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Validade do teste de 30 minutos (T-30) na determinação da capacidade aeróbia, parâmetros de braçada e performance aeróbia de nadadores treinados

Resumos

O objetivo do presente estudo foi verificar a utilização da velocidade de 30 minutos (VT-30), freqüência de braçada (fB), comprimento de braçada (CB) e índice de braçada (IB), obtidos no teste T-30, como métodos não-invasivos para determinação da performance aeróbia e técnica de nadadores treinados. Catorze nadadores submeteram-se a três esforços de 400m (85, 90 e 100% do esforço máximo) para determinação da velocidade de limiar anaeróbio (VLan) correspondente à concentração fixa de 3,5mM de lactato e um esforço máximo de 30 minutos (VT-30). fB, CB e IB foram calculados nos 10m centrais da piscina (nado limpo) para o teste T-30 (fBT-30, CBT-30 e IBT-30) e progressivo. Através da relação entre VLan e parâmetros de braçada no teste progressivo, determinaram-se freqüência de braçada de limiar (fBLan), comprimento de braçada de limiar (CBLan) e índice de braçada de limiar (IBLan). O tempo para realizar 400m em máximo esforço foi considerado como parâmetro de performance (P400). Não foi encontrada diferença significativa entre VLan (1,29 ± 0,07m.s-1) e VT-30 (1,29 ± 0,08m.s-1), que ainda apresentaram alta correlação (r = 0,90). Os valores de fBLan (33,6 ± 4,14 ciclos/min) e fBT-30 (34,9 ± 3,53 ciclos/min) e de CBLan (2,09 ± 0,20m/ciclo) e CBT-30 (2,09 ± 0,20m/ciclo) também não foram significativamente diferentes. Correlações significativas (p < 0,05) também foram encontradas entre VT-30 e P400 (r = 0,95); fBLan e fBT-30 (r = 0,73); CBLan e CBT-30 (r = 0,89) e IBLan e IBT-30 (r = 0,94). Conclui-se que a VT30 se mostrou confiável para o monitoramento do treinamento, predição da performance e determinação de parâmetros relacionados à técnica de nadadores.

Natação; Limiar anaeróbio; Parâmetros de braçada; Teste de 30 minutos; Performance


The aim of the present study was to verify the use of the 30 minutes velocity (VT-30), stroke rate (SR), stroke length (SL) and stroke index (SI), obtained in T-30 test, as non-invasive methods for trained swimmer's aerobic performance and technical determination. Fourteen swimmers accomplished three efforts along 400 m (85, 90 and 100% of the maximum effort) for anaerobic threshold speed determination (ATS) corresponding to 3.5 mM lactate fixed concentration, as well as a 30 minutes maximal effort (VT-30). SR, SL, and SI were calculated within the 10 m midsection of the swimming pool (clean swim) for T-30 test (SRT-30, SLT-30 and SIT-30) and progressive test. Through the relation between ATS and stroke parameters in progressive test, stroke rate threshold (SRT), stroke length threshold (SLT) and stroke index threshold (SIT) were determined. The time to complete 400 m at maximal effort was considered as performance parameter (P400). No significant difference was found between the ATS (1.29 ± 0.07 m.s-1) and VT-30 (1.29 ± 0.08 m.s-1), along with a correlation (r = 0.90). The values of SRT (33.6 ± 4.14 cycles/min) and SRT-30 (34.9 ± 3.53 cycles/min) and of SLT (2.09 ± 0.20 m/cycle) and SLT-30 (2.09 ± 0.20 m/cycle) also had no significant differences. Significant correlations (p < 0.05) were also found between VT-30 and P400 (r = 0.95); SRT and SRT-30 (r = 0.73); SLT and SLT-30 (r = 0.89) and SIL and SIT-30 (r = 0.94). It was concluded that the VT-30 shows reliability for training monitoring, performance prediction and technical parameters determination in swimmers.

