugerindo aumento de poros, em relação à pasta com 15% de CR, o que pode ter contribuído para uma estrutura porosa superficial similar entre estas pastas.

A maior porosidade da pasta com o aumento no teor de CR pode ocorrer em nível gel devido à contribuição da porosidade inerente ao catalisador residual que tem efeito pouco significativo nas propriedades mecânicas como a resistência à compressão axial [4747 DWECK, J., MELCHERT, M.B.M, VIANA, M.M., et al., “Importance of quantitative thermogravimetry on initial cement mass basis to evaluate the hydration of cement pastes and mortars”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v. 113, n.3, pp. 1481–1490, Feb. 2013., 4848 PACEWSKA B, WILINSKA I, BUKOWSKA M. “Hydration of cement slurry in the presence of spent cracking catalyst”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v. 60, pp. 71-78, Nov. 2004.]. No entanto, esta porosidade pode diminuir a dureza superficial das pastas, visto a área reduzida de aplicação de carga, e facilitar a difusão de íons agressivos ao interior da pasta.

3.2 Avaliação do efeito da exposição ao dióxido de carbono supercrítico na microestrutura de pastas com diferentes teores de substituição do cimento por Catalisador Residual

A exposição das pastas ao dióxido de carbono supercrítico (scCO2) provocou alterações na estrutura cristalina do Ca(OH)2, do Af(t,m) e do C-S-H (tobermorita) em relação as pastas de referência, conforme os difratogramas de raios-X da Figura 5. O hidróxido de cálcio foi convertido em carbonato de cálcio e água durante a carbonatação (Equação 2) que resulta na redução da intensidade dos picos em 2θ = 18,04°, 2θ = 34,12° e 2θ = 47,08°. A estrutura cristalina do C-S-H foi afetada pela descalcificação provocada pela carbonatação (Equação 3), por isso a intensidade dos picos em 2θ = 28,68° e 2θ = 35,02° foram reduzidas. A diminuição dos picos de difração das fases Ca(OH)2 e C-S-H ocorrem similarmente nas pastas com 0%, 15% e 30% de CR. Os picos relativos à fase Af(t) e Af(m) quase desaparecem, por exemplo nos ângulos de difração em 2θ= 8,92° e 2θ = 11,14°, respectivamente, após a exposição ao scCO2. A dissolução das fases Af(t,m) (Equação 4) ocorre em pH próximos a 10,5 que pode acontecer antes do hidróxido de cálcio [1111 GARCÍA-GONZÁLEZ, C., HIDALGO, A., ANDRADE, C. et al., “Modification of composition and microstructure of Portland cement pastes as a result of natural and supercritical carbonation procedures”, Industrial & Engineering Chemistry Research, v. 45, pp. 4985–4992, Jun. 2006.].

Verificou-se nos difratogramas de raios X das pastas carbonatadas apresentados na Figura 5 que ocorrem reduções nos picos do C2S em 2θ = 32,10° após a carbonatação em condição supercrítica que se associa a hidratação e/ou carbonatação de grãos do cimento anidro residuais. De acordo com BERTOS et al. [44 BERTOS, M. F., SIMONS, S. J. R., HILLS, C. D., et al., “A review of accelerated carbonation technology in the treatment of cement-based materials and sequestration of CO2”, Journal of hazardous materials, v. 112, n. 3, pp. 193-205, Jul. 2004.] as partículas remanescentes do cimento anidro podem hidratar e carbonatar simultaneamente ao reagir com o ácido carbônico. Este fenômeno pode ser facilitado na condição supercrítica devido a temperatura e pressão, além da formação facilitada do ácido carbônico.

