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Bullying escolar: um fenômeno multifacetado

Resumo

O bullying escolar pode envolver crianças de diferentes maneiras, fazendo com que essas assumam papéis diferenciados. Dentre estes, têm-se vítimas, agressores e vítimas-agressoras. O objetivo deste estudo foi descrever como ocorre o bullying em escolas de alta vulnerabilidade social da Grande Florianópolis e os papéis assumidos pelos alunos nesse fenômeno. Quanto ao método, participaram 409 crianças e adolescentes do terceiro ao quinto ano e da quarta à sexta série do ensino fundamental, de duas escolas públicas municipais, com idades entre 8 e 16 anos (X=11,14). Como instrumento, utilizou-se o Questionário de Olweus adaptado à população brasileira. Para a análise dos dados, empregaram-se a estatística descritiva e estatística inferencial por meio dos testes Mann Whitney e Kruskal Wallis. Quanto aos resultados, 29,8% dos meninos e 40,5% das meninas relataram terem sido vítimas; já 32,3% dos meninos e 24,6% das meninas relataram terem sido agressores. As vítimas foram as que se mostraram mais dispostas a ajudar como podem um colega que esteja sofrendo agressão (X=1,54; p>0,001), mesmo que não o conheçam (X=1,57; p>0,004). Em contrapartida, os agressores se diferenciaram do grupo que não participa (X=1,73) e do grupo das vítimas (X=2,34), sendo aqueles que menos se sentiram sozinhos (X=1,47; p>0,001). Concluiu-se que as informações obtidas neste estudo são indispensáveis na busca de alternativas para redução do bullying escolar. O fortalecimento das relações entre escola e alunos, e um maior preparo dos professores e funcionários são extremamente necessários para tentar minimizar os efeitos dos fatores de risco a que essas crianças estão expostas e consequentemente a violência na escola.

Bullying; Vulnerabilidade social; Escola

Abstract

School bullying can involve children in different ways, making them play different roles, among them, victims, bullies and bully-victims. The aim of this study was to describe how bullying occurs in high social vulnerability schools of Florianópolis metropolitan area and the roles played by students in this phenomenon. Overall, 409 children and adolescents from the 3rd to 5th grades and of two public elementary schools aged 8-16 years (X = 11.14) participated in this study. As a tool, the Olweus Questionnaire adapted to the Brazilian population was used. For data analysis, descriptive statistics and inferential statistics were applied by the Mann Whitney and Kruskal Wallis tests. As for results, 29.8% of boys and 40.5% of girls reported being victims; 32.3% of boys and 24.6% of girls reported being bullies. Victims were the most willing to help a colleague who is suffering from bullying (X = 1.54; p> 0.001), even if they do not know the victims (X = 1.57; p> 0.004). Bullies are differentiated from the group that does not participate (X = 1.73) and the group of victims (X = 2.34), being those who felt less alone (x = 1.47; p> 0.001). It was concluded that the information obtained in this study is indispensable in the search for alternatives to reduce school bullying. The strengthening of relations between school and students and a better preparation of teachers and school staff are extremely necessary to try to minimize the effects of risk factors to which these children are exposed and consequently violence at school.

