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PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO, SOCIOECONÔMICO E MOTIVACIONAL DE TRIATLETAS BRASILEIROS

RESUMO

Introdução:

O Triathlon pode ser considerado um dos esportes endurance de maior sucesso mundialmente devido à grande disseminação de informações, ampliação da oferta de competições e maior popularidade.

Objetivo:

Analisar o perfil sociodemográfico, socioeconômico e motivacional de triatletas brasileiros.

Métodos:

Participaram da pesquisa 411 triatletas, sendo 127 mulheres [37,87 ± 9,34 anos] e 284 homens [36,02 ± 9,23 anos]. Foram enviados eletronicamente três questionários que avaliam dados sociodemográficos, socioeconômicos e a motivação. Foram realizadas análises descritivas e testes estatísticos para comparar a motivação entre grupos de idade, sexo e nível técnico.

Resultados:

Verificou-se que há prevalência de triatletas homens, amadores, com faixa etária entre 30-40 anos, empregados e economicamente favorecidos. Atletas amadores possuem a corrida como esporte de base para o Triathlon e profissionais iniciam sua carreira esportiva pela natação. Entre as distâncias mais praticadas estão o Triathlon sprint e meio Ironman. Sobre a motivação, mulheres diferem nas dimensões de atividade de grupo (p=0,020), emoção (p=0,002) e competência técnica (p=0,007). Triatletas profissionais apresentaram maiores pontuações nas dimensões de reconhecimento social (p=0,001) e competição (p=0,001) e menores pontuações na dimensão aptidão física (p=0,005). Triatletas com idades entre 35 a 49 anos obtiveram menores médias na dimensão reconhecimento social (p=0,007), (p=0,012) e (p=0,004) e competição (p=0,028), (p=0,008) e (p=0,044) quando comparados com atletas de 20 a 29 anos.

Conclusão:

o perfil de triatletas brasileiros é diverso e as diferenças de sexo, idade e nível técnico impactaram na motivação dos triatletas avaliados. Nível de Evidência III; Estudos diagnósticos - Investigação de um diagnóstico este; Estudo de pacientes não consecutivos, sem “padrão ouro” aplicado de maneira uniforme.

Descritores:
Esportes; Atletas; Motivação; Psicologia do Esporte

ABSTRACT

Introduction:

Triathlon can be considered one of the most successful endurance sports worldwide due to the wide dissemination of information, expansion of the offer of competitions, and greater popularity.

Objective:

To analyze Brazilian triathletes’ sociodemographic, socioeconomic, and motivational profiles.

Methods:

411 triathletes participated in the study, 127 women [37.87 ± 9.34 years] and 284 men [36.02 ± 9.23 years]. Three questionnaires were sent electronically to assess sociodemographic, socioeconomic, and motivational data. In addition, descriptive analyses and statistical tests were performed to compare motivation between age, sex, and technical level groups.

Results:

It was found that there is a prevalence of male triathletes, amateurs, aged between 30-40 years, employed and economically favored. Amateur athletes have running as a base sport for Triathlon, and professionals start their sports career through swimming. Among the most practiced distances are the sprint Triathlon and half Ironman. Regarding motivation, women differ in the dimensions of group activity (p=0.020), emotion (p=0.002), and technical competence (p=0.007). Professional triathletes had higher scores in the dimensions of social recognition (p=0.001) and competition (p=0.001) and lower scores in the physical fitness dimension (p=0.005). Triathletes aged between 35 and 49 years had lower averages in the social recognition dimension (p=0.007), (p=0.012) and (p=0.004) and competition (p=0.028), (p=0.008) and (p=0.044) when compared to athletes aged 20 to 29 years.

Conclusion:

the profile of Brazilian triathletes is diverse, and differences in sex, age, and technical level impacted the motivation of the evaluated triathletes. Level of Evidence III; Diagnostic studies - Investigation of a diagnosis test; Study of non-consecutive patients, with no uniformly applied “gold standard”.

Keywords:
Sports; Athletes; Motivation; Psychology, Sports

RESUMEN

Introducción:

El triatlón puede considerarse uno de los deportes de resistencia de mayor éxito a nivel mundial debido a la gran difusión de información, ampliación de la oferta de competiciones y mayor popularidad.

