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A acurácia da determinação do VO2max e do limiar anaeróbio

La exactitud en la determinacion del VO2máx y del umbral anaerobico

Resumos

São raros estudos que tratam da acurácia de parâmetros de trocas gasosas durante o esforço, com a população brasileira. OBJETIVO: Determinar a confiabilidade do consumo máximo de oxigênio (VO2max) e do limiar anaeróbio (LAn), assim como, a objetividade do segundo (LAn) em adultos jovens saudáveis. MÉTODOS: Foram aplicados dois testes de esforço máximo, a partir dos quais dois observadores independentes determinaram o LAn através do método de inspeção visual. Os dados foram tratados por meio da análise de regressão, coeficiente de correlação intraclasse (CCI), ANOVA com dois fatores com teste post hoc de Tukey e teste t pareado para alfa < 0,05. As variações intra-observadores e intra-sujeitos foram determinadas por meio do erro típico (s) e coeficiente de variação (CV). RESULTADOS: Não houve diferença significativa entre os testes para o VO2max e LAn. Não foram observadas diferenças significativas entre testadores para a determinação do LAn. O VO2max apresentou entre os dois testes CCI = 0,97, s = ± 0,14L • min-1 e CV = ± 5,5% e para o LAn o CCI = 0,90, s = ± 0,14L • min¹, e CV = ± 9,2%. A determinação do LAn interobservadores apresentou CCI = 0,95, s = ± 0,10L • min-1 e CV = ± 5,6%. CONCLUSÃO: O VO2max e o LAn foram medidas satisfatoriamente precisas.

Objetividade; Consumo máximo de oxigênio; Limiar de lactato e limiar ventilatório


Son raros los estudios que tratan de la exactitud de los parámetros de cambios gaseosos durante el esfuerzo con la población brasileña. OBJETIVO: Determinar la confiabilidad del consumo máximo de oxigeno (VO2max) y del umbral anaeróbico (LAn), así como la objetividad del segundo, (LAn) en adultos jovenes saludables. MÉTODOS: Fueron aplicados dos tests de esfuerzo máximo, a partir de los cuales dos observadores independientes determinaron el LAn a través del método de inspección visual. Los datos fueron tratados por medio del análisis de regresión, coeficiente de relación intraclase (CCI), ANOVA com dos factores con test post hoc de Tukey y el test t apareado para alfa < 0,05. Las variaciones intra-observadores e intra-sujetos fueron determinados por medio del error típico (s) y el coeficiente de variación (CV). RESULTADOS: No hubo diferencia significativa entre los tests para el VO2max y el LAn. Não fueron observadas diferencias significativas entre los testeadores para la determinación del LAn. El VO2max presentó entre los dos tests CCI = 0,97, s = ± 0,14 L • min-1 y CV = ± 5,5% y para el LAn el CCI = 0,90, s = ± 0,14 L • min-1, e CV = ± 9,2%. La determinación del LAn interobservadores presentó CCI = 0,95, s = ± 0,10 L • min-1 e CV = ± 5,6%. CONCLUSION: El VO2max y el LAn fueron medidas satisfatoriamente precisas.

Objetividad; Consumo máximo de oxígeno; Umbral de lactato y umbral ventilatorio


Studies on the accuracy of the gas exchange and ventilation parameters during exertion involving the Brazilian population are scarce in literature. OBEJCTIVE: To determine the reliability of the maximal oxygen intake (VO2max) and anaerobic threshold (AnT), as well as the objectivity of the AnT determination in Brazilian healthy youth adults. METHODS: Two tests of maximal exertion were applied. Two independent observers applied the visual inspection method for the AnT determination. The data were compared by means of the regression analysis, intraclass correlation coefficient (ICC), two-way ANOVA and the paired t-test for an alpha < 0.05. The intra-observer and intra-subject variabilities were determined by means of the typical error (s) and variation coefficient (VC). RESULTS: No significant differences between tests for the VO2max and AnT determination as well as between observers in AnT determination were observed. The new VO2max presented ICC = 0.97, s = ± 0.14 L • min-1, and VC = ± 5.5%. The AnT presented ICC = 0.90, s = ± 0.14 L • min-1, and VC = ± 9.2%. The inter-observers AnT determination presented ICC = 0.95, s = 0.1 L • min-1 and VC = 5.6%. CONCLUSION: The VO2max and the AnT are reliable measurements, and the AnT determination was demonstrated to be an objective method in the population studied.

