INTRODUÇÃO
As artes marciais têm se tornado as atividades mais praticadas e populares no mundo, tanto no âmbito recreacional, como competitivo, com cerca de 6,9 milhões de participantes só nos EUA, segundo a Martial Arts Industry Association(MAIA)1 , 2. Embora existam diferentes estilos de artes marciais e esportes de combate originários do Japão, Okinawa, Korea, China, Filipinas, Brasil, França, Israel e América há diversas similaridades em relação às técnicas e métodos de treinamento, sendo que algumas destas datam de milhares de anos, conforme referenciado em relatos na Grécia antiga e Egito1. As artes marciais, incluindo o karatê, são formas milenares de combate, modificadas para o esporte moderno, e está bem estabelecido o seu poder de promoção para a saúde, bem estar físico e psicológico2. O Karatê, ou caminho das mãos vazias, é uma das versões japonesas para a arte do combate desarmado; sendo Gichin Funakoshi (1957 - 1969) o fundador do principal estilo moderno: Shotokan. O treino tradicional consiste na prática de três habilidades: Kihon, Kata eKumitê. O Kihon consiste no treino de técnicas básicas como socos, chutes, bloqueios e ataques que são executados ou em posição estática ou em movimento em diversas posturas (bases). Os Katas são séries de formas em uma sequência pré-estabelecida de técnicas de defesa e ataque em movimento. O Kumite ou luta, é a execução de técnicas de defesa e ataque em movimentação livre contra um oponente3 , 4.
Embora seja inegável, por décadas de pesquisas epidemiológicas, que estabelecem consenso entre prática regular de atividade física e inumeráveis benefícios físicos e psicológicos, nas últimas décadas há a preocupação com o excesso da prática de exercícios, tanto em desportistas como atletas5 , 6. Este excesso, denominado de síndrome da dependência da prática de exercícios físicos (DEF) foi inicialmente descrita na década de 70 por Baekeland, em sua pesquisa com corredores regulares, que treinavam 5 vezes por semana e a recusa em interromper a prática esportiva, mesmo com incentivo financeiro; e sintomas de abstinência nos praticantes moderados que aderiram ao estudo7.
O excesso da prática de exercícios, muitas vezes incentivado pelomarketing das indústrias de fitness, pode desencadear comportamentos compulsivos chegando mesmo ao estresse físico6 , 8. Desde 1970 já existem relatos de síndrome de abstinência relacionados à prática excessiva de exercícios, implicando inicialmente em alterações no padrão de sono7; desde então tal padrão comportamental já foi designado desdepositive addiction (dependência positiva)8 até a negative addiction (dependência negativa)9 , 10.
No âmbito da pesquisa no Brasil já foi validado um questionário que avalia DEF em maratonistas8 e suas repercussões negativas, tradicionalmente descritas na população de atletas principalmente em maratonistas8 , 11; porém alguns outros trabalhos já foram realizados com fisiculturistas e levantadores de peso12; praticantes de corrida de aventura6; ultra maratonistas13 e até mesmo em atletas de karatê estilo Shotokan14. Em relação a este último público já foi registrado que há tendência dos atletas de karatê Shotokan exibirem um perfil de comprometimento à prática relacionado ao estilo de vida, mais do que uma dependência propriamente dita, abrindo a perspectiva de que a DEF esteja relacionada ao tipo de exercício praticado, além de outras variáveis com tempo de atividade, intensidade, frequência etc10 , 14 , 15.
Uma consequência negativa da DPEF bastante estudada em atletas e desportistas, é a sua relação com distorção de imagem corporal e transtornos alimentares16. A imagem corporal (IC) é definida como aquela que temos em nossas mentes do tamanho, contorno e da forma de nossos corpos, bem como nos sentimentos relacionados a suas características e às suas partes constituintes17. A IC é constituída por dois componentes: o perceptivo (percepção corporal) e o atitudinal (sentimentos, pensamentos e ações sobre o corpo), e a insatisfação pode ser descrita como a discrepância entre o corpo ideal e percebido18. Em relação a autoconcepção que temos de nosso corpo é documentado que muitas vezes o início da prática de atividade física é motivado pela insatisfação, tanto do próprio corpo como da imagem corporal. Esta insatisfação corporal e a busca por um corpo "ideal" pode levar à adoção de atitudes inadequadas em relação ao exercício físico, possibilitando o desenvolvimento de uma dependência secundária, caracterizada por um controle patológico do peso e/ou composição corporal, com possibilidade de associação com transtornos alimentares como a anorexia e a bulimia nervosa16.
