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Relação entre torque extensor e relação I: Q com salto unipodal triplo horizontal em jogadores profissionais de futebol

Resumos

OBJETIVOS: 1) Determinar e comparar o torque extensor, relação I:Q e distância do salto triplo entre os membros; 2) identificar a relação entre o torque extensor e relação I:Q com o desempenho no salto triplo em jogadores profissionais de futebol. MATERIAIS E MÉTODOS: Foram selecionados 21 indivíduos, homens, idade média de 23,2 anos (± 3,6), saudáveis, sem histórico de lesões, praticantes profissionais de futebol. Os atletas foram avaliados em um dinamômetro isocinético nas velocidades de 60, 180 e 300°/s, das quais foram obtidos os picos de torque e calculada a relação I:Q nas três velocidades. Foi realizada também a avaliação funcional por meio do salto unipodal triplo horizontal, e desse foi obtida a distância saltada em metros. RESULTADOS: Não houve diferença entre membros (dominante e não dominante) para os testes (p = 0,23). Além disso, foi observada baixa correlação entre o torque extensor e teste funcional nas três velocidades (membro dominante: 60°/s_r = 0,38; 180°/s_r = 0,43*; 300°/s_r = 0,26. Membro não dominante: 60°/s_r = 0,36; 180°/s_r = 0,30; 300°/s_r = 0,48*) (*p < 0,05), assim como na relação I:Q e teste funcional (membro dominante: 60_r = 0,01; 180_r = 0,11; 300_r = - 0,02. Membro não dominante: 60_r = - 0,20; 180_r = - 0,15; 300_r = - 0,18). CONCLUSÃO: Devido à baixa correlação, não é possível substituir a avaliação isocinética pelo salto unipodal triplo horizontal (teste funcional) na avaliação da condição muscular.

dinamometria isocinética; atletas; hop test; correlação; teste funcional


OBJECTIVE: The aims of this study were: 1) to determine and compare the extensor torque, H:Q ratio and triple hop distance in functional test between lower extremities; 2) to identify the relationship between extensor torque and H:Q ratio with the performance in triple hop distance in professional soccer players. MATERIALS AND METHODS: Twenty-one healthy male professional soccer players, average 23.2 (± 3.6) years old, without history of injury were selected. The athletes were assessed in an isokinetic dynamometer at three angular velocities: 60, 180 and 300°/s, and from this assessment the peak of torque and calculated H:Q ratio at the three velocities were obtained. The triple hop distance was also used to calculate the hopped distance in meters. RESULTS: No significant difference was found between the lower extremities (dominant and non-dominant) (p = 0.23). Also, a weak relationship between extensor torque and functional test at the three velocities was observed (Dominant: 60°/s_r = 0.38; 180°/s_r = 0.43*; 300°/s_r = 0.26. Non dominant: 60°/s_r = 0.36; 180°/s_r = 0.30; 300°/s_r = 0.48*) (*p < 0.05). Similar results were found for H:Q ratio (Dominant: 60_r = 0.01; 180_r = 0.11; 300_r = - 0.02. Non-dominant: 60_r = - 0.20; 180_r = - 0.15; 300_r = - 0.18). CONCLUSION: Due to a weak relationship, the isokinetic test cannot be replaced by the triple hop distance (functional test) for muscular function assessment.

isokinetic dynamometer; athletes; hop test; correlation; functional test


ARTIGO ORIGINAL

APARELHO LOCOMOTOR NO EXERCÍCIO E NO ESPORTE

Relação entre torque extensor e relação I:Q com salto unipodal triplo horizontal em jogadores profissionais de futebol

Relationship between extensor torque and H:Q ratio with triple hop distance in professional soccer players

Luiz Fernando Approbato SelistreI, II; Giovanni Celso CintraI; Rubens Donizete Aleixo JuniorI; Stela Márcia Mattiello Gonçalves RosaII

ICentro Universitário Claretiano de Batatais - SP

IIUniversidade Federal de São Carlos - SP (UFSCar)

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Luiz Fernando Approbato Selistre Rodovia Washington Luís Km 235 13565-905 - São Carlos, SP, Brasil Caixa Postal 676 Laboratório de Análise da Função Articular (LAFAr) E-mail: luizselistre@claretiano.edu.br

RESUMO

OBJETIVOS: 1) Determinar e comparar o torque extensor, relação I:Q e distância do salto triplo entre os membros; 2) identificar a relação entre o torque extensor e relação I:Q com o desempenho no salto triplo em jogadores profissionais de futebol.