Bullying; Social vulnerability; School

Introdução

O bullying sempre tem como objetivo ferir e magoar a vítima, ocorrendo principalmente de três maneiras: agressões físicas diretas; agressões verbais diretas; e agressões indiretas (PEREIRA, 2002PEREIRA, Beatriz Oliveira. Para uma escola sem violência: estudo e prevenção das práticas agressivas entre crianças. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2002.; SMITH et al., 2008SMITH, Peter et al. Cyberbullying: its nature and impact in secondary school pupils. Journal of Child Psychology and Psychiatry, v. 49, n. 4, p. 376-385, Apr. 2008. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18363945>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18363...
; CRAIG et al., 2009CRAIG, Wendy et al. A cross-national profile of bullying and victimization among adolescents in 40 countries. International Journal of Public Health, v. 54, n. 2, p. 216-224, 2009. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19623475>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19623...
; PUHL; KING, 2013PUHL, Rebecca; KING, Kelly. Weight discrimination and bullying. Best Practice and Research Clinical Endocrinology & Metabolism, v. 27, n. 2, p. 117-127, Apr. 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23731874>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23731...
). A agressão física direta engloba ataques abertos à vítima envolvendo ações individuais ou em grupo contra uma única pessoa, através de agressões com tapas, empurrões, pontapés, cuspes, roubos, estragos de objetos e a submissão do outro a atividades servis. A agressão verbal direta envolve ações de insultos em público, incluindo xingamentos, provocações, ameaças, apelidos maldosos, comentários racistas, ofensivos ou humilhantes. E a agressão indireta se dá pelo isolamento e exclusão social dentro do grupo de convivência, dificultando as relações da vítima com os pares ou prejudicando a sua posição social, por meio de boatos, ignorando a presença da vítima ou ameaçando os outros para que não brinquem com a mesma (BJORKQVIST; ÖSTERMAN; KAUKAINEN, 1992BJORKQVIST, Kaj; ÖSTERMAN, Karin; KAUKAINEN, Ari. The development of direct and indirect aggressive strategies in males and females. In: BJORKQVIST, Kaj; NIEMELA, Pirkko (Ed.). Of mice and women: aspects of female aggression. San Diego: Academic Press, 1992.; PEREIRA, 2002PEREIRA, Beatriz Oliveira. Para uma escola sem violência: estudo e prevenção das práticas agressivas entre crianças. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2002.; MCGRATH, 2007MCGRATH, Mary. School bullying: tools for avoiding harm and liability. Thousand Oaks: Corwin Press, 2007.; ANTUNES et al., 2008ANTUNES, Deborah Christina et al. Do bullying ao preconceito: os desafios da barbárie à educação. Psicologia & Sociedade, v. 20, n. 1, p. 33-42, 2008.; PUHL; KING, 2013PUHL, Rebecca; KING, Kelly. Weight discrimination and bullying. Best Practice and Research Clinical Endocrinology & Metabolism, v. 27, n. 2, p. 117-127, Apr. 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23731874>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23731...
). Além desses, alguns outros tipos de bullying vêm sendo relatados na literatura, como a agressão sexual (CARVALHOSA; LIMA; MATOS, 2001CARVALHOSA, Susana; LIMA, Luísa; MATOS, Margarida Gaspar. Bullying – a provocação/vitimação entre pares no contexto escolar português. Análise Psicológica, v. 4, n. 19, p. 523-37, 2001.; RUNYON et al., 2006RUNYON, Melissa et al. Etiology and surveillance in child maltreatment. In: LUTZKER, John R. (Ed.). Preventing violence: research and evidence-based intervention strategies. Washington: APA, 2006. p. 23-48.; MCGRATH, 2007MCGRATH, Mary. School bullying: tools for avoiding harm and liability. Thousand Oaks: Corwin Press, 2007.; ANTUNES et al., 2008ANTUNES, Deborah Christina et al. Do bullying ao preconceito: os desafios da barbárie à educação. Psicologia & Sociedade, v. 20, n. 1, p. 33-42, 2008.; SANTOS, 2010SANTOS, Miguel Ângelo Nascimento dos. O impacto do bullying na escola. Porto Alegre: UFRGS, 2010. Trabalho de conclusão de graduação.; ESPELAGE et al., 2013ESPELAGE, Dorothy et al. The impact of a middle school program to reduce aggression, victimization, and sexual violence. Journal of Adolescent Health, v. 53, n. 2, p. 180-186, 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23643338>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23643...
), a extorsão, na qual os agressores exigem dinheiro ou bens através de ameaças, e o cyberbullying, que consiste na vitimização ocorrida no espaço virtual (SMITH; ANANIADOU; COWIE, 2003SMITH, Peter; ANANIADOU, Katerina; COWIE, Helen. Interventions to reduce school bullying. Canadian Journal of Psychiatry, v. 48, n. 9, p. 591-599, 2003. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/14631879>. Acesso em: 2014.
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; AGATSTON, KOWALSKI; LIMBER, 2007AGATSTON, Patricia; KOWALSKI, Robin; LIMBER, Susan. Students’ perspectives on cyber bullying. Journal of Adolescent Health, v. 41, n. 6, Suppl 1, p. S59-60, Dec 2007. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18047946>. Acesso em: 2014.
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; CHIBBARO, 2007CHIBBARO, Julia. School counselors and the cyberbully: interventions and implications. Professional School Counseling, v. 1, n. 11, p. 65-68, 2007.; MCGRATH, 2007MCGRATH, Mary. School bullying: tools for avoiding harm and liability. Thousand Oaks: Corwin Press, 2007.; WOLAK; MITCHELL; FINKELHOR, 2007; ANTUNES et al., 2008ANTUNES, Deborah Christina et al. Do bullying ao preconceito: os desafios da barbárie à educação. Psicologia & Sociedade, v. 20, n. 1, p. 33-42, 2008.; SMITH et al., 2008SMITH, Peter et al. Cyberbullying: its nature and impact in secondary school pupils. Journal of Child Psychology and Psychiatry, v. 49, n. 4, p. 376-385, Apr. 2008. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18363945>. Acesso em: 2014.
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; WONG et al., 2008WONG, Dennis et al. School bullying among Hong Kong Chinese primary school children. Youth and Society, v. 40, n. 1, p. 35-54, 2008.; RAIMUNDO; SEIXAS, 2009RAIMUNDO, Raquela; SEIXAS, Sónia. Comportamentos de bullying no 1º ciclo: estudo de caso numa escola de Lisboa. Interacções, n. 13, p. 164-86, 2009.; TSANG; HUI; LAW, 2011TSANG, Sandra; HUI, Eadaoin; LAW, Bella. Bystander position taking in school bullying: the role of positive identity, self-efficacy, and self-determination. Scientific World Journal, v. 11, p. 2278-2286, 2011. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22194663>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22194...
).

O fenômeno bullying se diferencia de outras agressões pela persistência e intencionalidade, além de possuir três aspectos marcantes no que diz respeito a sua caracterização: o ato agressivo não resulta de uma provocação; não é ocasional; e é relevante a desigualdade de poder entre alunos agressores e vítimas (SALMIVALLI, 1996SALMIVALLI, Christina et al. Bullying as a group process: participant roles and their relations to socialstatus within the group. Aggressive Behavior, v. 22, p. 1-15, 1996.; PEREIRA, 2002PEREIRA, Beatriz Oliveira. Para uma escola sem violência: estudo e prevenção das práticas agressivas entre crianças. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2002.; RAIMUNDO; SEIXAS, 2009RAIMUNDO, Raquela; SEIXAS, Sónia. Comportamentos de bullying no 1º ciclo: estudo de caso numa escola de Lisboa. Interacções, n. 13, p. 164-86, 2009.). Além disso, Rocha, Costa e Neto (2013)ROCHA, Moana Oliveira; COSTA, Carmen Lucia; PASSOS NETO, Irazano. Bullying e o papel da sociedade. Cadernos de Graduação - Ciências Humanas e Sociais, v. 1, n. 16, p. 191-199, 2013. também destacam que, para ser considerada bullying, a agressão deve ocorrer entre pares e que, apesar do fenômeno ser caracterizado como uma agressão, nem toda a agressão é classificada como bullying. Para ser dada como tal, a agressão física ou moral deve apresentar quatro características: intenção do autor em ferir o alvo; repetição da agressão; presença de público espectador; e concordância do alvo com relação à ofensa.

O bullying ocorre em contextos interacionais dinâmicos (SALMIVALLI, et al., 1996SALMIVALLI, Christina et al. Bullying as a group process: participant roles and their relations to socialstatus within the group. Aggressive Behavior, v. 22, p. 1-15, 1996.) e pode envolver as crianças de diferentes maneiras, fazendo com que essas assumam papéis diferenciados em relação à postura adotada perante este fato. Assim, surgem muitos papéis de participação no bullying escolar, dentre os quais há as vítimas, os agressores, as vítimas-agressoras e os espectadores. Contudo, cada um desses papéis ainda pode se subdividir em perfis, segundo as características que os tipificam (SALMIVALLI, et al., 1996SALMIVALLI, Christina et al. Bullying as a group process: participant roles and their relations to socialstatus within the group. Aggressive Behavior, v. 22, p. 1-15, 1996.). Tendo em vista essa grande abrangência, este estudo limitou-se a estudar apenas os agressores, as vítimas e as vítimas-agressoras.