O objetivo do trabalho foi avaliar o grau de dependência da prática exercícios físicos em amostra de atletas de alto nível de karatê estilo Shotokan em comparação a praticantes aderentes, a fim de determinar além da prevalência de indivíduos dependentes, a sua relação com possíveis efeitos negativos e potenciais riscos associados.
CASUÍSTICA
Participaram do estudo 46 indivíduos, sendo 23 atletas faixas pretas do 1 ao 4º. grau ou dan (17 homens e 5 mulheres) e 23 praticantes faixas coloridas (19 homens e 4 mulheres), foram recrutados em um dojô com mais de 45 anos de tradição no ensino de Karatê estilo Shotokan na cidade de São Paulo SP, Brasil. Como critérios de seleção foram observados serem maiores de 21 anos, ambos os sexos, com prática regular de karatê, frequência de no mínimo 2x/semana, tanto com finalidade recreacional como competitiva. Dentre a amostra de faixas pretas estavam inclusos indivíduos com ampla experiência em campeonatos nacionais e internacionais entre estes campeões brasileiros, universitários, sulamericanos, panamericanos e mundiais, todos assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido conforme modelo aprovado por um Comitê de Ética (COEP122/010). Após foram coletadas informações sobre identificação, data nascimento, tempo total de treino de karatê e se faixa preta, o tempo total de anos de graduação.
Para a medida da massa corporal foi empregada balança portátil digital modelo TBF 551 (Tanita(r), Japão), com precisão de 0,1 kg e capacidade total de 136 kg. A estatura foi obtida através de antropômetro portátil Body meter 208 (Seca(r), United Kingdom), total 200 cm, precisão de 1 cm. Através da relação entre massa corporal e estatura ao quadrado foi calculado o Índice de Massa Corporal (IMC: kg•m-2); e o estado nutricional classificado segundo OMS (2004).
Para avaliar o grau de Dependência da Prática de Karatê (DPK) foi aplicado Questionário "Negative Addiction Scale" 10, inicialmente construído para avaliação da dependência em corredores15 e validado para a população brasileira8. O mesmo foi modificado para praticantes de karatê Shotokan onde a palavra "corrida" do questionário original, foi alterada para "treino de karatê"; tal modificação já foi empregada em outras pesquisas, o que possibilita determinar a DEF em todos tipos de exercício19. O questionário de Dependência da Prática de Karatê (DPK) consistiu de 13 perguntas, totalizando 14 pontos. A pontuação atribuída seguiu aos seguintes critérios: 1 pontos para as questões 1(a); 2(a) ou (b); 3(b); 4 até 9,11,12="discordo muito"; 10="concordo muito" e 13(b) ou (h). O somatório dos pontos atingidos por cada indivíduo permitiu classificá-lo em três categorias: a) baixa dependência (0 - 4 pontos); moderada dependência (5 - 9 pontos) e alta dependência (10 - 14 pontos)8 , 10.
Para a avaliação da IC foi empregada uma escala de 10 silhuetas de ambos os sexos, por Harris e cols.20. Esta escala foi desenvolvida com base em fotografias trabalhadas no computador empregando osoftware Photoshop(r) (Adobe Systems; EUA)20 , 21. A escala correspondente ao sexo foi apresentada e questionada qual representaria respectivamente sua imagem atual e ideal. Várias revisões têm sugerido efetividade na determinação individual e do tipo corporal idealizado, sendo a discrepância entres estas duas medidas um forte indicativo de nível de insatisfação corporal12. A autoavaliação subjetiva dos distúrbios de imagem corporal é em geral, estimada pelo emprego de Escalas de Silhuetas compostas por figuras especialmente construídas para esta finalidade20.
