Acessibilidade / Reportar erro

Estudo da correlação entre a velocidade de reação motora e o lactato sanguíneo, em diferentes tempos de luta no judô

Estudio de la correlación entre la velocidad de reacción motora y el lactato sanguíneo en distintos tiempos de lucha en el judo

Resumos

A velocidade de reação motora humana ou tempo de reação (TR) é uma capacidade física importante para judocas, sendo observada na reação aos ataques ou pegadas do adversário, a fim de realizar um contragolpe ou uma esquiva. Durante uma luta de alta intensidade, há um aumento considerável na concentração de lactato sanguíneo (LS), relacionado à fadiga muscular, podendo interferir na capacidade de reação do atleta. Fisiologicamente, a fadiga pode ocorrer em diferentes níveis, desde a percepção do sinal externo, até a contração muscular. O objetivo deste trabalho foi de verificar a influência das concentração do LS, após estímulo de luta (Randori) de 1min e 30s, 3min e 5min, no TR em atletas de judô de alto nível. Foram analisados 11 indivíduos masculinos, competidores, saudáveis, com idade média de 23,4 anos ± 2 anos. Para o registro do TR simples foi utilizado o sistema Cybex Reactor. Para os registros do LS foi utilizado um lactímetro Accusport®, com fitas Boehringer Mannheim®. A análise da variância (Kruskal-Wallis) mostrou diferença significativa entre o LS antes e após a luta (p < 0,05) e na comparação do número de erros (NE) em repouso, imediatamente após as lutas e após 3min do final (p < 0,05), demonstrando a correlação significativa entre estas variáveis (p < 0,05; r = 0,9341). Entretanto, não houve diferença significativa entre os registros de TR pré e pós-lutas (p > 0,05). Conclui-se que a concentração de LS não influencia a capacidade dos atletas de reagir rapidamente ao estímulo visual, mas faz com que haja uma diminuição na eficiência na tarefa de TR, provavelmente devido a diminuição na capacidade de concentração dos atletas de judô após condição fatigante de luta.

Ácido láctico; Fadiga muscular; Tempo de reação simples


La velocidad de reacción motora humana o el tiempo de reacción (TR) es una capacidad física importante para luchadores de judo que se observa en la reacción a los ataques o golpes del adversario con contragolpeos o esquivos. Durante una lucha de alta intensidad, hay un aumento considerable en la concentración de lactato sanguíneo (LS) que se relaciona a la fatiga muscular, pudiendo interferir con la capacidad de reacción del atleta. En términos fisiológicos, la fatiga puede ocurrir en niveles diferentes, desde la percepción de la señal externa hasta la contracción muscular. El objetivo de este trabajo es averiguar la influencia de las concentraciones del LS tras el estímulo de lucha (Randori) de 1min y 30s, 3min y 5min, en el TR de atletas de judo de alto nivel. Se evaluaron 11 individuos masculinos, competidores, saludables, con promedio de edad de 23,4 años ± 2 años. Para el registro del TR simple se utilizó el sistema Cybex Reactor. Para los registros del LS se empleó un lactómetro Accusport®, con cintas Boehringer Mannheim®. El análisis de la variancia (Kruskal-Wallis) indicó una diferencia significativa entre el LS anteriormente y posteriormente a la lucha (p < 0,05) y en la comparación del número de errores (NE) en reposo, inmediatamente después de las luchas y después de 3 min. del final (p < 0,05), lo que demuestra una correlación significativa entre estas variables (p < 0,05; r = 0,9341). Sin embargo, no hubo una diferencia significativa entre los registros de TR anteriores y posteriores a la lucha (p > 0,05). Se concluye que la concentración del LS no tiene influencia sobre la capacidad de reacción inmediata de los atletas al estímulo visual, pero contribuye para la disminución en la eficiencia en la función de TR, que probablemente se debe a la reducción de la capacidad de concentración de los atletas de judo tras una situación fatigante de lucha.