MATERIAIS E MÉTODOS: Foram selecionados 21 indivíduos, homens, idade média de 23,2 anos (± 3,6), saudáveis, sem histórico de lesões, praticantes profissionais de futebol. Os atletas foram avaliados em um dinamômetro isocinético nas velocidades de 60, 180 e 300°/s, das quais foram obtidos os picos de torque e calculada a relação I:Q nas três velocidades. Foi realizada também a avaliação funcional por meio do salto unipodal triplo horizontal, e desse foi obtida a distância saltada em metros.

RESULTADOS: Não houve diferença entre membros (dominante e não dominante) para os testes (p = 0,23). Além disso, foi observada baixa correlação entre o torque extensor e teste funcional nas três velocidades (membro dominante: 60°/s_r = 0,38; 180°/s_r = 0,43*; 300°/s_r = 0,26. Membro não dominante: 60°/s_r = 0,36; 180°/s_r = 0,30; 300°/s_r = 0,48*) (*p < 0,05), assim como na relação I:Q e teste funcional (membro dominante: 60_r = 0,01; 180_r = 0,11; 300_r = - 0,02. Membro não dominante: 60_r = - 0,20; 180_r = - 0,15; 300_r = - 0,18).

CONCLUSÃO: Devido à baixa correlação, não é possível substituir a avaliação isocinética pelo salto unipodal triplo horizontal (teste funcional) na avaliação da condição muscular.

Palavras-chave: dinamometria isocinética, atletas, hop test, correlação, teste funcional.

ABSTRACT

OBJECTIVE: The aims of this study were: 1) to determine and compare the extensor torque, H:Q ratio and triple hop distance in functional test between lower extremities; 2) to identify the relationship between extensor torque and H:Q ratio with the performance in triple hop distance in professional soccer players.

MATERIALS AND METHODS: Twenty-one healthy male professional soccer players, average 23.2 (± 3.6) years old, without history of injury were selected. The athletes were assessed in an isokinetic dynamometer at three angular velocities: 60, 180 and 300°/s, and from this assessment the peak of torque and calculated H:Q ratio at the three velocities were obtained. The triple hop distance was also used to calculate the hopped distance in meters.

RESULTS: No significant difference was found between the lower extremities (dominant and non-dominant) (p = 0.23). Also, a weak relationship between extensor torque and functional test at the three velocities was observed (Dominant: 60°/s_r = 0.38; 180°/s_r = 0.43*; 300°/s_r = 0.26. Non dominant: 60°/s_r = 0.36; 180°/s_r = 0.30; 300°/s_r = 0.48*) (*p < 0.05). Similar results were found for H:Q ratio (Dominant: 60_r = 0.01; 180_r = 0.11; 300_r = - 0.02. Non-dominant: 60_r = - 0.20; 180_r = - 0.15; 300_r = - 0.18).

CONCLUSION: Due to a weak relationship, the isokinetic test cannot be replaced by the triple hop distance (functional test) for muscular function assessment.

Keywords: isokinetic dynamometer, athletes, hop test, correlation, functional test.

INTRODUÇÃO

A dinamometria isocinética é considerada um dos métodos mais específicos para avaliação da função muscular1,2. Por meio de diversos parâmetros fornecidos pelo equipamento é possível identificar déficits musculares dificilmente identificados na avaliação clínica comum1,3. Entre esses parâmetros está o pico de torque (PT), caracterizado pelo momento máximo do torque gerado durante um movimento e velocidade específica4. Por meio do PT é possível calcular a relação isquiotibiais/quadríceps (I:Q), parâmetro esse utilizado para avaliar a relação agonista/antagonista de uma articulação5-7. Esses parâmetros permitem identificar desequilíbrios musculares, seja entre o membro dominante e o não dominante, ou entre a musculatura agonista e a antagonista8-11.