As variáveis contínuas foram analisadas descritivamente pelos valores de tendência central (média) e dispersão (desvio padrão). Para detectar diferenças estatísticas entre imagem atual e ideal entre faixas pretas e menos graduados, foi aplicado teste não paramétrico de Wilcoxon com um nível de significância de 5% para rejeitar a Hipótese Nula (Ho). Para testar a hipótese de independência entre graduação e DPK esta foi realizada a partir da construção de uma tabela contingência. Um teste exato de Fisher aplicado a esta tabela que rejeitou (p=0,04593) a hipótese de independência. Foi empregado para a realização das análises o programa estatístico R versão 2.10.1 da The R Foundation for Statistical Computing (r).
RESULTADOS
Os dados referentes ao total da amostra e categorias de faixa preta e colorida estão na tabela 1.
Tabela 1. Perfil antropométrico e da prática de Karatê estilo Shotokan da amostra geral e por graduação. São Paulo, 2014.
Geral (n=46) | Faixas Pretas (n=23) | Faixas Coloridas (n=23) | |||||||
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Variáveis | MD (DP) | Mínimo | Máximo | MD (DP) | Mínimo | Máximo | MD (DP) | Mínimo | Máximo |
Idade (anos) | 45,4 (10,6) | 21,0 | 68,0 | 49,8 (9,2)* | 32,0 | 68,0 | 41,0 (10,3) | 21,0 | 63,0 |
Massa corporal (kg) | 74,8 (10,7) | 49,0 | 100,0 | 74.2 (10.7) | 51.0 | 91,0 | 75,3 (11.0) | 49,0 | 100,0 |
Estatura (cm) | 173,1 (7,2) | 157,0 | 187.0 | 173,0 (6,8) | 160,0 | 184,0 | 173,3 (7,7) | 157,0 | 187,0 |
IMC (kg•m-2) | 24,89 (2,93) | 19,88 | 34,25 | 24,72 (2,55) | 19,92 | 29,40 | 25,06 (3,31) | 19,88 | 34,25 |
Prática (anos) | 17,9 (12.3) | 1,0 | 40.0 | 25,9 (9,2)* | 8,0 | 40,0 | 9,8 (9,4) | 1,0 | 30,0 |
Imagem atual | 5,3 (1,5) | 2,0 | 9,0 | 5,4 (1,6) | 2,0 | 8,0 | 5,3 (1,4) | 3,0 | 9,0 |
Imagem ideal | 5,0 (1,5) | 2,0 | 9,0 | 5,3 (1,7) | 2,0 | 8,0 | 4,8 (1,5)# | 2,0 | 8,0 |
Escore DPK | 6,3 (2,2) | 2,0 | 10,0 | 6,7 (2,3) | 2,0 | 10,0 | 6,0 (2,0) | 3,0 | 10,0 |
Legenda: MD: Média, DP: Desvio Padrão, IMC: Índice de Massa Corporal; DPK: Dependência da Prática de Karatê. *diferença estatística entre grupos. #diferença estatística intra grupos
A amostra de faixas pretas apresentou em relação aos faixas coloridas, diferenças estatísticas (p<0,01) em relação à média de idade e tempo de prática de karatê, não havendo diferença estatisticamente significativa para as variáveis de massa corporal, estatura e DPK. O IMC não apresentou diferença entre os grupos, classificando o estado nutricional de faixas pretas e coloridas como eutrófico22.
Em relação ao tempo total de obtenção do 1o. grau da faixa preta, este foi em média de 16,2 (8,3) anos variando entre 3 a 32 anos. Quanto a imagem corporal, houve diferença estatisticamente significativa (p<0,05) para imagem atual e ideal apenas no grupo dos faixas coloridas.
Na tabela 2, estão os resultados da escala de DPK, e de acordo com a análise estatística, há relação entre dependência e graduação. O grupo dos faixas pretas apresentou maior número de indivíduos classificados entre dependência moderada-alta e os coloridas baixa-moderada.
