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Prática de esportes durante a adolescência e atividade física de lazer na vida adulta

Práctica de deportes durante la adolescencia y actividad física de recreo en la vida adulta

Resumos

FUNDAMENTOS E OBJETIVOS: Inatividade física é importante fator de risco para as doenças crônicas. Os resultados da literatura são controvertidos em relação à prática de atividades esportivas na infância e adolescência e atividade física na vida adulta. O objetivo deste estudo foi verificar em adultos jovens a freqüência de atividade física de lazer (AFL) e determinar se a prática de esportes durante a adolescência influenciou esta atividade. MÉTODOS: Foi realizado um estudo transversal, tipo inquérito, no período de novembro de 2003 a abril de 2004, em 170 alunos do curso médico que realizaram o estágio de internato em pediatria e tocoginecologia no Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP). Foram considerados como atletas aqueles que afirmaram terem praticado algum tipo de esporte durante pelo menos dois anos consecutivos, entre a faixa etária dos 10 aos 19 anos. Atividade física desenvolvida atualmente foi aferida através da informação sobre AFL, na última semana que antecedeu a aplicação do questionário, para a prática de algum tipo de atividade física que provocasse sudorese e respiração acelerada. Foram considerados como fisicamente ativos aqueles que despenderam um mínimo de 150 minutos de atividade física por semana. RESULTADOS: Apenas 22,5% (35/155) dos internos desenvolviam AFL. Entre aqueles que foram atletas durante a adolescência, a prática de AFL na vida adulta foi maior; 26,8% (33/123), do que aqueles não atletas, 6,2% (2/32); p < 0,03 (tabela 1). Entretanto, a presença de excesso de peso ou obesidade, hipertensão arterial, tabagismo e antecedentes familiares de doença aterosclerótica precoce não diferiu entre os grupos com maior e menor AFL. CONCLUSÃO: Práticas de atividades esportivas durante a adolescência contribuem para AFL na vida adulta.

Exercício físico; Atividades de lazer; Esportes


FUNDAMENTOS Y OBJETIVOS: La inactividad física es un importante factor de riesgo para las enfermedades crónicas. Los resultados de la literatura son controvertidos en relación a la práctica de las actividades deportivas en la infancia y la adolescencia y la actividad física en la vida adulta. El objetivo de este estudio fué verificar en adultos jovenes la frecuencia de la actividad física de recreo (AFL) y determinar si la práctica de deportes durante la adolescencia influenció esta actividad. MÉTODOS: Fué realizado un estudio transversal, tipo inquérito, en el período de noviembre de 2003 a abril de 2004, en 170 alumnos del curso médico que realizaron el período de internado en pediatría y toco-ginecología en el Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP). Fueron considerados como atletas aquellos que definieron practicar algún tipo de deporte durante por lo menos dos años consecutivos, entre la faja etaria de los 10 y los 19 años. La actividad física desarrollada actualmente fué conferida a traves de la información sobre AFL, en la última semana que antecedió a la aplicación del cuestionario, para la práctica de algún tipo de actividad física que provocara sudor y aumento de la frecuencia respiratoria con aceleración del ritmo. Fueron considerados como fisicamente activos aquellos que desempeñaron un mínimo de 150 minutos de actividad física por semana. RESULTADOS: Apenas el 22,5% (35/155) de los internos desarrollaban AFL. Entre aquellos que fueram atletas durante la adolescencia, la práctica de AFL en la vida adulta fué mayor; 26,8% (33/123), que aquellos no atletas, 6,2% (2/32); p < 0.03 (tabela 1). Entretanto, la presencia de exceso de peso u obesidad, hipertensión arterial, tabaquismo y antecedentes familiares de enfermedad ateroesclerótica precoz, no diferió entre los grupos con mayor y menor AFL. CONCLUSIÓN: Práctica de actividades deportivas durante la adolescencia contribuye para AFL en la vida adulta.