As reações dos compostos cimentícios das pastas com o scCO2 resultam na precipitação do carbonato de cálcio nas formas polimorfas com estruturas trigonal, hexagonal e ortorrômbica, a depender da intensidade da degradação, e composição das pastas [1818 COSTA, B. L., FREITAS, J. C., SANTOS, P. H., et al., “Carbonation in oil well Portland Cement: Influence of hydration time prior to contact with CO2”, Construction and Building Materials, v. 159, pp. 252-260, Jan. 2018., 5252 GALAN, I., GLASSER F. P., BAZA, D., et al., “Assessment of the protective effect of carbonation on portlandite crystals”, Cement and Concrete Research, v. 74, pp. 68-77, Aug. 2015., 5353 MARTINEZ-RAMIREZ, S., SANCHEZ-CORTES, S., GARCIA-RAMOS, J., et al., “Micro-Raman spectroscopy applied to depth profiles of carbonates formed in lime mortar”, Cement and Concrete Research, v. 33, n. 12, pp. 2063-2068, Dec. 2003.]. O CaCO3 com estrutura trigonal pode ser observado nos difratogramas de raios-X na Figura 5, a exemplo do pico em 2θ = 29,4°, que aumentaram de intensidade após a exposição ao scCO2, apresentando formato similar entre as pastas 0%, 15% e 30% CR. Nas pastas carbonatadas com o scCO2 também foram encontradas as estruturas ortorrômbica e hexagonal do CaCO3 em picos de baixa intensidade, pois são menos estáveis do que a estrutura trigonal e mostram pequeno acréscimo de intensidade, por exemplo, em 2θ= 27,14° e 2θ= 32,24° para pastas contendo CR. O surgimento destas fases ocorre pela redução do teor de cálcio na pasta devido à intensidade da carbonatação e/ou substituição do cimento Portland por materiais pozolânicos [1414 HIDALGO A., DOMINGO, C., GARCIA, C., et al., “Microstructural characterization of leaching effects in cement pastes due to neutralisation of their alkaline nature: Part I: Portland cement pastes”, Cement and Concrete Research, v. 37, n. 1, pp, 63-70, Jan. 2007., 5454 GARCÍA-GONZÁLEZ, C., HIDALGO, A., SAINZ, J. F., et al., “Porosity and water permeability study of supercritically carbonated cement pastes involving mineral additions”, Industrial and Engineering Chemistry Research, v. 46, Mar. 2007.].

Nos estágios iniciais da reação, a alta solubilidade do scCO2 libera maiores concentrações do ácido carbônico e espécies iônicas (CO3-2, HCO3-) na solução porosa com alto conteúdo de cálcio provido pela dissolução do Ca(OH)2, então as reações são cineticamente favorecidas e ocorre alta precipitação do CaCO3 [1414 HIDALGO A., DOMINGO, C., GARCIA, C., et al., “Microstructural characterization of leaching effects in cement pastes due to neutralisation of their alkaline nature: Part I: Portland cement pastes”, Cement and Concrete Research, v. 37, n. 1, pp, 63-70, Jan. 2007., 5454 GARCÍA-GONZÁLEZ, C., HIDALGO, A., SAINZ, J. F., et al., “Porosity and water permeability study of supercritically carbonated cement pastes involving mineral additions”, Industrial and Engineering Chemistry Research, v. 46, Mar. 2007.]. Neste estágio, o CaCO3 precipitado possui estrutura trigonal conforme observado nos difratogramas de raios-X em picos de maior intensidade (Figura 5), bem como o CaCO3 amorfo [1414 HIDALGO A., DOMINGO, C., GARCIA, C., et al., “Microstructural characterization of leaching effects in cement pastes due to neutralisation of their alkaline nature: Part I: Portland cement pastes”, Cement and Concrete Research, v. 37, n. 1, pp, 63-70, Jan. 2007.,5454 GARCÍA-GONZÁLEZ, C., HIDALGO, A., SAINZ, J. F., et al., “Porosity and water permeability study of supercritically carbonated cement pastes involving mineral additions”, Industrial and Engineering Chemistry Research, v. 46, Mar. 2007.]. O carbonato de cálcio amorfo foi identificado nas análises térmicas (Figura 6), mediante o alargamento nos picos na curva DTG associados ao CaCO3, entre 500-600 °C, e ausência do pico endotérmico correspondente na curva DTA.

As curvas da DTA (Figura 6) das pastas carbonatadas evidenciam que os picos endotérmicos do CaCO3 foram próximos à 700 °C, enquanto nas pastas de referência ocorrem em 670 °C. Este deslocamento na temperatura do pico é causado pela influência da pressão e temperatura da condição supercrítica, tornando o CaCO3 mais cristalino do que o precipitado em condições atmosféricas [5454 GARCÍA-GONZÁLEZ, C., HIDALGO, A., SAINZ, J. F., et al., “Porosity and water permeability study of supercritically carbonated cement pastes involving mineral additions”, Industrial and Engineering Chemistry Research, v. 46, Mar. 2007.].