Swimming; Anaerobic threshold; Stroking parameters; 30 minutes test; performance


ARTIGO ORIGINAL

Validade do teste de 30 minutos (T-30) na determinação da capacidade aeróbia, parâmetros de braçada e performance aeróbia de nadadores treinados

Rafael DeminiceI; Marcelo PapotiII; Alessandro Moura ZagattoII,III Milton Vieira do Prado JúniorI

ILaboratório de Pesquisas em Educação Física, UNESP, Bauru, SP

IILaboratório de Biodinâmica, UNESP, Rio Claro, SP

IIIUniversidade Federal do Mato Grosso do Sul, UFMS, Campo Grande, MS

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Rafael Deminice Rua Arnaldo Victaliano, 971, Iguatemi 14091-220 – Ribeirão Preto, SP, Brasil E-mail: deminice@ig.com.br

RESUMO

O objetivo do presente estudo foi verificar a utilização da velocidade de 30 minutos (VT-30), freqüência de braçada (fB), comprimento de braçada (CB) e índice de braçada (IB), obtidos no teste T-30, como métodos não-invasivos para determinação da performance aeróbia e técnica de nadadores treinados. Catorze nadadores submeteram-se a três esforços de 400m (85, 90 e 100% do esforço máximo) para determinação da velocidade de limiar anaeróbio (VLan) correspondente à concentração fixa de 3,5mM de lactato e um esforço máximo de 30 minutos (VT-30). fB, CB e IB foram calculados nos 10m centrais da piscina (nado limpo) para o teste T-30 (fBT-30, CBT-30 e IBT-30) e progressivo. Através da relação entre VLan e parâmetros de braçada no teste progressivo, determinaram-se freqüência de braçada de limiar (fBLan), comprimento de braçada de limiar (CBLan) e índice de braçada de limiar (IBLan). O tempo para realizar 400m em máximo esforço foi considerado como parâmetro de performance (P400). Não foi encontrada diferença significativa entre VLan (1,29 ± 0,07m.s-1) e VT-30 (1,29 ± 0,08m.s-1), que ainda apresentaram alta correlação (r = 0,90). Os valores de fBLan (33,6 ± 4,14 ciclos/min) e fBT-30 (34,9 ± 3,53 ciclos/min) e de CBLan (2,09 ± 0,20m/ciclo) e CBT-30 (2,09 ± 0,20m/ciclo) também não foram significativamente diferentes. Correlações significativas (p < 0,05) também foram encontradas entre VT-30 e P400 (r = 0,95); fBLan e fBT-30 (r = 0,73); CBLan e CBT-30 (r = 0,89) e IBLan e IBT-30 (r = 0,94). Conclui-se que a VT30 se mostrou confiável para o monitoramento do treinamento, predição da performance e determinação de parâmetros relacionados à técnica de nadadores.

Palavras-chave: Natação. Limiar anaeróbio. Parâmetros de braçada. Teste de 30 minutos. Performance.

INTRODUÇÃO

O monitoramento e a avaliação de variáveis fisiológicas e da performance no treinamento esportivo podem ser fatores determinantes do sucesso em nadadores de alto nível. Sabe-se hoje que a técnica lactacidêmica tem mostrado ser uma ferramenta fidedigna e sensível na avaliação, prescrição e alterações decorrentes do estado de treinamento dessa modalidade(1-3). Uma análise da relação entre a concentração de lactato sanguíneo ([LAC]) versus velocidade de nado (V), representada por curvas obtidas através de testes incrementais, evidenciam melhoras, estabilidade ou degradação da capacidade aeróbia do nadador(3).

A determinação do limiar anaeróbio (Lan) através da utilização da concentração de lactato sanguíneo identifica a mais alta intensidade de exercício em que a ressíntese de ATP é realizada pelo metabolismo aeróbio(4), representando um parâmetro de capacidade aeróbia. O Lan tem sido utilizado para o monitoramento do treinamento(3), prescrição da intensidade de treinamento aeróbio(56) e predição da performance de provas de fundo(2). No entanto, a determinação do limiar anaeróbio utilizando a concentração de lactato sanguíneo necessita de equipamento específico, possuindo custo financeiro de aquisição e operacional, inviável para a maioria das equipes de natação do Brasil. Além disso, trata-se de um teste invasivo, sendo necessários cuidados com higiene e segurança(2), limitando assim sua utilização na maioria dos clubes e academias. Com isso, muitos estudiosos procuram viabilizar protocolos de avaliação de menor custo, fácil aplicação e que avaliem e monitorem o treinamento de modo preciso e confiável(1-2,6-7).

Olbrecht et al.(6) desenvolveram o teste T-30, que consiste em deslocar-se à máxima distância em 30 minutos em ritmo regular do início ao final do teste. A velocidade média do teste de T-30 (VT-30) tem sido altamente correlacionada com a velocidade de limiar anaeróbio(6,8-11) e com a performance de natação(12), de modo não invasivo e de fácil aplicação.