Exercício físico; Actividades de recreo; Deportes


BASIS AND PURPOSES: Physical inactivity is an important risk factor to chronic diseases. Results shown in the literature are controvert concerning to the sportive activities practice in childhood and adolescence, as well as physical activities during adulthood. The purpose of this study was to verify the frequency of the leisure physical activity (LPA) in young adults, and to determine whether the practice of sports during the adolescence years influenced or not such activity. METHODS: It was performed a transversal inquiry-type study during from November, 2003 to April, 2004 in 170 students of Medicine schools performing their internship stage in Pediatrics and toco-gynecology at the Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP). It was considered athletes who said to have practiced some kind of sports for at least two consecutive years between ages from 10 to 19 years. The physical activity performed at that moment was measured through information of the LPA performed during the last week previous to the application of the questionnaire, searching for practices of some kind of physical activity which could cause sudoresis and fast breathing. It was considered physically active those individuals who spent at least 150 minutes of physical activity/week. RESULTS: Only 22.5 (35/155) of the individuals were performing LPA. Among those who were athlete during the adolescence, the practice of LPA in the adulthood was higher; 26.8 (33/123) compared to those who were not athletes, 6.2% (2/32); p < 0.03 (tabela 1). However, the presence of over-weight or obesity, arterial hypertension, smoking habits, and parental antecedents of early atherosclerotic disease was not different among those groups with higher and lower LPA. CONCLUSION: Practicing sports activities during the adolescence contributes to the LPA in the adulthood.

Physical exercise; Recreational activities; Sports


ARTIGO ORIGINAL

Prática de esportes durante a adolescência e atividade física de lazer na vida adulta

Práctica de deportes durante la adolescencia y actividad física de recreo en la vida adulta

João Guilherme Bezerra AlvesI; Fernanda Maria Ulisses MontenegroI; Fernando Antonio OliveiraI; Roseane Victor AlvesII

IInstituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP)

IIEscola Superior de Educação Física (UPE)

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Rua dos Coelhos, 300, Boa Vista 50070-550 – Recife, PE, Brasil E-mail: joaoguilherme@imip.org.br

RESUMO

FUNDAMENTOS E OBJETIVOS: Inatividade física é importante fator de risco para as doenças crônicas. Os resultados da literatura são controvertidos em relação à prática de atividades esportivas na infância e adolescência e atividade física na vida adulta. O objetivo deste estudo foi verificar em adultos jovens a freqüência de atividade física de lazer (AFL) e determinar se a prática de esportes durante a adolescência influenciou esta atividade.

MÉTODOS: Foi realizado um estudo transversal, tipo inquérito, no período de novembro de 2003 a abril de 2004, em 170 alunos do curso médico que realizaram o estágio de internato em pediatria e tocoginecologia no Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP). Foram considerados como atletas aqueles que afirmaram terem praticado algum tipo de esporte durante pelo menos dois anos consecutivos, entre a faixa etária dos 10 aos 19 anos. Atividade física desenvolvida atualmente foi aferida através da informação sobre AFL, na última semana que antecedeu a aplicação do questionário, para a prática de algum tipo de atividade física que provocasse sudorese e respiração acelerada. Foram considerados como fisicamente ativos aqueles que despenderam um mínimo de 150 minutos de atividade física por semana.

RESULTADOS: Apenas 22,5% (35/155) dos internos desenvolviam AFL. Entre aqueles que foram atletas durante a adolescência, a prática de AFL na vida adulta foi maior; 26,8% (33/123), do que aqueles não atletas, 6,2% (2/32); p < 0,03 (tabela 1). Entretanto, a presença de excesso de peso ou obesidade, hipertensão arterial, tabagismo e antecedentes familiares de doença aterosclerótica precoce não diferiu entre os grupos com maior e menor AFL.

CONCLUSÃO: Práticas de atividades esportivas durante a adolescência contribuem para AFL na vida adulta.

Palavras-chave: Exercício físico. Atividades de lazer. Esportes.

RESUMEN

FUNDAMENTOS Y OBJETIVOS: La inactividad física es un importante factor de riesgo para las enfermedades crónicas. Los resultados de la literatura son controvertidos en relación a la práctica de las actividades deportivas en la infancia y la adolescencia y la actividad física en la vida adulta. El objetivo de este estudio fué verificar en adultos jovenes la frecuencia de la actividad física de recreo (AFL) y determinar si la práctica de deportes durante la adolescencia influenció esta actividad.