Reliability; Objectivity; Maximal oxygen intake; Anaerobic threshold and ventilatory threshold


ARTIGO ORIGINAL

A acurácia da determinação do VO2max e do limiar anaeróbio* * Departamento de Biociências da Atividade Física EEFD/UFRJ.

Accuracy of VO2max and anaerobic threshold determination

La exactitud en la determinacion del VO2máx y del umbral anaerobico

Paulo Cesar N. Granja Filho; Fernando A.M.S. Pompeu; Alair Pedro Ribeiro de Souza e Silva

Endereço para correspondência Endereço para correspondência Departamento de Biociências da Atividade Física EEFD/UFRJ Av. Brigadeiro Trompowisk, s/n, Cidade Universitária, Ilha do Fundão 29141-590 - Rio de Janeiro, RJ Fax: (21) 2562-6801 E-mail: pompeu_fernando@hotmail.com

RESUMO

São raros estudos que tratam da acurácia de parâmetros de trocas gasosas durante o esforço, com a população brasileira.

OBJETIVO: Determinar a confiabilidade do consumo máximo de oxigênio (VO2max) e do limiar anaeróbio (LAn), assim como, a objetividade do segundo (LAn) em adultos jovens saudáveis.

MÉTODOS: Foram aplicados dois testes de esforço máximo, a partir dos quais dois observadores independentes determinaram o LAn através do método de inspeção visual. Os dados foram tratados por meio da análise de regressão, coeficiente de correlação intraclasse (CCI), ANOVA com dois fatores com teste post hoc de Tukey e teste t pareado para a < 0,05. As variações intra-observadores e intra-sujeitos foram determinadas por meio do erro típico (s) e coeficiente de variação (CV).

RESULTADOS: Não houve diferença significativa entre os testes para o VO2max e LAn. Não foram observadas diferenças significativas entre testadores para a determinação do LAn. O VO2max apresentou entre os dois testes CCI = 0,97, s = ± 0,14L • min-1 e CV = ± 5,5% e para o LAn o CCI = 0,90, s = ± 0,14L • min1, e CV = ± 9,2%. A determinação do LAn interobservadores apresentou CCI = 0,95, s = ± 0,10L • min-1 e CV = ± 5,6%.

CONCLUSÃO: O VO2max e o LAn foram medidas satisfatoriamente precisas.

Palavras-chave: Objetividade. Consumo máximo de oxigênio. Limiar de lactato e limiar ventilatório.

ABSTRACT

Studies on the accuracy of the gas exchange and ventilation parameters during exertion involving the Brazilian population are scarce in literature.

OBEJCTIVE: To determine the reliability of the maximal oxygen intake (VO2max) and anaerobic threshold (AnT), as well as the objectivity of the AnT determination in Brazilian healthy youth adults.

METHODS: Two tests of maximal exertion were applied. Two independent observers applied the visual inspection method for the AnT determination. The data were compared by means of the regression analysis, intraclass correlation coefficient (ICC), two-way ANOVA and the paired t-test for an a < 0.05. The intra-observer and intra-subject variabilities were determined by means of the typical error (s) and variation coefficient (VC).

RESULTS: No significant differences between tests for the VO2max and AnT determination as well as between observers in AnT determination were observed. The new VO2max presented ICC = 0.97, s = ± 0.14 L • min-1, and VC = ± 5.5%. The AnT presented ICC = 0.90, s = ± 0.14 L • min-1, and VC = ± 9.2%. The inter-observers AnT determination presented ICC = 0.95, s = 0.1 L • min-1 and VC = 5.6%.

CONCLUSION: The VO2max and the AnT are reliable measurements, and the AnT determination was demonstrated to be an objective method in the population studied.

Key words: Reliability. Objectivity. Maximal oxygen intake. Anaerobic threshold and ventilatory threshold.

RESUMEN

Son raros los estudios que tratan de la exactitud de los parámetros de cambios gaseosos durante el esfuerzo con la población brasileña.

OBJETIVO: Determinar la confiabilidad del consumo máximo de oxigeno (VO2max) y del umbral anaeróbico (LAn), así como la objetividad del segundo, (LAn) en adultos jovenes saludables.

