INTRODUÇÃO
Entre os fatores que mais se alteram durante o processo de en-velhecimento podemos citar as alterações do equilíbrio, amplamente estudadas por autores¹'2.
Para o idoso manter o equilíbrio, há a necessidade da atenção, memória, audição, propriocepção, visão e controle postural3. Entretanto, estas habilidades tendem a se reduzir com o envelhecimento. Portanto, realizar atividades diárias como sentar-se, levantar-se e caminhar em pisos irregulares, tornam-se situações arriscadas4.
O equilíbrio é um processo complexo, dependente da combinação da sensação vestibular e periférica da visão, dos comandos centrais e das respostas neuromusculares e, especificamente, da força muscular e proprioceptores que mandam a informação ao encéfalo localizando as diferentes partes do corpo em relação ao meio ambiente5 6.
Um déficit de equilíbrio em sujeitos idosos ocorre provavelmente em função da perda de força dos membros inferiores e de uma redução do processo sensório motor7 8.
Este trabalho teve como objetivos verificar a influência da força máxima no equilíbrio de mulheres idosas de acordo com sua mobi-lidade funcional, observar o nível de força máxima dos idosos e sua influência no equilíbrio corporal, verificar se os testes propostos mos-tram alterações da mobilidade funcional e se correlacionam com a força muscular e determinar o parâmetro mais adequado para a estimativa da mobilidade funcional
MÉTODOS
Foram selecionadas mulheres com idade entre 60 a 90 anos. Assim, foram excluídos desta amostragem os voluntários que: a) se recusaram a participar do estudo; b) apresentaram algum problema físico que pudesse impedir, temporária ou definitivamente, o seu envolvimento na realização dos procedimentos avaliativos. Participaram das avalia-ções 41 indivíduos, sendo cinco suprimidos por critérios de exclusão, restando, portanto para amostra final 36 indivíduos.
No Timed Up and Go (TUG) que testa as habilidades de mobilidade básicas das pessoas idosas frágeis (tempo para levantar e se mover), os voluntários foram solicitados a levantar-se de uma cadeira, deambular uma distância de 3 m, virar, retornar e sentar na cadeira novamente, sendo o seu desempenho analisado através da contagem do tem-po necessário para realizá-las. Os materiais necessários foram cadeira (sem marca), fita adesiva (branca, marca 3M) e cronômetro (marca Western, modelo CR53 digital, China).
A escala de equilíbrio de Berg (EEB) avalia o equilíbrio dos indi-víduos em 14 situações envolvendo várias atividades. A pontuação máxima da EEB é de 56 pontos e cada tarefa possui uma escala de cinco alternativas variando de zero a 4 pontos, de acordo com o grau de dificuldade. Os materiais necessários foram ficha de avaliação, pran-cheta (sem marca), uma cadeira com apoio de braços (sem marca) e um bloco de EVA de 23cm x 12 cm x 8 cm (sem marca).
No teste do alcance funcional (FRT) e solicitada a posição próxima a uma parede, onde é colocada uma régua ou fita métrica. Em pé com o ombro direito em flexão anterior de 90° e dedos da mão estendidos, deve-se alcançar algum objeto à frente, sem dar passos ou efetuar qualquer estrategia compensatória. O resultado e representado pela diferença entre a medida na posição inicial e a final registrada na ré-gua. Deslocamentos menores que 15 cm indicam risco de quedas. Os materiais utilizados foram uma fita métrica (Coats Corrente - BA 1010, Brasil) e uma prancheta (sem marca).
O teste de uma repetição máxima (1-RM) inicia-se com a colocação gradativa da sobrecarga ate os voluntários conseguirem realizar uma repetição com o máximo peso possível. Este teste foi aplicado no legpress a 45° que se trata de um aparelho para força muscular dos mem-bros inferiores. Os materiais foram um leg press a 45° (marca Profitness, Brasil) e anilhas de pesos variados (marca Polimet, Brasil).
A amostra foi divida em dois grupos aleatórios e encaminhados ao ginásio de ginástica, aonde estava montado o circuito de avaliações na seguinte ordem: Teste de Alcance Funcional (FRT), Timed Up and Go (TUG), escala de equilíbrio de Berg (EEB) e por último, com o objetivo de dimi-nuir a chance de desgaste físico, o teste de uma repetição máxima (1-RM).
A análise de componente principal foi calculada incluindo a escala de equilíbrio de Berg (EEB), teste de alcance funcional (FRT) e o Timed Up and Go (TUG). O coeficiente de correlação linear de Pearson foi em-pregado para se analisar as associações univariadas da força muscular com os distintos testes de mobilidade funcional (i.e., EEB, FRT e TUG). O software Predictive Analytics Software (PASW [versão 17.0], EUA) foi empregado para os cálculos.