As vítimas geralmente constituem o grupo dos alunos mais novos, têm poucos amigos, são passivos, retraídos, infelizes, pouco sociáveis, inseguros, sofrem com a vergonha, medo, depressão, ansiedade e são desesperançados quanto à possibilidade de adequação ao grupo (SMITH; SHARP, 1994SMITH, Peter; SHARP, Sonia. School bullying: insights and perspectives. London: New York: Routledge, 1994.; CARVALHOSA; LIMA; MATOS, 2001CARVALHOSA, Susana; LIMA, Luísa; MATOS, Margarida Gaspar. Bullying – a provocação/vitimação entre pares no contexto escolar português. Análise Psicológica, v. 4, n. 19, p. 523-37, 2001.). São aqueles que têm piores relações com pares e consomem menos drogas (CARVALHOSA; LIMA; MATOS, 2001CARVALHOSA, Susana; LIMA, Luísa; MATOS, Margarida Gaspar. Bullying – a provocação/vitimação entre pares no contexto escolar português. Análise Psicológica, v. 4, n. 19, p. 523-37, 2001.). As pessoas com deficiência física e mental (CRUZ; SILVA; ALVES, 2007CRUZ, Daniel Marinho Cezar; SILVA, Juliana Testa; ALVES, Heliana Castro Evidências sobre violência e deficiência: implicações para futuras pesquisas. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 13, n. 1, p. 131-46, 2007.), com diferentes orientações sexuais e de gênero (LYZNICKI; MCCAFFREE; ROBINOWITZ, 2004LYZNICKI, James; MCCAFFREE, Mary Anne; ROBINOWITZ, Carolyn. Childhood bullying: implications for physicians. American Family Physician, v. 70, n. 9, p. 1723-1728, Nov. 2004. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15554490>. Acesso em: 2014.
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; RIVERS, 2004RIVERS, Ian. Recollections of bullying at school and their long-term implications for lesbians, gay men, and bisexuals. Hogrefe & Huber Publishers, v. 25, n. 4, p. 169-75, 2004.; MÉNDEZ, 2007MÉNDEZ, Raquela Lucas Platero. Maricon el último: docentes que actuamos ante el acoso escolar en el instituto. Revista D´Estudis De La Violència, n. 3, 2007.; MÉNDEZ; CETO, 2007MÉNDEZ, Raquel Lucas Platero; CETO, Emilio Gómez. Herramientas para combatir el bullying homofóbico. Madrid: Talasa, 2007.; LEVASSEUR; KELVIN; GROSSKOPF, 2013LEVASSEUR, Michael; KELVIN, Elizabeth; GROSSKOPF, Nicholas. Intersecting identities and the association between bullying and suicide attempt among new york city youths: results from the 2009 new york city youth risk behavior survey. American Journal of Public Health, v. 103, n. 6, p. 1082-1089, 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23597376>. Acesso em: 2014.
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; PATRICK ET AL., 2013PATRICK, Donald et al. Bullying and quality of life in youths perceived as gay, lesbian, or bisexual in Washington state, 2010. American Journal of Public Health, v. 103, n. 7, p. 1255-1261, July 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23678925>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23678...
), com defeitos congênitos ou adquiridos, (LOUIS ET AL., 2005LOUIS, Kenneth et al. Experiência e relato pessoal sobre pesquisa de cooperação internacional - Brasil, Bulgária e Turquia - que avalia as atitudes em relação à gagueira. Pró-Fono, v. 17, n. 3, p. 413-16, 2005.) e com sobrepeso (STRAUSS; POLLACK, 2003STRAUSS, Richard; POLLACK, Harold. Social marginalization of overweight children. Archives of Pediatrics & Adolescent Medicine, v. 157, p. 746-775, 2003.) são as principais vítimas do bullying. Esses indivíduos que sofreram vitimização na infância, em curto prazo, são mais propensos ao abandono escolar (STONE; HAN, 2005STONE, Susan; HAN, Meekyung. Perceived school environments, perceived discrimination, and school performance among children of Mexican immigrants. Children and Youth Services Review, v. 27, p. 51-66, 2005.), podem ter dificuldades nas atividades escolares, ficar doentes ou indispostos e ter problemas com o sono (SHARP; THOMPSON, 1992SHARP, Sonia; THOMPSON, David. Sources of stress: a contrast between pupil perspectives and pastoral teachers’ perspectives. School Psychology International, v. 13, p. 229-241, 1992.). Em longo prazo, são mais propensos a sofrer de bloqueios psicológicos (LOPES NETO, 2005LOPES NETO, Aramis. Bullying: comportamento agressivo entre estudantes. Jornal de Pediatria, v. 81, n. 5, p. 164-172, 2005.), e de perturbações mentais na vida adulta (PIEDRA; LAGO; MASSA, 2006PIEDRA, Rodríguez; LAGO, Seoane; MASSA, Pedreira. Crianças contra crianças: o bullying, uma perturbação emergente. Anales de Pediatría, v. 64, n. 2, p. 162-166, 2006.), tendem a ter maior dificuldade de se relacionar com os outros, pior autoestima. E – a mais preocupante de todas as consequências do bullying – tornam-se mais propensos a cometer suicídio (SMITH; MADSEN, 1996SMITH, Peter; MADSEN, Kirsten. Action against bullying. In: MEETINGS OF THE INTERNATIONAL SOCIETY ON THE STUDY OF BEHAVIOURAL DEVELOPMENT, 14., 1996, Quebeque. XIV meetings... Quebec: [s. n.], 1996.; HENRY ET AL., 2013HENRY, Kimberly et al. The potential role of meaning in life in the relationship between bullying victimization and suicidal ideation. Journal of Youth and Adolescence, May 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23695412 >. Acesso em: 2014.
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; LEVASSEUR; KELVIN; GROSSKOPF, 2013; PAN; SPITTAL, 2013PAN, Stephen; SPITTAL, Patricia. Health effects of perceived racial and religious bullying among urban adolescents in China: a cross-sectional national study. Glob Public Health, May 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23713464>.Acesso em: 2014.
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; PATRICK ET AL., 2013PATRICK, Donald et al. Bullying and quality of life in youths perceived as gay, lesbian, or bisexual in Washington state, 2010. American Journal of Public Health, v. 103, n. 7, p. 1255-1261, July 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23678925>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23678...
; PUHL; KING, 2013PUHL, Rebecca; KING, Kelly. Weight discrimination and bullying. Best Practice and Research Clinical Endocrinology & Metabolism, v. 27, n. 2, p. 117-127, Apr. 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23731874>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23731...
).