DISCUSSÃO
Na presente investigação pretendeu-se estudar a Dependência da Prática de Karatê (DPK) em uma amostra de atletas experientes, em contraposição a praticantes menos graduados e os possíveis impactos negativos relacionados aos graus de dependência. O objeto desta questão se baseia em estudos prévios com praticantes de artes marciais e relatos de distúrbios severos de humor em decorrência da privação do treino, além de resultados conflitantes, quando da abstinência da prática de karatê, variando desde "distúrbios emocionais em níveis dolorosos"14 a "mudanças significativas em sintomas físicos"23. Outro fator de investigação reside no motivador pela prática do exercício e da relação com alterações psicológicas da privação, sendo que estas foram mais pronunciadas para aqueles indivíduos que referiam engajamento na prática por motivos de saúde do que por outras razões14 , 24.
Segundo Obodyński et al. 25 na investigação sobre a motivação para a prática de artes marciais e sua hierarquia na influência da formação da personalidade, observaram que há uma escala de valores (por exemplo: segurança própria e familiar, felicidade, prazer, paz etc) que diferencia a motivação para a prática de uma arte marcial, portanto é de se esperar que qualquer interrupção na rotina de treinamento resulte em maiores distúrbios de natureza psicológica do que física14. Outra questão que pode estar relacionada, diz respeito ao volume de treinamento e/ou intensidade, onde foram constatadas alterações negativas no humor em praticantes habituados, apenas quando da redução da intensidade do treinamento, e não de ambas variáveis, indicando que pode haver compensação da perda de volume de treinamento pela intensidade26.
Existe ainda uma lacuna nos estudos na área de DPE, em identificar o grau de comprometimento do individuo com o exercício, que se apresenta desde um engajamento saudável até uma dependência patológica15. Neste aspecto empregamos um questionário validado para população brasileira para o estudo da DEF em corredores8, que permite classificar o indivíduo em três categoria de dependência: baixa, moderada e alta. Para sua aplicação ocorreu a troca, em relação ao questionário original da palavra "corrida" para "treino de karatê" conforme realizado em diversos estudos com diferentes modalidades esportivas6 , 19. Szabo e Parkins14 empregaram a mesma técnica e confeccionaram a escala denominada Commitment to Martial Art(CMA), em atletas de karatê Shotokan, sem afetar as propriedades psicométricas da escala de avaliação original14. Nossa escolha em empregar o questionário de DPK, ao invés do CMA residiu no fato de buscar um refinamento na discussão sobre o grau de dependência, permitindo não só a detecção dos indivíduos dependentes, mas diferentes nuance de relação entre o grau de dependência (baixa, moderada e alta), com o nível de treinamento (faixa preta versus coloridas). Tal abordagem já foi explorada em um trabalho entre atletas profissionais e amadores de modalidades coletivas (vôlei, futebol, futsal, handebol, basquete) ou individuais (atletismo, natação, fisiculturismo, ginástica artística), cujo objetivo foi verificar diferenças nos escores de DEF e qualidade de vida19. Como resultados principais, os autores constataram que percentualmente atletas profissionais (33,3%) e amadores (36,5%) possuem escores similares de DEF, porém há maiores escores em atletas amadores de modalidades coletivas (40,0%) do que individuais (32,5%); já quando da análise entre atletas profissionais há inversão nos resultados, com escores de DEF maiores entre as modalidades individuais (43,7%) do que coletivas (25,0%). Estes resultados estão de acordo com que foi constatado em nosso estudo, onde o grau de profissionalismo (faixas pretas) se relacionou com maiores escores de DPK, com a diferença de investigarmos graus de dependência e experiência em uma modalidade individual especifica: o Karatê Shotokan.
Apesar desta investigação não compreender o estudo da abstinência à prática de Karatê, nossos resultados permitem especular, baseado no trabalho de Szabo e Parkin14 em praticantes de karatê estilo Shotokan e sintomas de privação do treino por uma semana, que os caratecas mais experientes e com maior DPK em ambos os sexos podem experimentar sintomas de abstinência da prática. Tais constatações indicam, conforme discutido anteriormente, que o questionário de DPK possui amplo espectro de aplicação e detecção de dependência, podendo servir de instrumento para avaliação e acompanhamento de rotina de treinamento em atletas de diferentes modalidades, inclusive nas artes marciais, principalmente nos períodos de pausa para recuperação por estresse pela própria rotina de treino ou por lesões inerentes à própria modalidade esportiva, onde possivelmente o grau de dependência possa se manifestar em sintomas psicológicos e físicos de abstinência14 , 15.
