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Resenha sobre o livro Alemão para Cantores

Review of the book Alemão para cantores [German for singers]

TENGARRINHA, Barbara Schilling. Alemão para cantores. Books on Demand GmbH, Norderstedt: 2009. US$ 21,90

canto em alemão; dicção e articulação da voz na música

singing in German; voice diction and articulation in music

Alemão para cantores é um livro didático de Barbara Schilling Tengarrinha, lançado pela Books on Demand Gmbd em 2009. A autora é docente no Conservatório Nacional de Lisboa, desde 1986, da disciplina de Alemão para cantores Cantores e elaborou o programa de línguas para o curso de canto. A opção pela resenha desse livro foi motivada pela grande importância do repertório germânico para a música ocidental, especialmente a música vocal, como a canção do período romântico (o Lied), a ópera, a cantata, o oratório e a música vocal do século XX, que exige do cantor o conhecimento do idioma alemão.

Esse é, portanto, um livro indicado para cantores líricos que desejam não apenas ter o conhecimento da dicção alemã por meio de manuais, que na maioria das vezes possuem apenas símbolos e regras fonéticas, mas sim compreender outros aspectos básicos, como a gramática do idioma alemão, para melhorar sua compreensão.

O livro é composto por 51 capítulos que abordam a pronúncia do alemão padrão, a pronúncia para palcos, as estruturas linguísticas do idioma alemão – levando em conta a frequência de certas estruturas no repertório e a forma poética –, o vocabulário, a gramática, a terminologia musical, a interpretação de textos e estratégias de leitura.

Elsa Saque, responsável pelo prefácio do livro, observou que "... o objetivo primeiro de um músico é comunicar. Comunicar a ideia, a estrutura e a mensagem poética expressa pelo compositor em cada obra que escreve". Na música instrumental, a principal fonte de informação que o executante possui é a partitura. Esse documento, em geral, traz informações como as notas a serem tocadas e suas durações relativas, indicações subjetivas de velocidade e intensidade de execução, e o nome do compositor.

A partir dessas informações, do conhecimento prévio do estilo musical da época e das gravações de outros intérpretes, o músico busca comunicar ao público as intenções do compositor. Já a música vocal traz, além de todas essas informações, um texto ou poema em torno da qual toda a obra foi construída. Esse texto passa a ser, então, a informação mais importante a ser comunicada ao ouvinte ou espectador.

Para que essa comunicação seja efetiva, uma boa dicção é essencial, pois cometer erros de pronúncia compromete a obra executada dificultando o entendimento ou mesmo mudando o sentido de uma frase ou até de toda a peça. O material apresentado no livro, desenvolvido para pessoas que possuem o português como língua materna, procura apresentar as semelhanças e diferenças entre os dois idiomas.

A língua alemã falada é extremamente rica em variações, nomeadas como dialetos. Neste trabalho, a autora se baseou na pronúncia do idioma padrão Hoch-Deutch (alto-alemão), considerado a forma culta do idioma alemão, utilizado em escolas, empresas, nas mídias impressa e televisionada. No que diz respeito ao canto, é utilizada a denominada "pronúncia de palco". Essa pronúncia de palco pode ser notada quando se vai ao teatro apreciar um(a) cantor(a) e se percebe que, na execução, o artista articula as palavras de uma forma mais exagerada que na fala utilizada no dia-a-dia. Isso é necessário porque, frequentemente, o cantor lírico canta sem amplificação e em um grande espaço físico. Ainda assim, ele precisa ser entendido por todos, independentemente do apreciador estar sentado na primeira ou na última fileira do teatro. Um exemplo dessa forma de pronúncia é o /r/ alveolar - chamado pelos cantores de /r/ rolado ou italiano-, que se assemelha ao som do /r/ quando a língua vibra.

Tengarrinha aborda o tema por meio de uma metodologia diferente dos manuais mais comuns de dicção para cantores. Ela ensina o idioma alemão utilizando textos, poemas, enredos de óperas alemãs. Dessa forma, trabalha sua compreensão do ponto de vista gramatical, não apenas utilizando regras da fonética alemã e questões articulatórias.