Conhecer e identificar esses desequilíbrios é de grande importância para atletas profissionais, já que diversos estudos demonstram que os desequilíbrios musculares estão relacionados com as lesões musculares e diminuição do desempenho11-15. Entretanto, o dinamômetro isocinético é um equipamento de alto custo e, por isso, inviável na prática clínica de grande parte dos profissionais do meio esportivo. Na tentativa de suprir essa necessidade, diversos métodos têm sido criados e desenvolvidos com o objetivo de fornecer informações sobre a função muscular16. Entre esses métodos está o hop test, criado por Daniel et al., 1982, para avaliação dos componentes de força, potência e estabilidade de um segmento lesado. Com o passar dos anos, outros testes funcionais foram desenvolvidos baseados no hop test17-19, entre eles está o salto unipodal triplo horizontal (SUTH). O SUTH, assim como outros testes funcionais, apresenta vantagens bem estabelecidas, como baixo custo, fácil aplicação, boa validação e confiabilidade16,20,21. Entretanto, poucos são os estudos que objetivaram identificar a relação entre a avaliação isocinética e testes funcionais em atletas do futebol21-24.

A identificação de uma boa correlação entre esses métodos de avaliação da função muscular poderia auxiliar as avaliações na prática clínica, tornando-as mais rápidas e eficientes tanto quanto as avaliações isocinéticas, porém sem o alto custo e dispêndio de tempo. Por essa razão, este estudo objetivou: 1) determinar e comparar o torque extensor do joelho, a relação I:Q e o desempenho no teste funcional entre o membro dominante e o não dominante; 2) identificar a relação entre o torque extensor e a relação I:Q com o desempenho no SUTH em jogadores profissionais de futebol de campo.

MATERIAIS E MÉTODOS

Amostra

A amostra foi composta por 21 indivíduos, sexo masculino, idade média de 23,2 anos (± 3,6), altura média de 1,80m (± 0,09), peso médio de 76,4kg (± 8,4) e tempo médio de prática da modalidade de 10,2 anos (± 5,1). Os indivíduos foram selecionados por meio de uma equipe da segunda divisão do campeonato paulista. Para inclusão no estudo, os jogadores não poderiam apresentar lesão em membros inferiores (MMII), sem histórico de lesões graves em MMII (fraturas, rupturas totais de ligamento) e deveriam apresentar um tempo de prática superior a dois anos, de forma que as adaptações causadas pela prática da modalidade estejam presentes nesses atletas. Os atletas foram orientados e esclarecidos quanto aos procedimentos para as avaliações, assim como os riscos e benefícios. Após os esclarecimentos, os indivíduos assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. Essa pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Federal de São Carlos (CEP/UFSCar) - parecer no 420/2009.

