Acessibilidade / Reportar erro

Influência dos hormônios sexuais no consumo de oxigênio de ratos

Influence of sexual hormones on oxygen consumption in rats

Influencia de las hormonas sexuales en el consumo de oxígeno en ratas

Resumos

Introdução:

Achados da literatura sugerem que oscilações dos hormônios sexuais femininos podem alterar o consumo máximo de oxigênio (VO2max).

Objetivo:

Comparar o VO2max entre ratos machos (M, n=8), fêmeas nas fases ovulatórias (OV, n=8) ou não-ovulatórias (NOV, n=8) do ciclo estral e ooforectomizadas (OS, n=8).

Métodos:

A avaliação do consumo de oxigênio foi realizada em esteira rolante com caixa metabólica acoplada.

Resultados:

Em repouso, o VO2 foi semelhante entre os grupos estudados. O grupo M apresentou maior VO2max em relação ao grupo NOV, mas valores semelhantes ao do grupo OV. O VO2max foi menor no grupo ooforectomizado (OS: 62±3 ml.kg-1.min-1) quando comparado aos demais grupos (M: 92±2; NOV: 77±4; OV: 87±3 ml.kg-1.min-1).

Conclusões:

Esses achados evidenciam que a variação hormonal decorrente das diferentes fases do ciclo estral e da privação dos hormônios ovarianos pode induzir alterações no consumo máximo de oxigênio em ratos.

consumo de oxigênio; ratos; diferenças sexuais; menopausa


Introduction:

Literature findings suggest that fluctuations of female sex hormones may change the maximum oxygen consumption (VO2 max).

Objective:

To compare the VO2 max among male rats (M, n = 8), female rats on ovulatory (OV, n=8) or non-ovulatory (NOV, n=8) phases of the estrous cycle and ovariectomized (OS, n=8).

Methods:

The evaluation of oxygen consumption was performed on a treadmill coupled with metabolic box.

Results:

At rest VO2 was similar among groups. The M group had a higher VO2 max compared to the NOV group, however showed similar values when compared to OV group. The VO2 max was lower in the ovariectomized group (OS: 62±3 ml.kg-1.min-1) compared to other groups (M: 92±2; NOV: 77 ± 4; OV: 87 ± 3 ml.kg-1.min-1).

Conclusions:

These findings suggest that hormonal variation resulting from different phases of the estrous cycle and ovarian hormone deprivation can induce changes in maximal oxygen uptake in rats.

oxygen consumption; rats; sex differences; menopause


Introducción:

Hallazgos de la literatura sugieren que oscilaciones de las hormonas sexuales femeninas pueden alterar el consumo máximo de oxígeno (VO2max).

Objetivo:

Comparar el VO2max entre ratas machos (M, n=8), hembras en las fases ovulatorias (OV, n=8) o no ovulatorias (NOV, n=8) del ciclo estral y ooforectomizadas (OS, n=8).

Métodos:

La evaluación del consumo de oxígeno fue realizada en cinta rodante con caja metabólica acoplada.

Resultados:

En reposo, el VO2 fue semejante entre los grupos estudiados. El grupo M presentó mayor VO2max en relación al grupo NOV, pero valores semejantes a los del grupo OV. El VO2max fue menor en el grupo ooforectomizado (OS: 62±3 ml.kg-1.min-1) cuando comparado a los demás grupos (MS: 92±2; NOV: 77±4; OV: 87±3 ml.kg-1.min-1).