MÉTODOS: Fueron aplicados dos tests de esfuerzo máximo, a partir de los cuales dos observadores independientes determinaron el LAn a través del método de inspección visual. Los datos fueron tratados por medio del análisis de regresión, coeficiente de relación intraclase (CCI), ANOVA com dos factores con test post hoc de Tukey y el test t apareado para a < 0,05. Las variaciones intra-observadores e intra-sujetos fueron determinados por medio del error típico (s) y el coeficiente de variación (CV).

RESULTADOS: No hubo diferencia significativa entre los tests para el VO2max y el LAn. Não fueron observadas diferencias significativas entre los testeadores para la determinación del LAn. El VO2max presentó entre los dos tests CCI = 0,97, s = ± 0,14 L • min-1 y CV = ± 5,5% y para el LAn el CCI = 0,90, s = ± 0,14 L • min-1, e CV = ± 9,2%. La determinación del LAn interobservadores presentó CCI = 0,95, s = ± 0,10 L • min-1 e CV = ± 5,6%.

CONCLUSION: El VO2max y el LAn fueron medidas satisfatoriamente precisas.

Palabras-clave: Objetividad. Consumo máximo de oxígeno. Umbral de lactato y umbral ventilatorio.

INTRODUÇÃO

O consumo máximo de oxigênio (O2max) e o limiar anaeróbio (LAn) são parâmetros usados para a avaliação da função cardiorrespiratória máxima e reserva funcional. O O2max vem auxiliando na triagem de candidatos ao transplante cardíaco (< 14mL • kg-1 • min-1), pois, apresenta elevado valor preditivo da mortalidade destes pacientes(1,2).

O desempenho atlético em provas de longa duração apresenta boa associação (r = 0,78) com o O2max(3). Contudo, este fenômeno não foi observado em grupos homogêneos de atletas de alto nível(4,5). Correlações mais fortes podem ser encontradas entre o LAn e o desempenho em provas de longa duração (r = 0,94 a 0,98)(3).

Para medidas destes parâmetros, no âmbito clínico e desportivo, emprega-se ergoespirômetros automatizados com boa resolução temporal. Contudo, a instrumentação disponível na maioria dos laboratórios nacionais é menos sofisticada, em virtude do menor custo. Estes equipamentos não têm sido avaliados quanto à qualidade das medidas. Neste caso, os pesquisadores nacionais ficam limitados a extrapolações baseadas em estudos feitos no exterior com equipamentos mais sofisticados. Portanto, o objetivo da presente investigação foi analisar a confiabilidade do O2maxe LAn, assim como, a objetividade do segundo parâmetro, quando empregados equipamentos amplamente difundidos no território nacional.

MÉTODOS

Foram sujeitos desta investigação 14 adultos jovens, saudáveis, não tabagistas e envolvidos em atividades físicas não competitivas com: 24 ± 4 anos, 66,2 ± 13,7kg e 169,6 ± 10,2cm. Esse grupo era composto por cinco mulheres (28 ± 6 anos; 57,2 ± 4,1kg e 160,2 ± 7,1cm) e nove homens (22 ± 2 anos, 71,1 ± 14,8kg e 174,8 ± 7,4cm). Antes da realização dos testes, os voluntários preencheram um Termo de Consentimento e Esclarecimento. O protocolo experimental deste estudo foi aprovado pela Comissão de Ética para Estudos com Seres Humanos do HSE (CEP. 000.021/99). Recomendou-se, para o dia prévio ao exame, a abstinência de atividades físicas extenuantes. Recomendou-se também, evitar cafeína e alimentos nas três horas antecedentes ao esforço.

Na primeira visita ao laboratório, os voluntários realizaram um teste de familiarização. Uma semana após este teste, os sujeitos retornaram ao laboratório para a realização dos testes experimentais que foram separados pelo intervalo mínimo de uma e máximo de duas semanas.

Foi utilizado um protocolo escalonado e contínuo(6), constando de repouso inicial por seis minutos sentado sobre o cicloergômetro (Monarkâ, Brasil), seguido por aquecimento de quatro minutos sem carga e, posteriormente, pela fase escalonada com duração de oito a 12 minutos. Para os incrementos, calculou-se indiretamente a carga máxima (Wmax)(7), sendo esta dividida em 10 partes para a determinação dos estágios de um minuto. As cadências variaram por indivíduo, de 60 a 96rpm, e os incrementos, de 15 a 35W • min-1.

As variáveis de trocas gasosas e ventilatórias foram integradas a cada 20 segundos, a partir de medidas coletadas por um analisador metabólico (Aerosportâ TEEM 100, EUA) e pneumotacógrafo de fluxo médio (Hans Rudolphâ, EUA). A freqüência cardíaca foi monitorada por um cardiotacômetro (Polar Sport Testerâ, Finland) a cada cinco segundos.