Ácido láctico; Fatiga muscular; Tiempo de reacción simple


The velocity of motor reaction in humans is a important physical quality to judo competitors. During a high intensity fight, there is a considerable increase in serum lactate, which is closely related to muscle fatigue. This fact may interfere in the capacity of the athlete in reacting to stressful situations during the combat. The main purpose of this work is to study the role of serum lactate increases after a 1'30", 3' and 5' combat situations (Randori) in the velocity of motor reaction in high level judo competitors. METHODS: For this purpose we evaluated 11 healthy male competitors, 23.4 ± 2 years old. To record the simple reaction time, initially, immediately after combat and at the three minutes to rest, we employed the Cybex Reactor System. Serum lactate concentrations was measured by a portable lactate analyser (Accusport). Variance analysis (Kruskal-Wallis) showed significant differences between serum lactate before, immediately after combat and at the three minutes to rest (p < 0.05) and in the velocity of motor reaction (Cybex Reactor), between the number of errors to execute the tests before and after combats (p < 0.05). It was observed a high correlation between the number of errors to execute the tests at Cybex Reactor and the lactate concentration (r = 0.9341). However, it was not found significant differences between the motor reaction time before and after combats (p > 0.05). The results demonstrate that the high serum lactate concentration does not affect the motor reaction time in high level judo competitors, indeed it suggests that there is a decrease in the efficiency of the reaction. This fact was demonstrated by the high correlation found between the lactate concentrations and the number of errors in the reaction tests, probably due to decreases in concentration in judo competitors to stressful situations.

Muscle fatigue; Lactate; Reaction time; Judo


ARTIGO ORIGINAL

Estudo da correlação entre a velocidade de reação motora e o lactato sanguíneo, em diferentes tempos de luta no judô

Estudio de la correlación entre la velocidad de reacción motora y el lactato sanguíneo en distintos tiempos de lucha en el judo

Elessandro Váguino de LimaI; Charli TortozaII; Luiz Carlos Laureano da RosaIII; Rodrigo Alvaro Brandão Lopes-MartinsI

ILaboratório de Fisiologia e Farmacodinâmica, Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento-IP&D, Universidade do Vale do Paraíba (Univap), São José dos Campos, SP

IILaboratório de Biodinâmica, Faculdade de Ciências da Saúde, Univap

IIIDepto. de Matemática, Faculdade de Educação, Univap

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Rodrigo Alvaro B. Lopes Martins, Ph.D. Grupo de Pesquisas em Fisiologia e Farmacodinâmica, Instituto de Pesquisa & Desenvolvimento-IP&D, Universidade do Vale do Paraíba – Univap Av. Shishima Hifumi, 2.911 – Urbanova 12244-000 – São José dos Campos, SP E-mail: rlopes@univap.br

RESUMO

A velocidade de reação motora humana ou tempo de reação (TR) é uma capacidade física importante para judocas, sendo observada na reação aos ataques ou pegadas do adversário, a fim de realizar um contragolpe ou uma esquiva. Durante uma luta de alta intensidade, há um aumento considerável na concentração de lactato sanguíneo (LS), relacionado à fadiga muscular, podendo interferir na capacidade de reação do atleta. Fisiologicamente, a fadiga pode ocorrer em diferentes níveis, desde a percepção do sinal externo, até a contração muscular. O objetivo deste trabalho foi de verificar a influência das concentração do LS, após estímulo de luta (Randori) de 1min e 30s, 3min e 5min, no TR em atletas de judô de alto nível. Foram analisados 11 indivíduos masculinos, competidores, saudáveis, com idade média de 23,4 anos ± 2 anos. Para o registro do TR simples foi utilizado o sistema Cybex Reactor. Para os registros do LS foi utilizado um lactímetro Accusport®, com fitas Boehringer Mannheim®. A análise da variância (Kruskal-Wallis) mostrou diferença significativa entre o LS antes e após a luta (p < 0,05) e na comparação do número de erros (NE) em repouso, imediatamente após as lutas e após 3min do final (p < 0,05), demonstrando a correlação significativa entre estas variáveis (p < 0,05; r = 0,9341). Entretanto, não houve diferença significativa entre os registros de TR pré e pós-lutas (p > 0,05). Conclui-se que a concentração de LS não influencia a capacidade dos atletas de reagir rapidamente ao estímulo visual, mas faz com que haja uma diminuição na eficiência na tarefa de TR, provavelmente devido a diminuição na capacidade de concentração dos atletas de judô após condição fatigante de luta.

Palavras-chave: Ácido láctico. Fadiga muscular. Tempo de reação simples.