Em contrapartida, o perfil dos agressores constitui-se de algumas características como: maior idade, mais prática de exercício físico (CARVALHOSA; LIMA; MATOS, 2001CARVALHOSA, Susana; LIMA, Luísa; MATOS, Margarida Gaspar. Bullying – a provocação/vitimação entre pares no contexto escolar português. Análise Psicológica, v. 4, n. 19, p. 523-37, 2001.; PEGUERO, 2008PEGUERO, Anthony. Bullying victimization and extracurricular activity. Journal of School Violence, v. 7, n. 3, p. 71-85, 2008.; RAIMUNDO; SEIXAS, 2009RAIMUNDO, Raquela; SEIXAS, Sónia. Comportamentos de bullying no 1º ciclo: estudo de caso numa escola de Lisboa. Interacções, n. 13, p. 164-86, 2009.), maior consumo de drogas, tabaco e álcool (KING et al., 1996KING, Alan et al. The health of youth: a cross-national survey. Quebec: World Health Organization, 1996.; PEREIRA et al., 2004PEREIRA, Beatriz Oliveira et al. Bullying in portuguese schools. School Psychology International, v. 25, n. 2, p. 207-222, 2004.; GOWER; BOROWSKY, 2013GOWER, Amy; BOROWSKY, Iris. Associations between frequency of bullying involvement and adjustment in adolescence. Academic Pediatrics, v. 13, n. 3, p. 214-221, May/June 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23680340>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23680...
), mais comportamentos violentos, melhor imagem corporal (CARVALHOSA; LIMA; MATOS, 2001CARVALHOSA, Susana; LIMA, Luísa; MATOS, Margarida Gaspar. Bullying – a provocação/vitimação entre pares no contexto escolar português. Análise Psicológica, v. 4, n. 19, p. 523-37, 2001.), mais extroversão e segurança, confiança em si, ausência de sentimentos de medo, ansiedade ou culpa (OLWEUS, 1978OLWEUS, Dan. Agression in the schools: bullies and whipping boys. Washington: Hemisphere, 1978.; SMITH; SHARP, 1994SMITH, Peter; SHARP, Sonia. School bullying: insights and perspectives. London: New York: Routledge, 1994.), tendência a ter pior relação com os pais (JUNGER, 1990JUNGER, Marianne. Intergroup bullying and racial harassment in the Netherlands. Sociology and Social Research, v. 74, n. 2, p. 65-72, 1990.). Muitas vezes são hiperativos, têm dificuldades de atenção, menor inteligência, desempenho escolar deficiente, são os principais responsáveis por levarem armas à escola, são tipicamente populares e veem sua agressividade como qualidade, podendo mostrar-se agressivos inclusive com os adultos (PEREIRA et al., 2004PEREIRA, Beatriz Oliveira et al. Bullying in portuguese schools. School Psychology International, v. 25, n. 2, p. 207-222, 2004.; LOPES NETO, 2005; COSTA; PEREIRA, 2010COSTA, Paulo Jorge; PEREIRA, Beatriz. O bullying na escola: a prevalência e o sucesso escolar. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL “CONTRIBUTOS DA PSICOLOGIA EM CONTEXTOS EDUCATIVOS”, 1. 2010, Braga. Seminário... Braga: Universidade do Minho, 2010.; REIJNTJES et al., 2013REIJNTJES, Albert et al. Costs and benefits of bullying in the context of the peer group: a three wave longitudinal analysis. Journal of Abnormal Child Psychology, May 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23686239>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23686...
). Esse comportamento agressivo na infância traz como consequências problemas nos relacionamentos afetivos e sociais, dificuldades em respeitar as leis, menor autocontrole (PEREIRA, 2002PEREIRA, Beatriz Oliveira. Para uma escola sem violência: estudo e prevenção das práticas agressivas entre crianças. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2002.) e aumento da probabilidade de se tornarem pessoas mais agressivas ou agressores envolvidos em criminalidade (OLWEUS, 1978OLWEUS, Dan. Agression in the schools: bullies and whipping boys. Washington: Hemisphere, 1978.; FREIRE; SIMÃO; FERREIRA, 2006FREIRE, Isabel; SIMÃO, Ana Veiga; FERREIRA, Ana. O estudo da violência entre pares no 3º ciclo do ensino básico: um questionário aferido para a população escolar portuguesa. Revista Portuguesa de Educação, v. 19, n. 2, p. 157-83, 2006.).

Embora a literatura já aponte essas características bem definidas para os papéis de agressores e vítimas, no ambiente escolar, torna-se mais complicada a identificação dos envolvidos nesse tipo de comportamento, principalmente pela presença dos indivíduos que são vítimas-agressoras. Nesses casos, a mesma criança ou adolescente pode assumir ambos os papéis em diferentes situações (SANTOS, 2010SANTOS, Miguel Ângelo Nascimento dos. O impacto do bullying na escola. Porto Alegre: UFRGS, 2010. Trabalho de conclusão de graduação.). Aproximadamente 10% dos alunos têm um duplo envolvimento, ora como agressores, ora como vítimas (RAIMUNDO; SEIXAS, 2009RAIMUNDO, Raquela; SEIXAS, Sónia. Comportamentos de bullying no 1º ciclo: estudo de caso numa escola de Lisboa. Interacções, n. 13, p. 164-86, 2009.) e é esse o grupo no qual se encontram maiores fatores de risco, os quais têm um efeito não apenas aditivo, mas multiplicativo (SPENCE; MATOS, 2000SPENCE, Susan; MATOS, Maria. Intervenções preventivas com crianças e adolescentes. In: MATOS, Maria et al. (Ed.). Desenvolvimento de competências de vida na prevenção do desajustamento social. Lisboa: IRS/MJ, 2000.), com níveis mais elevados de envolvimento em comportamentos violentos fora da escola, de uso de substâncias ilícitas, de relatos de depressão, ansiedade, sintomas físicos e psicológicos e com os piores resultados em avaliações de ajustamento psicossocial (CARVALHOSA; LIMA; MATOS, 2001CARVALHOSA, Susana; LIMA, Luísa; MATOS, Margarida Gaspar. Bullying – a provocação/vitimação entre pares no contexto escolar português. Análise Psicológica, v. 4, n. 19, p. 523-37, 2001.; SEALS; YOUNG, 2003SEALS, Dorothy; YOUNG, Jerry. Bullying and victimization: prevalence and relationship to gender, grade level, ethnicity, self-esteem, and depression. Adolescence, v. 38, n. 152, p. 735-747, 2003. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15053498>. Acesso em: 2014.
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; CARLYLE; STEINMAN, 2007CARLYLE, Kellie; STEINMAN, Kenneth. Demographic differences in the prevalence, co-occurrence, and correlates of adolescent bullying at school. Journal of School Health, v. 77, n. 9, p. 623-629, Nov 2007. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17970866>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/17970...
).