Os procedimentos de calibragem dos equipamentos foram feitos previamente à realização de cada teste. Calibrou-se o ergoespirômetro fornecendo-se uma mistura de gases padrão (AGAâ, Brasil) balanceada com nitrogênio, contendo 17,01% de oxigênio e 5,00 % de dióxido de carbono. O fluxo foi calibrado através de uma seringa de três litros (Hans Rudolphâ, EUA) e o cicloergômetro, por meio de um lastro de 3kg.

Os testes, realizados sempre pelo mesmo operador, foram considerados satisfatórios quando alcançado pelo menos um dos seguintes critérios(8) para esforço máximo: platô no O2 (aumento < 150mL • min-1 ou 2mL • kg-1 • min-1), FCmax> 180bpm, Borg > 18 e RER > 1,1. Não houve estímulo verbal, ou de outra natureza externa, que pudesse alterar o tempo de continuação do esforço.

A determinação do LAn foi feita pelo método de inspeção visual(6,9-11). Para tanto, foram analisados os gráficos v-slope modificado (V-s mod.), equivalentes ventilatórios (E/O2 x tempo e E/CO2 x tempo), ventilação minuto (E x tempo) e razão das trocas respiratórias (RER x tempo). Dois observadores independentes determinaram o LAn para cada sujeito, analisando os quatro gráficos em conjunto (LAnobs). Tais observadores tinham a experiência mínima de dois anos de treinamento em ergoespirometria. A média entre os dois observadores foi utilizada como método combinado(12) (LAncomb). Os valores dos limiares foram expressos como O2abs (L • min-1), O2rel (mL • kg-1 • min-1) e potência física (Watts).

O tratamento estatístico foi realizado através do aplicativo SPSS® for Windows e planilha eletrônica em ExcelÒ(13). Para a análise da confiabilidade do O2max e do LAncomb, as diferenças entre as médias foram examinadas através do teste t pareado. Duas ANOVAs com dois fatores (4 x 4) foram utilizadas a fim de confrontar os quatro gráficos para determinação do LAn nos dois testes ou, pelos dois observadores. O teste de post hoc HSD-Tukey foi aplicado, quando necessário. O grau de associação entre testes e entre observadores foi medido através do coeficiente de correlação intraclasse (CCI). A análise de regressão linear foi utilizada para estabelecer a carga (Watts) correspondente ao LAncomb (L • min-1) para cada sujeito e, ainda, para relacionar o O2max e o LAncomb entre os dois testes. As variações intra-sujeito e intra-observador foram medidas através do erro típico (s) e do coeficiente de variação (CV)(14). Fixou-se o nível de significância em menor ou igual a 0,05.

RESULTADOS

A diferença entre o O2max nos dois momentos (O2maxabs: teste A = 3,03 ± 0,81L • min-1 e teste B = 3,01 ± 0,85L • min-1; O2maxrel: teste A = 46,1 ± 9,5mL • kg-1 • min-1 e teste B = 45,5 ± 9,7mL • kg1 • min-1) não foi significativa. A variação intra-sujeitos para o O2max foi de 0,14L • min-1 (CV = 5,5%) ou 2,0mL • kg-1 • min-1 (CV = 5,4%). Houve forte grau de associação entre os dois testes para as medidas de O2max (O2maxabs: CCI = 0,97, O2maxrel: CCI = 0,95).

As diferenças no LAncomb entre os testes, expressas como O2abs (teste A = 1,55 ± 0,49L • min-1 e teste B = 1,51 ± 0,42L • min-1), como O2rel (teste A = 23,5 ± 5,8mL • kg-1 • min-1 e teste B = 22,9 ± 5,5mL • kg-1 • min-1) ou como carga (teste A = 112 ± 35W e teste B = 111 ± 30W) não foram significativas. Foram também observadas diferenças não significativas para a determinação do LAn através de cada parâmetro empregado na inspeção visual (tabela 1). A variação intra-sujeito para o LAncomb foi de 0,14L • min-1 (CV = 9,2%) ou 2,0mL • kg-1 • min-1 (CV = 8,5%). Houve forte associação entre os testes para o LAncomb expresso como O2abs (CCI = 0,90), como O2rel (CCI = 0,87) e como carga (CCI = 0,80). O grau de associação entre os testes e a variação intra-observador para os métodos de inspeção visual estão apresentados na tabela 2.