Conclusiones:

Esos hallazgos evidencian que la variación hormonal proveniente de las diferentes fases del ciclo estral y de la privación de las hormonas ováricas puede inducir alteraciones en el consumo máximo de oxígeno en ratas.

consumo de oxígeno; ratas; diferencias sexuales; menopausia


INTRODUÇÃO

O consumo máximo de oxigênio (VO2max) é um indicador de capacidade aeróbica, cujo valor numérico se relaciona com o nível de eficiência de utilização da energia aeróbia. Seu valor absoluto depende da capacidade física de cada indivíduo, sendo um parâmetro fisiológico que expressa a quantidade de oxigênio que o organismo consome ou utiliza11. Aránguiz H, Garcia V, Rojas S, Salas C, Martinez R, Mac Millan M. Estudio Descriptivo, Comparativo y Correlacional del Estado Nutricional y Condición Cardiorrespiratoria en Estudiantes Universitarios de Chile. Rev Chil Nutr 2010;37(1):70-8.. O VO2max é o produto do fluxo sanguíneo sistêmico (débito cardíaco) e da extração sistêmica de oxigênio (diferença arteriovenosa de oxigênio), podendo ser expresso pela equação: VO2max = frequência cardíaca máxima versus volume sistólico máximo versus diferença arteriovenosa de O2máxima22. Powers SK, HowleyET. Fisiologia do exercício: Teoria e aplicação ao condicionamento e ao desporto. São Paulo: Manole, 2009.. Essa variável representa a integração que existe entre o sistema cardiovascular, respiratório e muscular frente à demanda energética durante o exercício33. Myers J, Gullestad L, Vagelos R, Do D, Bellin D, Ross H, Fowler MB. Clinical hemodynamic and cardiopulmonary exercise test determinants of survival in patients referred for evaluation of heart failure. Ann Intern Med. 1998;129:286-93..

A medida de VO2max é um excelente parâmetro para quantificar a capacidade cardiorrespiratória, bem como o nível de condicionamento físico do atleta e do indivíduo acometido por alguma doença44. Lange B, Bruy T. Exercise spirometry in medical practice. Rev Med Liege 2001;56(4):228-32.. Assim, o VO2max além de ser um indicador de desempenho é também um indicador de fatores de risco.

Existe um consenso de que as oscilações hormonais devido às alterações, principalmente, nos níveis de estrogênio e progesterona, afetam a fisiologia feminina. Adicionalmente, estudos sugerem que o desempenho físico pode variar consideravelmente durante as distintas fases do ciclo menstrual, muito provavelmente em função das variações de temperatura corporal e de metabolismo que acompanham as curvas hormonais55. Sarwar R, Niclos BB, Rutherford OM. Changes in muscle strength, relaxation rate and fatigability during the human menstrual cycle. J Physiol. 1996;493(1):267-72.

6. Tenaglia SA, McLellan TM, Klentroum PP. Influence of menstrual cycle and oral contraceptive on tolerance to uncompensable heat stress. Eur J Appl Physiol.1999;80:78-83.
- 77. Charkoudian N, Johnson JM. Female reproductive hormones and thermoregulatory control of skin blood flow. Exerc Sport Sci. 2000;28:108-12..

Dessa forma, o objetivo deste estudo foi comparar o consumo máximo de oxigênio entre ratos machos saúdaveis, fêmeas saudáveis nas fases ovulatórias ou não-ovulatórias do ciclo estral e ooforectomizadas.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram utilizados 32 ratos Wistar provenientes do biotério da Universidade São Judas Tadeu de São Paulo, SP, Brasil. Os animais foram mantidos agrupados em ambiente com temperatura controlada (22– 24 °C) e com luz controlada em ciclo de 12 horas (claro/escuro). Água e comida foram oferecidas de modo irrestrito, sendo que a dieta foi normoprotêica. O presente projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade São Judas Tadeu, com o parecer número 01/2008. Os animais foram divididos nos seguintes grupos experimentais (n=8 em cada grupo): machos saudáveis (M), fêmeas saudáveis nas fases ovulatórias do ciclo estral (OV), fêmeas saudáveis nas fases não ovulatórias do ciclo estral (NOV), e fêmeas ooforectomizadas (OS). As avaliações do VO2 foram realizadas nos animais com 5 meses de vida.

