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Análise da representatividade da resistência ao cisalhamento paralelo às fibras da classe C60 da norma brasileira de estruturas de madeira

Representativeness analysis of shear strength parallel to fibers of class C60 of the Brazilian standard for timber structures

RESUMO

A madeira é um excelente material estrutural, além de possuir excelente resistência tanto à tração como compressão. Para o dimensionamento correto, as premissas da norma brasileira são de estrema valia como norte para os engenheiros estruturais, pois exibe valores padrão de resistência. Dessa forma, esse estudo tem como objetivo analisar se o valor de resistência ao cisalhamento característico paralelo às fibras da classe C60 exibido na norma brasileira confere com os valores obtidos em ensaio de 23 espécies brasileiras, utilizando a metodologia Bootstrap com 1 milhão de simulações. Além disso, buscou analisar, com modelos de regressão, se é possível estimar a propriedade de resistência (fν0) dessas 23 espécies em função da densidade aparente, buscando assim uma obtenção rápida das propriedades dessas espécies com apenas a densidade aparente. Por final, foi possível concluir que a norma brasileira subestima a resistência ao cisalhamento das madeiras brasileiras, apresentado um valor 26% menor ao que realmente resiste, evidenciando que a norma necessita passar por revisão. Outro ponto foi que os modelos de regressão não mostram significância, ou seja, com a densidade aparente não foi possível estimar a propriedade de resistência.

Palavras-chave
Classe resistência; Densidade aparente; Rigidez

ABSTRACT

Wood is an excellent structural material, in addition to having excellent resistance in traction and compression. For correct dimensioning, the premises of the Brazilian standard are extremely valuable as a guide for structural engineers, as it exhibits standard values of resistance. Thus, this study aims to analyze whether the characteristic shear strength value parallel to class C60 fibers shown in the Brazilian standard matches the values obtained in the test of 23 Brazilian species, using the Bootstrap methodology with 1 million simulations. In addition, it sought to analyze, with regression models, whether it is possible to estimate the resistance property (fν0) of these 23 species as a function of apparent density, thus seeking to obtain quickly the properties of these species with only apparent density. Finally, it was possible to conclude that the Brazilian standard underestimates the shear strength of Brazilian woods, presenting a value 26% smaller to what actually resists, showing that the standard needs to be revised. Another point was that the regression models do not show significance, in other words, with the apparent density it was not possible to estimate the resistance property.

Keywords
Strength class; Apparent density; Stiffness

1. INTRODUÇÃO

A madeira é um material de excelentes propriedades estruturais, principalmente por possuir resistência tanto à tração como compressão. Outro ponto importante é sua fonte renovável, ao contrário dos outros materiais usualmente utilizados: concreto armado e metálica. A vista disso, a madeira, quando feito o reflorestamento, pode ser considerado um dos melhores materiais para utilizar em estruturas. [11 PIGOZZO, J.C., CHAHUD, E., ARROYO, F.N., et al., “Comparison of Anchorage Strength of Bonded-In Steel Bars with Epoxy Resin, Varying the Superficial Treatments and Moisture after Bonding, Using Corymbia citriodora Wood,” Current Journal of Applied Science and Technology, v. 28, n. 5, pp. 1-6, 2018., 22 Pigozzo, J.C., Arroyo, F.N., Christoforo, A.L., et al. “Design and Execution of Wood-concrete Deck Bridge,” Current Journal of Applied Science and Technology, v. 28, n. 3, pp. 1-10, 2018.].

Segundo BACHA [33 BACHA, C.J.C. “Os mercados de produtos florestais no Brasil em 2017 e 2018,” 26 06 2017. [Online]. Available: https://www.cepea.esalq.usp.br/br/opiniao-cepea/os-mercados-de-produtos-florestais-no-brasil-em-2017-e-2018.aspx. [Acesso em 09 10 2020].
https://www.cepea.esalq.usp.br/br/opinia...
], “o Brasil se destaca no cenário internacional por suas extensas florestas nativas tropicais e pelo plantio de florestas homogêneas com espécies exóticas”. Ainda segundo o autor, o Brasil possui 493,5 milhões de hectares de florestas, equivalendo a 12% do mundo. No Brasil, a ABNT NBR 7190 [44 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, “NBR 7190: Projeto de Estruturas de Madeira,” Rio de Janeiro, 1997.] que rege as premissas para o dimensionamento de estrutura de madeira no Brasil. A Tabela 1 apresenta as classes de resistência com as respectivas propriedades físicas e mecânicas médias e características que podem ser tomadas com base de dimensionamento.