A diferença entre observadores para os métodos em separado e em conjunto (tabela 1) não foi significativa. Houve alto grau de associação do LAn entre os observadores no teste A, expresso como O2abs (CCI = 0,92), como O2rel (CCI = 0,93) e como carga (CCI = 0,85). Resultados semelhantes também foram observados no teste B quando o LAnobs foi expresso como O2abs (CCI = 0,93), como O2rel (CCI = 0,91) e como carga (CCI = 0,90).

DISCUSSÃO

O método combinado para detecção do LAn proposto por Gaskill et al.(12) baseou-se na média de intensidades determinada por observadores independentes. Estes avaliadores empregaram, para estabelecer a intensidade do LAn, a inspeção visual de três gráficos (v-slope simplificado, equivalentes ventilatórios e excesso de CO2 expirado). Neste estudo(12), demonstrou-se uma forte associação (r2 = 0,93, n = 54) entre o teste e o reteste.

Caiozzo et al.(10) encontraram excelente correlação entre testes para o método dos equivalentes ventilatórios (r = 0,93). Contudo, este parâmetro apresentou menor reprodutibilidade no ensaio de Cohen-Solal et al.(15) com pacientes cardíacos (r = 0,83). Davis et al.(16) relataram moderada correlação (r = 0,74) entre testes para o LAn, usando a inspeção visual de três gráficos (VE x tempo, FeO2 x tempo e CO2 x tempo). No último estudo(16), como no atual, a determinação do O2 no LAn, foi menos confiável quando realizada pelo método da razão das trocas respiratórias (RER).

A tabela 2 apresenta o limiar anaeróbio por observador (LAnobs) usando todos os gráficos. Nota-se que o emprego conjunto dos gráficos produz menor variação intra-observador do que o emprego destes em separado.

Os estudos de objetividade do LAn apresentam resultados conflitantes. Posner et al.(17) encontraram o CCI = 0,94 entre os melhores observadores, Gladden et al.(18) reportaram o CCI = 0,70 e Shimizu et al.(19) o CCI = 0,85.

O intervalo de tempo entre os testes, além do método de detecção do LAn, pode apresentar efeitos relevantes em estudos metodológicos. Hopkins(20) sugeriu, com base numa metanálise, que o intervalo ótimo entre testes deveria ser de 2,5 dias. Este autor acredita que neste período não há resquícios de fadiga e, portanto, alterações no segundo teste. Contudo, o intervalo de sete a 14 dias pode ser operacionalmente mais vantajoso, pois, segundo a experiência do nosso laboratório, aprimora a aderência nestes ensaios. No intervalo de até duas semanas, não espera-se mudanças significativas no desempenho de indivíduos que não participem de programas de treinamento.

A influência da variação biológica sobre a confiabilidade do LAn e O2max é ainda pouco conhecida. Ensaios como o de Katch et al.(21) tentaram mensurar esta variação através de múltiplos testes ao longo de quatro semanas, cinco dias por semana, em atletas bem treinados (n = 5). Estes autores concluíram que a variação biológica equivale a 90% de toda a flutuação dos resultados de O2máx. Intrigantemente, observamos, na figura 1, que os indivíduos com os valores mais elevados de O2max são os que estão mais próximos à linha de identidade. Acreditamos que a variação biológica seja menor nos indivíduos mais aptos. Somando-se a isto, nota-se que as magnitudes das adaptações crônicas centrais e periféricas, observadas após treino, são inversamente proporcionais ao nível de condicionamento inicial. Skinner et al.(22) demonstraram, em 614 indivíduos, que aqueles com O2max mais baixo apresentam as maiores adaptações (21,9%). Noutro estudo(15), demonstrou-se que testes conduzidos com atletas bem treinados são mais precisos do que os de sedentários.


O critério do platô para caracterização de O2max foi primeiro proposto por Taylor et al.(23), na metade do século XX, sendo então considerado como a principal referência de esforço máximo. Contudo, no estudo atual, observou-se este critério em apenas 41,6% dos testes. Uma possível explicação para a ausência deste fenômeno pode ser o tempo empregado na amostragem dos gases. Myers et al.(24) encontraram grande variação no coeficiente angular da relação entre O2 e tempo de esforço, administrando diversos intervalos para coleta de amostras dos gases. Neste caso, o platô, definido como uma inclinação menor ou igual a zero no O2, foi mais afetado nos intervalos mais curtos. Estes dados sugerem que a variação na relação O2 x tempo depende do intervalo de coleta das amostras dos gases.