RESUMEN

La velocidad de reacción motora humana o el tiempo de reacción (TR) es una capacidad física importante para luchadores de judo que se observa en la reacción a los ataques o golpes del adversario con contragolpeos o esquivos. Durante una lucha de alta intensidad, hay un aumento considerable en la concentración de lactato sanguíneo (LS) que se relaciona a la fatiga muscular, pudiendo interferir con la capacidad de reacción del atleta. En términos fisiológicos, la fatiga puede ocurrir en niveles diferentes, desde la percepción de la señal externa hasta la contracción muscular. El objetivo de este trabajo es averiguar la influencia de las concentraciones del LS tras el estímulo de lucha (Randori) de 1min y 30s, 3min y 5min, en el TR de atletas de judo de alto nivel. Se evaluaron 11 individuos masculinos, competidores, saludables, con promedio de edad de 23,4 años ± 2 años. Para el registro del TR simple se utilizó el sistema Cybex Reactor. Para los registros del LS se empleó un lactómetro Accusport®, con cintas Boehringer Mannheim®. El análisis de la variancia (Kruskal-Wallis) indicó una diferencia significativa entre el LS anteriormente y posteriormente a la lucha (p < 0,05) y en la comparación del número de errores (NE) en reposo, inmediatamente después de las luchas y después de 3 min. del final (p < 0,05), lo que demuestra una correlación significativa entre estas variables (p < 0,05; r = 0,9341). Sin embargo, no hubo una diferencia significativa entre los registros de TR anteriores y posteriores a la lucha (p > 0,05). Se concluye que la concentración del LS no tiene influencia sobre la capacidad de reacción inmediata de los atletas al estímulo visual, pero contribuye para la disminución en la eficiencia en la función de TR, que probablemente se debe a la reducción de la capacidad de concentración de los atletas de judo tras una situación fatigante de lucha.

Palabras-clave: Ácido láctico. Fatiga muscular. Tiempo de reacción simple.

INTRODUÇÃO

As lutas de judô são desenvolvidas em alta intensidade de esforço, em períodos intermitentes de atividade e repouso(1), em que é requerido alto desenvolvimento da capacidade anaeróbia láctica. Isso pode ser observado em alguns estudos que verificaram altas concentrações de lactato no sangue após o desenvolvimento das mesmas(2-4).

A capacidade de reação a estímulos externos, conhecida como velocidade de reação motora ou tempo de reação (TR), é o intervalo de tempo entre o momento da apresentação do sinal externo e o início da resposta muscular apropriada(5), sendo essencial para competidores de judô. Ao mesmo tempo em que o judoca define estratégias de ataque no decorrer de uma luta, ele deve estar atento às ações do adversário, devendo reagir apropriadamente aos seus golpes a fim de responder com um contragolpe ou simplesmente executar uma esquiva, o que depende de um alto grau de atenção(6) e da velocidade de sua resposta após o sinal ser apresentado.

Com o acúmulo de elevadas concentrações de lactato no sangue durante a luta, pode haver uma interferência no desempenho do judoca, principalmente se sua capacidade de eliminá-las for lenta, já que no próximo combate ele terá maior chance de sucesso quanto mais rápida for a remoção do lactato. Com este comprometimento do rendimento, o TR pode ser uma das capacidades físicas que serão afetadas negativamente nessa etapa. Se o atleta diminuir a capacidade em reagir rapidamente e sua capacidade anaeróbia láctica for insuficiente para manter sua performance, é provável que diminua as chances de executar uma esquiva ou de contragolpear o adversário.

Chmura et al.(7) verificaram o comportamento do TR em diferentes cargas de esforço e concentrações de lactato. Os resultados mostraram uma redução inicial no TR até valores de 6mM/l de lactato no sangue, com aumento exponencial a partir desses valores. Johnson et al.(8) relacionaram o TR complexo com o aumento gradual da freqüência cardíaca (FC) entre 80, 115, 145, e 175 batimentos por minuto (bpm). Eles verificaram o menor TR na FC de 115bpm e o maior TR na FC de 175bpm. Quando o indivíduo executa cargas leves de exercício, é gerado um efeito de aquecimento e conseqüentemente isso aumenta a temperatura central(6,9). Nestas condições o SNC é ativado, provocando estado de alerta e atenção, e melhora do desempenho(6). Isso também resulta num aumento na dissociação do oxigênio da hemoglobina, maior fluxo sanguíneo nos músculos, um declínio na viscosidade muscular e um aumento na velocidade de condução dos potenciais de ação(6,9). Estes fatores devem ter sido os responsáveis pela melhora inicial no TR.

Com o objetivo de observar o comportamento do TR do judoca, sob condições de esforço gradual gerado por diferentes tempos de luta de judô, foi desenvolvido um protocolo experimental em que se induziu o aumento da concentração de lactato no sangue, o que pode levar à diminuição do desempenho, devido à acidose causada pelo acúmulo de H+ que foi dissociado do ácido láctico(10).