MÉTODOS: Fué realizado un estudio transversal, tipo inquérito, en el período de noviembre de 2003 a abril de 2004, en 170 alumnos del curso médico que realizaron el período de internado en pediatría y toco-ginecología en el Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP). Fueron considerados como atletas aquellos que definieron practicar algún tipo de deporte durante por lo menos dos años consecutivos, entre la faja etaria de los 10 y los 19 años. La actividad física desarrollada actualmente fué conferida a traves de la información sobre AFL, en la última semana que antecedió a la aplicación del cuestionario, para la práctica de algún tipo de actividad física que provocara sudor y aumento de la frecuencia respiratoria con aceleración del ritmo. Fueron considerados como fisicamente activos aquellos que desempeñaron un mínimo de 150 minutos de actividad física por semana.

RESULTADOS: Apenas el 22,5% (35/155) de los internos desarrollaban AFL. Entre aquellos que fueram atletas durante la adolescencia, la práctica de AFL en la vida adulta fué mayor; 26,8% (33/123), que aquellos no atletas, 6,2% (2/32); p < 0.03 (tabela 1). Entretanto, la presencia de exceso de peso u obesidad, hipertensión arterial, tabaquismo y antecedentes familiares de enfermedad ateroesclerótica precoz, no diferió entre los grupos con mayor y menor AFL.

CONCLUSIÓN: Práctica de actividades deportivas durante la adolescencia contribuye para AFL en la vida adulta.

Palabras-clave: Exercício físico. Actividades de recreo. Deportes.

INTRODUÇÃO

As doenças cardiovasculares (DCV) continuam a representar a principal causa de morbimortalidade nos países ricos, apesar de vir sendo observado um decréscimo de suas taxas nas últimas décadas(1). No Brasil, respondem por 33% das causas de morte e representam os maiores gastos para o SUS(2). Dentre os fatores de risco conhecidos para as DCV, vários deles vêm apresentando declínio nos países ricos, como o fumo, a hipertensão arterial sistêmica, a diabetes e os níveis de lipídeos circulantes. Entretanto, a obesidade e o sedentarismo vêm demonstrando uma curva ascendente. Nos EUA, são 10 milhões de coronariopatas que originam 100.000 intervenções por ano(3). Estudos controlados nesses pacientes evidenciam que aqueles que entram num programa de atividade física regular diminuem em 25% o risco de morte(4,5).

Estudos epidemiológicos, como os de Groot et al.(6), Prentice et al.(7), Lees e Booth(8), apontam forte associação entre atividade física ou aptidão física e saúde. A inatividade física é um fator de risco independente para a doença cardiovascular, hipertensão arterial, obesidade e hipercolesterolemia(4,5). Blair et al.(9) e Erikssen et al.(10) demonstraram que a melhoria da aptidão física em adultos de meia-idade reduzia em mais de 50% a mortalidade geral por todas as causas. Estudos prospectivos populacionais demonstram que a atividade física diminui o risco de doença coronariana; metanálise de mais de 40 estudos demonstrou que o risco de doença coronariana em pessoas inativas é 1,9 vez maior, em comparação com as ativas, independente de outros fatores de risco. Esse risco individual é comparável com o risco associado do tabagismo, hipertensão e hipercolesterolemia(11).

A prática de atividade física diminui o risco de aterosclerose e suas conseqüências (angina, infarto do miocárdio, doença vascular cerebral), ajuda no controle da obesidade, da hipertensão arterial, do diabetes, da osteoporose, das dislipidemias e diminui o risco de afecções osteomusculares e de alguns tipos de câncer (colo e de mama). Contribui ainda no controle da ansiedade, da depressão, da doença pulmonar obstrutiva crônica, da asma, além de proporcionar melhor auto-estima e ajuda no bem-estar e socialização do cidadão(2,3,5).

Apesar de todas essas evidências científicas, a maioria da humanidade leva vida sedentária. Estudos americanos mostram que 54% dos adultos não desenvolvem atividade física regular; mais da metade dos adolescentes levam vida sedentária, sendo em número maior ainda as do sexo feminino(3,12). No Brasil, quase a metade dos escolares não tem aulas regulares de educação física; o percentual, que era de 42% em 1991, caiu para 25% em 1995(13). Estudo realizado em escolas públicas no Rio de Janeiro apontou índice de sedentarismo de 85% entre adolescentes do sexo masculino e de 94% nos do sexo feminino(14). A participação em atividades físicas declina consideravelmente com o crescimento, especialmente da adolescência para o adulto jovem. Alguns estudos identificam alguns fatores de risco para o sedentarismo: pais inativos fisicamente, escolas sem atividades esportivas, sexo feminino, residir em área urbana, TV no quarto da criança(15).