Outra possível fonte de erro no estudo atual, pode ter sido o cicloergômetro de frenagem mecânica (por fricção). Este tipo de equipamento precisa de reajustes periódicos na resistência(25). Isto ocorre em razão do aquecimento da correia de nylon que modifica o atrito e, conseqüentemente, a resistência(25). O erro intratestador na leitura da escala graduada de carga em kp também pode ter alguma influência na variação do LAncomb. Wilmore et al.(26) investigaram, por meio eletrônico, a descalibração de diferentes ergômetros e o efeito deste erro na confiabilidade do O2 em diversas intensidades de esforço. Estes autores observaram uma variação aproximada de 10% na carga do cicloergômetro de frenagem mecânica; contudo, isto não foi suficiente para alterar a boa associação (r = 0,88) na medida do O2 entre dois momentos na carga de 98W. Na investigação de Wilmore et al.(26) também observou-se a tendência à diminuição das correlações com o aumento da carga de trabalho. No presente estudo, as médias das cargas correspondentes aos LAncomb estiveram bem próximo das apresentadas no estudo citado acima(26) (CCI = 0,80). A redução da correlação para o O2 com o aumento da carga de trabalho pode ser explicada pela descalibrações do ergômetro e/ou do ergoespirômetro.

Quando o LAncomb foi expresso pela carga de trabalho, observou-se maior variação entre os dois momentos (CV = 12,1%), em comparação com o expresso pelo O2 (L • min-1: CV = 9,2%; e em mL • kg-1 • min-1: CV = 8,4%). Observou-se, em diversos estudos, CVs de 1,9 a 8,4% para o O2max(21,23,27-29). Gerrard et al.(29) incluíram a variação diurna no tratamento de seus dados. Estes autores realizaram seis testes para cada sujeito (3 dias x 2 períodos do dia) e puderam observar o CV de 8,4% para o O2max e de 12% para o LAn. Taylor et al.(23) obtiveram um CV = 2,4% usando protocolo descontínuo e medindo o O2 no último minuto do teste sob condições bem controladas. A motivação dos sujeitos pode ser um importante aspecto para a confiabilidade da medida do O2max(30). Contudo, o LAn teoricamente não deveria ser afetado pela motivação, uma vez que ocorre em níveis submáximos de esforço.

Devido às condições socioeconômicas e culturais brasileiras, é possível que a pouca experiência com o ciclismo possa ter influenciado de forma negativa os resultados. O ciclismo produz efeitos distintos sobre o O2max em sedentários (geralmente 5 a 20% menor do que o observado em corridas) e em ciclistas (geralmente 10% maior do que nas corridas). Caso os sujeitos tivessem sido submetidos ao teste na esteira, possivelmente obteríamos maior confiabilidade.

Os cuidados no pré-teste também podem ter influenciado os resultados. No entanto, os sujeitos foram esclarecidos da importância do não engajamento em programas de treinamento físico, uma vez que se esperam mudanças significativas do LAn (expresso como L • min-1, mas não como %O2max) em homens normais a partir de três semanas de exercícios a 80%O2max, durante 30min, quatro vezes na semana(31).

Conclui-se, portanto, que o O2max e o LAn possuem pequena variação intra-sujeito, intra-observador e interobservador (no segundo caso), sendo parâmetros precisos quando utilizados os equipamentos adotados com maior freqüência nos laboratórios nacionais.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem o apoio financeiro e a valiosa contribuição acadêmica da AACEA-HSE, na pessoa do Dr. Aluysio S. Aderaldo Jr. Agradecem, também, a contribuição, na fase de coleta de dados, aos acadêmicos Jan B. Bartholomeu e Paulo André da Silva. Finalmente, agradecem as valiosas revisões do texto realizadas pelas professoras Drª Martha M. Sorenson e Drª Verônica S. Pinto (Bioqmed/UFRJ).

Recebido em 17/12/04. 2ª versão recebida em 18/1/05. Aceito em 12/5/05.

Todos os autores declararam não haver qualquer potencial conflito de interesses referente a este artigo.

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      15 Set 2005
    • Data do Fascículo
      Jun 2005

    Histórico

    • Aceito
      12 Maio 2005
    • Recebido
      17 Dez 2004
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