Entretanto, a mecânica de nado também desempenha papel decisivo no complexo de fatores determinantes do rendimento da natação e deve ser considerada nas avaliações Foi demonstrado que a velocidade de deslocamento em natação é o produto da freqüência de braçada (fB) pelo comprimento da braçada (CB) e variações na velocidade de nado pelo treinamento e destreinamento ocorrem principalmente por modificações na fB e no CB(1314). Por esse motivo, essas variáveis têm sido o foco de estudos em natação de alto nível(13,15), de nível escolar(16), portadores de deficiência(17) e para análise técnica entre nadadores e triatletas(18).

Costill et al.(7) apresentaram o índice de braçada (IB) como o produto da velocidade de nado pela distância percorrida por ciclo de braçada e encontraram significativas correlações entre consumo de oxigênio (VO2), velocidade de nado e essa variável. Esses autores demonstram que o gasto energético do nadador no estilo crawl depende da técnica de sua braçada. Keskinen e Komi(19) demonstraram que a relação entre fB e CB é influenciada pelo aumento da intensidade de esforço. Quando a velocidade de nado é menor que a intensidade de limiar anaeróbio, os nadadores são capazes de controlar a velocidade e manter o comprimento de braçada constante, simultaneamente. Porém, quando o esforço é realizado em intensidades acima do limiar anaeróbio, redução progressiva no CB é observada, atribuindo esse fato ao desenvolvimento de fadiga muscular local. Dekerle et al.(8) ressaltaram que o nadador deve saber escolher a fB correspondente ao menor dispêndio de energia durante a sua prova, sugerindo existir uma relação entre parâmetros fisiológicos e técnicos em natação. Langeani et al.(20) demonstraram haver crescimento e queda abrupta da fB e do CB, respectivamente, acompanhando o comportamento da lactacidemia em exercício progressivo.

Assim, foi demonstrado que o equilíbrio dinâmico do lactato pode ser observado durante o exercício de longa duração a intensidades correspondentes ao Lan(6,21); desse modo, tal equilíbrio metabólico deve refletir-se no comportamento de parâmetros técnicos em natação. No entanto, ainda são insuficientes na literatura estudos que investigaram o T-30 de modo a relacionar os parâmetros mecânicos e fisiológicos com teste de capacidade aeróbia e performance de nadadores. Em função disso, o propósito do presente estudo foi verificar a utilização da VT-30 e dos parâmetros de braçada (fB, CB e IB) obtidos com a realização do T-30 como ferramentas não invasivas na avaliação da capacidade aeróbia, técnica de nado e na predição da performance de nadadores.

MÉTODOS

Participantes

Participaram voluntariamente do presente estudo 14 nadadores (nove do sexo masculino e cinco do feminino), com 15,9 ± 1,9 anos, pertencentes a equipe de natação da cidade de Bauru-SP, após manifestação por escrito do termo e consentimento aprovado pelo comitê de ética da UNESP de Rio Claro.

Os atletas realizam treinamento regular e participam de competições estaduais e nacionais há mais de três anos. As características gerais dos participantes estão apresentadas na tabela 1.

Procedimentos

O estudo foi realizado em piscina semi-olímpica (25 x 12 metros), do SESI de Bauru-SP (Brasil), com temperatura da água de 27ºC ± 1ºC.

Foram realizados dois testes em estilo crawl com intervalo de 48 horas entre os mesmos. Os nadadores realizaram previamente um período de aquecimento padronizado de aproximadamente 1.000m em estilo crawl e intensidade determinada subjetivamente pelos atletas e técnicos como "fácil".

Determinação da velocidade de limiar anaeróbio (VLan) e performance máxima em 400m nado crawl (P400)

Para determinação da VLan foi utilizado o protocolo validado por Pereira et al.(22). Nesse protocolo, os nadadores foram submetidos a três esforços progressivos de 400 metros nas intensidades correspondentes a 85, 90, e 100% da velocidade máxima para a distância. Foi realizado um intervalo de três minutos entre cada nado. As três tentativas foram iniciadas com saídas dentro da água. Os participantes foram estimulados verbalmente durante todo o teste e receberam informações visuais para o controle da intensidade de nado. Foram coletadas amostras de sangue (25µl do lóbulo da orelha) um minuto após o final de cada nado e um, três e cinco minutos após o término do teste para análise da lactacidemia. Para cada nado, foram calculadas a velocidade média e a concentração de lactato sanguíneo. A velocidade de limiar anaeróbio (VLan) foi adotada como a velocidade de nado correspondente à concentração fixa de 3,5mM de lactato na relação lactato versus velocidade por ajuste de curva de crescimento exponencial(22).