Tabela 1
Classe de resistência de madeiras folhosas conforme ABNT NBR 7190 [44 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, “NBR 7190: Projeto de Estruturas de Madeira,” Rio de Janeiro, 1997.].

Para um dimensionamento correto e seguro de uma estrutura, é ideal que se conheça todas as propriedades de resistência e rigidez [55 OLIVEIRA, G.O.B., PINHEIRO, R.V., ARROYO, F.N., et al., “Technical Feasibility Study of the Use of Softwoods in Lattice Structure “Howe” Type for Roofing (Gaps between 8-18 Meters),” Current Journal od Applied Science and Technology, v. 35, n. 4, pp. 1-8, 2019., 66 PIGOZZO, J.C., ARROYO, F.N., CHRISTOFORO, A.L., et al., “Behavior of Shear Connectors Formed by Bonded-in “X” Type Steel Bars in Wood-Concrete Specimens,” Current Journal of Applied Science and Technology, v. 28, n. 5, pp. 1-8, 2018.]. No caso da estrutura de madeira, vários ensaios são necessários para obter as propriedades, sendo alguns mais complicados de serem realizados. Contudo, existem algumas formas fácies de obter as propriedades para realizar o dimensionamento. Uma forma é utilizando do método simplificado contido na NBR 7190 [44 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, “NBR 7190: Projeto de Estruturas de Madeira,” Rio de Janeiro, 1997.], que consegue fazer a estimativa com a relação entre as propriedades. Outra é através da tabela de classes de resistência (Tabela 1). Por último, seria através de modelos de regressão, utilizando a densidade aparente como estimadora das outras propriedades [77 ADAMOPOULOS, S., PASSIALIS, C. “Relationship of toughness and modulus of elasticity in static bending of small clear spruce wood specimens,” European Journal of Wood and Wood Products, v. 68, pp. 109-111, 2010.].

Entretanto, conforme um estudo mostrado por Couto et al. [88 COUTO, N.G., ALMEIDA, J.P.B., GOVONE, J.S., et al., “Relação entre a resistência ao cisalhamento e a resistência à compressão paralela às fibras de madeiras folhosas,” Ambiente Construído, vol. 20, nº 4, pp. 319-327, 2020.], a norma brasileira atual está desatualizada e os valores exibidos podem ser muito distante da realidade. Em seu estudo, foi investigado a relação entre as propriedades (método simplificado) considerando dez espécies de madeira do grupo das folhosas. Com isso, foi possível concluir que os valores analisados são 86,40% superiores aos exibidos na norma brasileira [44 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, “NBR 7190: Projeto de Estruturas de Madeira,” Rio de Janeiro, 1997.], mostrando a lacuna existente dessa norma.

Conforme no trabalho desenvolvido por Christoforo et al.[99 CHRISTOFORO, A.L., ARROYO, F.N., SILVA, D.A.L., et al., “Full characterization of Calycophyllum multiflorum wood specie,” Engenharia Agrícola, vol. 37, nº 4, pp. 637-643, 2017.], em que analisou a densidade aparente como estimadora das outras propriedades da Calycophyllum multiflorum, a densidade consegue estimar 4 propriedades das 14 analisadas, sendo elas: módulo de elasticidade médio, compressão perpendicular às fibras, módulo de elasticidade na compressão perpendicular às fibras e compressão paralela às fibras. O maior coeficiente de variação obtido foi de 85,23% utilizando o modelo logarítmico.

A vista disso, este artigo tem como objetivo avaliar a representatividade do cisalhamento característico da classe C60 para 23 espécies do grupo das folhosas brasileiras. Esse estudo checou se o valor apresentado de 8 MPa (Tabela 1) na norma brasileira de estruturas de madeira, a ABNT NBR 7190 [44 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, “NBR 7190: Projeto de Estruturas de Madeira,” Rio de Janeiro, 1997.], está de acordo com a realidade, considerando um intervalo de confiança de 5% e utilizando a técnica de reamostragem Bootstrap para simulação do intervalo de confiança médio (100 a 1000000 simulações). Por final, foi analisado a possibilidade da densidade aparente em estimar a resistência ao cisalhamento das espécies estudadas.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

As 23 espécies utilizadas neste trabalho estão listadas na Tabela 2. Todas são da classe C60 de resistência, conforme norma vigente [44 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, “NBR 7190: Projeto de Estruturas de Madeira,” Rio de Janeiro, 1997.].