O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Universidade de Santo Amaro, São Paulo, Brasil (protocolo número 148/2011).
RESULTADOS
Tanto os resultados referentes aos parâmetros de composição cor-poral e mobilidade funcional como os de força muscular apresentaram resultados de acordo com os parâmetros de normalidade para esses voluntários (tabela 1).
O teste de alcance funcional a escala de equilíbrio de Berg e o Timed Up and Go foram submetidos à̀ análise de componente principal (PCA). O valor de Kaiser-Meyer-Olkin foi 0,64 com o teste de esfericidade de Bartlett, alcançando significância estatística (P=0,001).
O PCA revelou que somente a EEB apresentou eigenvalue (autovalor)maior que um, explicando 59,3% da variância. Portanto, pode-se observar que, de forma linear, a EEB foi a que melhor teve resultados em relação à̀ amostra estudada (tabela 2).
Tabela 2 Análise de componente principal da mobilidade funcional.

EEB = Escala de Equilíbrio de Berg; FRT = teste do alcance funcional; TUG = Timed Up and Go.
Por outro lado, a força muscular foi preditora de mobilidade funcional somente quando o TUG foi analisado, sugerindo que 20% da mobilidade funcional pode ser explicada pela força muscular (R=-0,42[R2=0,20, β=-0,29 ± 0,12, P=0,023]) independente da idade (β=0,13 ± 0,76, P=0,865]) e do peso corporal (β=0,36 ± 0,31, P=0,253]).
A força tanto absoluta, como relativa, foi preditora da mobilidade funcional somente quando o TUG foi analisado. Ambas foram capazes de, isoladamente, explicar aproximadamente de 14% (força relativa) a 17% (força absoluta) da mobilidade funcional, independente da idade (tabela 3 e figura 1).
Tabela 3 Nível de associação entre força muscular e mobilidade funcional.

FRT = teste do alcance funcional; EEB = Escala de Equilíbrio de Berg; TUG = Timed Up and Go.
DISCUSSÃO
Todos os quatro instrumentos possuem confiabilidade interexa-minador adequada9 11. A EEB12 e o TUG13 também têm demonstrado confiabilidade intraexaminador apropriada.
Segundo nos parece, a EEB fica melhor indicada a idosos com al-guma patologia, principalmente aquelas relacionadas ao equilíbrio. Isto já nos parecia pertinente ao analisarmos nossos resultados prelimina-res14. Corroborando com os achados, o estudo de Figueiredo15 ressalta a vantagem da escala de Berg com relação à̀s demais, visto que ela avalia muitos aspectos diferentes do equilíbrio e necessita de pouco equipamento para ser administrada. Quanto maior a idade, menor a pontuação na escala, mostrando como as alterações nos sistemas musculoesquelético e neurológico interferem na mobilidade funcional, e quanto mais doenças este indivíduo apresenta, menor será o seu equilíbrio funcional, consequentemente menor seu valor na EEB16. A média obtida na EEB foi de 51,3 pontos. Este valor corrobora com outro estudo17 que avaliou 27 pessoas do sexo feminino, com idade entre 60 e 84 anos (média de 65 anos) e encontraram uma média de 52 pontos.
O valor médio encontrado em nossos voluntários, no que diz res-peito ao TUG, foi de 10 segundos, representando um bom valor quando usado como preditivo de quedas. Idosos que realizaram os testes em menor tempo foram aqueles que no histórico não tinham sofrido nunca uma queda18. Pinho19 também encontrou esta relação, só que inversa: aqueles com histórico de quedas levaram mais tempo no TUG.
Por outro lado, ao analisar o TUG, a força muscular explica apenas 20% da mobilidade funcional.
A perda de massa e força muscular são características do enve-lhecimento, que podem levar o indivíduo à̀ dependência funcional20. Um estudo também com mulheres idosas apontou que o equilíbrio se mostrou significantemente maior após um programa de treinamento de força muscular e flexibilidade articular21.
Portanto, quando há diminuição da força muscular, fica mais fre-quente as chances de queda desta população, como confirma um estudo recente22 que encontrou pior equilíbrio em idosas com histórico de quedas nos últimos 12 meses.
Muito se especula sobre esta relação, força e equilíbrio, mas não existe grande preocupação dos pesquisadores em verificar os outros 80% para se obter novas respostas.
CONCLUSÃO
A escala de equilíbrio de Berg (EEB) aparentemente representa o procedimento mais adequado para a estimativa da mobilidade funcio-nal. No entanto, a força muscular foi preditora de mobilidade funcional somente quando o TUG foi analisado. Os dados deste estudo permitem sugerir que a força muscular parece representar um importante preditor da mobilidade funcional, mas existe importante dicotomia com relação ao método mais adequado para a estimativa da mobilidade funcional e o respectivo efeito da força muscular.