Apesar de alguns estudos longitudinais indicarem fraca ou modesta correlação entre atividade física na infância e na vida adulta(16), outros apontam que crianças e adolescentes que se mantêm fisicamente ativos apresentam probabilidade menor de se tornar adultos sedentários(17,18). Dessa forma, foi objetivo deste estudo verificar em adultos jovens a freqüência do hábito da prática de atividade física, o índice de massa corpórea (IMC), a pressão arterial sistólica e diastólica, o hábito de tabagismo e antecedentes familiares para doenças crônico-degenerativas, além de determinar se a prática de esportes por esses indivíduos na adolescência diminui a probabilidade de sedentarismo na vida adulta.

MÉTODOS

Foi realizado um estudo de observação, transversal, tipo inquérito, no Instituto Materno Infantil de Pernambuco (IMIP), Instituição de Ensino Superior (IES), reconhecida pelo Ministério de Educação e que desenvolve programas de graduação (internato do curso médico em pediatria e tocoginecologia) e pós-graduação na área materno-infantil. Foram elegíveis para o estudo todos os 170 alunos do curso de medicina, oriundos das escolas médicas do Estado de Pernambuco, Universidade Estadual de Pernambuco (UPE) e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que realizaram o internato em Pediatria e Tocoginecologia no período de novembro de 2003 a abril de 2004. Aqueles que apresentaram alguma contra-indicação de ordem médica para a prática de atividade física foram excluídos do estudo.

A amostra foi dimensionada para estimar a prevalência de sedentarismo com erro de estimativa não superior a 5% e nível de confiança de 95%.

O tamanho amostral, calculado através do software EPI-6 e com intervalo de confiança de 95%, foi de 155 participantes. Admitindo-se uma perda amostral de 15%, estimou-se uma casuística de 170 participantes.

Foram considerados como atletas durante a adolescência aqueles que afirmaram ter praticado algum tipo de esporte durante pelo menos dois anos consecutivos, entre a faixa etária dos 10 aos 19 anos. Atividade física desenvolvida atualmente foi aferida através da informação sobre a utilização de tempo de lazer (AFL), na última semana que antecedeu a aplicação do questionário, para a prática de algum tipo de atividade física (andar, correr, pedalar, nadar, jogar, fazer ginástica, etc.), que provocasse sudorese e respiração acelerada. Foi utilizado o questionário validado, The Minnesota Leisure Time Physical Activity Questionnaire (MLTPAQ)(19), sendo considerados como fisicamente ativos aqueles que despenderam um mínimo de 150 minutos de atividade física por semana.

O índice de massa corpórea (IMC), variável contínua, foi aferida através da equação IMC = peso (kg)/altura (m)2, expressa em kg/m2, sendo considerados como portadores de excesso de peso ou obesidade aqueles que, respectivamente, apresentavam IMC > 25 ou > 30. Foram considerados como fumantes os indivíduos que consumiam mais de um cigarro por dia. A pressão arterial foi aferida segundo as recomendações do Task Force Report(20), sendo considerados hipertensos aqueles que apresentaram a pressão sistólica ou diastólica acima do percentil 90 para a idade.

Os dados foram coletados através de formulário padrão pré-codificado, preenchido por um dos pesquisadores durante entrevista com os participantes. As associações entre as variáveis categóricas foram avaliadas através do teste do qui-quadrado.

O estudo atendeu às determinações das Declarações de Helsinque e da resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, além de ser aprovado pelo Comitê de Ética do IMIP. Foi solicitado o termo de consentimento livre e esclarecido de todos os participantes do estudo.

RESULTADOS

Foram selecionados 158 doutorandos, 95 da UPE e 60 da UFPE. Três alunos foram excluídos por apresentar contra-indicação de ordem médica para a prática de atividade física: dois por serem portadores de hérnia de disco e um, por escoliose. Dos 155 estudantes que efetivamente participaram do estudo, 82 (52,9%) eram do sexo masculino e 73 (47,1%), do sexo feminino. A idade variou de 22 a 30 anos, com média ± desvio-padrão igual a 24,2 ± 1,6 anos e mediana igual a 24 anos.