Contudo, em qualquer esfera de participação no bullying, essas atitudes de abuso de poder podem acarretar problemas graves no desenvolvimento dessas crianças e adolescentes (OBRDALJ et al., 2013OBRDALJ, Edita Cerni et al. Trauma symptoms in pupils involved in school bullying: a cross sectional study conducted in Mostar, Bosnia and Herzegovina. Collegium Antropologicum, v. 37, n. 1, p. 11-16, Mar 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23697244>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23697...
), que se refletirão até mesmo na vida adulta. Tornam-se extremamente necessárias maiores investigações sobre como esse fenômeno acontece e quais os perfis dos participantes do bullying escolar, principalmente em comunidades de risco (LEWIS et al., 2013LEWIS, Kendra et al. Problem behavior and urban, low-income youth: a randomized controlled trial of positive action in chicago. American Journal of Preventive Medicine, v. 44, n. 6, p. 622-630, June 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23683980>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23683...
), nas quais crianças e adolescentes estão em contato direto com formas violentas de resolver conflitos. Sabe-se que a probabilidade de envolvimento nesse tipo de comportamento cresce consideravelmente quando aumentam os fatores de risco que afetam as crianças e adolescentes (SPENCE; MATOS, 2000SPENCE, Susan; MATOS, Maria. Intervenções preventivas com crianças e adolescentes. In: MATOS, Maria et al. (Ed.). Desenvolvimento de competências de vida na prevenção do desajustamento social. Lisboa: IRS/MJ, 2000.).

Já foram apontandos na literaturaua alguns fatores de vulnerabilidade social que podem favorecer o envolvimento no bullying escolar. Dentre eles, destacam-se: escolas com excessivo número de alunos (CODO, 2006CODO, Wanderley. [Resenha]. In: CODO, Wanderley (Org.).Educação: carinho e trabalho. Petrópolis: Vozes, 2006.); desempenho escolar deficiente e altos índices de reprovação (HOLT, FINKELHOR; KANTOR, 2007HOLT, Melissa K.; FINKELHOR, David; KANTOR, Glenda Kaufman. Multiple victimization experiences of urban elementary school students: associations with psychosocial functioning and academic performance. Child Abuse & Neglect, v. 31, n. 5, p. 503-515, 2007.; MATOS et al., 2009MATOS, Margarida et al. Violência, bullying e delinquência, gestão de problemas de saúde em meio escolar. Lisboa: Coisas de Ler, 2009.); consumo de tabaco e álcool (CARVALHOSA; LIMA; MATOS, 2001CARVALHOSA, Susana; LIMA, Luísa; MATOS, Margarida Gaspar. Bullying – a provocação/vitimação entre pares no contexto escolar português. Análise Psicológica, v. 4, n. 19, p. 523-37, 2001.); fraca ligação com a escola (MATOS et al., 2009MATOS, Margarida et al. Violência, bullying e delinquência, gestão de problemas de saúde em meio escolar. Lisboa: Coisas de Ler, 2009.); locais inseguros e pouco supervisionados (LOPES NETO; SAAVEDRA, 2003LOPES NETO, Aramis; SAAVEDRA, Lúcia Helena. Diga não ao bullying: Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes. Rio de Janeiro: ABRAPIA, 2003.); formação deficiente de professores e funcionários no que tange ao conteúdo ministrado e às habilidades em lidar com os alunos e à estrutura do próprio trabalho (LOPES NETO; SAAVEDRA, 2003LOPES NETO, Aramis; SAAVEDRA, Lúcia Helena. Diga não ao bullying: Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes. Rio de Janeiro: ABRAPIA, 2003.; SCHERECK; MILLER; GIBSON, 2003SCHRECK, Christopher J.; MILLER, J. Mitchell; GIBSON, Chris L. Trouble in the school yard: a study of the risk factors of victimization at school. Crime & Delinquency, v. 49, n. 3, p. 460-484, 2003.); alta rotatividade de professores (LOPES NETO; SAAVEDRA, 2003LOPES NETO, Aramis; SAAVEDRA, Lúcia Helena. Diga não ao bullying: Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes. Rio de Janeiro: ABRAPIA, 2003.); violência fora da escola (CARVALHOSA; LIMA; MATOS, 2001); falta de limites e desarmonia dos lares (SANTOS, 2010SANTOS, Miguel Ângelo Nascimento dos. O impacto do bullying na escola. Porto Alegre: UFRGS, 2010. Trabalho de conclusão de graduação.); pobre envolvimento afetivo com os pais ou ausência de um dos pais ou ambos (SANTOS, 2010SANTOS, Miguel Ângelo Nascimento dos. O impacto do bullying na escola. Porto Alegre: UFRGS, 2010. Trabalho de conclusão de graduação.; SENRA; LOURENÇO; PEREIRA, 2011SENRA, Luciana Xavier; LOURENÇO, Lélio Moura; PEREIRA, Beatriz Oliveira. Características da relação entre violência doméstica e bullying: revisão sistemática da literatura. Gerais, v. 4, n. 2, p. 297-309, 2011.); baixa escolaridade dos pais (ANALITIS et al., 2009ANALITIS, Filippos et al. European kidscreen group: being bullied: associated factors in children and adolescents 8-18 years old in 11 European countries. Pediatrics, v. 123, p. 569-77, 2009.; PERREN; STADELMANN; KLITZING, 2009PERREN, Sonja; STADELMANN, Stephanie; KLITZING, Kai Von. Child and family characteristics as risk factors for peer victimization in kindergarten. Schweizerische Zeitschrift für Bildungswissenschaften, v. 31, n. 1, p. 13-32, 2009.); desemprego do pai e inatividade econômica da mãe (MAGKLARA et al., 2012MAGKLARA, Konstantina et al. Bullying behaviour in schools, socioeconomic position and psychiatric morbidity: a cross-sectional study in late adolescents in Greece. Child and Adolescent Psychiatry and Mental Health, v. 6, n. 8, p. 2-13, 2012.); violência doméstica ou interparental (SENRA; LOURENÇO; PEREIRA, 2011SENRA, Luciana Xavier; LOURENÇO, Lélio Moura; PEREIRA, Beatriz Oliveira. Características da relação entre violência doméstica e bullying: revisão sistemática da literatura. Gerais, v. 4, n. 2, p. 297-309, 2011.); relações de desigualdade e baixo nível socioeconômico (ANALITIS et al., 2009ANALITIS, Filippos et al. European kidscreen group: being bullied: associated factors in children and adolescents 8-18 years old in 11 European countries. Pediatrics, v. 123, p. 569-77, 2009.; SENRA; LOURENÇO; PEREIRA, 2011SENRA, Luciana Xavier; LOURENÇO, Lélio Moura; PEREIRA, Beatriz Oliveira. Características da relação entre violência doméstica e bullying: revisão sistemática da literatura. Gerais, v. 4, n. 2, p. 297-309, 2011.).