O esforço de 400m realizado a 100% foi adotado como parâmetro de performance máxima de 400m (P400).

Determinação da velocidade média em 30 minutos (VT-30)

No teste T-30, os atletas foram instruídos a nadar a máxima distância possível em 30 minutos. A VT-30 foi determinada pela razão entre a distância nadada (m) pelo tempo de nado (1.800s). Foram realizadas coletas de sangue aos um, três e cinco minutos após o término do teste para análise da lactacidemia.

Amostras de sangue

Foram coletados 25µl de sangue do lóbulo da orelha para mensuração da concentração de lactato [LAC]. As amostras foram armazenadas em tubos Eppendorf de 1,5ml contendo 50µl de fluoreto de sódio a 1% (NaF). O homogenado foi analisado em lactímetro eletroquímico YSI modelo 1500 Sport (YSI, Ohio, EUA). As concentrações de lactato foram expressas em mM.

Determinação dos parâmetros de braçada (fB, CB e IB)

Para determinação da freqüência de braçada (fB), comprimento de braçada (CB) e do índice de braçada (IB), nos testes VLan e T30, foi utilizada uma câmera do tipo S-VHS Panasonic M9000. A câmera foi posicionada paralelamente às raias da piscina, registrando apenas o nado nos 10m centrais da piscina (figura 1). Para que fossem registrados apenas os 10m de nado limpo (sem influência da impulsão das viradas e saídas), balões coloridos foram colocados nas raias em que os participantes realizaram os nados a 7,5m da margem de saída, como demonstra a figura 1.


A análise das imagens foi realizada com o auxilio do software Studio DC10 Plus. As imagens gravadas pela câmera a 30Hz foram digitalizadas e analisadas quadro-a-quadro a 0,03s para determinação correta do tempo gasto para realizar os 10m de nado limpo e quatro ciclos completos de braçada.

A freqüência de braçada (fB) foi determinada pelo método de quatro ciclos adaptado de Kennedy et al.(23). A fB foi correspondente à razão de quatro ciclos de braçada (cb) pelo tempo gasto para completar o mesmo nos 10m de nado limpo (equação 1). A velocidade de nado (V) foi determinada pela razão entre 10m de nado limpo pelo tempo gasto para completar o mesmo (equação 2). O comprimento de braçada em 10m foi determinado pela razão entre V e fB (equação 3). O índice de braçada (IB) foi calculado de acordo com Costill et al.(7), através do produto da velocidade de nado limpo pelo comprimento de braçada (equação 4). Todos os parâmetros de braçada foram calculados no total de 400m durante o teste progressivo e a cada 400m no teste T-30.

Através da média dos valores de fB, CB e IB em 30 minutos, determinaram-se freqüência de braçada em 30 minutos (fBT-30), comprimento de braçada em 30 minutos (CBT-30) e índice de braçada em 30 minutos (IBT-30).

A partir da relação entre velocidade de limiar anaeróbio e parâmetros de braçada obtidos no teste progressivo, determinaram-se por interpolação linear os valores correspondentes à freqüência de braçada de limiar (fBLan), comprimento de braçada de limiar (CBLan) e índice de braçada de limiar (IBLan), como demonstra a figura 2.


Análise estatística

Foram utilizados o teste t de Student para amostras dependentes e o teste de correlação de Pearson para comparar e verificar possíveis associações da V, fB CB e IB proveniente dos testes de VLan e T-30, respectivamente. O teste de correlação de Pearson ainda foi utilizado para verificar associações entre os parâmetros obtidos dos testes de VLan e T-30 com a performance máxima de 400m nado crawl. Em todos os casos, o nível de significância foi prefixado em p < 0,05.

RESULTADOS

Os resultados estão expressos em média e desvio-padrão. A VLan (1,29 ± 0,07m.s-1) não foi significativamente diferente da VT30 (1,29 ± 0,08m.s-1) e ambas foram altamente correlacionadas (0,90). Além disso, foram verificadas concentrações de 3,76 ± 1,65mM de lactato sanguíneo após o T-30.