A prevalência de sedentarismo foi estimada em 77,4% (120/155: IC 95%: 70,8 a 84,0%). Não foi observada diferença estatisticamente significante em relação ao sexo (masculino: 76,8% (63/82) de sedentarismo; feminino: 78,1% (57/73); teste qui-quadrado: p = 0,852). Também não foi observada diferença estatisticamente significante entre a média da idade dos fisicamente ativos (24,1 ± 1,7 anos) e dos sedentários (24,3 ± 1,5 anos) (teste t de Student: p = 0,680).

O excesso de peso ou obesidade foi observado entre nove (25,7%) dos alunos fisicamente ativos e entre 30 (25,0%) dos estudantes sedentários. A diferença entre esses percentuais não foi estatisticamente significante (teste qui-quadrado: p = 0,932).

O percentual de fumantes foi semelhante entre os fisicamente ativos, 5,7% (2/35) e os sedentários, 3,3% (4/120) (teste exato de Fisher: p = 0,613).

O aumento da pressão arterial foi observado em cinco (12,5%) dos estudantes do grupo fisicamente ativo. Entre os sedentários, foram observados 19 (15,7%) hipertensos. A diferença entre as proporções de hipertensos dos dois grupos não alcançou significância estatística (teste qui-quadrado: p = 0,824).

Antecedentes familiares de doença aterosclerótica precoce foi observada em nove (25,7%) dos alunos do grupo fisicamente ativo e em 30 (25,0%) dos sedentários. A diferença dessas proporções não foi estatisticamente significante (teste qui-quadrado: p = 0,932).

Na amostra estudada, o sedentarismo aumentou de 20,6%, na adolescência, para 79,4% na idade adulta, no momento da pesquisa. O incremento observado foi estatisticamente significante (teste de McNemar: p < 0,001; tabela 1). O odds ratio para amostras pareadas foi igual a 45 (90/2; IC 95%: 12,1 a 377,3).

Entre os estudantes de medicina que foram atletas durante a adolescência, a prática de AFL na vida adulta foi maior: 33/123 (26,8%) versus 2/32 (6,2%); p < 0,03. Dos 34 adultos jovens fisicamente ativos, 32 (94,1%) foram atletas durante a adolescência. As práticas esportivas na adolescência mais comuns foram: natação (25,2%), futebol (22,7%), voleibol (20,3%), atletismo (7,3%), basquetebol (6,5%) e outras (18,0%). As atividades físicas desenvolvidas na vida adulta foram: musculação (50,0%), corrida/caminhada (26,6%), ginástica (20,5%) e natação (2,9%).

DISCUSSÃO

A elevada prevalência de inatividade física tem sido demonstrada em vários estudos nacionais e internacionais(14,21,22), em que foram observadas prevalências semelhantes ao de nosso estudo. Barros e Naja(23), em pesquisa com amostra representativa de trabalhadores industriais no sul do Brasil, demonstraram prevalência de inatividade física de 68,1%. Silva e Molina(14) verificaram índices de sedentarismo acima de 80% entre adolescentes que freqüentavam a escola pública no Rio de Janeiro. Monteiro et al. observaram que apenas 3,3% de brasileiros desenvolviam mais de meia hora diária de AFL durante cinco dias da semana(24). Já Hallal et al.(25), em Pelotas (RS), observaram prevalência de inatividade física entre 38 a 41% para a faixa etária dos 20 aos 65 anos de idade. Este estudo foi o primeiro no Brasil a utilizar o International Physical Activity Questionnaire (IPAQ; http://www.ipaq.ki.SE), desenvolvido por pesquisadores de vários países e que conta com o apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Centers for Disease Control (CDC) nos Estados Unidos, pois também avalia o tempo total gasto em atividades físicas no domicílio, no transporte e no trabalho. Este critério de avaliação se reveste de maior importância para os países pobres, onde as atividades de transporte e ocupação habitualmente impõem representativo gasto energético para essas populações.