Uma das repercussões negativas da DEF tanto em praticantes como atletas é a insatisfação com imagem corporal podendo desencadear uma dependência secundária ao exercício. Como diagnóstico hierárquico entre DEF Primária, teríamos que neste caso o exercício seria a própria motivação, não excedendo uma preocupação aparentemente saudável com a prática de exercícios físicos27; já na DEF Secundária a principal motivação seria o controle e manipulação da composição corporal11. Embora não seja uma regra, sintomas de dependência secundária são observados em indivíduos com transtornos alimentares: anorexia nervosa (AN) e bulimia (BN), e estima-se que cerca de 80% dos pacientes com AN e 55% com BN pratiquem atividade física excessiva e inadequada no percurso de sua história clínica16.
Foram observadas alterações na percepção da imagem corporal apenas para o grupo de caratecas não graduado. Neste grupo, a diferença entre imagem atual e desejável, embora significativa, se apresentou com uma pequena variação, respectivamente de 5,3 (1,4) para 4,8 (1,5). Já no grupo com maior graduação, tempo prática e escore de DPK não foram observadas diferenças significativas da imagem corporal. Estes resultados indicam globalmente que a prática de Karatê não se apresenta como um gatilho ou mesmo um reforço de desenvolvimento de atitudes negativas tanto de percepção/atitude como em relação ao corpo e suas partes constituintes, sugerindo o contrário, que a prática traduz em melhores perspectivas de gerenciamento do componente de auto conhecimento. Kravchychyn et al. 28 também observaram em seu estudo com atletas feminina de diferentes modalidades em equipe (basquetebol, handebol, vôlei e futsal), que apesar desta apresentarem distorção da autoimagem corporal, não tiveram propensão ao desenvolvimento de transtornos alimentares. Já Swami et al.29 avaliando a insatisfação corporal entre praticantes do sexo feminino de corrida e artes marciais (taekwondo) observaram que no grupo das corredoras, onde o ideal corporal do esporte enfatiza menores percentuais de gordura e magreza, foi registrado maior grau de insatisfação do que nas lutadoras de artes marciais, onde o componente estético não é tão enfatizado, embora seja um esporte que tenha controle de peso. Reforçando nossos resultados Szabo e Parkin14 não puderam determinar para a mesma população de nosso estudo, atletas de karatê Shotokan ambos os sexos, se os sintomas de interrupção por uma semana nos treinamentos foram devidos a abstinência, por uma resposta à DPK caracterizando uma dependência secundária; ou apenas um reflexo da alteração do estilo de vida pela ausência do componente de exercício nas atividades de vida diárias, caracterizando uma dependência primária. Outro dado que reforça o componente primário da DPK foi a ausência de diferença entre os escores para o sexo masculino e feminino, resultado contrário à maioria dos trabalhos sobre DEF entre os gêneros, que indicam que as mulheres apresentam maiores amplitudes de sintomas de dependência quando comparados aos homens30.
CONCLUSÃO
A Escala de Dependência da Prática de Exercícios Físicos é um instrumento com amplo espectro de aplicações na detecção do grau de dependência, tanto em atletas amadores como profissionais, assim como instrumento de acompanhamento e gerenciamento de rotinas de interrupção de treinamento, para previsão de possíveis sintomas de abstinência com repercussões físicas e/ou emocionais. Os atletas de Karatê exibiriam graus diferentes de dependência que foram mais pronunciados nos mais experientes e graduados do que nos menos experientes. Apesar desta diferença significativa esta parece se caracterizar pela DPK primária, sem que haja evidência de uma evolução negativa, tanto em relação a percepção da imagem corporal como possível desenvolvimento de dependência secundária ao longo dos anos de engajamento, prática e aperfeiçoamento na arte marcial. Recomenda-se a aplicação da Escala de DPK em diferentes estilos de artes marciais para avaliar o impacto da dependência em cada modalidade, para determinar as nuances do engajamento entre desportista e atletas, assim como seu impacto e desdobramentos futuros.