METODOLOGIA

O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Biodinâmica da Faculdade de Ciências da Saúde, na Universidade do Vale do Paraíba, de São José dos Campos. Participaram do experimento 11 judocas do sexo masculino, competidores há pelo menos 10 anos, assíduos aos treinamentos universitários desta instituição, com idade média de 23,4 ± 2,4 anos, que foram esclarecidos sobre o trabalho e assinaram um termo de consentimento para sua participação. Todo o protocolo experimental foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Vale do Paraíba (Protocolo Nº A011/2003/CEP).

Todo experimento foi realizado em um único dia, dividido em três etapas, com intervalo de quatro horas entre elas. Em cada etapa os atletas executaram a tarefa de TR no aparelho Cybex Reactor, que é capaz de medir o TR por meio da detecção da alteração de pressão no solo(11,12). Para o registro do TR o atleta foi instruído a permanecer em pé e estável sobre duas plataformas, de frente para o monitor, aguardando a apresentação do sinal no monitor, que foi ora para o lado esquerdo ora para o direito, devendo responder ao sinal visual o mais rapidamente possível. A tarefa pode ser observada nas figuras 1 e 2. Além do TR, fizeram a coleta de sangue da polpa do dedo para verificação do lactato sanguíneo no lactímetro portátil Accusport® e fitas de análise Boehringer Mannheim®. As coletas destas variáveis foram realizadas em repouso e, após aquecimento de 10 minutos, os atletas foram submetidos a um estímulo de luta de judô. Imediatamente após a luta os atletas realizaram uma tarefa de TR. Após três minutos do término das lutas, foi verificada a concentração de lactato e novamente medido o TR. As etapas da coleta tiveram tempos de luta diferentes: 1min e 30s, 3min e 5min, às 8, 12 e 16 horas, respectivamente, as quais foram desenvolvidas em alta intensidade pelos atletas. Para cada uma das situações realizadas, cada sujeito executou três repetições para o lado esquerdo e três para o lado direito das plataformas, totalizando 18 repetições. Foram consideradas erradas as tentativas com resultado inferior a 0,130 segundos, pois indica provável antecipação, e os que não foram registrados pelo equipamento, pela falta de estabilidade durante a apresentação do estímulo.



Os dados registrados foram exportados para uma planilha eletrônica. Foi considerado para o TR em repouso a média entre os menores valores de TR entre as saídas para o lado esquerdo e o direito, pois os mesmos não são significativamente diferentes (p = 0,64). Para o TR imediatamente após as lutas e após três minutos do término, foi considerado o menor valor entre as saídas para o lado esquerdo e o direito. Os registros de lactato também foram organizados em uma planilha eletrônica para a análise posterior.

Foi utilizado o método da análise da variância Kruskal-Wallis e em todos os testes o nível de significância aplicado foi de p < 0,05, em que se verificou a diferença do TR pré e pós-lutas, com saída para o lado esquerdo e para o direito das plataformas, e foi analisada a soma do número de erros de tentativas na execução da tarefa de TR, em repouso, imediatamente após as lutas e após 3min do final da luta. Verificou-se também a diferença nas concentrações de lactato sanguíneo em repouso e após as lutas. Foram correlacionados o número de erros de coletas de TR com a concentração de lactato, em repouso e após 3min do final da luta, através do coeficiente de correlação de Pearson.

RESULTADOS

O gráfico 1 mostra os valores do lactato sanguíneo em repouso e na condição após as lutas de 1min e 30s, 3min e 5min. Estes resultados demonstraram que a concentração de lactato sanguíneo pós-lutas aumentou expressivamente, em comparação com a concentração de lactato em repouso (p = 0,00). Não houve diferença significativa entre as concentrações de lactato em repouso (p = 0,41), ou nas condições pós-lutas (p = 0,97), entre os combates de 1min e 30s, 3min e 5min.


No gráfico 2 estão sendo mostrados os menores valores de registros coletados de TR em repouso, imediatamente após as lutas e aos 3min do término das lutas. De modo geral, todos os atletas conseguiram executar a tarefa proposta, embora tenham sido encontrados valores de TR relativamente diferentes (desvio médio do grupo ± 0,05s).


Para verificar os efeitos entre cada tempo de luta sobre o TR, foram comparados o TR em repouso e o TR imediatamente após as lutas de 1min e 30s, 3min e 5min (p = 0,91), e o TR em repouso com o TR após 3min do término das lutas (p = 0,77), não demonstrando qualquer diferença significativa (gráfico 2).