Objetivo:

Analizar el perfil sociodemográfico, socioeconómico y motivacional de los triatletas brasileños.

Métodos:

Participaron en el estudio 411 triatletas, 127 mujeres [37,87 ± 9,34 años] y 284 hombres [36,02 ± 9,23 años]. Se enviaron electrónicamente tres cuestionarios para evaluar datos sociodemográficos, socioeconómicos y de motivación. Se realizaron análisis descriptivos y pruebas estadísticas para comparar la motivación entre grupos de edad, sexo y nivel técnico.

Resultados:

Se encontró que existe un predominio de triatletas masculinos, amateurs, con edades entre 30-40 años, empleados y económicamente favorecidos. Los deportistas aficionados tienen la carrera como deporte base para el Triatlón y los profesionales inician su carrera deportiva a través de la natación. Entre las distancias más practicadas se encuentran el Triatlón sprint y el medio Ironman. Respecto a la motivación, las mujeres difieren en las dimensiones actividad grupal (p=0,020), emoción (p=0,002) y competencia técnica (p=0,007). Los triatletas profesionales obtuvieron puntuaciones más altas en las dimensiones de reconocimiento social (p=0,001) y competición (p=0,001) y puntuaciones más bajas en la dimensión de condición física (p=0,005). Los triatletas con edades comprendidas entre 35 y 49 años tuvieron medias más bajas en la dimensión reconocimiento social (p=0,007), (p=0,012) y (p=0,004) y competición (p=0,028), (p=0,008) y (p=0,044) en comparación con atletas de 20 a 29 años.

Conclusión:

el perfil de los triatletas brasileños es diverso y las diferencias de sexo, edad y nivel técnico impactaron en la motivación de los triatletas evaluados. Nivel de Evidencia III; Estudios diagnósticos - Investigación de un diagnóstico prueba; Estudio de pacientes no consecutivos, sin un “patrón oro” aplicado uniformemente.

Descriptores:
Deportes; Atletas; Motivación; Psicología del Deporte

INTRODUÇÃO

O Triathlon é composto pela junção das etapas natação, ciclismo e corrida, realizados de forma sequencial e ininterrupta.11 Lepers, R. Sex difference in triathlon performance. Front Physiol. 2019;10:973. Pode ser considerado um dos esportes endurance de maior sucesso mundialmente devido à grande disseminação de informações, ampliação da oferta de competições e recente popularidade.22 Guérin C. Stratégies d’entraînement et mode de viedestriathlètes pendant leconfinement [thesis]. La Tronche: Université Grenoble Alpes; 2021. p. 77. As entidades regulamentares da modalidade buscam cada vez mais o incentivo e a participação de atletas de diferentes níveis de desempenho. Segundo dados da Confederação Brasileira de Triathlon (CBTRI) cerca de 25 mil atletas praticam o esporte no país.33 CBTRI. Página institucional [Acesso em 07 fev 2019]. Disponível em: http://www.cbtri.org.br/triathlon/.
http://www.cbtri.org.br/triathlon/...