A caracterização de cada fase do ciclo foi baseada na proporção de três tipos de células na secreção vaginal: epiteliais, corneificadas e leucócitos88. Marcondes FK, Bianchi FJ, Tanno AP. Determination of the estrous cycle phases of rats: some helpful considerations. Braz J Med Biol Res.2002;62(4a):609-14.. A secreção vaginal foi coletada com uma pipeta plástica com 10μL de solução salina introduzida superficialmente na vagina da rata. Essa gota de solução salina foi coletada e colocada em uma lâmina de vidro para a observação em um microscópio ótico (aumento de 400x). As avaliações foram realizadas nas fases ovulatórias (estro e proestro) e não ovulatória (diestro e metaestro) do ciclo estral.

Ooforectomia

Aproximadamente aos 90 dias de idade, após a certificação da vida reprodutiva, as ratas foram anestesiadas com cloridrato de cetamina (50mg/Kg Ketalar a 10% ou 100mg/ml, Park-Davis) e cloridrato de xilazina (12mg/Kg, Rompum a 2% ou 20mg/ml, Bayer) e colocadas em decúbito dorsal para realização de uma pequena incisão (1cm) em paralelo com a linha do corpo na pele e na musculatura no terço inferior na região abdominal. Os ovários foram localizados e foi realizada a ligadura dos ovidutos, incluindo os vasos sanguíneos. Os ovidutos foram seccionados e os ovários removidos. A musculatura e a pele foram suturadas e uma dose de antibiótico foi administrada (Benzetacil, 40 000 U/Kg, i.m)99. Irigoyen MC, Paulini J, Flores LJ, Flues K, Bertagnolli M, Moreira ED, et al. Exercise training improves baroreflex sensitivity associated with oxidative stress reduction in ovariectomized rats. Hypertension 2005;46:998-1003. , 1010. Flues K, Paulini J, Brito S, Sanches IC, Consolim-Colombo F, Irigoyen MC, De Angelis K. Exercise training associated with estrogen therapy induced cardiovascular benefits after ovarian hormones deprivation. Maturitas 2010;65(3):267-71..

Avaliação do consumo máximo de oxigênio (VO2máx)

Para realização do protocolo de avaliação do consumo máximo de oxigênio, os animais foram posicionados individualmente na caixa metabólica, sobre a esteira rolante, onde inicialmente foram coletados os valores de repouso. O tempo de observação foi de aproximadamente 30min. Após esse tempo, o teste de esforço foi imediatamente iniciado, e consistiu em submeter o animal à corrida na esteira com velocidade inicial de 0,3km/h por 3min, sendo esta carga incrementada em 0,3km/h a cada 3min até que o animal atingisse a exaustão. A avaliação da capacidade física máxima foi feita por meio de respirometria aberta somente no SP1. A determinação metabólica de consumo de oxigênio foi de acordo com o método descrito por Brooks & White1111. Brooks GA, White TP. Determination of metabolic and heart rate responses of rats to treadmill exercise. J Appl Physiol 1978;45(6):1009-15.. O VO2 foi avaliado por meio de uma caixa metabólica conectada a um sensor de oxigênio (Power Lab, AD Instruments) que analisa continuamente as amostras das frações expiradas de oxigênio (FeO2), bem como os valores das concentrações ambientais de oxigênio (FiO2). Posteriormente, os valores de VO2 de cada animal foi calculado pela seguinte fórmula matemática: VO2 (mlO2. kg-1. min-1) = VE (FiO2 – FeO2)/PC, onde: VE: Fluxo da bomba de sucção (ml/min); FiO2: Fração inspirada de O2; FeO2: Fração expirada de O2; PC: Peso corporal do animal (g). O VO2reserva max. foi obtido por meio da equação: VO2 reserva max = VO2max- VO2 de repouso.

Análise estatística

Os resultados são apresentados como média ± erro padrão. O teste de análise de variância (ANOVA), seguido do post hoc de Student Newmann Keuls foi aplicado para análise dos dados. Valores de p<0,05 foram considerados significantes.

Resultados

O peso corporal foi maior no grupo ooforectomizado quando comparado aos demais grupos (tabela 1).

