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EDITORIAL

A partir do final do último ano, a composição da editoria de EDUCAÇÃO E PESQUISA foi ampliada para seis membros, incluindo agora os professores Teresa Cristina Rego e Claudemir Belintane, a quem damos nossas boas-vindas. A intenção dessa ampliação foi a de preservar o bom funcionamento da Revista, especialmente no que diz respeito ao processamento dos artigos recebidos, cujo número tem aumentado significativamente. De uma média de nove artigos por mês recebidos no primeiro quadrimestre de 2005, passamos a uma média de catorze no mesmo período do corrente ano. A comissão ampliada, com componentes ingressantes em diferentes momentos, permitirá também a alternância no término dos mandatos, garantindo a continuidade do trabalho da equipe ao longo dos anos.

Foi justamente o aumento no número de trabalhos enviados espontaneamente pelos autores para publicação que nos levou a tomar a decisão de não publicar a seção "Em Foco" neste primeiro número do volume 32. Os artigos já avaliados positivamente pelos pareceristas e apenas aguardando espaço para publicação se acumulavam, implicando num tempo excessivo entre a data de recebimento e a publicação. Preocupados em cumprir nossa parte na divulgação mais ágil possível da produção de conhecimentos educacionais e em honrar nosso compromisso com os colaboradores, cuja demanda significa o reconhecimento da importância e da qualidade de EDUCAÇÃO E PESQUISA no cenário da produção em educação, optamos por garantir maior vazão dos textos já aprovados.

A própria modalidade de organização do presente fascículo, sem o fio condutor propiciado pela seção "Em Foco", resultou numa grande diversidade temática, que representa, em certa medida, as muitas faces da pesquisa em educação. Os dois primeiros artigos dirigem-se mais diretamente à problemática da escolarização. O primeiro, de autoria de Jefferson Mainardes, consiste numa revisão da literatura sobre a organização da escolaridade em ciclos no Brasil, apontando perspectivas para a investigação desse tema, de grande relevância e atualidade para a discussão sobre o sistema educacional brasileiro. No segundo texto, "Experiências da desigualdade: os sentidos da escolarização elaborados por jovens pobres", Geraldo Magela Pereira Leão debruça-se sobre a experiência escolar de jovens da periferia de Belo Horizonte e, por meio de observação participante e realização de entrevistas, busca analisar sentidos, valores e expectativas relativos ao seu processo de escolarização.

Questões pertinentes às relações entre psicologia e educação aproximam os dois textos seguintes. Luciene Regina Paulino Tognetta e Orly Zucatto Mantovani de Assis, em seu artigo sobre a construção da solidariedade na escola, utilizam o paradigma piagetiano para investigar as relações entre estruturas cognitivas e morais de crianças de 6 e 7 anos, discutindo como uma "Pedagogia das Virtudes", em ambientes cooperativos, pode contribuir para a construção de personalidades morais. Em "Narrativas sobre a privação de liberdade e o desenvolvimento do self adolescente", Maria Cláudia Santos Lopes de Oliveira e Alessandra Oliveira Machado Vieira trabalham com os conceitos teóricos de self e identidade na perspectiva histórico-cultural, analisando narrativas de adolescentes em privação de liberdade, em busca da compreensão de processos de formação de identidade em contextos específicos que envolvem situações desorganizadoras do senso de si, como nos eventos relacionados à delinqüência.

No artigo "Educação, justiça e direitos humanos", do autor português Carlos Alberto Vilar Estevão, são discutidas as relações entre democracia, justiça e direitos humanos, sendo Habermas tomado como a principal referência. Num segundo momento, o texto dirige-se ao campo da educação, debatendo a questão da justiça escolar e postulando a escola como lugar de vários mundos e justiças. Também se utilizando de uma abordagem teórica, Alexander de Freitas, em "Apolo-Prometeu e Dioniso: dois perfis mitológicos do 'homem de 24 horas' de Gaston Bachelard", busca investigar a relação dialógica entre a epistemologia da ciência e a metafísica da imaginação poética nesse autor, trabalhando com as duas faces opostas, concorrentes e complementares da filosofia bachelardiana.

Em um texto que propõe um balanço da produção acadêmica na área da economia da educação, Fábio D. Waltenberg analisa a evolução histórica, o estado atual e as perspectivas das teorias econômicas de oferta da educação, propondo três caminhos que considera promissores para o desenvolvimento de tais teorias e discutindo mais detidamente um deles: a inclusão de insumos não monetários nas funções de produção.

Eduardo Calil, Cristina Felipeto e Adna de Almeida Lopes, no artigo "O sujeito inexistente: reflexões a partir do 'Relatório final do grupo de trabalho alfabetização infantil - os novos caminhos'", contrapõem duas metodologias de pesquisa: uma presente no relatório analisado, que higieniza os dados obtidos em textos de alunos a partir da exclusão do que seriam os chamados erros singulares, cuja ocorrência não constitui um padrão repetitivo e regular; e outra assumida pelos autores, que enfoca justamente os erros singulares, incluindo as rasuras, cuja análise permitiria o desvelamento de uma subjetividade mais complexa e mais reveladora do funcionamento da língua e da escrita.

Encerrando o conjunto dos artigos publicados neste fascículo, o trabalho "Por dentro de uma sala de aula de física", de Adelson Fernandes Moreira e Oto Borges, focaliza a sala de aula como um lugar onde ocorre uma prática social específica, buscando descrever esse ambiente de aprendizagem a partir de uma investigação etnometodológica.

Por fim, na seção "Tradução", encontra-se o texto dos autores alemães Peter Alheit e Bettina Dausien, intitulado "Processo de formação e aprendizagens ao longo da vida". Partindo de uma análise crítica da temática da educação ao longo da vida e definindo-a como sendo referente a toda a duração e a todos os domínios da vida, os autores apresentam o conceito de aprendizagem biográfica como contribuição teórica a essa temática, apontando para perspectivas de pesquisa abertas por esse novo conceito. Afirmam que a educação ao longo da vida relaciona-se claramente com as "contingências da mundialização" das políticas de educação e de formação. Agradecemos especialmente a Christine Delory-Momberger, que gentilmente nos cedeu sua versão deste artigo em francês e a Teresa Van Acker, pela tradução para o português.

Marta Kohl de Oliveira

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jun 2006
  • Data do Fascículo
    Abr 2006
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