Assim, é importante ressaltar que essa violência identificada no ambiente escolar não está restrita aos muros da escola (CUNHA; WEBER, 2010CUNHA, Josafá; WEBER, Lídia. O bullying como desafio contemporâneo: vitimização entre pares nas escolas: uma breve introdução. In: PARANÁ. Secretaria do Estado da Educação (Ed.). Enfrentamento à violência na escola. Curitiba: SEED, 2010. p.172.), sendo o bullying considerado por Salmivalli e Voeten (2004)SALMIVALLI, Christina; VOETEN, Marinus. Connections between attitudes, group norms, and behaviour in bullying situations. International Journal of Behavioral Development, v. 28, n. 3, p. 246-258, 2004. um fenômeno social. Dessa forma, o bullying não pode ser compreendido fora da dinâmica da sociedade, uma vez que esse fenômeno está atrelado a fatores políticos, econômicos e culturais, não podendo, então, ser dissociado do contexto social, urbano, relacional e familiar no qual as crianças e adolescentes estão inseridos (SALMIVALLI et al., 1998; SILVA; PEREIRA, 2008SILVA, Marta Angelica; PEREIRA, Beatriz. A violência como fator de vulnerabilidade na ótica de adolescentes escolares. In: BONITO, Jorge (Org.). Educação para a saúde no século XXI: teorias, modelos e práticas. Évora: CIEP, 2008.). Os diferentes tipos de participação assumidos perante o bullying são gerados de acordo com os papéis sociais, as práticas e experiências do sujeito (SALMIVALLI, 1998; ALMEIDA, LISBOA; CAURCEL, 2007ALMEIDA, Ana; LISBOA, Carolina.; JESUS CAURCEL, María. ¿Por qué ocurren los malos tratos entre iguales? Explicaciones causales de adolescentes portugueses y brasileños. Revista Interamericana de Psicologia, v. 41, n. 2, p. 107-118, 2007.; LOPES NETO, 2005LOPES NETO, Aramis. Bullying: comportamento agressivo entre estudantes. Jornal de Pediatria, v. 81, n. 5, p. 164-172, 2005.), ou seja, estão diretamente relacionados ao que podemos chamar de identidade do indivíduo.

Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo descrever como ocorre o bullying em escolas de alta vulnerabilidade social da Grande Florianópolis e os papéis assumidos pelos alunos nesse fenômeno.

Método

Esta pesquisa faz parte de um projeto aprovado junto ao Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) sob processo 5439/2011, no expediente 75/2011. Trata-se de uma pesquisa de campo com desenho de estudo transversal, de cunho quantitativo, não probabilística, realizada em duas escolas da Grande Florianópolis, SC, escolhidas por conveniência, para que os sujeitos da pesquisa atendessem ao perfil de alta vulnerabilidade social proposto pelo estudo.

Participaram deste estudo 409 crianças e adolescentes do 3º ao 5º ano e da 4ª a 6ª série do ensino fundamental1, de ambos os sexos, com idades entre 8 e 16 anos (média de idade de 11,14 anos), de duas escolas públicas municipais da Grande Florianópolis. Utilizou-se o Questionário de Olweus adaptado à população brasileira (OLIVEIRA; BARBOSA, 2012OLIVEIRA, Juliana Célia; BARBOSA, Altemir José Gonçalves. Bullying entre estudantes com e sem características de dotação e talento. Psicologia: v. 25, p. 747-755, 2012.), constituído de quatro blocos de perguntas: o bloco 1, que consiste de quinze questões referentes aos dados sócioeconômicos; o bloco 2, que tem treze questões sobre as situações em que as crianças são vítimas de algum tipo de agressão vinda dos colegas; o bloco 3, que traz quatro questões sobre a identificação de comportamentos de agressão na escola; e por fim, o bloco 4 consiste de dez questões sobre amizade e a percepção das crianças em relação ao recreio escolar. De modo geral, as questões eram de múltipla escolha, como, por exemplo, na pergunta “Quantas vezes algum(a) aluno(a) da escola fez algo de mal a você nos últimos três meses de aula?”, na qual as respostas poderiam ser: (1) Nenhuma vez; (2) Uma ou duas vezes; (3) Três ou quatro vezes; (4) Cinco ou mais vezes. Com as informações obtidas por meio daqueles que responderam que foram vítimas ou agressores três ou mais vezes, criou-se uma variável classificando os alunos em quatro categorias de participação no bullying: “não participa” (indivíduos que não se envolveram em nenhuma situação de vitimização ou agressão); “vítima” (indivíduos que se consideravam vítimas em três ou mais situações); “agressor” (indivíduos que se consideravam agressores em três ou mais situações); e “vítima-agressora” (indivíduos que se consideravam vítimas e agressores em mais de três situações).