Avaliação isocinética

Para avaliação da capacidade muscular foi utilizado um dinamômetro isocinético 2 Multi-Joint System (Biodex Medical System, New York, NY, EUA). Os atletas compareceram ao local de avaliação (Unidade Saúde Escola (USE) - UFSCar) em um dia previamente agendado com vestuário adequado e padronizado (camiseta, shorts, meia e tênis cedidos pela própria equipe). A avaliação isocinética foi realizada por um profissional habituado a essas avaliações, utilizando procedimentos de avaliação padronizados como posicionamentos, comando verbal, explicação da avaliação e tempo de intervalo entre as velocidades. Inicialmente, foi realizado um aquecimento em cicloergômetro de frenagem eletromagnética (marca ERGO-FIT® modelo 167 CYCLE) durante 10 minutos, com intensidade de 60 watts e rotação entre 60 e 70rpm. Em seguida, o avaliador sorteava o membro que iniciaria o teste (dominante ou não dominante), considerando o membro utilizado para chutar a bola como dominante. Após sorteio, o indivíduo era posicionado no equipamento utilizando duas faixas diagonais no tórax, uma na cintura e outra na coxa do membro em avaliação, para evitar movimentos compensatórios durante o teste. O epicôndilo lateral do fêmur foi alinhado com o centro do eixo do equipamento, mantendo uma angulação de 90° do joelho, além de 90° de flexão de quadril mantido pela posição do apoio para tronco a 90°. O braço de alavanca foi posicionado paralelamente à perna do indivíduo e fixado a uma altura média de 5cm acima do maléolo lateral. A amplitude de movimento foi fixada em 80°, iniciando o movimento em 90° de flexão para uma extensão de 10°, a extensão completa não foi utilizada para evitar desconforto durante o teste por encurtamento muscular. Após concluir o posicionamento do indivíduo, o avaliador explicava novamente todos os passos da avaliação, principalmente orientando os indivíduos a realizar os movimentos (flexo-extensão de joelho) utilizando a força máxima e o mais rápido possível, além de outras orientações como: o comando verbal utilizado, os tempos de intervalo, a quantidade de repetições e as repetições prévias para familiarização. As repetições pré-teste eram utilizadas para que o indivíduo pudesse familiarizar-se a cada velocidade do teste, identificando inclusive possíveis desconfortos que seriam observados somente durante o teste. Essa adaptação foi composta por três repetições submáximas de flexo-extensão do joelho e outra repetição utilizando capacidade máxima, sendo essa última utilizada como exemplo de empenho do indivíduo para o teste. Em seguida, respeitava-se dois minutos de intervalo e dava-se início ao teste naquela velocidade previamente familiarizada. O mesmo procedimento foi realizado em cada velocidade nos dois membros. Para início do teste, os indivíduos recebiam o comando verbal "atenção, prepara e vai" e somente após o "vai" deveriam começar a fazer força; além disso, receberam incentivo verbal "força" e "mais força" durante o teste, para estimular um empenho máximo no decorrer do procedimento; entretanto, em nenhum momento da avaliação, os indivíduos recebiam feedback visual do equipamento. A avaliação isocinética foi realizada para os movimentos concêntricos de flexão e extensão do joelho e foram utilizadas três velocidades angulares, são elas: 60, 180 e 300°/s, sendo cinco, 10 e 10 repetições em cada velocidade, respectivamente. A primeira velocidade (60°/s) foi escolhida por aproximar-se da geração máxima de força do atleta; a terceira (300°/s), por se aproximar da velocidade do gesto esportivo; e a segunda (180°/s), para avaliar o comportamento do torque muscular numa velocidade intermediária. A partir dessa avaliação foram extraídas as variáveis de pico de torque (Nm) extensor e flexor de cada velocidade no membro dominante e não dominante, e em seguida calculada a relação I:Q. O fator gravitacional do dinamômetro foi calculado pelo próprio equipamento e automaticamente compensado no cálculo dos resultados.

Salto unipodal triplo horizontal (SUTH)

As avaliações de salto ocorreram em dias diferentes da avaliação isocinética (24 horas após); para isso, os atletas compareceram novamente ao local de avaliação com vestuário padronizado, assim como na avaliação isocinética. Previamente ao teste, os atletas realizavam aquecimento em ciclo ergômetro (marca ERGO-FIT® modelo 167 CYCLE) utilizando os mesmos parâmetros adotados na avaliação isocinética. Para aquecimento específico e familiarização com o teste, os atletas realizavam três SUTH submáximos com intervalo de dois minutos entre eles. Os atletas foram orientados a saltar a maior distância possível por meio de três saltos e incentivados a utilizar os membros superiores (MMSS) para auxílio no movimento, de modo semelhante ao utilizado na modalidade. Objetivando aproximar-se ainda mais da modalidade, os indivíduos realizaram os saltos em solo de grama devidamente lisa e sem irregularidades, para evitar quaisquer adversidades; entretanto, partiam de solo cimentado para não prejudicar a medida dos saltos. Os jogadores foram posicionados com a extremidade posterior do pé numa fita fixada no solo, utilizada como referência para as medidas e, a partir dessa fita, era calculada a distância saltada por meio de uma fita métrica (antropométrica, do tipo trena, 2m, Sanny). Antes de iniciar o teste era feito um sorteio para determinação de qual dos membros seria inicialmente avaliado; após esse sorteio, os participantes realizavam três SUTH utilizando o mesmo membro, com intervalo de dois minutos entre eles e somente em seguida era feita a avaliação do outro membro. Para as análises, foi obtida a média da distância saltada (em metros), de três saltos considerados válidos. Para o teste ser considerado válido, o atleta deveria: posicionar-se da maneira correta, os três saltos deveriam ocorrer de modo contínuo, o membro contralateral não poderia tocar o solo e, ao final do terceiro salto, o atleta deveria manter-se sobre o membro inferior avaliado para realização da marcação. Caso esses critérios não fossem respeitados, o salto deveria ser repetido; além disso, se o atleta realizar três vezes o teste de maneira inválida, era excluído do estudo. Após a realização do primeiro SUTH, era feita a marcação e medida da distância, em seguida era retirada a fita para evitar qualquer estímulo visual ao atleta.