No Triathlon, os atletas são divididos em categorias amadoras ou profissionais, que geralmente consideram o nível de experiência, distância das provas, idade e sexo dos participantes.44 Poczta J, Malchrowicz-Mosko, E. Mass triathlonparticipation as a humanneedto set thegoalsandcrosstheborders. How to understand the triathlete?. Olimpianos-Journal of Olympic Studies. 2020;4:244-54. As provas possuem quilometragens distintas, que variam desde os Triathlons curtos na distância sprint, geralmente com cerca de 750 metros de natação, 20 quilômetros (km) de ciclismo e 5 (km) de corrida, até os ultratriathlons, que são eventos de ultra-resistência que podem durar até 10 dias.55 Sousa, CV, Aguiar, S, Olher, RR, Cunha, R, Nikolaidis, PT, Villiger, E, et al. What is the best discipline to predict overall triathlon performance? An analysis of sprint, olympic, Ironman® 70.3, and Ironman® 140.6. Front Physiol. 2021;12:654552. doi:10.3389/fphys.2021.654552.
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Para praticar o Triathlon, é necessário um investimento de tempo e dinheiro.66 Soto-Lagos, RA, Diaz-Alday, N. Abrir la caja negra: prácticas de conciliación entre vida familiar y entrenamiento en triatletas. Movimento [online]. 2018;24(4):1191-204. Em termos de tempo, os atletas geralmente gastam, no mínimo, entre quatro e cinco meses se preparando para competir. Outro fator importante é o alto custo para aquisição e manutenção dos equipamentos esportivos e inscrições nas competições.77 Reigal RE, Delgado-Giralt, JE, Raimundi, MJ, Hernández-Mendo A. Perfil psicológico deportivoen una muestra de triatletas amateurs y diferencias conotros deportes. Cuad de Psicol del Deporte. 2018;18(1):55-62. Manter a rotina de quem decide ser triatleta também é um desafio pela necessidade de gerenciar o tempo pessoal, familiar e de trabalho.66 Soto-Lagos, RA, Diaz-Alday, N. Abrir la caja negra: prácticas de conciliación entre vida familiar y entrenamiento en triatletas. Movimento [online]. 2018;24(4):1191-204.,77 Reigal RE, Delgado-Giralt, JE, Raimundi, MJ, Hernández-Mendo A. Perfil psicológico deportivoen una muestra de triatletas amateurs y diferencias conotros deportes. Cuad de Psicol del Deporte. 2018;18(1):55-62.

Entender os motivos que levam os atletas a praticarem esse desporto é importante para que haja maior compreensão das atitudes deste público em relação aos seus hábitos de vida e sua trajetória esportiva. Neste sentindo, a presente investigação tem como objetivo analisar o perfil sociodemográfico, socioeconômico e motivacional de triatletas brasileiros.

MATERIAIS E MÉTODOS

Os procedimentos descritos na presente investigação seguiram os pressupostos éticos recomendados e foram devidamente aprovados pelo Comitê de Ética e Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Federal de Juiz de Fora sob o número 11733819.4.0000.5147 e parecer 4.561.546. Para caracterizar informações relacionadas a prática de Triathlon a equipe de pesquisa elaborou um questionário para a extração de dados sociodemográficos e sobre a prática esportiva dos atletas. Esse formulário foi especificamente desenvolvido para a presente pesquisa e coletou as seguintes informações: sexo, idade, arranjo familiar, estado civil, histórico esportivo, rotina de treinos e principais competições disputadas. Para a classificação econômica dos participantes utilizou-se a Classificação Econômica do Brasil da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa88 ABEP, Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. Critério de Classificação Econômica Brasil [acesso em 07 fev 2019]. (2015). Disponível em: http://www.abep.org/criterio-brasil.
http://www.abep.org/criterio-brasil...
com levantamento de características domiciliares para diferenciar a população em estratos: A1 – 45 a 100 pontos; B1 – 38 a 44; B2 – 29 a 37; C1 – 23 a 28; C2– 17 a 22; D e E – 0 a 16;

Para investigar os motivos que levam os atletas a praticarem esse desporto aplicou-se o Participation Motivation Questionaire (PMQ) devidamente validado no Brasil.99 Guedes DP, Silvério Netto JE. Participation Motivation Questionnaire: tradução e validação para uso em atletas-jovens brasileiros. Rev Bras Educ Fís Esporte. 2013;27(1):137-48. Esse instrumento é composto por 30 itens equivalentes aos possíveis motivos que levam os atletas a praticarem esportes e apresenta seus resultados através de oito dimensões de motivação: a) reconhecimento social (sete itens); b) atividade de grupo (quatro itens); c) aptidão física (quatro itens); d) emoção (três itens); e) competição (dois itens); f) competência técnica (três itens); g) afiliação (três itens); e h) diversão (quatro itens). Nesse questionário, o respondente indica o grau de importância que mais se aplica para a sua prática de esporte, mediante escala de medida tipo Likert de cinco pontos.

Foram incluídos neste estudo indivíduos que aceitaram voluntariamente participar da pesquisa e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), maiores de 18 anos, de ambos os sexos e em período de treinamento. Foram excluídos os triatletas que não responderam aos questionários na íntegra.

Todos os questionários e instrumentos utilizados foram devidamente digitalizados e transformados em formulários eletrônicos elaborados no Google Forms Plataform através do link: https://forms.gle/i9niwHSCFgWggVtF6. O formulário foi enviado no período entre 27/11/2020 a 25/01/2021.