Realizou-se a estatística descritiva e estatística inferencial por meio dos testes Qui-quadrado, para verificar a associação entre as variáveis, e One-Way Anova, para comparação das variâncias entre grupos, com Post Hoc de Duncan. Os dados da pesquisa foram tabulados e analisados no programa SPSS versão 20.0 e para todos os testes foi adotado um intervalo de confiança de 95% (p<0,05).

Resultados

Foi perguntado aos participantes se eles já haviam sofrido algum tipo de agressão na escola. Verificou-se que 29,8% dos meninos e 40,5% das meninas relataram terem sido vítimas de violência na escola pelo menos uma vez (Tabela 1).

Tabela 1
Ser vítima de agressão na escola

Quando questionados sobre a forma como os alunos têm sofrido alguma violência, verificou-se que, em ambos os sexos, os maiores relatos foram de agressões verbais, enquanto as meninas tiveram maiores relatos nas agressões indiretas. Vale destacar também a baixa prevalência de cyberbullying, o que era esperado em função das condições sociais desses participantes (Tabela 2).

Tabela 2
De que forma o bullying ocorre para as vítimas de ambos os sexos

Questionou-se também em quais lugares da escola, ou situações, ocorriam essas agressões. Tanto para os meninos quanto para as meninas, o bullying mais frequente se deu nas salas de aulas, seguidas pelos locais de recreio e os espaços para Educação Física. Entretanto, as meninas relataram maiores ocorrências em sala de aula em relação aos meninos (Tabela 3).

Tabela 3
Locais ou situações em que ocorre o bullying escolar para ambos os sexos

Aqueles que sofreram algum tipo de violência relataram que, em sua maior parte, os agressores são da própria sala, e de modo geral são mais velhos que as vítimas. Contudo, foi frequente a participação de mais de um aluno, podendo ser de mais de uma turma e de diversas idades e de ambos os sexos. Porém, a maior prevalência de agressores foi para os meninos, segundo as informações das vítimas (Tabela 4).

Tabela 4
Turma dos alunos que cometem agressões segundo informações das vítimas

Sobre contar a alguém que foi agredido, os alunos indicaram em maior número que os pais ou responsáveis são os mais procurados para esse desabafo, seguidos pelo professor(a) ou diretor(a). Contudo, vale ressaltar que 10,1% dos meninos e 6,7% das meninas não contam a ninguém sobre esse tipo de violência. Além disso, os alunos também relataram sobre os colegas os terem defendido nessas situações. Verificou-se que, nesse aspecto, as meninas continuaram tendo maior suporte social em relação aos meninos, sendo que 13,8% dos meninos e 8,8% das meninas não tiveram ninguém que os defendesse. Contudo, quando questionados sobre qual atitude tomavam ao verem algum colega da mesma idade sofrendo algum tipo de agressão, os meninos (37,0%) foram mais indiferentes do que as meninas (34,4%), alegando que nada faziam nessas situações (Tabela 5).

Tabela 5
Pessoas procuradas pelas vítimas para contar sobre a violência sofrida na escola

Sobre a experiência de ter cometido alguma agressão contra os colegas, os meninos relataram maior participação, com 32,3% tendo agredido pelo menos uma vez, contra 24,6% das meninas (Tabela 6).

Tabela 6
Ser agressor na escola

Os meninos também foram os que mais relataram já terem desrespeitado os professores (24,7%) e funcionários (3,5%) pelo menos uma vez quando comparados às meninas (15,4% e 2,5% respectivamente). Contudo, vale destacar que os professores foram mais vezes desrespeitados do que os funcionários (Tabela 7).

Tabela 7
Número de vezes em que os alunos desrespeitaram os professores e funcionários da escola

Quanto à participação dos professores e funcionários nas questões de violência na escola, segundo a percepção dos alunos, verificou-se que, tanto para os meninos quanto para as meninas, os professores intervieram mais vezes do que os funcionários em situações de agressões. Entretanto, destaca-se que 42,9% dos meninos e 51,3% das meninas relataram que os professores nunca ou quase nunca fazem nada para impedir que um aluno faça mal ao outro, bem como 62,1% e 64,1% respectivamente afirmam o mesmo sobre os funcionários (Tabela 8).

Tabela 8
Número de vezes em que os professores e funcionários intervieram em alguma agressão segundo a percepção dos alunos

Encontrou-se uma grande diferença entre os sexos sobre já ter ficado sozinho na escola, sendo que 36,4% dos meninos e 61,5% das meninas relataram já terem se sentidos sozinhos pelo menos uma vez. Os alunos também foram questionados sobre os recreios escolares. Aproximadamente 33,0% de ambos os sexos afirmaram odiar, não gostar ou gostar mais ou menos dos recreios (Tabelas 9 e 10).

Tabela 9
Número de vezes em que os alunos ficaram sozinhos porque os colegas não queriam a sua companhia
Tabela 10
Opinião dos alunos sobre os recreios escolares

Em relação às situações ocorridas durante os recreios, as meninas em maior número (11,3%) relataram não ter amigos para brincar no recreio quando comparadas aos meninos (4,0%). Dessas informações, ressalta-se o elevado número tanto de meninos (61,1%) quanto de meninas (76,4%) que afirmam que os alunos só gostam de brincar de lutas e empurrões nos recreios (Tabela 11).

Tabela 11
Situações ocorridas nos recreios escolares

Por fim, conforme as respostas dos alunos, os mesmos foram classificados quanto ao papel assumido perante o bullying escolar: não participa (70,0%); vítima (17,0%); agressor (8,1%); e vítima-agressora (4,9%).