Mesmo a tarefa de TR sendo executada satisfatoriamente, foi observado que houve aumento do número de erros durante sua execução após as lutas em relação aos registros de repouso. O número de erros na execução da tarefa pode ser observado no gráfico 3.


Estes valores demonstraram que houve variação significativa (p = 0,03) da quantidade total de erros em função do tempo de esforço gerado pelas lutas, tanto imediatamente ao término da luta, quanto depois de 3min, comparado com o número de erros em repouso.

Para verificar a influência da concentração de lactato após as lutas na execução da tarefa, as variáveis foram analisadas conjuntamente em teste de correlação. Como resultado, foi observada correlação significativa entre a concentração de lactato sanguíneo e o número de erros de registros do TR, em repouso e após 3min do encerramento das lutas (p = 0,006; r = 0,9341).

DISCUSSÃO

Neste trabalho foi verificado o TR em repouso e em condição de altas concentrações de lactato sanguíneo, induzidas por diferentes tempos de luta no judô. Foi analisada a concentração de lactato sanguíneo antes do início de cada fase de luta, primeiramente, para averiguar os valores de repouso e, nas duas etapas seguintes, para confirmar o retorno aos valores iniciais de lactato, essencial para que ele iniciasse a luta subseqüente com baixas concentrações de lactato, já que as coletas foram realizadas em um único dia. Não foi encontrada diferença significativa entre os valores de repouso, demonstrando que o intervalo de quatro horas entre cada luta foi o suficiente para que os indivíduos tivessem a concentração de lactato retornado aos valores iniciais(13).

Constatou-se aumento significativo na concentração de lactato no sangue após as lutas de 1min e 30s, 3min e 5min, em relação à concentração de lactato em repouso. Estes resultados demonstraram que o esforço provocado pelas lutas foi suficiente para elevar significativamente o lactato para altas concentrações, como esperado e observado em outros(2-4). De acordo com Linnamo et al.(14), aumentos significativos da concentração de lactato, acima de 10mmol/l, indicam grande percentual de utilização de fibras rápidas durante o esforço e, portanto, pode ser um bom indicador da potência anaeróbia(15), tornando relevante o desenvolvimento desta capacidade para o melhor desempenho do judoca.

Os diferentes tempos de luta não induziram um aumento gradual ou com diferença significativa na concentração de lactato sanguíneo. Chmura et al.(7) controlaram a carga do esforço em cicloergômetro e obtiveram o aumento gradual da concentração de lactato. Estas diferenças devem-se, provavelmente, a possível conhecimento por parte do atleta, com base em experiências anteriores, do modo como dosar a intensidade do esforço durante as lutas. Aparentemente, estes atletas realizaram esforço mais intenso nas lutas mais breves e esforço menos intenso nas mais longas, já que eles foram informados previamente sobre a duração dos combates, de modo a compensar o volume pela intensidade de esforço, obtendo valores semelhantes de lactato sanguíneo.

Não foi encontrada diferença significativa no TR em altas concentrações de lactato, diferentemente dos resultados encontrados por Chmura et al.(7), que demonstraram que o aumento acentuado da concentração de lactato no sangue (6mmol/l ou mais) faz com que o TR seja maior. Além disso, o desempenho no TR não foi dependente do lado do membro que irá executar a tarefa (direito ou esquerdo), ao contrário dos resultados encontrados por Mori et al.(16), que verificaram diferença significativa entre os lados, observação que corrobora com Coronel et al.(17), que demonstraram poder existir influência da especialização do hemisfério cerebral em tarefas de TR. De modo geral, entende-se que a posição espacial do estímulo(18), o tipo de resposta requerida (unilateral ou bilateral) e posição do sujeito podem ser determinantes e influenciar o tempo de reação. No protocolo aplicado por Mori et al.(16), os sujeitos permaneciam sentados e reagiam ao sinal visual com os membros superiores apertando uma tecla que registrava o TR, ora com a mão esquerda ora com a direita, fazendo com que não houvesse interferência de um dos lados, quando o outro tivesse que responder, providenciando um TR distinto para cada lado de execução da tarefa. Neste protocolo, os sujeitos realizavam o teste de TR em pé e reagiam ao sinal com os dois membros inferiores simultaneamente; no entanto, eram informados de que os estímulos seriam apresentados na esquerda ou na direita do monitor. Desse modo, após a apresentação do sinal, o tempo de resposta foi obtido após uma mudança de pressão no solo pelos dois pés, para se moverem o mais rápido possível em direção à plataforma apresentada no monitor, independente do lado em que fosse apresentado o estímulo, sendo, portanto, o motivo provável de não ter sido encontrada diferença significativa nos resultados da análise entre os lados de saída.