Tabela 1.
Peso corporal, consumo de oxigênio em repouso (VO2repouso), consumo máximo de oxigênio (VO2max), consumo máximo de reserva de oxigênio (VO2 reserva max= VO2max - VO2repouso) e velocidade na qual se atingiu o VO2 max avaliado nos grupos M (machos, n=8), NOV (não-ovulatório, n=8), OV (ovulatório, n=8) e OS (ooforectomizado, n=8).

Na figura 1 podemos observar o comportamento do VO2, durante o repouso e a cada incremento de carga do teste de esforço. Observa-se aumento do consumo de oxigênio em todos os grupos a cada aumento de carga durante o TE, observando tendência à estabilização de VO2 nas últimas cargas.

Figura 1.
Consumo de oxigênio (VO2) durante o teste de esforço realizado nos grupos de ratos machos (M, n=8), ratas fêmeas nas fases não-ovulatórias (NOV, n=8) e ovulatórias do ciclo estral (OV, n=8) e ratas fêmeas ooforectomizadas (OS, n=8).

Como pode ser observado na tabela 1, o VO2 de repouso foi similar entre os grupos. No entanto, o VO2max e o VO2reserva max foram menores nas ratas na fase não ovulatória e nas ratas ooforectomizadas em relação ao grupo macho. Foi possível observar redução no VO2max. de 16,3% no grupo não ovulatório e de 32,6% no grupo ooforectomizado quando comparados ao grupo de macho. Além disso, os valores de VO2max e o VO2reserva max também foram menores das ratas ooforectomizadas quando comparado às ratas nas fases ovulatória e não ovulatória do ciclo estral, apresentando redução significante no VO2max de 19,4% quando comparado ao grupo não ovulatório e de 28,7% quando comparado ao grupo ovulatório.

O grupo de machos atingiu VO2max em uma maior velocidade quando comparado aos grupos de fêmeas (tabela 1).

DISCUSSÃO

O teste de esforço físico (TE) é um dos exames não invasivos mais utilizados para avaliar pacientes com doença cardiovascular. O TE tem por objetivo submeter o paciente a estresse físico, com finalidade de avaliar a resposta clínica, hemodinâmica, eletrocardiográfica e metabólica ao esforço. Essa avaliação permite detectar isquemia miocárdica, arritmias cardíacas, distúrbios hemodinâmicos esforço-induzidos, permitindo o diagnóstico e prognóstico das doenças cardiovasculares, bem como a prescrição de exercícios1212. Negrão CE & Barreto ACP. Cardiologia do exercício: Do atleta ao cardiopata, São Paulo: Manole, 2005.. Vale lembrar que o consumo de oxigênio representa, hoje, não só um indicador de desempenho, mas um marcador prognóstico em cardiopatas33. Myers J, Gullestad L, Vagelos R, Do D, Bellin D, Ross H, Fowler MB. Clinical hemodynamic and cardiopulmonary exercise test determinants of survival in patients referred for evaluation of heart failure. Ann Intern Med. 1998;129:286-93. , 1313. Armstrong LE, Brubaker PH, Otto RM. ACSM's Guidelines for Exercise Testing and Prescription. In American College of Sports Medicine. 7thEdition. Edited by Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins; 2005:66-99.. Recentemente, demonstramos correlação positiva entre a velocidade atingida no teste de esforço e o consumo de oxigênio em ratos1414. Rodrigues B, Figueroa DMT, Mostarda C, Heeren MV, Irigoyen MC, De Angelis K. Maximal exercise test is a useful method for physical capacity and oxygen consumption determination in streptozotocin-diabetic rats. Cardiovasc Diabetol. 2007;6:38..