Na Figura 6, as curvas da DTA das pastas carbonatadas apresentaram picos relacionados aos compostos cimentícios (C-S-H, Af(t), C-A-S-H e C-A-H) possuindo base alargada entre 200-300 °C, principalmente na pasta 15% CR. Isto indica que houve a formação das fases tipo C-A-S-H e C-A-H durante a carbonatação que são decompostas nesta faixa de temperatura [3434 COLLIER N.C., “Transition and decomposition temperatures of cement phases – a collection of thermal analysis data”, Ceramics-Silikaty, v. 60, pp. 338-343, Jul. 2016.], favorecidas pela alumina contida no CR e podem contribuir para diminuir a frente de carbonatação. Segundo HIDALGO et al. [1414 HIDALGO A., DOMINGO, C., GARCIA, C., et al., “Microstructural characterization of leaching effects in cement pastes due to neutralisation of their alkaline nature: Part I: Portland cement pastes”, Cement and Concrete Research, v. 37, n. 1, pp, 63-70, Jan. 2007.], a redução da relação Ca/Si na estrutura do C-S-H durante a carbonatação provoca a substituição do silício por alumínio originando fases C-A-S-H e C-A-H. Na pasta com 30% de CR, além do alargamento no pico, ocorre a redução de intensidade, devido à carbonatação do C-S-H e, especialmente, da fase Af(t), durante a reação com o scCO2. A formação da Af(t) é favorecida com o maior teor do CR pois a alumina contida neste reage com a gipsita do cimento [2222 CASTELLANOS, N. e AGREDO, J., “Using spent fluid catalytic cracking (FCC) catalyst as pozzolanic addition — a review”, Ingeniería e Investigación, v. 30, n. 2, pp. 35-42, Aug. 2010., 2323 SILVA, F., JUNIOR, R., SILVA, J., et al., “Consumption of calcium hydroxide and formation of C–S–H in cement pastes”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v. 116, n. 1, pp. 287–293, Apr. 2014., 2424 SILVA, F., JUNIOR, R., SILVA, J., et al., “Hydration of the equilibrium catalyst (Ecat) calcium hydroxide system Thermogravimetric study of the formation of main hydrated phases”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v.120, n. 2, pp. 1089–1098, May. 2015., 2525 AL-JABRI, K., BAAWAIN, M., TAHA, R., et al., “Potential use of FCC spent catalyst as partial replacement of cement or sand in cement mortars”, Construction and Building Materials, v. 39, pp. 77-81, Feb. 2013., 2626 GARCES, P., GLASSER, F., BREW, D., et al., “Pozzolanic activity of a spent fluid catalytic cracking catalyst residue”, Advances in Cement Research, v. 23, n 3, pp. 105-111, May. 2011., 2727 PAYÁ, J., MONZÓ, J., BORRACHERO, M. V., et al., “Pozzolanic reaction rate of fluid catalytic cracking catalyst residue (FC3R) in cement pastes”, Advances in Cement Research, v. 25 n. 2, pp. 112–118, Feb. 2013., 2828 FERELLA, F., INNOCENZI, V. MAGGIORE, “Oil refining spend catalysts: A review of possible recycling technologies”, Resources, Conservation and Recycling, v. 108, pp. 10-20, Jan. 2016.]. A fase Af(t) é mais susceptível à carbonatação em relação ao C-S-H, o que pode acarretar diminuição mais expressiva deste pico [44 BERTOS, M. F., SIMONS, S. J. R., HILLS, C. D., et al., “A review of accelerated carbonation technology in the treatment of cement-based materials and sequestration of CO2”, Journal of hazardous materials, v. 112, n. 3, pp. 193-205, Jul. 2004., 1010 URBONAS, L., LENO, V., HEINZ, D., “Effect of carbonation in supercritical CO2 on the properties of hardened cement paste of different alkalinity”, Construction and Building Materials, v. 123, pp. 704-711, Oct. 2016.].

As curvas DTA (Figura 6) das pastas carbonatadas evidenciam a redução do pico do hidróxido de cálcio em relação as pastas de referência, principalmente nas pastas com maior teor de CR. Deve-se a isso a carbonatação e por reações pozolânicas, favorecidas pelo calor e água liberados durante a carbonatação [44 BERTOS, M. F., SIMONS, S. J. R., HILLS, C. D., et al., “A review of accelerated carbonation technology in the treatment of cement-based materials and sequestration of CO2”, Journal of hazardous materials, v. 112, n. 3, pp. 193-205, Jul. 2004.], que podem consumir o hidróxido de cálcio nas pastas com CR. Nota-se indícios da atividade pozolanica durante a carbonatação na formação de fases tipo C-A-S-H e CA-H, especialmente na pasta carbonatada com 15% de CR (curvas DTA com alargamento entre 200-300 °C) [3434 COLLIER N.C., “Transition and decomposition temperatures of cement phases – a collection of thermal analysis data”, Ceramics-Silikaty, v. 60, pp. 338-343, Jul. 2016.].