Na observação dos registros de TR, foi verificado que houve aumento do número de erros de execução da tarefa de TR pós-lutas em relação ao repouso, apesar da manutenção dos valores de TR. Uma provável dificuldade de concentração dos sujeitos pós-lutas fez com que as saídas fossem antecipadas ou que eles não ficassem completamente estabilizados sobre as plataformas. Observou-se, contudo, que o número de erros foi ainda maior imediatamente pós-lutas quando comparado com os valores obtidos três minutos após o término da luta.

Com o intuito de verificar o comportamento entre a concentração de lactato sanguíneo e o número de registros errados de TR, foi feita uma análise de correlação destas variáveis em dois momentos: em repouso e após 3min do final da luta, obtendo resultado significativo. Isso demonstra que o aumento de lactato em lutas de judô pode interferir no desempenho durante a manutenção da resposta correta na capacidade de reação.

Diversos fatores podem estar relacionados ao número de erros em cada fase do teste. O momento da coleta do sangue, três minutos após o término das lutas, não necessariamente representa a fase de maior concentração de lactato no músculo ou de maior acidose muscular, mas sim a dinâmica entre a produção de ácido láctico muscular, sua dissociação em lactato e íons H++ e sua remoção(19), enquanto, imediatamente após as lutas, a condição metabólica pode variar em decorrência de sua duração e intensidade. Estes resultados mostram que, para se manter uma tarefa em ótimo desempenho, é necessária a manutenção do nível de concentração do indivíduo após e durante esforços de alta intensidade, e que está relacionado à capacidade de suportar os efeitos agudos do exercício sobre o aparato muscular. Aparentemente, como os atletas mantiveram os valores de TR durante todas as fases de coleta inalterados significativamente, mas diminuíram o desempenho do TR indiretamente, ao não conseguirem a manutenção na capacidade de executar a tarefa, os efeitos metabólicos observados podem produzir diferentes respostas adaptativas do organismo, de modo a preservar a capacidade motora em detrimento das habilidades específicas requeridas em cada tarefa.

Além da concentração de lactato, sabe-se que diversos fatores podem contribuir para a diminuição da capacidade de contração do músculo e também influenciar no resultado obtido em tarefas motoras.

Primeiramente, entendemos que possa ter ocorrido uma acidose muscular causada pelo acúmulo de H+(20-22) que foi dissociado do lactato, a partir do ácido láctico. A diminuição dos níveis de energia e também de CP para a ressíntese de ATP, relacionada com o aumento dos níveis de Pi no sarcoplasma, pode ter limitado a capacidade de contração do músculo(23). Um complexo formado pela interação de Pi e Ca++ pode provocar uma precipitação deste complexo para dentro do retículo sarcoplasmático, reduzindo a quantidade de Ca++ livre disponível no sarcoplasma, causando menor afinidade com os sítios de ligação da troponina(24-27), podendo reduzir a força de ligação das pontes cruzadas entre actina e miosina no final da fase de contração muscular. Um outro ponto importante é que uma resposta inibitória pode ser desencadeada pela condição fatigante no músculo, mandando um sinal aferente à região supra-espinhal e posteriormente ao neurônio motor(28), ou por uma inibição direta que parte do próprio neurônio motor em direção à fibra muscular(23), fazendo com que seja reduzido o número de sinais à fibra muscular, como uma espécie de economia de estímulos, para que o músculo prolongue o trabalho, mesmo que esteja diminuindo a força de contração(28). Esta condição que está fatigando o músculo pode providenciar um sinal aos comandos centrais conhecido como feedback inibitório aferente(20). Além disso, pode ocorrer uma falha no mecanismo de transmissão do impulso elétrico do neurônio motor para a fibra muscular, pela excessiva e freqüente chegada de estímulo à junção neuromuscular, resultando na limitação da liberação da acetilcolina pela terminação(29,30).

Esses fatores associados podem ter auxiliado a interferir na performance dos indivíduos, levando-os a errarem mais ao executarem a tarefa, o que influenciaria sua motivação, que está relacionada à percepção e ao processamento das informações no SNC(31).