Como o VO2max é frequentemente expressado em quilogramas do peso corporal (ml/Kg/min), mudanças no peso corporal podem afetar o VO2max 1515. Janse De Jonge, XAK. Effects of the menstrual cycle on exercise performance. Sports Med 2003;33(11):833–51.. No presente estudo, o peso corporal foi maior nas ratas ooforectomizadas em relação aos demais grupos, o que já era esperado, pois diversos estudos demonstram que ratas após a privação dos hormônios ovarianos apresentam aumento significante do peso corporal99. Irigoyen MC, Paulini J, Flores LJ, Flues K, Bertagnolli M, Moreira ED, et al. Exercise training improves baroreflex sensitivity associated with oxidative stress reduction in ovariectomized rats. Hypertension 2005;46:998-1003. , 1010. Flues K, Paulini J, Brito S, Sanches IC, Consolim-Colombo F, Irigoyen MC, De Angelis K. Exercise training associated with estrogen therapy induced cardiovascular benefits after ovarian hormones deprivation. Maturitas 2010;65(3):267-71..

Vale ressaltar que os valores obtidos VO2de repouso, VO2max e VO2dereservamax no presente estudo estão de acordo com dados encontrados na literatura para ratos adultos normais1414. Rodrigues B, Figueroa DMT, Mostarda C, Heeren MV, Irigoyen MC, De Angelis K. Maximal exercise test is a useful method for physical capacity and oxygen consumption determination in streptozotocin-diabetic rats. Cardiovasc Diabetol. 2007;6:38. , 1616. Wisløff U, Helgerud J, Johan Kemi O, Ellingsen.O Intensity-controlled treadmill running in rats: VO2max and cardiac hypertrophy. Am J Physiol (Heart Circ Physiol) 2001;280:H1301-H10..

É consenso que homens possuem maior VO2max que mulheres11. Aránguiz H, Garcia V, Rojas S, Salas C, Martinez R, Mac Millan M. Estudio Descriptivo, Comparativo y Correlacional del Estado Nutricional y Condición Cardiorrespiratoria en Estudiantes Universitarios de Chile. Rev Chil Nutr 2010;37(1):70-8. , 1717. Azevedo PHSM, Oliveira JC, Simões HG, Baldissera V, Perez SEA. Cinética do consumo de oxigênio e tempo limite na VO2max: comparação entre homens e mulheres. Rev Bras Med Esporte 2010;16(4):278-81. , 1818. Billat V, Beillot J, Jan J, Rochcongar P, Carre F. Gender effect on the relationship of time limit at 100% VO2max with other bioenergetic characteristics. Med Sci Sports Exerc. 1996;28:1049-55.. Essa diferença é resultante de maiores concentrações de hemoglobina, além de um volume sanguíneo maior em homens, o que resulta em mais O2 carreado e ofertado aos tecidos1919. Akalan C, Kravitz L, Robergs RA. VO2max:Essentials of the most widely used test in exercise physiology. Health Fit J. 2004;8(3):5-9. , 2020. Herdy AH, Uhlendorf D. Valores de referência para o teste cardiopulmonar para homens e mulheres sedentários e ativos. Arq Bras Cardiol. 2011;96(1):54-9.. No presente estudo, o grupo de ratos machos apresentou maior VO2max quando comparado aos grupos ovulatório e ooforectomizado, corroborando com dados presentes na literatura, observados em homens e mulheres.