Análise estatística

Após aplicação do teste de normalidade, foi utilizado o teste de correlação de Pearson para identificar a relação entre o salto unipodal triplo horizontal e a avaliação isocinética. Para as análises, foram utilizadas as variáveis pico de torque, relação I:Q e distância saltada, por meio do programa Estatistica 7 para Microsoft Windows.

RESULTADOS

Os valores encontrados de distância dos saltos, PT extensor e relação I:Q estão apresentados na tabela 1. Não houve diferença significativa entre os membros dominante e não dominante da amostra para os parâmetros avaliados.

A aplicação do teste de correlação de Pearson demonstrou que existe fraca correlação entre o desempenho no salto unipodal triplo com o PT extensor e relação I:Q; além disso, não houve correlação significativa entre as variáveis, como demonstra a tabela 2.

DISCUSSÃO

Atualmente é bem conhecido que a avaliação isocinética apresenta alta qualidade para determinação da capacidade muscular2,25; por outro lado, o difícil acesso a esse equipamento tem intensificado a busca por outros métodos de avaliação das mesmas variáveis. Por esse motivo, alguns testes funcionais foram criados e desenvolvidos, apresentando vantagens como baixo custo financeiro, boa confiabilidade, praticidade e fácil aplicação. Caso exista uma boa associação entre esses métodos de avaliação, seria uma enorme contribuição para a prática clínica, evitando um maior dispêndio de tempo e alto custo financeiro necessários para a avaliação isocinética26,27. Entretanto, a relação entre esses testes funcionais e a avaliação isocinética ainda não está bem estabelecida.

Segundo Lehance et al.22, dois elementos são fundamentais no cuidado com a musculatura do atleta de futebol: ausência de assimetrias entre o membro dominante e o não dominante, além de uma boa relação entre flexores e extensores de joelho. Essa importância se justifica devido à função desses grupos musculares durante a prática dessa modalidade. Exemplo disso são os extensores de joelho, que desempenham um papel importante durante os chutes e saltos, atividades essas que muitas vezes são treinadas e desenvolvidas por apenas um dos membros28. Por esse motivo, Zakas10 analisou o PT extensor e a relação I:Q em jogadores profissionais de futebol com dominância no membro inferior direito, esquerdo ou ambos, porém não encontrou diferença em nenhuma das velocidades avaliadas (12, 60, 180 e 300°/s). Velocidades essas semelhantes às utilizadas no presente estudo (60, 180 e 300°/s) e, da mesma forma, não foi identificada diferença entre os membros. Esses resultados demonstram que, apesar de diversas atividades e treinamentos do futebol serem unilaterais, essas adaptações parecem não ser identificadas na avaliação isocinética, mesmo fazendo uso de diferentes velocidades. Os mesmos resultados foram observados no teste funcional, pois, quando comparados o membro dominante e o não dominante, não houve diferença de desempenho entre os membros. Teste esse escolhido devido à sua grande aplicabilidade na prática clínica, boa validação e confiabilidade para avaliação de força e potência muscular em atletas de futebol21. Apesar da boa qualidade desse teste funcional, não foram encontrados estudos que comparassem o desempenho no SUTH entre membros.