Com base nos resultados, concluiu-se que existe uma distinção entre o tempo de reação e a capacidade de reagir corretamente, fatores que podem ser decisivos em uma luta de judô. Foi observado que após esforços de alta intensidade a concentração de lactato tende a ser elevada, independente da duração do combate, e que leva o atleta à fadiga, influenciando negativamente em sua capacidade de acerto ao reagir a um estímulo.

O trabalho mostrou que mesmo com altas concentrações de lactato sanguíneo após as lutas, foi mantida a capacidade de reação do atleta, mas a freqüência com que esta performance aconteceu foi diminuída, resultando em respostas erradas, porém aleatórias. Esta incapacidade de manutenção do desempenho em todas as fases de reação durante uma luta intensa é um fator que deve ser considerado durante o treinamento. De modo geral, o desenvolvimento da capacidade anaeróbia láctica é essencial para que na luta os judocas suportem altas concentrações de lactato no sangue e nos intervalos tenham a capacidade de reabsorção do lactato acumulado e entrem para as lutas subseqüentes capazes de reagir aos golpes adversários com maior freqüência de acertos.

Apesar deste trabalho evidenciar alguns aspectos fundamentais para o bom desempenho do judoca, ele não verifica com precisão todos os fatores envolvidos na análise do tempo de reação. Sabe-se que o fracionamento do tempo de reação em percepção do estímulo, processamento da informação, propagação do sinal até a contração muscular, caracterizando o início da resposta, pode explicar em que nível do sistema motor as deficiências ocorrem. Observamos ainda que a determinação explícita da duração dos combates pode ter interferido demasiadamente no modo como os atletas dosaram a intensidade do esforço, pois fenômeno similar não acontece durante a competição. Desse modo, sugerimos que estudos complementares sejam realizados com o intuito de melhor analisar as relações entre a fadiga neuromuscular e o tempo de reação.

Todos os autores declararam não haver qualquer potencial conflito de interesses referente a este artigo.

Recebido em 10/11/03. 2ª versão recebida em 17/6/04. Aceito em 17/7/04.

O arquivo disponível sofreu correções conforme ERRATA publicada no Volume 10 Número 6 da revista.