Os participantes foram recrutados de forma online via e-mail ou através das redes sociais Instagram, Facebook e Whatsapp utilizando a metodologia denominada bola de neve virtual1010 Costa BRL. Bola de Neve Virtual: O Uso das Redes Sociais Virtuais no Processo de Coleta de Dados de uma Pesquisa Científica. RIGS. 2018;7(1):15-37. sendo uma forma de amostra não probabilística que utiliza cadeias de referência. Foram estabelecidos contatos de forma direta (através de mensagens privativas aos perfis dos atletas) ou indireta (através de indicações de terceiros). Juntamente com o link do formulário foi enviado um texto convite detalhando os procedimentos de pesquisa, objetivos e maneiras de resposta às perguntas.

Os resultados foram analisados por meio software SPSS 22.0 e o nível de significância adotado¹¹ foi de p<0,05. Para cada dimensão do PMQ, foram calculadas a média, a mediana, o desvio padrão e os valores de mínimo e máximo. Todas as variáveis categóricas foram analisadas através de frequência absoluta e relativa. Para averiguar a consistência interna do PMQ para a amostra em questão foi calculado o alpha de Cronbach, que apresentou boa consistência1010 Costa BRL. Bola de Neve Virtual: O Uso das Redes Sociais Virtuais no Processo de Coleta de Dados de uma Pesquisa Científica. RIGS. 2018;7(1):15-37. (α=0,905). Realizou-se o teste de normalidade Kolmogorov Smirnov e as variáveis investigadas foram não paramétricas. Utilizou-se o teste U de Mann-Whitney para comparar as médias das dimensões da motivação de acordo com o sexo e nível técnico (amador x profissional). Foi realizado o teste Kruskal-Wallis com comparações múltiplas em formas de pares para comparar os 11 grupos, divididos quanto às faixas etárias dos participantes de acordo com as divisões de idade realizadas nos campeonatos oficiais pela União Internacional de Triathlon (ITU).

RESULTADOS

Participaram deste estudo 411 triatletas, sendo 384 (93,4%) atletas amadores [37,23 ± 8,92 anos] e 6,6% (n=27) profissionais [27,41 ± 10,62 anos). (Tabela 1). Quanto ao sexo, 284 (69,1%) eram homens e 127 (30,9%) mulheres. Destes, 402 (97,9%) residiam nas regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil e nove (2,1%) triatletas brasileiros residiam na Alemanha, Espanha, Estados Unidos da América e Canadá.

Tabela 1
Frequência relativa e absoluta de triatletas por estado e/ou país.

Com relação ao histórico esportivo, grande parte dos atletas amadores possuem a corrida 208 (50,6%) como esporte de origem para a prática do Triathlon, seguida da natação 112 (29,2%) e pelo ciclismo 70 (18,2%). Já entre os atletas profissionais, 18 (66,7%) praticavam inicialmente a natação, 6 (22,2%) a corrida e 3 (11,1%) o ciclismo. Entre os exercícios físicos complementares 238 (66,1%) praticavam musculação, 141 (39,2%) treinamento funcional e 56 (15,6%) pilates. Os triatletas, em geral, apresentam alto volume de treino. Entre os atletas amadores 320 (83,3%) realizam de uma a duas sessões de treino diárias, enquanto atletas profissionais realizam, duas 6 (22,2%), três 13 (48,1%), 4 ou mais 8 (29,7%) sessões.

Entre as distâncias mais praticadas, o Triathlon Sprint é o mais frequente 234 (56,9%), seguido por Meio Ironman 201 (48,9%) e Triathlon Olímpico 189 (46%). Sobre as metas com o Triathlon, 239 (58,2%) atletas querem participar do Ironman, 188 (45,7%) do Meio Ironman e 90 (21,9%) do Triathlon Olímpico.

No que diz respeito ao perfil socioeconômico levantado pelo ABEP, é relevante destacar que a classificação predominante na presente amostra foi o estrato A 364 (88,6%). As profissões de maior incidência relatadas foram: profissionais de educação física 73 (17,8%), empresários 35 (8,5%), militares 28 (6,8%) e atletas 19 (4,5%).