Lebrun2121. Lebrun CM. Effect of the different phases of the menstrual cycle and oral contraceptives on athletic performance. Sports Med. 1993;16(6):400. publicou uma revisão da literatura na qual analisou os efeitos do ciclo menstrual no desempenho atlético. Nessa revisão, a maioria dos achados relatou uma melhora de desempenho na fase pós-menstrual. Burrows et al. 2222. Burrows M, Bird S. The physiology of the highly trained female endurance runner. Sports Med. 2000; 30(4):281-300., em outra revisão, desta vez sobre treinamento para corrida de longa duração, sugeriram que o ciclo menstrual, bem como o uso de contraceptivos orais, não afetam o desempenho das atletas. Da mesma forma, Janse De Jonge1515. Janse De Jonge, XAK. Effects of the menstrual cycle on exercise performance. Sports Med 2003;33(11):833–51. também não encontrou diferenças durante as diferentes fases do ciclo menstrual para as medidas de lactato, concentração de hemoglobina e VO2max Por outro lado, Charkoudian & Johnson77. Charkoudian N, Johnson JM. Female reproductive hormones and thermoregulatory control of skin blood flow. Exerc Sport Sci. 2000;28:108-12. demonstraram que o desempenho físico pode variar consideravelmente durante as distintas fases do ciclo menstrual. Além disso, Lebrun et al. 2323. Lebrun CM, McKenzie DC, Prior JC, Taunton JE. Effects of menstrual cycle phase on athletic performance. Med Sci Sports Exerc. 1995;27(3):437-44. observaram diferença, tanto para o VO2maxrelativo, quanto para o VO2max absoluto nas diferentes fases do ciclo, sendo que durante a fase lútea foi observado redução da capacidade aeróbica. No presente estudo, observamos um aumento de 11,5% no VO2max nas ratas durante as fases ovulatórias quando comparado às fases não-ovulatória, no entanto, sem diferença estatística. Vale lembrar que a fase não-ovulatória em ratas corresponde à fase lútea em mulheres, período em que os níveis de estrogênio e progesterona estão elevados1414. Rodrigues B, Figueroa DMT, Mostarda C, Heeren MV, Irigoyen MC, De Angelis K. Maximal exercise test is a useful method for physical capacity and oxygen consumption determination in streptozotocin-diabetic rats. Cardiovasc Diabetol. 2007;6:38. , 2424. Spornitz UM, Socin CD, David AA. Estrous stage determination in rats by means of scanning electron microscopic images of uterine surface epithelium. Anat Rec.1999;254:116-26..

Além das flutuações hormonais decorrentes das diferentes fases do ciclo, há um período na vida da mulher denominado climatério.

O climatério é caracterizado pela diminuição da atividade ovariana, a qual ocorre de forma lenta, com redução progressiva dos níveis circulantes de hormônios sexuais femininos2525. Fuchs FD, Travi GM, Vaz MG, Nogueira MC, Silva MR, Nerene LL. Terapia de Reposição Hormonal pós-menopausa: Efeitos sobre os fatores de risco e incidência de doenças cardiovasculares. Rev Pesq Med1995;29(1):37-40.. É um período que continua após a menopausa e segue até a velhice2626. De Lorenzi DRS, Danelon C, Saciloto B, Padilha I Jr. Fatores indicadores da sintomatologia climatérica. Rev Bras Ginecolog Obstet. 2005;27(1):12-9.. Durante este período há mudanças na composição corporal da mulher, incluindo aumento dos adipócitos totais e redistribuição da gordura abdominal2727. Poehlman ET, Toth MJ, Gardner AW. Changes in energy balance and body composition at menopause: a controlled longitudinal study. Ann Intern Med. 1995;123:673-5. , 2828. Svendsen OL, Hassager C, Christiansen C. Age- and menopause associated variations in body composition and fat distribution in healthy women as measured by dual-energy x-ray absorptiometry. Metabolism. 1995;44:369-73., o que está associado ao aumento do risco de aterosclerose, aumentando, assim, o risco do desenvolvimento de doenças cardiovasculares29.

Nosso grupo vem estudando os efeitos da privação dos hormônios ovarianos em modelo experimental, bem como o papel do treinamento e da terapia estrogênica em parâmetros cardiovasculares e de estresse oxidativo99. Irigoyen MC, Paulini J, Flores LJ, Flues K, Bertagnolli M, Moreira ED, et al. Exercise training improves baroreflex sensitivity associated with oxidative stress reduction in ovariectomized rats. Hypertension 2005;46:998-1003. , 1010. Flues K, Paulini J, Brito S, Sanches IC, Consolim-Colombo F, Irigoyen MC, De Angelis K. Exercise training associated with estrogen therapy induced cardiovascular benefits after ovarian hormones deprivation. Maturitas 2010;65(3):267-71.. No presente estudo, a privação dos hormônios ovarianos induziu redução do VO2max em relação aos demais grupos estudados, sugerindo, como se observa em mulheres menopausadas, que a privação crônica dos hormônios ovarianos induza redução da capacidade aeróbica30. Por outro lado, em um modelo experimental de menopausa, Flues et al. 10 não observaram diferença na capacidade de exercício, avaliado pelo teste de esforço máximo em esteira, entre ratas saudáveis e ooforectomizadas.