As pastas carbonatadas com 0% e 15% de CR apresentaram redução de 1,5% no teor de perda de massa do Ca(OH)2, enquanto reduz em 2,2% na pasta 30% CR comparativamente as pastas de referência, restando teores de Ca(OH)2 em de 5,20%, 3,87% e 3,53% nas pastas 0%, 15% e 30% de CR, respectivamente (Figura 7). Estes resultados evidenciam diminuição mais expressiva do Ca(OH)2 nas pastas com maior conteúdo de CR, porém não causando a completa desta fase em carbonato de cálcio e água. Deve-se a isso o processo inicial da reação com o scCO2 que promove a rápida precipitação do CaCO3 e em grande quantidade que recobre a superfície do Ca(OH)2, evitando a continuidade da dissolução desta fase [5454 GARCÍA-GONZÁLEZ, C., HIDALGO, A., SAINZ, J. F., et al., “Porosity and water permeability study of supercritically carbonated cement pastes involving mineral additions”, Industrial and Engineering Chemistry Research, v. 46, Mar. 2007.]. Então, a descalcificação prossegue com fases C-S-H, Af(t), C-A-H e C-A-S-H, sendo observado a diminuição na perda de massa destes compostos em 0,22%, 2,18% e 4,59% (Figura 7), nas pastas carbonatadas com 0%, 15% e 30% de CR, respectivamente, em relação as pastas de referência. A carbonatação foi mais expressiva nas pastas com CR possivelmente devido a menor disponibilidade inicial de Ca(OH)2.

Após a exposição ao scCO2, os teores de água livre reduzem em aproximadamente 50% para pastas com 0% e 30% de CR, enquanto diminui em 37% na pasta 15% CR em comparação às pastas de referência, conforme a Figura 07. A água presente nos poros é expulsa devido ao fluxo de scCO2 através da pasta, além da evaporação provocada pela temperatura da condição supercrítica e calor liberado por reações exotérmicas com o ácido carbônico [1414 HIDALGO A., DOMINGO, C., GARCIA, C., et al., “Microstructural characterization of leaching effects in cement pastes due to neutralisation of their alkaline nature: Part I: Portland cement pastes”, Cement and Concrete Research, v. 37, n. 1, pp, 63-70, Jan. 2007., 5555 NYGAARD, R., “Well design and well integrity”, Energy and Environmental Systems Group, Institute for sustainable energy, environment and economy, University of Calgary, pp. 39, 2010.].

A quantificação do CaCO3 após a exposição ao scCO2 é apresentada na Figura 7. Nas pastas com 15% e 30% de CR foram encontrados, respectivamente, teores de 14,81% e 17,54%, em contraste ao teor de 6,92% presente na pasta 0% CR. Os testes de dureza superficial fornecem indícios de maior porosidade superficial das pastas contendo Ecat junto com a disponibilidade de água livre nas pastas contendo CR, consequentemente permitiram o ingresso do scCO2 e meio aquoso para que ocorra a formação de ácido carbônico, favorecendo a degradação dos compostos cimentícios [1111 GARCÍA-GONZÁLEZ, C., HIDALGO, A., ANDRADE, C. et al., “Modification of composition and microstructure of Portland cement pastes as a result of natural and supercritical carbonation procedures”, Industrial & Engineering Chemistry Research, v. 45, pp. 4985–4992, Jun. 2006.].

Após a carbonatação, as pastas possuíram compostos cimentícios [C-S-H, C-A-S-H, C-A-H e Af(t)] com 0% e 15% de CR de aproximadamente 14%, enquanto na pasta 30% CR foi de 17,54% (Figura 7). A atividade pozolânica produziu maior percentual de compostos cimentícios nas pastas antes de serem expostas ao scCO2, deste modo, embora haja maior carbonatação, os compostos cimentícios continuam em maiores teores nas pastas com CR.

3.2.1v Avaliação da dureza superficial e frente de carbonatação das pastas de cimento com diferentes teores de Catalisador Residual após a exposição ao scCO2

A Figura 9 apresenta imagens da seção transversal dos corpos-de-prova após a aspersão da fenolftaleína (C20H14O4), com precisão estimada em 0,4 mm [1010 URBONAS, L., LENO, V., HEINZ, D., “Effect of carbonation in supercritical CO2 on the properties of hardened cement paste of different alkalinity”, Construction and Building Materials, v. 123, pp. 704-711, Oct. 2016.]. A reação entre a solução e a pasta causa a alteração da cor em áreas com pH alcalino característico das regiões não carbonatadas (pH entre 12,5-13,5), enquanto as áreas carbonatadas mantém a coloração natural do cimento (pH inferior a 9,0) [99 COSTA, B., FREITAS, J. C., SANTOS, P. H. S., et al., “Study of carbonation in a class G Portland cement matrix at supercritical and saturated environments”, Construction and Building Materials, v. 180, pp. 308-319, Aug. 2018.,5656 FARAHI, E., PURNELL, P., SHORT, N. R., “Supercritical carbonation of calcareous composites: Influence of curing”, Cement and Concrete Composites, v. 43, pp. 48–53, Oct. 2013.].

Figura 9
Fotografias da seção transversal das amostras após exposição ao scCO2 e aspersão da solução de fenolftaleína, com escala indicada. Teores de Catalisador Residual a) 0% b) 15% c) 30%; Ac- porcentagem da área carbonatada em relação a área total da seção transversal do corpo-de-prova [(Ac/At)x100].