Tabela 2
Nomes das madeiras folhosas utilizadas no estudo.

As madeiras provenientes de lotes homogêneos foram devidamente estocadas, resultando em teor de umidade próximo de 12%, conforme as premissas da ABNT NBR 7190 [44 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, “NBR 7190: Projeto de Estruturas de Madeira,” Rio de Janeiro, 1997.]. Os métodos de ensaio da norma brasileira também foram seguidos para as obtenções das propriedades físicas e mecânicas.

Também como recomenda a norma brasileira, foram fabricados e testados doze corpos de provas por espécie na resistência ao cisalhamento (Figura 1), assim com outros doze para a determinação dos valores da densidade aparente, resultando em 552 determinações experimentais ao todo.

Figura 1
a) Ilustração dos corpos de prova padronizados pela norma (5x5x15 cm - ABNT NBR 7190); b) aparelho utilizado no ensaio de resistência ao cisalhamento paralelo às fibras.

Os corpos de prova foram rompidos na máquina universal de ensaios (AMSLER – capacidade de carga de 25 toneladas). O teor de umidade (U) dos mesmos no momento dos ensaios foi obtido por meio do medidor de umidade por contato Marrari M5 (10,76 ≤ U ≤ 12,96%). Com posse do teor de umidade das amostras, os valores de resistência (fU) foram corrigidos para o teor de umidade de 12%, conforme indicado pela ABNT NBR 7190 [44 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, “NBR 7190: Projeto de Estruturas de Madeira,” Rio de Janeiro, 1997.], com o auxílio das equações a seguir, em que fU consiste na resistência das amostras associado ao teor de umidade U, enquanto f12% consiste na resistência à 12% de umidade.

f 12 % = f U [ 1 + 3 ( U 12 ) 100 ] (1)

Com base nos valores corrigidos da resistência ao cisalhamento paralelo às fibras (fv0,12%), a equação 2 foi utilizada para a determinação do valor característico (fv0,k) para a categorização das madeiras, em que f1, f2 a fn denotam os valores da resistência em ordem crescente dos 12 (n) corpos de prova testados, conforme ABNT NBR 7190 [44 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, “NBR 7190: Projeto de Estruturas de Madeira,” Rio de Janeiro, 1997.].

f k { f 1 0.70 Σ i = 1 n f i n 1.10 [ 2 ( f 1 + f 2 + + f ( n / 2 ) 1 ( n / 2 ) 1 ) f n / 2 ] (2)

2.1 Análise Estatística: Bootstrap e T-test

O intervalo de confiança médio (inferência de variação no valor médio da população com base na amostra), no nível de confiabilidade de 95%, foi usado para calcular o valor médio, bem como o inferior (2,5%) e superior (97,5%), e o teste de Shapiro-Wilk (5% de significância) foi utilizado para avaliar a distribuição normal dos valores de fv0 considerando o conjunto de 23 espécies de madeira. Para os pressupostos assumidos no teste de normalidade (T-test), o valor de p (probabilidade p) igual ou superior ao nível de significância implica normalidade na distribuição fv0, que valida os resultados obtidos a partir do intervalo de confiança.

Para aumentar a confiabilidade dos resultados, foi utilizada a técnica de reamostragem Bootstrap para simular os intervalos de confiança médios (95% de confiabilidade), sendo consideradas de 100 a 1000000 simulações.