CONCLUSÃO

Em conjunto, os achados do presente estudo sugerem que as flutuações hormonais decorrentes das diferentes fases do ciclo estral e da privação dos hormônios ovarianos podem induzir mudanças no VO2max. No entanto, estudos futuros devem estabelecer os mecanismos envolvidos em tais alterações do consumo máximo de oxigênio.

Agradecimentos

Os autores agradecem o apoio financeiro à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP: 2005/60829-2; 2007/57595-5; 2011/16441-0; 2012/20141-5), ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES-PVE: 88881.062178/2014-01).

Todos os autores declararam não haver qualquer potencial conflito de interesses referente a este artigo.

REFERÊNCIAS

  • 1
    Aránguiz H, Garcia V, Rojas S, Salas C, Martinez R, Mac Millan M. Estudio Descriptivo, Comparativo y Correlacional del Estado Nutricional y Condición Cardiorrespiratoria en Estudiantes Universitarios de Chile. Rev Chil Nutr 2010;37(1):70-8.
  • 2
    Powers SK, HowleyET. Fisiologia do exercício: Teoria e aplicação ao condicionamento e ao desporto. São Paulo: Manole, 2009.
  • 3
    Myers J, Gullestad L, Vagelos R, Do D, Bellin D, Ross H, Fowler MB. Clinical hemodynamic and cardiopulmonary exercise test determinants of survival in patients referred for evaluation of heart failure. Ann Intern Med. 1998;129:286-93.
  • 4
    Lange B, Bruy T. Exercise spirometry in medical practice. Rev Med Liege 2001;56(4):228-32.
  • 5
    Sarwar R, Niclos BB, Rutherford OM. Changes in muscle strength, relaxation rate and fatigability during the human menstrual cycle. J Physiol. 1996;493(1):267-72.
  • 6
    Tenaglia SA, McLellan TM, Klentroum PP. Influence of menstrual cycle and oral contraceptive on tolerance to uncompensable heat stress. Eur J Appl Physiol.1999;80:78-83.
  • 7
    Charkoudian N, Johnson JM. Female reproductive hormones and thermoregulatory control of skin blood flow. Exerc Sport Sci. 2000;28:108-12.
  • 8
    Marcondes FK, Bianchi FJ, Tanno AP. Determination of the estrous cycle phases of rats: some helpful considerations. Braz J Med Biol Res.2002;62(4a):609-14.
  • 9
    Irigoyen MC, Paulini J, Flores LJ, Flues K, Bertagnolli M, Moreira ED, et al. Exercise training improves baroreflex sensitivity associated with oxidative stress reduction in ovariectomized rats. Hypertension 2005;46:998-1003.
  • 10
    Flues K, Paulini J, Brito S, Sanches IC, Consolim-Colombo F, Irigoyen MC, De Angelis K. Exercise training associated with estrogen therapy induced cardiovascular benefits after ovarian hormones deprivation. Maturitas 2010;65(3):267-71.
  • 11
    Brooks GA, White TP. Determination of metabolic and heart rate responses of rats to treadmill exercise. J Appl Physiol 1978;45(6):1009-15.
  • 12
    Negrão CE & Barreto ACP. Cardiologia do exercício: Do atleta ao cardiopata, São Paulo: Manole, 2005.
  • 13
    Armstrong LE, Brubaker PH, Otto RM. ACSM's Guidelines for Exercise Testing and Prescription. In American College of Sports Medicine. 7thEdition. Edited by Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins; 2005:66-99.
  • 14
    Rodrigues B, Figueroa DMT, Mostarda C, Heeren MV, Irigoyen MC, De Angelis K. Maximal exercise test is a useful method for physical capacity and oxygen consumption determination in streptozotocin-diabetic rats. Cardiovasc Diabetol. 2007;6:38.