Não foram encontradas diferenças significativas entre fBLan e fBT-30 e entre CBLan e CBT-30, ao contrário do ocorrido entre IBLan e IBT-30 (tabela 2). Ainda verificaram-se correlações de 0,73, 0,89 e 0,94 para os valores de fB, CB e IB respectivamente, provenientes dos testes de VLan e T-30.

A P400 (1,38 ± 0,09m.s-1) apresentou significativas correlações com a VLan (0,94) e VT-30 (0,95).

DISCUSSÃO

A grande vantagem de utilizar métodos indiretos no cotidiano do treinamento de nadadores está principalmente relacionada ao baixo custo e fácil aplicabilidade. Embora o T-30 seja uma metodologia muito utilizada na determinação da VLan em natação, essa apresenta algumas limitações, pois os nadadores devem ser instruídos a nadar a máxima distância dentro do tempo predeterminado (30 minutos), o que muitas vezes é influenciado pelo grau de motivação. Além disso, essa metodologia desconsidera a participação do metabolismo anaeróbio envolvido. Desse modo, é possível que determinado nadador apresente evolução na velocidade média obtida no T-30 (V-T30) como resultado da aplicação de sessões de treinamento objetivando o desenvolvimento da tolerância ao lactato. No entanto, os efeitos do treinamento anaeróbio sobre a V-T30 parecem ser modestos com relação aos efeitos do treinamento aeróbio(10).

No presente estudo, a V-T30 não foi significativamente diferente da VLan. Esse achado corrobora os resultados de Olbrecht et al.(6), que em seu estudo utilizaram para determinação da capacidade aeróbia o teste de duas velocidades (2 x 400m), sendo a VLan adotada como a velocidade de nado correspondente à concentração fixa de 4mM. Para identificação da VLan na presente investigação, foram utilizadas pausas de apenas três minutos entre os esforços, visando a otimização do tempo nos testes. Para isso, adotou-se a concentração fixa de 3,5mM de lactato(22,24) e não a de 4,0mM, como geralmente é utilizado(4,25). A utilização dessa concentração contraria Heck et al.(4), que sugerem a concentração fixa de 3,5mM apenas para protocolos com estágios com duração de até 3min, inferiores aos utilizados nesse estudo (4 a 5min). O uso da concentração fixa de 4mM, sugerido por esses autores, quando a duração dos estágios é de 5min, parece superestimar a VLan na natação, se a pausa entre os esforços incrementais for pequena, provavelmente devido à existência de efeitos residuais do metabolismo e da fadiga específica dos estágios anteriores, visto que os testes incrementais para determinação da VLan podem ser considerados protocolos dependentes(24).

No presente estudo, os resultados do teste de correlação mostram que o melhor preditor da VLan foi a VT-30 (r = 0,90), não apresentando diferenças entre as duas variáveis. Esse resultado confirma os achados na literatura, reforçando a possibilidade de utilização do teste T-30 como índice determinante da capacidade aeróbia em natação(2,6,8-11). Além disso, a concentração média de lactato de pico encontrada ao final do teste T-30 foi de 3,76 ± 1,65mM, valor muito próximo ao da concentração de lactato utilizada no teste para determinação da VLan. Dekerle et al.(8) observaram concentração de lactato de pico de 3,65 ± 1,58 no teste T30, valor também próximo a 3,5mM. Olbrecht et al.(6), utilizando a concentração fixa de 4mM, também não encontraram diferença significativa, além de constatar alta correlação entre a VLan e a velocidade média em 30min, com concentração de lactato pico de 4,01 ± 0,75mM. A VT-30 também mostrou-se como um bom preditor da performance de 400m, apresentando alta correlação (r = 0,95).

Estudos pioneiros utilizaram o tempo final de nado ou a velocidade baseada na razão do tempo final total pela distância do nado para determinação dos parâmetros de braçada (fB e CB)(13-14), procedimento este que leva em consideração a influência da impulsão das saídas e viradas a cada volta. Para calcular a fB, CB e o IB no presente estudo, foi utilizada a velocidade de nado limpo (sem a influência da impulsão das saídas e das viradas). A utilização desse método permite o calculo real da habilidade técnica do nadador, pois diminui a interferência por particularidades nas saídas e viradas dos atletas. Craig et al.(14) demonstraram que, calculando o comprimento de braçada para viradas uniformes, os valores diminuem em 5%.

