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Apresentação

Em Foco: O Tempo Escolar

Apresentação

Alguns elementos da escola e da escolaridade parecem a princípio tão óbvios, são tão onipresentes que o pensamento cotidiano e mesmo a pesquisa educacional tendem a tomá-los como auto-evidentes. Como luzes fortes demais, eles ofuscam e escapam à problematização, permanecendo como pressupostos, como que anteriores à análise.

O tempo é um desses elementos. Discutimos a duração da escolaridade obrigatória ou a ordenação dos diversos níveis de ensino; organizamos os dias letivos em calendários escolares, planejamos a jornada e os horários; falamos em hora-aula, reivindicamos tempo para reuniões e trabalho pedagógico, reclamamos de aulas curtas e dias apressados; assistimos cotidianamente ao encontro de gerações nas escolas.

Mas quase nunca pensamos o tempo escolar como uma categoria construída cultural e historicamente. Embora seja objeto da inquietação humana desde sempre, interpretado e conceituado pelos mitos, pela filosofia, pelas modernas ciências exatas ou pela reflexão sociológica, o tempo permaneceu quase ausente da pesquisa educacional como objeto de investigação.

A atenção relativamente recente dispensada por vários pesquisadores à cultura escolar, às formas de apropriação e ressignificação, no interior da escola, dos conceitos e práticas sociais mais amplos constituiu um dos campos de reflexão no qual emergem os “tempos escolares” como questão. Pontualmente, pesquisas históricas e estudos do cotidiano escolar (em geral recorrendo à etnografia) abordaram o tema.

Nessa senda promissora colocam-se os três artigos que compõem esta seção sobre os tempos escolares. A partir de enfoques diferentes – a história, a sociologia, a etnografia –, eles abordam as formas como o tempo vem simultaneamente sendo constituído e dando forma às escolas brasileiras. Falam de múltiplas temporalidades, ritmos, cadências; de usos e significados diversos dos tempos na escola. Revelam vivamente como o tempo escolar nada tem de natural, óbvio ou dado. Ao problematizá-lo, seja no âmbito da sala de aula, da instituição escolar ou da legislação, a partir do olhar dos alunos ou dos professores, as autoras nos oferecem reflexões estimulantes, prenhes de novas perguntas e inquietações.

Produzidos a partir de estudos que se desenvolveram separadamente, sem uma intencionalidade prévia de articulação, cada qual empregando metodologia diferente, estes textos são bons exemplos da alta qualidade da pesquisa em educação no Brasil, por sua capacidade de articular a análise cuidadosa de dados empíricos à reflexão teórica e de elaborar com profundidade questões inovadoras. Ao colocá-los lado a lado, esperamos revelar ao leitor o rico diálogo e a complementaridade sugestiva que eles estabelecem entre si.

Marília Pinto de Carvalho

(organizadora)

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    28 Maio 2003
  • Data do Fascículo
    Jul 1999
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