Sobre os motivos para a prática do Triathlon por atletas brasileiros, no que diz respeito ao sexo, as mulheres apresentaram maiores pontuações nas dimensões de “atividade de grupo” (p=0,020), “emoção” (p=0,002) e “competência técnica” (p=0,007) quando comparadas aos homens. Já com relação ao nível técnico dos atletas, triatletas profissionais apresentaram maiores pontuações nas dimensões “reconhecimento social” (p=0,000) e “competição” (p=0,001) e menores pontuações na dimensão “aptidão física” (p=0,005) quando comparados aos triatletas amadores. (Tabela 2)

Tabela 2
Teste U de Mann-Whitney comparando a motivação entre o sexo e nível técnico.

Quanto às faixas etárias, o grupo de triatletas com idades entre 35 a 39 anos, 40 a 44 anos e 45 a 49 anos obtiveram, respectivamente, menores médias na dimensão “reconhecimento social” quando comparados aos grupos de faixa etária de 20 a 24 anos (p=0,007), (p=0,012) e (p=0,004) e 25 a 29 anos (p=0,027), (p=0,012) e (p=0,015) anos. Na dimensão “competição”, os grupos de triatletas com idades entre 30 a 34 anos e 35 a 39 anos obtiveram, respectivamente, menores médias quando comparados aos grupos de faixa etária de 20 a 24 anos (p=0,028) e (p=0,008) e 25 a 29 anos (p=0,044) e (p=0,070). (Tabela 3)

Table 3
Teste de Kruskal-Wallis comparando a motivação entre a faixa etária.

DISCUSSÃO

A presente investigação teve como objetivo analisar o perfil sociodemográfico e socioeconômico de triatletas brasileiros e os motivos que os levam a praticarem Triathlon. Adicionalmente, buscou-se verificar as possíveis diferenças na motivação dos atletas de acordo com o sexo, nível técnico e faixa etária. Este estudo identificou que triatletas brasileiros são, majoritariamente, homens, amadores, com faixa etária entre 30-40 anos, empregados e economicamente favorecidos. Em relação a motivação, mulheres são mais motivadas nas dimensões de “atividade de grupo”, “emoção” e “competência técnica”. No que diz respeito ao nível técnico, triatletas profissionais apresentaram maiores motivações nas dimensões “reconhecimento social” e “competição” e menores pontuações na dimensão “aptidão física”. Atletas mais jovens, entre 20 e 29 são mais motivados por fatores relacionados a “competição” e “reconhecimento social”, quando comparados com atletas entre 30 a 49 anos.

Outros achados importantes dizem respeito ao histórico esportivo desses atletas. Nos últimos anos, o crescimento da oferta de provas de corridas de rua, o aumento de empresas de assessoria esportiva e o uso cada vez maior da tecnologia através de aplicativos esportivos elevou o número de adeptos às corridas.1212 Benetti M, Sierra AP, Kiss MAPD, Rocco Junior AJ, Bastos FC. Assessorias esportivas e prática de corrida de rua: avaliação do cenário na cidade de São Paulo. Rev Bras Educ Fís Esporte. 2018;32(1):131-40. Essas circunstâncias podem explicar o número de triatletas amadores que ingressaram no Triathlon a partir desse esporte, vislumbrando a superação de metas e desafios pessoais. Achados dessa investigação demostram a prevalência de triatletas profissionais que tiveram a natação como esporte primário e anterior ao Triathlon. A natação é considerada a modalidade que mais exige técnica.1313 Silva ARD. O triatlo, suas características e noções de treinamento. Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. 2018;2(11):5-14. Desta forma, fatores biomecânicos influenciam mais no desempenho na natação do que a própria capacidade de produção e liberação de energia para o deslocamento.1414 Rodrigues ALP, Banja TL. Análise cinemática do nado Crawl em jovens triatletas do programa segundo tempo. RBPFEX. 2016;10(59):356-60. Assim, triatletas profissionais parecem ter melhores antecedentes na natação por favorecer, mecanicamente, seu desempenho quando comparados com ciclistas e corredores.