Não observamos diferenças em relação à prática de AFL com a idade, possivelmente por termos estudado um grupo etário com pouca variação etária, 22 a 30 anos. Vários estudos seccionais e longitudinais indicam que a atividade física geralmente declina de 1% a 20% por ano(15,18). Apesar de encontrarmos número maior de jovens com excesso de peso ou obesidade entre aqueles fisicamente inativos, esta diferença não chegou a apresentar diferença significativa. A possibilidade de que alguns desses alunos, com excesso de peso ou obesidade, estivessem envolvidos em programas de atividade física para o controle de peso não foi investigada no presente estudo. É possível que se em nosso estudo o cálculo amostral tivesse sido dimensionado para esse objetivo, os resultados dos testes estatísticos tivessem apontado para diferenças. Kvaavik et al.(17) observaram que o IMC da adolescência tende a se repetir na vida adulta jovem. O mesmo foi observado quanto à hipertensão arterial. Já em relação a antecedentes familiares, o número foi maior entre os fisicamente ativos, embora também não tenha sido encontrada diferença significativa. Houve baixo número de fumantes entre os dois grupos.

Em nossos dados, apenas dois de 34 adolescentes não atletas tornaram-se adultos fisicamente ativos. Ser fisicamente inativo durante a adolescência parece aumentar a probabilidade de hábitos sedentários na vida adulta(26,27). Alguns estudos, entretanto, demonstram fraca relação entre atividade física na infância e na vida adulta(28). O termo utilizado na língua inglesa, tracking, tem sido definido como a relativa estabilidade de certa variável ao longo dos anos, ou seja, a predição de uma mensuração realizada no começo da vida para o valor da mesma variável ao longo da vida. Nossos achados se assemelham a vários estudos que observaram que a prática de atividades esportivas na infância e na adolescência interfere no AFL, tanto em adultos jovens como idosos(29,30). A participação em atividades esportivas escolares pode conferir habilidades e diversão que ajudam para a fundamentação de atividade esportiva na vida adulta, contribuindo para diminuir a incidência das DCV(31).

Pela importância da atividade física na manutenção da saúde, sua mensuração vem adquirindo grande importância dentro do contexto da saúde pública. Entretanto, vários métodos têm sido utilizados para avaliar esse parâmetro, o que dificulta a comparação de resultados. Em nosso estudo, a inatividade física foi definida apenas em horas de lazer utilizadas na prática de atividade física (AFL), conforme orientação do American College of Sports Medicine(20). Apesar de ser um dos métodos mais utilizados(21,22), não afere o gasto calórico consumido nas atividades domésticas diárias, no transporte e no trabalho. Entretanto, o impacto desses tipos de atividade física para a casuística pesquisada, estudantes de medicina, parece ser de baixa intensidade, uma vez que esses alunos possuem boas condições socioeconômicas, habitualmente não participam das atividades domésticas e usufruem de transporte próprio, além de que as atividades desenvolvidas no internato de medicina não impõem elevados desperdícios energéticos. Sendo assim, acreditamos que a mensuração da atividade física apenas nas horas de lazer possa refletir de forma satisfatória o hábito sedentário para esse grupo estudado.

Quanto a um possível viés de recordação na classificação de adolescentes atletas, ou seja, a informação de terem praticado algum tipo de esporte de forma contínua por um período mínimo de 24 meses dos 10 aos 19 anos de idade, o fato de termos estudado adultos jovens com média de idade ao redor dos 24 anos torna essa possibilidade pouco provável, devido ao relativo curto intervalo de tempo do registro da ocorrência, prática de esportes pelo mínimo durante dois anos consecutivos. Alguns estudos têm aplicado esta mesma metodologia, mesmo em populações de idosos(23,24).

Sendo a inatividade física importante fator de risco para as doenças crônicas e os dados da literatura ainda controvertidos em relação à prática de atividades esportivas na infância e adolescência e atividade física na vida adulta, esperamos que a originalidade do nosso estudo tenha contribuído para melhor esclarecimento do tema. Apesar das limitações do estudo e a necessidade de outras pesquisas com desenhos prospectivos de coorte que confirmem esses achados, práticas de atividades esportivas durante a adolescência parecem contribuir de forma importante para uma vida adulta menos sedentária. Como os hábitos de atividade física, adquiridos durante a infância e a adolescência, tendem a se manter durante toda a vida, parece-nos importante que políticas que incentivem as atividades esportivas nesses grupos etários mais jovens sejam desenvolvidas.

Recebido em 27/9/04. 2ª versão recebida em 12/4/05. Aceito em 10/7/05.

Todos os autores declararam não haver qualquer potencial conflito de interesses referente a este artigo.

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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Fev 2006
    • Data do Fascículo
      Out 2005

    Histórico

    • Aceito
      10 Jul 2005
    • Recebido
      27 Set 2004
    • Revisado
      12 Abr 2005
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