A Figura 9 (a) referente a pasta 0% CR que teve área carbonatada de 21,26% e avanço de carbonatação entre 1-2 mm. As Figuras 9 (b) e (c), referem-se as pastas com 15% e 30% CR, as quais apresentaram áreas carbonatadas de 24,34% e 30,80%, respectivamente. A pasta 15% CR apresentou avanço da carbonatação de aproximadamente 2 mm, enquanto a pasta 30% CR permitiu a carbonatação entre 2-3 mm.

O menor avanço da carbonatação pode ser observado na pasta 0% CR que se relaciona com a menor porosidade proporcionada pelo maior conteúdo de cimento e que tende a diminuir rapidamente pela formação do CaCO3 a partir da reação cineticamente favorecida com o Ca(OH)2 em maior teor nesta pasta (Figura 7). No caso das pastas com CR, a maior profundidade da carbonatação é alcançada pela estrutura inicialmente mais porosa, conforme foi verificado pela menor dureza superficial (Figura 8) e excesso de água livre (Figura 7) nas pastas de referência com CR em relação à pasta somente com cimento e água. Além disso, houve menor disponibilidade de Ca(OH)2 nas pastas com CR (Figura 7), sabendo-se que esta fase tem carbonatação cineticamente favorecida [44 BERTOS, M. F., SIMONS, S. J. R., HILLS, C. D., et al., “A review of accelerated carbonation technology in the treatment of cement-based materials and sequestration of CO2”, Journal of hazardous materials, v. 112, n. 3, pp. 193-205, Jul. 2004.] pode ocorrer um acréscimo de tempo para suceder o refinamento dos poros pelo CaCO3 precipitado, permitindo maior difusão do scCO2 no interior da pasta.

A água liberada durante as reações tende a ser expulsa da pasta, resultando na precipitação do CaCO3 nos poros superficiais e a diminuição do Ca(OH)2 reduz o pH nas áreas mais externas das pastas conforme foi observado nas Figuras 9 (a) (b) e (c). Como resultado do refinamento dos poros, os valores médios de dureza superficial foram superiores aos encontrados nas pastas de referência. De acordo com a Figura 8, o acréscimo no valor médio da dureza superficial foi superior a 100% nas pastas com CR e, em 30,18% para pasta produzida somente com cimento. Deste modo, percebe-se que o acréscimo nos valores médios de dureza superficial correspondeu a maior profundidade de carbonatação e teores de CaCO3 precipitados nos poros [4343 AIEX, C., CAMPOS, G., DESHPANDE, A., et al., “An experimental study on effects of static CO2 on cement under high-pressure/high-temperature conditions”, In: Offshore Technology Conference. SPE, Houston, Texas, USA, pp. 04-07, May. 2015.].

4. CONCLUSÕES

O efeito da substituição parcial do cimento por catalisador residual resultou na formação de compostos cimentícios [C-S-H, C-A-S-H, C-A-H e Af(t,m)] e redução nos teores de Ca(OH)2, comprovando o efeito pozolânico do catalisador residual. No entanto, as reações pozolânicas do CR não causou o refinamento de poros resultante do cimento que foi substituído, tendo em vista os teores excedentes de água livre em conjunto com a menor dureza superficial das pastas com CR em relação à pasta produzida somente com cimento e água.

A exposição ao dióxido de carbono supercrítico na condição de temperatura e pressão estimada na profundidade média de 760 m, na região nordeste do Brasil, apresentou níveis diferentes de carbonatação nas pastas de acordo com o conteúdo do catalisador residual. Após a carbonatação, as pastas com CR possuíram diminuição nos teores de água livre e dos produtos hidratados do cimento [Ca(OH)2, C-S-H, C-A-S-H, C-A-H e Af(t)], além de maiores áreas/profundidade da carbonatação e teores mais elevados de carbonato de cálcio em comparação a pasta produzida somente com cimento.

A quantidade precipitada de carbonato de cálcio, mais expressiva nas pastas com CR, pode resultar em redução da taxa de ingresso do scCO2 e provocou o acréscimo na dureza superficial destas pastas.

Devido à formação de compostos cimentícios pelo CR, após a exposição ao scCO2, as pastas avaliadas mantiveram quantidades similares ou superiores de C-S-H, C-A-S-H e C-A-H. Deste modo, as pastas contendo o CR, especialmente com 15% de CR, podem ser viáveis em ambientes expostos ao CO2 na condição supercrítica. No entanto, ressalta-se que para viabilidade das pastas contendo CR empregadas em poços de petróleo são necessárias outras avaliações como a influência da salmoura, tempos de exposição mais prolongados ao scCO2 e variações na temperatura e pressão da condição supercrítica.