2.2 Modelos de regressão – ANOVA

A Tabela 3 a seguir mostra os modelos de regressão que foram utilizados nas estimativas. Nesta tabela, Y é a variável independente (cisalhamento paralelo às fibras – fv0), X a variável dependente (densidade aparente - ρap) e “a”, “b” e “b1”as constantes (parâmetros) das funções ajustadas pelo método dos mínimos quadrados. Pela ANOVA dos modelos de regressão a serem avaliados também ao nível de significância de 5%, a hipótese nula estipulada consistirá na não representatividade dos modelos testados (H0: β=0), e na representatividade como hipótese alternativa (H1: β≠0). P-valor superior ao nível de significância considerado implica em aceitar H0 (o modelo testado não é representativo - variações de X são incapazes de explicar as variações em Y), refutando-a em caso contrário (o modelo testado é representativo). Além do uso da ANOVA, que permite aceitar ou não a representatividade dos modelos testados, os valores do coeficiente de determinação ajustado [R2(aj)] serão obtidos como forma de avaliar a capacidade das variações da variável dependente X em explicar a variável preditiva Y, possibilitando eleger, dentre os modelos considerados significativos, o de melhor ajuste por relação testada. Conforme Montgomery [1010 Montgomery, D.C. Design and Analysis of Experiments, 8 ed., Arizona State University: John Wiley & Sons, Inc, 2013.], o coeficiente de determinação precisa ser superior a 70% para o modelo ser considerado significativo.

Tabela 3
Modelos de regressão utilizados.

RESULTADOS

A Tabela 4 apresenta os valores médios da densidade aparente (ρ12%) e resistência ao cisalhamento paralelo às fibras característico (fv0,k). Como pode-se observar, todas as madeiras são da classe C60 por possuir um fv0,k igual ou superior a 8 MPa (Tabela 1). Além disso, essas espécies possuem uma resistência à compressão paralela às fibras característica superior à 60 MPa, conforme Instituto de Pesquisas Tecnológicas [1111 IPT, “Instituto de Pesquisas Tecnológigas,” 2021. [Online]. Available: https://www.ipt.br/. [Acesso em 30 agosto 2021].
https://www.ipt.br/...
].

Tabela 4
Resultado das propriedades físicas e mecânicas das espécies analisadas.

A Tabela 5 apresenta o coeficiente de variação (C.V.) das propriedades analisadas, assim como o desvio padrão (DesvPad) e os valores mínimos (Mín.) e máximos (Máx.) obtidos nos ensaios. É possível notar que todas as propriedades ficaram abaixo dos 18% exigido pela norma ABNT NBR 7190 [44 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, “NBR 7190: Projeto de Estruturas de Madeira,” Rio de Janeiro, 1997.], mostrando a qualidade dos ensaios laboratoriais.

Tabela 5
Análise das propriedades.

3.1 Análise estatística

A Tabela 6 a seguir representa o resultado do intervalo de confiança, considerando 95% de confiabilidade (5% de significância) para as médias das espécies da Tabela 4. Esses resultados são expressos através do método T-test com uma amostra e através do Bootstrap, considerando até um milhão de simulações.

Tabela 6
Resultado do intervalo de Confiança para a resistência ao cisalhamento característico (MPa).

Como pode-se observar, o menor valor obtido em todas as análises estatísticas para a classe C60 foi de 10,774 MPa de resistência ao cisalhamento paralelo às fibras característico, mas a norma considera como sendo apenas 8 MPa (Tabela 1). Dessa forma, é possível notar que a ABNT NBR 7190 [44 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, “NBR 7190: Projeto de Estruturas de Madeira,” Rio de Janeiro, 1997.] considera um pouco mais da metade do que a madeira realmente suportaria, fazendo com que a estrutura fique superdimensionada. Com a correção da norma para o valor de 10,774 MPa, a estrutura teria uma resistência bem maior que o considerado.

Para um melhor entendimento do superdimensionamento, se considerarmos uma viga biapoiada sujeita a ação de forças principais próximas ao apoio, ou seja, o esforço cisalhando é principal em relação ao momento fletor, de vão L e medidas “b” e “h” para a base e altura da seção transversal retangular, respectivamente, é possível fazer a seguinte análise.

Para esse esquema adotado, temos a tensão tangencial de cisalhamento atuante de cálculo (τd) e a tensão de cisalhamento resistente de cálculo (fv0,k), conforme as equações a seguir, respectivamente. Conforme a norma vigente [44 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, “NBR 7190: Projeto de Estruturas de Madeira,” Rio de Janeiro, 1997.], a seguinte condição precisa ser atendida: τdfv0,k.

τ d = 3 V d 2 b h (3)
f v 0 , d = K mod f v 0 , k γ w (4)

Adotando um esforço de cisalhamento de cálculo atuante (Vd) de 50 kN, coeficiente de modificação (Kmod) de 0,64, coeficiente de ponderação (γw) de 1,80 e seção quadrada (b = h), é possível concluir que, para o valor de resistência ao cisalhamento exibido na norma ABNT NBR 7190 [44 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, “NBR 7190: Projeto de Estruturas de Madeira,” Rio de Janeiro, 1997.] de 8 MPa (Tabela 1), a seção necessária mínima para resistir a esse esforço é de 263,67 cm². Entretanto, com o valor encontrado nesta pesquisa de 10,774 MPa, a seção necessária seria de 195,78 cm², uma redução de 25,75% quando considerado apenas o cisalhamento.