Os triatletas praticam também musculação, treinamento funcional e pilates. Já é documentado na literatura que o fortalecimento muscular pode ajudar triatletas durante o treinamento1515 Araújo PJ, Boas YFV, Tavares, MR, Rodrigues CAC, Rosa BB. Perfil de triatletas amadores do estado de Minas Gerais: análise dos treinamentos, lesões e competições. EFDeportes. 2020;25(265).,1616 Dirr, JR, Bridget EL, Eric BL, Raymond MK. The Influence of Resistance Training on Performance in an International Distance Triathlon. Med Sci Sports Exerc. 2014;46(5).. Atletas profissionais treinam mais vezes durante o dia do que atletas amadores, provavelmente pela maior necessidade de resultados positivos e dedicação exclusiva. Não surpreendentemente, quanto mais provas os atletas participam maior é a probabilidade de treinarem o ano todo e adotar uma abordagem mais organizada.

Grande parte dos triatletas investigados participa de Triathlons sprint. O Triathlon com distâncias mais curtas atrai o público pela sua intensidade, velocidade e por ser a maneira mais acessível de ingresso na modalidade. Em geral, os triatletas não apenas planejam continuar com sua participação no esporte como também a maioria espera aumentar o número de provas nas quais possa competir. A maioria dos atletas pretende treinar para longas distâncias no futuro nas distâncias Ironman e Meio Ironman possivelmente pelo desafio das longas metragens e pelo sucesso e visibilidade da marca Ironman.1717 Genel Z. Building Powerful Private Label Brands in Creating Effective Communication Processes: Turkish Ironman as Case Study in Scope of Linear Communication Approach. In: Improving Marketing Strategies for Private LabelProducts. IGI Global. 2020:39-60.

Os triatletas são, em sua maioria, socioeconomicamente privilegiados, fato identificado pela alta incidência de indivíduos (88,6%) pertencentes a estratos mais altos. Pressupõe-se que pelos altos custos dos equipamentos esportivos, investimento em profissionais envolvidos no esporte, inscrições em provas e dispêndio de tempo para a prática esportiva, triatletas necessitam de condições favoráveis para se manterem fisicamente ativos e competitivos, sugerindo perfis similares de renda em atletas de Triathlon.

Quanto às profissões, foi encontrada maior incidência de profissionais ligados ao esporte (profissionais de educação física e treinadores). Os treinadores têm valorizado diversas fontes de conhecimento, destacadamente as experiências de prática como atleta e a observação de seus alunos. Em contrapartida, profissões como a de empresários e militares também mereceram destaque pela busca de desafios pessoais e metas permeáveis.1818 Coda R, Fonseca GF. Em busca do significado do trabalho: relato de um estudo qualitativo entre executivos. RBGN. 2004;6(14):7-18.

Nesse estudo houve maior prevalência de atletas do sexo masculino de forma análoga aos achados de pesquisas recentes.1919 Reigal GE, Delgado GJ, López CR, Hernández MA. Perfil psicológico deportivo y ansiedad estado competitiva en triatletas. Rev Psicol Dep. 2018;27(2):125-32.2121 Tribe Group, 2009. The mind of the triathlete [Electronic Version] [Acesso em 19 mar 2020]. Disponível em: https://g3.wildapricot.org/Resources/Documents/TMOTT_Executive_Summary.pdf
https://g3.wildapricot.org/Resources/Doc...
Por as mulheres estarem sujeitas a maiores jornadas de trabalho, a dividirem/sobreporem necessidades profissionais e incumbências domésticas/familiares, o uso do tempo privado acaba sendo flexibilizado, inviabilizando a dedicação necessária para treinar as três modalidades. Todavia, o número de mulheres competindo Triathlon aumentou progressivamente desde a década de 1980.11 Lepers, R. Sex difference in triathlon performance. Front Physiol. 2019;10:973.,66 Soto-Lagos, RA, Diaz-Alday, N. Abrir la caja negra: prácticas de conciliación entre vida familiar y entrenamiento en triatletas. Movimento [online]. 2018;24(4):1191-204. Fatores que levam a este crescimento incluem a aceitação da sociedade de mulheres fisicamente ativas, mulheres vivenciando um estilo de vida esportivo e ao aumento da participação feminina em eventos endurance.