AGRADECIMENTOS

Os pesquisadores agradecem ao CNPq, Capes e a Fapesb pelo apoio fornecido à realização desta pesquisa.

BIBLIOGRAFIA

  • 1
    GARCÍA-GONZÁLEZ, C. A, GROUH, N., HIDALGO A., et al, “New insights on the use of supercritical carbon dioxide for the accelerated carbonation of cement pastes”, The Journal of Supercritical Fluids, v. 43, n. 3, pp. 500-509, Jan. 2008.
  • 2
    NELSON, E. B. Well cementing fundamentals, Oilfield Review, v. 24, n. 2, pp. 59, Dec. 2012.
  • 3
    TAYLOR, H. F. W. The chemistry of cement, 2 ed., Londres, Ed. Thomas Telford, 1997.
  • 4
    BERTOS, M. F., SIMONS, S. J. R., HILLS, C. D., et al, “A review of accelerated carbonation technology in the treatment of cement-based materials and sequestration of CO2”, Journal of hazardous materials, v. 112, n. 3, pp. 193-205, Jul. 2004.
  • 5
    KUTCHKO, B. G., STRAZISAR, B.R., DZOMBAK, D. A., et al, “Degradation of well cement by CO2 under geologic sequestration conditions”, Environmental science & technology, v. 41, n. 13, pp. 4787-4792, May. 2007.
  • 6
    ZORNOZA, E., GARCÉS, P., MONZÓ, J., et al, “Accelerated carbonation of cement pastes partially substituted with fluid catalytic cracking catalyst residue (FC3R)”, Cement and concrete composites, v. 31, n. 2, pp. 134-138, Feb. 2009.
  • 7
    LI Z., WANG Z., “Researches on Concrete Carbonation”, Applied Mechanics and Materials, v. 357-360, pp. 737-742, Aug. 2013.
  • 8
    ZHANG, M., ZHANG, W., SUN, Y., “Durability of Concrete with Nano-particles under Combined Action of Carbonation and Alkali Silica Reaction”, Journal of Asian Architecture and Building Engineering, v. 18, n. 5, pp. 421-429, Out. 2019.
  • 9
    COSTA, B., FREITAS, J. C., SANTOS, P. H. S., et al, “Study of carbonation in a class G Portland cement matrix at supercritical and saturated environments”, Construction and Building Materials, v. 180, pp. 308-319, Aug. 2018.
  • 10
    URBONAS, L., LENO, V., HEINZ, D., “Effect of carbonation in supercritical CO2 on the properties of hardened cement paste of different alkalinity”, Construction and Building Materials, v. 123, pp. 704-711, Oct. 2016.
  • 11
    GARCÍA-GONZÁLEZ, C., HIDALGO, A., ANDRADE, C. et al, “Modification of composition and microstructure of Portland cement pastes as a result of natural and supercritical carbonation procedures”, Industrial & Engineering Chemistry Research, v. 45, pp. 4985–4992, Jun. 2006.
  • 12
    SANTRA, A., REDDY, B. R., LIANG, F., et al, “Reaction of CO2 with Portland cement at Downhole Conditions and the Role of Pozzolanic Supplements”, SPE International Symposium on Oilfield Chemistry, v. 3, n. 1, pp. 1–9, Apr. 2009.
  • 13
    PURNELL, P., SHORT, N.R., PAGE, C.L., “Super-critical carbonation of glass-fibre reinforced cement. Part 1: mechanical testing and chemical analysis”, Composites Part A: Applied Science and Manufacturing, v. 32, pp. 1777–1787, Dec. 2001.
  • 14
    HIDALGO A., DOMINGO, C., GARCIA, C., et al, “Microstructural characterization of leaching effects in cement pastes due to neutralisation of their alkaline nature: Part I: Portland cement pastes”, Cement and Concrete Research, v. 37, n. 1, pp, 63-70, Jan. 2007.
  • 15
    ABID, K., GHOLAMI, R., CHOATE, P., et al, “Review on cement degradation under CO2-rich environment of sequestration projects”, Journal of Natural Gas Science and Engineering, v. 27, pp. 1149–1157, Nov. 2015.
  • 16
    THOMAS, J. E., Fundamentos de Engenharia de Petróleo, Editora Interciência, Rio de Janeiro, 2001.
  • 17
    NG‘ANG‘A, S. I., “Cementing Processes in Geothermal Well Drilling: Application and Techniques”, Geothermal Trainning Programme, United Nations University. Iceland, 2014.
  • 18
    COSTA, B. L., FREITAS, J. C., SANTOS, P. H., et al, “Carbonation in oil well Portland Cement: Influence of hydration time prior to contact with CO2”, Construction and Building Materials, v. 159, pp. 252-260, Jan. 2018.
  • 19
    RUBIN, E., CONINCK, H., “IPCC special report on carbon dioxide capture and storage”, UK: Cambridge University Press, TNO (2004): Cost Curves for CO2 Storage, Part, v. 2, pp. 14, 2005.