  • 15
    Janse De Jonge, XAK. Effects of the menstrual cycle on exercise performance. Sports Med 2003;33(11):833–51.
  • 16
    Wisløff U, Helgerud J, Johan Kemi O, Ellingsen.O Intensity-controlled treadmill running in rats: VO2max and cardiac hypertrophy. Am J Physiol (Heart Circ Physiol) 2001;280:H1301-H10.
  • 17
    Azevedo PHSM, Oliveira JC, Simões HG, Baldissera V, Perez SEA. Cinética do consumo de oxigênio e tempo limite na VO2max: comparação entre homens e mulheres. Rev Bras Med Esporte 2010;16(4):278-81.
  • 18
    Billat V, Beillot J, Jan J, Rochcongar P, Carre F. Gender effect on the relationship of time limit at 100% VO2max with other bioenergetic characteristics. Med Sci Sports Exerc. 1996;28:1049-55.
  • 19
    Akalan C, Kravitz L, Robergs RA. VO2max:Essentials of the most widely used test in exercise physiology. Health Fit J. 2004;8(3):5-9.
  • 20
    Herdy AH, Uhlendorf D. Valores de referência para o teste cardiopulmonar para homens e mulheres sedentários e ativos. Arq Bras Cardiol. 2011;96(1):54-9.
  • 21
    Lebrun CM. Effect of the different phases of the menstrual cycle and oral contraceptives on athletic performance. Sports Med. 1993;16(6):400.
  • 22
    Burrows M, Bird S. The physiology of the highly trained female endurance runner. Sports Med. 2000; 30(4):281-300.
  • 23
    Lebrun CM, McKenzie DC, Prior JC, Taunton JE. Effects of menstrual cycle phase on athletic performance. Med Sci Sports Exerc. 1995;27(3):437-44.
  • 24
    Spornitz UM, Socin CD, David AA. Estrous stage determination in rats by means of scanning electron microscopic images of uterine surface epithelium. Anat Rec.1999;254:116-26.
  • 25
    Fuchs FD, Travi GM, Vaz MG, Nogueira MC, Silva MR, Nerene LL. Terapia de Reposição Hormonal pós-menopausa: Efeitos sobre os fatores de risco e incidência de doenças cardiovasculares. Rev Pesq Med1995;29(1):37-40.
  • 26
    De Lorenzi DRS, Danelon C, Saciloto B, Padilha I Jr. Fatores indicadores da sintomatologia climatérica. Rev Bras Ginecolog Obstet. 2005;27(1):12-9.
  • 27
    Poehlman ET, Toth MJ, Gardner AW. Changes in energy balance and body composition at menopause: a controlled longitudinal study. Ann Intern Med. 1995;123:673-5.
  • 28
    Svendsen OL, Hassager C, Christiansen C. Age- and menopause associated variations in body composition and fat distribution in healthy women as measured by dual-energy x-ray absorptiometry. Metabolism. 1995;44:369-73.
  • 29
    Bjorntorp P. "Portal" adipose tissue as a generator of risk factors for cardiovascular disease and diabetes. Arteriosclerosis. 1990;10:493- 6.
  • 30
    Lynch NA, Ryan AS, Berman DM, Sorkin JD, Nicklas BJ. Comparison of VO2max and disease risk factors between perimenopausal and postmenopausal women. Menopause. 2002 Nov-Dec;9(6):456-62.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2014

Histórico

  • Recebido
    26 Mar 2013
  • Aceito
    20 Jun 2013
Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte Av. Brigadeiro Luís Antônio, 278, 6º and., 01318-901 São Paulo SP, Tel.: +55 11 3106-7544, Fax: +55 11 3106-8611 - São Paulo - SP - Brazil
E-mail: atharbme@uol.com.br