3.2 Modelos de regressão

A Figura 2 a seguir mostra o resultado do modelo de regressão, utilizando a densidade aparente da classe estudada como estimadora da resistência ao cisalhamento paralelo às fibras.

Figura 2
Melhor ajuste obtido dentre os 4 modelos de regressão analisados.

Através dessa figura é possível concluir que, o ajuste geométrico foi o que obteve melhor resultado para essas espécies da classe C60 analisadas. Entretanto, a densidade aparente não apresentou como boa estimadora da propriedade analisada, por apresentar coeficientes de determinação (R2) inferiores a 70%, como indicado por Montgomery [1010 Montgomery, D.C. Design and Analysis of Experiments, 8 ed., Arizona State University: John Wiley & Sons, Inc, 2013.], diferentemente da pesquisa apresentada por Christoforo et al. [99 CHRISTOFORO, A.L., ARROYO, F.N., SILVA, D.A.L., et al., “Full characterization of Calycophyllum multiflorum wood specie,” Engenharia Agrícola, vol. 37, nº 4, pp. 637-643, 2017.]e Adamopoulos e Passialis [77 ADAMOPOULOS, S., PASSIALIS, C. “Relationship of toughness and modulus of elasticity in static bending of small clear spruce wood specimens,” European Journal of Wood and Wood Products, v. 68, pp. 109-111, 2010.], em que o coeficiente de determinação chegou a 85,23% e 92,30%, respectivamente, para o melhor ajuste. Uma forma de melhorar os ajustes obtidos, segundo Duarte et al. [1111 IPT, “Instituto de Pesquisas Tecnológigas,” 2021. [Online]. Available: https://www.ipt.br/. [Acesso em 30 agosto 2021].
https://www.ipt.br/...
],é considerando os constituintes químicos da madeira nos modelos de regressão.

Importante destacar também que o p-valor foi superior a 5%, dessa forma, variações na densidade aparente são incapazes de explicar as variações que ocorrem na propriedade de resistência analisada (o modelo não é representativo).

4. CONCLUSÕES

Através dessa pesquisa, é possível chegar as seguintes conclusões:

  1. Os coeficientes de variação foram inferiores ao exigido pela norma brasileira de estruturas de madeira (18%), evidenciando a qualidade nos ensaios laboratoriais executados.

  2. O valor apresentado na norma brasileira de estruturas de madeira é muito inferior ao realmente resistido pelas espécies nativas. A norma adota como valor de referência, para a resistência característica do cisalhamento paralelo às fibras da classe C60, como sendo de 8MPa. Entretanto, foi possível notar que esse valor chega a 10,774 MPa (34,68% maior).

  3. A ABNT NBR 7190 [44 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, “NBR 7190: Projeto de Estruturas de Madeira,” Rio de Janeiro, 1997.] precisa passar por revisão, pois está superdimensionando as estruturas de madeira no Brasil em relação ao cisalhamento resistido. Com a revisão, a estrutura de madeira passará a ter maior relevância no Brasil, pois os dimensionamentos ficarão mais precisos e as estruturas menos robustas e mais baratas, conforme mostrado no exemplo, tendo uma redução de 25,75% da seção considerando apenas o cisalhamento.

  4. Considerando os modelos de regressão analisados, o geométrico foi o que obteve melhor ajuste, entretanto, com a densidade da classe C60 não foi possível fazer a estimativa da resistência ao cisalhamento paralelo às fibras, pois os ajustes não atingiram os 70% exigidos por Montgomery [1010 Montgomery, D.C. Design and Analysis of Experiments, 8 ed., Arizona State University: John Wiley & Sons, Inc, 2013.].

  5. Como o p-valor foi superior a 5%, variações na densidade não são capazes de explicar as variações na propriedade de resistência analisada neste estudo.

BIBLIOGRAFIA

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    06 Maio 2022
  • Data do Fascículo
    2022

Histórico

  • Recebido
    20 Out 2020
  • Aceito
    08 Set 2021
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