  • 20
    ONAN D., “Effects of Supercritical Carbon Dioxide on Well Cements”, Permian Basin Oil and Gas Recovery Conference, Society of Petroleum Engineers of AIME, Midland, Texas, 1984.
  • 21
    BRANDL, A., CUTLER, J., SEHOLM, A., et al, “Cementing Solutions for Corrosive Well Environments”, Society of Petroleum Engineers, Beijing, China, v. 26, n. 2, Jun. 2010.
  • 22
    CASTELLANOS, N. e AGREDO, J., “Using spent fluid catalytic cracking (FCC) catalyst as pozzolanic addition — a review”, Ingeniería e Investigación, v. 30, n. 2, pp. 35-42, Aug. 2010.
  • 23
    SILVA, F., JUNIOR, R., SILVA, J., et al, “Consumption of calcium hydroxide and formation of C–S–H in cement pastes”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v. 116, n. 1, pp. 287–293, Apr. 2014.
  • 24
    SILVA, F., JUNIOR, R., SILVA, J., et al, “Hydration of the equilibrium catalyst (Ecat) calcium hydroxide system Thermogravimetric study of the formation of main hydrated phases”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v.120, n. 2, pp. 1089–1098, May. 2015.
  • 25
    AL-JABRI, K., BAAWAIN, M., TAHA, R., et al, “Potential use of FCC spent catalyst as partial replacement of cement or sand in cement mortars”, Construction and Building Materials, v. 39, pp. 77-81, Feb. 2013.
  • 26
    GARCES, P., GLASSER, F., BREW, D., et al, “Pozzolanic activity of a spent fluid catalytic cracking catalyst residue”, Advances in Cement Research, v. 23, n 3, pp. 105-111, May. 2011.
  • 27
    PAYÁ, J., MONZÓ, J., BORRACHERO, M. V., et al, “Pozzolanic reaction rate of fluid catalytic cracking catalyst residue (FC3R) in cement pastes”, Advances in Cement Research, v. 25 n. 2, pp. 112–118, Feb. 2013.
  • 28
    FERELLA, F., INNOCENZI, V. MAGGIORE, “Oil refining spend catalysts: A review of possible recycling technologies”, Resources, Conservation and Recycling, v. 108, pp. 10-20, Jan. 2016.
  • 29
    CUNHA A., SANTOS, L., SERGIO, M., et al, “A study of the particle size effect on the pozzolanic activity of an equilibrium catalyst”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v. 106, n. 3, pp. 805-809, Mar. 2011.
  • 30
    PINTO C, BUCHLER P, DWECK J., “Pozzolanic properties of a residual fcc catalyst during the early stages of cement hydration—evaluation by thermal analysis”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v. 87, n. 3, pp. 715-720, Mar. 2007.
  • 31
    ZORNOZA E, GARCÉS, P., PAYÁ, J., et al, “Improvement of the chloride ingress resistance of OPC mortars by using spent cracking catalyst”, Cement and Concrete Composites v. 39, n. 2, pp. 126-139, Feb. 2009.
  • 32
    SILVA, J., MACHADO, C. L., SOUSA, L. R., et al, “Avaliação da temperatura e pressão na carbonatação de pastas de cimento contendo resíduo catalítico de UFCC em condições supercríticas”, Em: 23° Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciência dos Materiais 23 CBECIMAT, Foz do Iguaçu, Brasil, 4-8 de Novembro de 2018.
  • 33
    ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9831: Cimento Portland destinado à cimentação de poços petrolíferos. Rio de Janeiro, 2008.
  • 34
    COLLIER N.C., “Transition and decomposition temperatures of cement phases – a collection of thermal analysis data”, Ceramics-Silikaty, v. 60, pp. 338-343, Jul. 2016.
  • 35
    ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12653: Materiais Pozolânicos- Requisitos. Rio de Janeiro, 2015.
  • 36
    FÖLDVÁRI, M., Handbook of thermogravimetric system of minerals and its use in geological practice, Budapest, Geological Institute of Hungary, 2011.
  • 37
    DWECK, J., PINTO, C., BÜCHLER, P. M., et al, “Study of a Brazilian spent catalyst as cement aggregate by thermal and mechanical analysis”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v. 92, pp. 121-127, Jun. 2008.
  • 38
    GARDOLINSKI, J. E., MARTINS FILHO, H. P., WYPYCH, F., “Comportamento térmico da caulinita hidratada”, Química Nova, v. 26, n. 1, pp. 30-35, Jan./Feb. 2003.
  • 39