O PT extensor não demonstrou diferença entre os membros, assim como no trabalho de Zakas10, que comparou o PT extensor e a relação I:Q em jogadores profissionais de futebol da primeira divisão com dominância do membro direito, esquerdo e bilateral, utilizando as velocidades 12, 60, 180 e 300°/s, os resultados não demonstraram diferença entre os indivíduos em nenhuma velocidade. Apesar da diferença na divisão de atuação dos jogadores, esse parece ser um fator de pouca importância na produção de torque, independente do membro dominante dos jogadores de futebol. Resultados semelhantes também foram encontrados por Lehance et al.22, que avaliaram 19 jogadores profissionais da primeira divisão belga, utilizando as velocidades de 60 e 240°/s, por meio das variáveis de PT extensor e flexor, além da relação I:Q, porém não encontraram diferença entre os membros em nenhuma das análises. Esses resultados demonstram que Hamilton et al.21 utilizaram 40 jogadores (20 homens e 20 mulheres) de futebol da primeira divisão nacional, para determinar a correlação entre o SUTH com a avaliação isocinética (velocidades 60 e 180°/s, modo concêntrico para flexores e extensores de joelho); os resultados apontaram boa correlação do SUTH com o torque extensor a 60°/s (r = 0,49, p < 0,01) e 180°/s (r = 0,59, p < 0,01). Entretanto, o presente estudo demonstrou boa correlação somente no membro dominante a 180°/s (r = 0,43, p < 0,05) e não dominante a 300°/s r = 0,48, p < 0,05), resultados esses que podem ser explicados pela análise separada dos membros realizada no presente estudo. Outro fator importante é o gênero, pois, no estudo citado, a amostra é composta por homens e mulheres. Exemplo disso é o estudo de Östenberg et al.12, que analisou, em mulheres saudáveis atletas de futebol, a correlação do SUTH com o pico de torque extensor e encontrou boa correlação a 60°/s (r = 0,43) e 180°/s (r = 0,52), obtendo resultados semelhantes ao estudo de Hamilton et al.21.

A fraca correlação entre o SUTH e PT extensor também pode ser explicada pelo fato de a avaliação isocinética ter sido realizada somente no movimento concêntrico e em cadeia cinética aberta (CCA), enquanto o SUTH é iniciado com uma contração excêntrica de quadríceps, seguido por contração concêntrica do mesmo, além de ser um movimento em cadeia cinética fechada (CCF), fator esse também apontado em outros estudos12,29. Outro fator importante são os movimentos compensatórios, permitidos no teste funcional e minimizados no teste isocinético, fator esse que contribui para adaptações no sistema de controle neuromuscular e influencia diretamente no desempenho de uma atividade funcional do atleta. O presente estudo utilizou o SUTH, permitindo que os atletas utilizassem os MMSS para auxílio durante os saltos. Já Greenberger e Paterno29 orientaram os sujeitos a manter os MMSS fixos atrás do tronco e, ao analisarem a correlação do salto unipodal único com o torque extensor na velocidade de 240°/s, encontraram uma moderada correlação para o membro dominante r = 0,78, p < 0,05) e não dominante (r = 0,65, p < 0,05).

Por fim, a relação I:Q parecia ser um fator importante para correlação com o SUTH, já que a literatura deixa claro que um bom equilíbrio entre agonista e antagonista contribui não somente para a prevenção de lesões, mas também para um melhor desempenho do segmento30. Entretanto, os resultados demonstraram fraca correlação entre essas variáveis (relação I:Q e avaliação isocinética), o que pode ser explicado pelos métodos de avaliação utilizados, pois, enquanto o SUTH exige uma variação de contrações excêntricas e concêntricas das musculaturas flexoras e extensoras do joelho, a avaliação isocinética avalia somente a atuação concêntrica dessas musculaturas, além de avaliá-las separadamente.

A limitação principal deste estudo foi a falta da avaliação excêntrica de flexores e extensores de joelho; além disso, a análise de outras variáveis do isocinético, a utilização de diferentes gêneros e a correlação com outros testes funcionais parecem ser boas diretrizes para estudos futuros. Dessa forma, não é possível substituir a avaliação isocinética pela utilização do SUTH; entretanto, é fato que os dois métodos auxiliam na avaliação da força e potência muscular do atleta de futebol, além de contribuirem para o conhecimento dos profissionais atuantes no meio esportivo, possibilitando uma atuação específica nesses atletas para prevenção de lesões.

Todos os autores declararam não haver qualquer potencial conflito de interesses referente a este artigo.

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  • Endereço para correspondência:
    Luiz Fernando Approbato Selistre
    Rodovia Washington Luís Km 235
    13565-905 - São Carlos, SP, Brasil
    Caixa Postal 676
    Laboratório de Análise da Função Articular (LAFAr)
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Fev 2013
    • Data do Fascículo
      Dez 2012
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