  • 1. Drigo AJ, Amorim ARD, Kokubun E. Avaliação do condicionamento físico em judocas através do lactato sanguíneo. In: 19ş Simpósio Internacional de Ciências do Esporte "Saúde e Desempenho", Celafiscs, São Caetano do Sul, São Paulo, Brasil, 1994;156.
  • 2. Drigo AJ, Martins CJ, Marinelli EJ, Mathias R, Amorim AR, Kokubun E. Lutas de projeção e de solo no judô: estudo pelo lactato sanguíneo. Revista Motriz 1996; 2:80-5.
  • 3. Franchini E, Takito MY, Lima JRP, Hadad S, Kiss MAPD, Regazzini M, et al. Características fisiológicas em testes laboratoriais e resposta da concentração de lactato sanguíneo em três lutas em judocas das classes juvenil-a, júnior e sênior. Revista Paulista de Educação Física 1998;12:5-16.
  • 4. Serrano MA, Salvador A, González-Bono E, Sanchís C, Suay F. Relationships between recall of perceived exertion and blood lactate concentration in a judo competition. Perceptual and Motor Skills 2001;92:1139-48.
  • 5. Schmidt RA. Aprendizagem e performance motora: dos princípios à prática. São Paulo: Ed. Movimento, 1993.
  • 6. Weineck J. Treinamento ideal. 9th ed. São Paulo: Manole, 1999.
  • 7. Chmura J, Nazar K, Kaciuba U. Choice reaction time during graded exercise in relation to blood lactate and plasma catecholamine thresholds. Int J Sports Med 1994;15:172-6.
  • 8. Johnson BL, Nelson JK. The measurement of speed and reaction time. In: Practical measurements for evaluation in physical education. 4th ed. USA: Burgess Publishing, 1986;253-66.
  • 9. Enoka RM. Bases neuromecânicas da cinesiologia. 2nd ed. São Paulo: Manole, 2000.
  • 10. Rassier DE, Macintosh BR. Coexistence of potentiation and fatigue in skeletal muscle. Braz J Med Biol Res 2000;33:499-508.
  • 11. Geraci R. Speedwork. Men's Health 1998;13:70.
  • 12. Johnson PD, Hertel J, Olmsted LC, Denegar CR, Putukian M. Effect of mild brain, injury on an instrumented agility task. Clin J Sport Med 2002;12:12-7.
  • 13. Guyton AC, Hall JE. Fisiologia humana e mecanismos das doenças. 6th ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998.
  • 14. Linnamo V, Newton RU, Häkkinen K, Komi PV, Davie A, McGuigan M, et al. Neuromuscular responses to explosive and heavy resistance loading. J Electromyogr Kinesiol 2000;10:417-24.
  • 15. Nummela A, Mero A, Stray-Gundersen J, Rusko H. Important determinants of anaerobic running performance in male athletes and non-athletes. Int J Sports Med 1996;17:S91-6.
  • 16. Mori S, Yoshio O, Imanaka K. Reactions times and anticipatory skills of karate athletes. Human Movement Science 2002;21:213-30.
  • 17. Coronel M, Abreu D, Eblen-Zajjur A. Tiempo de reaccion a estimulacion visual dicotica y su relacion con la especializacion hemisferica cerebral. Acta Cient Venez 1999;50:29-33.
  • 18. Carreiro LRR, Haddad Júnior H, Baldo MVC. The modulation of simple reaction time by the spatial probability of a visual stimulus. Braz J Med Biol Res 2003;36: 907-11.
  • 19. Wilmore JH, Costill DL. Fisiologia do esporte e do exercício. 2nd ed. São Paulo: Manole, 2001.
  • 20. Enoka RM. Mechanisms of muscle fatigue: central factors and tasks dependency. J Electromyogr Kinesiol 1995;5:141-9.
  • 21. Fitts RH. Muscle fatigue: the cellular aspects. Am J Sports Med 1996;24:S9-13.
  • 22. Sahlin K, Katz A. Lactate formulation during submaximal exercise. In: Nazar K, Terjung RL, Kaciuba-Uscilko K, Budohoski L, editors. International perspectives in exercise physiology. Illinois: Human Kinetics, 1990;79-82.
  • 23. Westerblad H, Allen DG. Recent advances in the understanding of skeletal muscle fatigue. Curr Opin Rheumatol 2002;14:648-52.
  • 24. Duke AM, Steele DS. Interdependent effects of organic phosphate and creatine phosphate on sarcoplasmic reticulum Ca2+ regulation in mechanically skinned rat skeletal muscle. J Phisiol 2001;531:729-42.
  • 25. Fryer MW, West JM, Stephenson DG. Phosphate transport into the sarcoplasmic reticulum of skinned fibres from rat skeletal muscle. J Muscle Res Cell 1997;18:161-7.
  • 26. Posterino GS, Fryer MW. Mechanisms underlying phosphate-induced failure of Ca2+ release in single skinned skeletal muscle fibers of the rat. J Physiol 1998; 512:97-108.
  • 27. Rozzi S, Yuktanandana P, Pincivero D, Lephart SM. Role of fatigue on proprioception and neuromuscular control. In: Lephart SM, Fu FH, editors. Proprioception and neuromuscular control in joint stability. Illinois: Human Kinetics, 2000; 375-86.
  • 28. Forestier N, Nougier V. The effects of muscular fatigue on the coordination of a multijoint movement in human. Neurosci Lett 1998;252:187-90.
  • 29. Farinatti PTV, Monteiro WD. Fisiologia e avaliação funcional. 2nd ed. Rio de Janeiro: Sprint, 1992.
  • 30. Lerner BR. Introdução ao estudo da fisiologia humana. 7th ed. São Paulo: Edart, 1982.
  • 31. Singer RN. Motor learning and human performance an application to motor skills and movement behaviors. 3rd ed. New York: Macmillan, 1980.
  • Endereço para correspondência

    Rodrigo Alvaro B. Lopes Martins, Ph.D.
    Grupo de Pesquisas em Fisiologia e Farmacodinâmica, Instituto de Pesquisa & Desenvolvimento-IP&D, Universidade do Vale do Paraíba – Univap
    Av. Shishima Hifumi, 2.911 – Urbanova
    12244-000 – São José dos Campos, SP
    E-mail:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      24 Nov 2005
    • Data do Fascículo
      Out 2004

    Histórico

    • Aceito
      17 Jul 2004
    • Recebido
      10 Nov 2003
    Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte Av. Brigadeiro Luís Antônio, 278, 6º and., 01318-901 São Paulo SP, Tel.: +55 11 3106-7544, Fax: +55 11 3106-8611 - São Paulo - SP - Brazil
    E-mail: atharbme@uol.com.br