    ALMEIDA, K., MARTINS, L., CARDOSO, D., “Preparação e propriedades de zeólitas faujasita contendo cátions amônio”, Química Nova, v. 33, n. 5, pp. 1077-1081, May. 2010.
  • 40
    RIETVELD, H., “A profile refinement method for nuclear and magnetic structures”, Journal of applied Crystallography, v. 2, n. 2, pp. 65-71, Jun. 1969.
  • 41
    TOBY, B., VON DREELE, R., “GSAS-II: the genesis of a modern open-source all purpose crystallography software package”, Journal of Applied Crystallography, v. 46, n. 2, pp. 544-549, Apr. 2013.
  • 42
    GOBBO, L., “Aplicação da difração de raios-X e método de Rietveld no estudo de cimento Portland”, Tese de D.Sc., Universidade de São Paulo, 2009.
  • 43
    AIEX, C., CAMPOS, G., DESHPANDE, A., et al, “An experimental study on effects of static CO2 on cement under high-pressure/high-temperature conditions”, In: Offshore Technology Conference SPE, Houston, Texas, USA, pp. 04-07, May. 2015.
  • 44
    NELSON, E. B. Well cementing, 1 ed, Newnes, Elsevier Science, 1990.
  • 45
    AMERICAN PETROLEUM INSTITUTE, API Recommended Practice 10B-2 - Recommended Practice for Testing Well Cements, second ed., Washington, 2013.
  • 46
    DWECK J., CUNHA, A. L., PINTO, C. A., et al, “Thermogravimetry on calcined mass basis—hydrated cement phases and pozzolanic activity quantitative analysis”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry v. 97, n. 1, pp. 85-89, Jul. 2009.
  • 47
    DWECK, J., MELCHERT, M.B.M, VIANA, M.M., et al, “Importance of quantitative thermogravimetry on initial cement mass basis to evaluate the hydration of cement pastes and mortars”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v. 113, n.3, pp. 1481–1490, Feb. 2013.
  • 48
    PACEWSKA B, WILINSKA I, BUKOWSKA M. “Hydration of cement slurry in the presence of spent cracking catalyst”, Journal of Thermal Analysis and Calorimetry, v. 60, pp. 71-78, Nov. 2004.
  • 49
    PAYÁ J., MONZÓ, J., BIRRACHEROM M. V., et al, “Determination of the pozzolanic activity of fluid catalytic cracking catalyst residue. Thermogravimetric analysis studies on PC3R-lime pastes”, Cement and Concrete Research, v. 33, n. 7, pp. 1085-1091, Jul. 2003.
  • 50
    GÓMEZ, M., “Viabilidad científica, técnica y medioambiental del catalizador gastado de craqueo catalítico (FCC) como material puzolánico”, Tese de D.Sc., Universidad Autónoma de Madrid, 2015.
  • 51
    ALLAHVERDI, A., MAHDAVAN, M., “Durability performance of rfcc spent catalyst-blended portland cement paste exposed to sea water attack”, Ceramics–Silikáty, v. 57, n. 4, pp. 305-312, Nov. 2013.
  • 52
    GALAN, I., GLASSER F. P., BAZA, D., et al, “Assessment of the protective effect of carbonation on portlandite crystals”, Cement and Concrete Research, v. 74, pp. 68-77, Aug. 2015.
  • 53
    MARTINEZ-RAMIREZ, S., SANCHEZ-CORTES, S., GARCIA-RAMOS, J., et al, “Micro-Raman spectroscopy applied to depth profiles of carbonates formed in lime mortar”, Cement and Concrete Research, v. 33, n. 12, pp. 2063-2068, Dec. 2003.
  • 54
    GARCÍA-GONZÁLEZ, C., HIDALGO, A., SAINZ, J. F., et al, “Porosity and water permeability study of supercritically carbonated cement pastes involving mineral additions”, Industrial and Engineering Chemistry Research, v. 46, Mar. 2007.
  • 55
    NYGAARD, R., “Well design and well integrity”, Energy and Environmental Systems Group, Institute for sustainable energy, environment and economy, University of Calgary, pp. 39, 2010.
  • 56
    FARAHI, E., PURNELL, P., SHORT, N. R., “Supercritical carbonation of calcareous composites: Influence of curing”, Cement and Concrete Composites, v. 43, pp. 48–53, Oct. 2013.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Abr 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    08 Maio 2019
  • Aceito
    11 Nov 2019
Laboratório de Hidrogênio, Coppe - Universidade Federal do Rio de Janeiro, em cooperação com a Associação Brasileira do Hidrogênio, ABH2 Av. Moniz Aragão, 207, 21941-594, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, Tel: +55 (21) 3938-8791 - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
E-mail: revmateria@gmail.com