Entretanto, para cantores líricos que possuem o português como sua primeira língua, aprender um idioma como o alemão, do ponto de vista gramatical, não é uma tarefa simples. Levando em consideração que as estruturas desses dois idiomas são diferentes, e que cantores líricos brasileiros precisam conhecer no mínimo sete línguas (português, inglês, alemão, francês, italiano, latim e espanhol) para poder desenvolver seu repertório, aprender todos esses idiomas com fluência em pouco tempo se torna uma tarefa difícil. Uma ferramenta indispensável para facilitar o aprendizado da pronúncia de diversas línguas é o International Phonetic Alphabet (IPA), que procura organizar e padronizar os numerosos sons dos idiomas falados de todo o mundo, fornecendo um símbolo para cada som.

É claro que o IPA não substitui o estudo aprofundado de uma determinada língua, mas pode ser usado como um meio eficiente para o desenvolvimento de uma boa dicção. O conhecimento do IPA pode evitar o aprendizado incorreto decorrente da simples repetição da fala de outra pessoa, que acarreta uma série de problemas pedagógicos quando não acompanhada de uma conscientização dos mecanismos articulatórios.

Mas, no caso do idioma alemão, como de qualquer outro, o uso desse instrumento e o conhecimento de regras específicas estão longe de ser suficientes. Para compreender a dicção alemã, é necessário conhecer dados básicos da gramática, como artigos, tempos verbais, sufixos e prefixos. Um bom exemplo é a regra que diz: "Uma vogal seguida de duas ou mais consoantes, em geral, tem pronúncia aberta". Dessa forma, a palavra Herr (senhor) será pronunciada [hεr], com /e/ aberto, o que está correto. Mas essa regra pode levar a equívocos, como pronunciar, por exemplo, a palavra Loblied (hino) como ['lכpli:t], com pronúncia aberta da letra /o/.

Entretanto, um aluno que apresente um conhecimento básico da língua perceberia que essa palavra é uma junção de outras duas: Lob+Lied=Loblied. Ou seja, são duas consoantes juntas, mas em palavras diferentes. Por esse motivo, a vogal /o/ será pronunciada com som fechado [lo:pli:t]. A vogal /o/, nesse caso, terá o som semelhante ao /o/ da palavra hoje, do idioma português brasileiro.

Ao propor exercícios que remetem à gramática do idioma alemão, ao sugerir estratégias de leitura de textos, ao utilizar o IPA como ferramenta de apoio e expor regras específicas de pronúncia, Tengarrinha cerca o tema de sua obra de forma completa, fornecendo diversos subsídios para que o cantor falante do português execute peças alemãs com a maior correção possível, tanto no que diz respeito à pronúncia do texto como quanto à interpretação musical. Em suas próprias palavras, o autor na página 17 comenta:

É extremamente importante não apenas estudar os textos musicais enquanto textos de língua, mas também ouvi-los enquanto composições musicais, tematizando a relação entre música e texto, tal como o papel dos intérpretes.

Cantar corretamente em alemão costuma ser um problema significativo para os falantes do português. Enquanto um curso completo de alemão demanda vários anos de estudo e é focado na escrita e na fala, os manuais de dicção são totalmente voltados para a pronúncia no canto, mas não costumam trazer informações sobre a estrutura da língua. Em Alemão para cantores, Tengarrinha buscou, com sucesso, o meio termo entre as duas opções anteriores. Um texto que pode ser estudado em um tempo relativamente curto, que é voltado para a dicção no canto e que traz as informações necessárias para compreender melhor o funcionamento do idioma e reduzir a necessidade de decorar tantas regras e exceções, ajudando o cantor a interpretar obras em alemão com mais segurança e correção.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Jun 2015

Histórico

  • Recebido
    10 Nov 2013
  • Aceito
    13 Jun 2014
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