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Apresentação

EM FOCO: DESIGUALDADES RACIAIS NA ESCOLA

Apresentação

Regina Pahim Pinto; Fúlvia Rosemberg; Marília Pinto de Carvalho

A despeito de lideranças negras e de alguns estudiosos das relações raciais há muito virem apontando aos educadores a necessidade de o sistema educacional considerar os problemas de desigualdade racial, só recentemente se percebem indícios do reconhecimento, no campo educacional, da importância e pertinência dos estudos que articulam a educação e as relações raciais. Ainda não se pode dizer que esse tema se inclua de fato na agenda atual dos educadores brasileiros, haja vista as poucas teses produzidas no âmbito dos programas de educação e o reduzido número de artigos publicados a respeito nas revistas especializadas, mas sem dúvida ele está cada vez mais presente em fóruns de discussão na área da Educação, tendo recebido o endosso do seu órgão representativo, a ANPEd (Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Educação), por meio do concurso "Negro e Educação", que já segue em sua terceira edição.

Nesse contexto, EDUCAÇÃO E PESQUISA considerou pertinente publicar uma seção "Em Foco" sobre desigualdades raciais na escola. São resultados de pesquisas e reflexões que trazem contribuições importantes para o conjunto do campo educacional, sobretudo para aqueles que refletem ou atuam na educação básica. Dado que o debate mais recente tem privilegiado a questão das ações afirmativas, atendo-se mais especificamente à questão das cotas, com destaque para o ensino superior, pensamos ser de suma importância desvendar e apontar também questões que afetam ou que podem minorar os problemas enfrentados por negros e negras na educação básica, como fazem os artigos aqui reunidos, pois, embora não se iniciem na escola, nela as desigualdades raciais começam a se reproduzir.

Temos consciência de que os estudos que articulam os campos da educação e das relações raciais não se esgotam nas reflexões sobre a população negra, estendendo-se para outros segmentos. Entretanto, inclusive por questões de espaço, optamos nesta seção por privilegiar questões relativas à desigualdade entre negros e brancos, embora tenham sido focalizados temas importantes também para os estudiosos que refletem sobre outros segmentos étnico-raciais e sobre a desigualdade racial em geral presente na escola.

Assim, abrimos a seção com um texto de Antônio Sérgio Alfredo Guimarães sobre questões teóricas e metodológicas envolvidas na pesquisa sobre relações raciais no Brasil. Em tom coloquial, o autor nos oferece densas reflexões sobre conceitos centrais nesse debate, como os de "raça", "etnia", "nação" e "cultura", e discute o emprego de categorias como "cor" no âmbito da pesquisa social.

Ainda no campo das reflexões, Luiz Alberto de Oliveira Gonçalves e Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva abordam o tema do multiculturalismo, discorrendo sobre as características das sociedades em que floresceu e a maneira como vem sendo engendrado. Abordam ainda os dilemas impostos pelo multiculturalismo às sociedades modernas, mais especificamente o reconhecimento do direito à diferença e, finalmente, suas diversificadas feições no campo da educação.

Três outros artigos discutem resultados de pesquisas. O primeiro, de autoria de Fúlvia Rosemberg, Chirley Bazilli e Paulo Vinícius Baptista da Silva, com base em levantamento bibliográfico de pesquisas e estudos realizados nas últimas cinco décadas, efetua uma revisão da literatura sobre "expressões do racismo" em livros didáticos brasileiros e seu combate. O estudo não só aborda as questões analisadas e as lacunas constantes nessa produção, como aponta as ações que vêm sendo desenvolvidas, tanto pelo movimento negro como pelos órgãos oficiais, no sentido de combater o racismo nos livros didáticos.

A partir de um outro enfoque, José Francisco Soares e Maria Teresa Gonzaga Alves analisam, com base nos dados do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), o desempenho escolar de alunos brancos, "pardos/mulatos" e "negros" na disciplina de matemática, na 8a série do Ensino Fundamental. Por meio de recursos quantitativos, os autores demonstram que não basta a melhoria da qualidade do ensino em geral para combater a desigualdade racial.

Finalmente, Nilma Lino Gomes traz para o campo da educação questões levantadas em pesquisa que efetuou em salões de beleza étnicos de Belo Horizonte. A autora mostra como a incorporação, na formação de professores, de discussões sobre a estética, o corpo e a identidade de negros e negras pode contribuir para uma compreensão mais aprofundada da diversidade étnico-cultural e para a articulação de ações escolares capazes de valorizar a identidade negra.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Set 2003
  • Data do Fascículo
    Jun 2003
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