No presente estudo, a determinação dos limiares de braçada foi realizada a partir da plotagem da relação linear entre velocidade de limiar anaeróbio e parâmetros de braçada (figura 2). Keskinen e Komi(19), estudando diferentes relações entre os parâmetros de braçada em diferentes intensidades de exercício, relataram que a velocidade de nado e a freqüência de braçada foram mantidas praticamente constantes até a intensidade de limiar anaeróbio ser alcançada. No entanto, queda significativa na curva do comprimento de braçada foi observada quando essa intensidade de limiar foi ultrapassada. Langeani et al.(20), em estudo recente, encontraram crescimento e queda abrupta na freqüência e comprimento de braçada, respectivamente, em exercício progressivo de seis incrementos, que correspondeu com o comportamento da curva de lactato sanguíneo, com altas correlações entre as velocidades de limiar de lactato e limiar de parâmetros de braçada (V-LL vs V-LfB, r = 0,98; V-LL vs V-LAB, r = 0,96), sugerindo a utilização desses parâmetros como alternativas aos testes invasivos lactacidêmicos para determinação da VLan.

A relação entre a velocidade de nado e os parâmetros de braçada observados no presente estudo apresentaram comportamento linear (r2 = 0,99), contrariando os achados de Keskinen e Komi(19). Uma possível explicação para essas diferenças pode ser a utilização de apenas três pontos na determinação dos parâmetros de braçada referentes à VLan, podendo não refletir fielmente o comportamento das características mecânicas do nado em função do aumento da intensidade de exercício.

A não diferença encontrada dos valores fBLan e CBLan com fBT-30 e CBT-30, respectivamente, além das significativas correlações verificadas entre esses parâmetros, confirma a hipótese de que a fB e o CB estão diretamente relacionados à fadiga em natação(7,15). Esses achados mostram que o comprimento de braçada é espontaneamente mantido em intensidades constantes e ainda sugerem a existência de um equilíbrio técnico, reflexo do equilíbrio dinâmico de lactato observado durante o exercício de longa duração em intensidades correspondentes à VLan. Assim, fB e CB correspondentes à VLan e/ou a V-T30 podem ser parâmetros úteis para controlar e prescrever intensidades de treinamento e na avaliação da mecânica de nado. A melhora na mecânica de nado, principalmente em séries aeróbias, provavelmente será refletida em mudanças nesses parâmetros, podendo influenciar o aumento da velocidade de nado durante a competição(8).

A maioria dos estudos que buscam relacionar parâmetros mecânicos de nado e aspectos fisiológicos tem utilizado o limiar anaeróbio determinado através da relação entre concentração de lactato sanguíneo versus velocidade de nado a partir de nados incrementais(11,19-20), metodologia essa também utilizada no presente estudo. Pereira et al.(22) destacam que os protocolos incrementais podem falhar ou indicar intensidade inadequada de treinamento. Desse modo, a velocidade máxima de nado a qual pode ser mantida com o equilíbrio máximo de produção e de remoção do lactato, determinada a partir do protocolo de máxima fase estável de lactato(4) (MFEL), pode representar a intensidade mais adequada para controlar e aprimorar a técnica de nado durante o treinamento aeróbio. Assim, são necessários estudos a fim de relacionar MFEL e parâmetros técnicos de nado.

Os resultados do presente estudo sugerem a utilização do T-30 como ferramenta não invasiva e de baixo custo na avaliação da capacidade aeróbia, determinação de parâmetros relacionados à técnica de nado e na predição da performance de 400m em nadadores treinados.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a colaboração do técnico de natação André Barbosa Velosa, do SESI Prata-Unimed de Bauru, por ter gentilmente cedido seus atletas; ao Prof. Dr. Sérgio Tossi Rodrigues, por ter viabilizado a análise das imagens em seu laboratório; e a Marina Álvares Denardi, pela revisão ortográfica.

Recebido em 3/2/05

Versão final recebida em 5/9/05

Aceito em 12/9/05

Todos os autores declararam não haver qualquer potencial conflito de interesses referente a este artigo.

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  • Endereço para correspondência:
    Rafael Deminice
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Jan 2008
    • Data do Fascículo
      Jun 2007

    Histórico

    • Aceito
      12 Set 2005
    • Recebido
      03 Fev 2005
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