Embora os homens sejam maioria no Triathlon as mulheres obtiveram médias superiores de motivação nas dimensões “atividade de grupo”, “emoção” e “competência técnica”. Os resultados dessa investigação são diferentes de um estudo anterior onde homens e mulheres de qualquer idade competindo Triathlon apresentaram perfis motivacionais altamente semelhantes.2222 López-Fernández I, Merino-Marbán R, Fernández-Rodríguez E. Examining the Relation ship between Sex and Motivation in Triathletes. Percept Mot Skills. 2014;119(1):42-9. Entretanto, outros autores encontraram disparidades de resultados, enquanto mulheres tendem a estar mais motivadas para fins sociais, homens buscam por superação de desafios pessoais e competição.2323 Lamont M, Kennelly M. A qualitative exploration of participant motives among committed amateur triathletes. Leis Sci. 2012;34(3):236-55. Assim, as mulheres parecem estar mais engajadas com práticas em grupos que reforçam o sentimento de sororidade, além de compartilharem entre si informações técnicas e experiências para construção de um conhecimento esportivo coletivo.

Quando analisadas diferenças motivacionais entre níveis técnicos, foram encontradas maiores médias nas dimensões “reconhecimento social” e “competição” entre os atletas profissionais e maiores médias na dimensão “aptidão física” entre os atletas amadores. Vale destacar que atletas profissionais convivem diariamente com a busca por resultados positivos e a necessidade de se vincular a patrocinadores e clubes, o que acaba direcionando seus esforços visando as competições. Por outro lado, atletas amadores podem associar o Triathlon a aptidão física pela intensa busca por energia e vigor, o que acaba direcionando esforços para melhores condições de saúde e desenvolvimento de um corpo atlético.

Em relação a idade, triatletas na faixa etária dos 20 a 29 anos parecem estar mais motivados para fins competitivos e em busca de reconhecimento social quando comparados com triatletas com idade entre 30 a 45 anos. Isso porque atletas jovens adultos são mais motivados intrinsecamente e buscam por maior competitividade.2424 Souza, RS, Lima, JRP, Werneck FZ, Bara Filho MG, Freitas JV. Motivação de jovens e adultos para o treinamento do atletismo. Pensar Prát. 2016;19(4):914-25. Assim, fatores como maior estabilidade financeira, relações sociais melhor estabelecidas e busca por novos desafios podem influenciar os motivos para prática do Triathlon de adultos mais velhos2525 Wicker P, Hallmann K, Prinz J, Weimar D. Who takes part in triathlon? Anapplication of lifestyle segmentation to triathlon participants. Int J Sport Manag Mark. 2012;12(1-2):1-24..

Os achados da presente pesquisa trazem avanços em relação aos estudos existentes, uma vez que apresenta de forma inédita um perfil sociodemográfico, socioeconômico e motivacional de triatletas brasileiros utilizando uma grande amostra. No entando, é preciso mencionar algumas limitações. Todos os dados foram autorrelatados e coletados de forma online, o que pode limitar a pesquisa às pessoas com acesso a internet e os respondentes considerarem o formulário como um “spam”, não visualizando as mensagens enviadas. Sugere-se que estudos futuros abordem a motivação relacionada a diferentes variavéis, com populações de triatletas distintas, como crianças e adolescentes, e em diferentes níveis de desempenho. Outra sugestão é a realização de estudos longitudinais a fim de averiguar o impacto da motivação ao longo vida e suas diferentes apropriações.

CONCLUSÃO

Triatletas são, majoritariamente, homens, amadores, com faixa etária entre 30-40 anos, empregados e economicamente favorecidos. As mulheres apresentam maiores motivações nas dimensões “atividade de grupo”, “emoção” e “competência técnica” quando comparadas aos homens. Os atletas profissionais são mais motivados pelo “reconhecimento social” e “competição” e menos motivados pela “aptidão física” quando comparados a atletas amadores. Triatletas com idades entre 35 a 49 anos são menos motivados pelo “reconhecimento social” e “competição” quando comparados com atletas de 20 a 29 anos. Essas diferenças podem estar relacionadas ao histórico esportivo e as condições sociais, familiares e empregatícias de cada indivíduo.

AGRADECIMENTOS

A Universidade Federal de Juiz de Fora pelo financiamento do trabalho.

REFERENCES

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Editado por

Editor Associado responsável pelo processo de revisão: André Pedrinelli

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    24 Mar 2022
  • Aceito
    30 Jan 2023
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