De modo geral, verificou-se que as maiores diferenças foram entre os grupos que não participam do bullying e os agressores quando comparados às vítimas e vítimas-agressoras. As vítimas-agressoras foram as que se mostraram mais dispostas a ajudar como podem um colega que esteja sofrendo agressão (X=1,63; SD=0,50). Já as vítimas foram as que mais ajudaram mesmo que não conhecessem o colega (X=1,57; SD=0,50), bem como também foram esses dois grupos os que mais relataram a ocorrência da variável “andam atrás de mim para implicar comigo” (X=1,46; SD=0,50; X=1,37; SD=0,50). Em contrapartida, os agressores se diferenciaram dos grupos das vítimas e vítimas-agressoras (X=2,34; SD=1,14; X=2,32; SD=1,29), sendo os agressores (X=1,47; SD=0,9) aqueles que menos se sentiram sozinhos.

A variável “os outros meninos(as) só gostam de brincar de lutas e empurrões” teve um valor de p < 0,05; entretanto, as diferenças entre os grupos não foram sensíveis ao Post Hoc de Duncan (Tabela 12).

Tabela 12
Diferenças entre os grupos não participa do bullying, vítimas, agressores e vítimas-agressoras

Discussão

Nesta pesquisa, verificou-se que o percentual das meninas foi maior do que os meninos no que tange ser vítima de bullying, mas não foi encontrada associação entre o número de vezes que foram vítimas e os sexos. Apesar da maioria dos estudos encontrarem os meninos como mais vítimas, (BRANNON, 1999BRANNON, Linda. Gender: psychological perspectives. Boston: Allyn and Bacon, 1999.; CARVALHOSA; LIMA; MATOS, 2001CARVALHOSA, Susana; LIMA, Luísa; MATOS, Margarida Gaspar. Bullying – a provocação/vitimação entre pares no contexto escolar português. Análise Psicológica, v. 4, n. 19, p. 523-37, 2001.; PEREIRA et al., 2004PEREIRA, Beatriz Oliveira et al. Bullying in portuguese schools. School Psychology International, v. 25, n. 2, p. 207-222, 2004.; CHANG et al., 2013CHANG, Fong-Ching et al. Relationships among cyberbullying, school bullying, and mental health in Taiwanese adolescents. Journal of School Health, v. 83, n. 6, p. 454-462, Jun 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23586891>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23586...
; OBRDALJ et al., 2013OBRDALJ, Edita Cerni et al. Trauma symptoms in pupils involved in school bullying: a cross sectional study conducted in Mostar, Bosnia and Herzegovina. Collegium Antropologicum, v. 37, n. 1, p. 11-16, Mar 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23697244>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23697...
; YANG et al., 2013YANG, Su-Jin et al. Differences in predictors of traditional and cyber-bullying: a 2-year longitudinal study in Korean school children. European Child & Adolescent Psychiatry, v. 22, n. 5, p. 309-318, May 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23640732>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23640...
), no estudo de Kubwalo et al. (2013)KUBWALO, Hudson et al. Prevalence and correlates of being bullied among in-school adolescents in Malawi: results from the 2009 Global School-Based Health Survey. Malawi Med J., v. 25, n. 1, p. 12-14, Mar 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23717749>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23717...
, encontrou-se a mesma probabilidade entre os sexos e, nos estudos de Bentley e Li (1996)BENTLEY, Karen M.; LI, Anita K. F. Bully and victim problems in elementary schools and students’ beliefs about aggression. Canadian Journal of School Psychology, v. 11, n. 2, p. 153-165, 1996. e Baldry (2003)BALDRY, Anna. Bullying in schools and exposure to domestic violence. Child Abuse and Neglect, v. 27, n. 7, p. 713-32, July 2003. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/14627075>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/14627...
, mais meninas na situação de vitimização. Essa informação pode ser consequência de uma maior auto-honestidade das meninas em relação aos meninos (LEWIS et al., 2013LEWIS, Kendra et al. Problem behavior and urban, low-income youth: a randomized controlled trial of positive action in chicago. American Journal of Preventive Medicine, v. 44, n. 6, p. 622-630, June 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23683980>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23683...
), principalmente pelo fato de os estereótipos de masculinidade coibirem, desde cedo, a demonstração de fragilidade dos homens, e de as mulheres encontram maior suporte social nesse aspecto em todas as idades (BRANNON, 1999BRANNON, Linda. Gender: psychological perspectives. Boston: Allyn and Bacon, 1999.).

Outra hipótese sustentada pela literatura é a de que as diferenças entre os sexos tendem a diminuir quando se leva em consideração os diferentes tipos de agressões (IANNOTTI; NANSEL, 2009; WANG; IANNOTTI; LUK, 2012WANG, Jing; IANNOTTI, Ronald; LUK, Jeremy. Patterns of adolescent bullying behaviors: physical, verbal, exclusion, rumor, and cyber. Journal of School Psychology, v. 50, n. 4, p. 521-534, 2012. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22710019>. Acesso: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22710...
). Diversos estudos indicam que meninas estão mais envolvidas em agressões indiretas, ou então em agressões diretas verbais (BANDURA; ROSS; ROSS, 1961BANDURA, Albert; ROSS, Dorothea; ROSS, Sheila. Transmission of aggression through imitation of aggressive models. Educational Psychology in Context. Readings for Future Teachers, p. 57-66, 2006. First published in Journal of Abnormal and Social Psychology, v. 63, p. 575-582, Nov. 1961. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/13864605>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/13864...
; CAIRNS et al., 1989CAIRNS, Robert et al. Growth and aggression: I childhood to early adolescence. Developmental Psychology, v. 25, p. 320-30, 1989.; CRICK; GROTPETER, 1995CRICK, Nicki; GROTPETER, Jennifer. Relational aggression, gender, and social-psychological adjustment. Child Development, v. 66, n. 3, p. 710-22, June 1995. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7789197>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/77891...
; BRANNON, 1999BRANNON, Linda. Gender: psychological perspectives. Boston: Allyn and Bacon, 1999.; SMITH, 2004SMITH, Peter. Bullying: recent developments. Child and Adolescent Mental Health, v. 9, n. 3, p. 98-103, 2004.; FRISÉN; JONSSON; PERSSON, 2007FRISÉN, Ann; JONSSON, Anna-Karin; PERSSON, Camilla. Adolescents’ perception of bullying: who is the victim? Who is the bully? What can be done to stop bullying? Adolescence San Diego, v. 42, n. 168, p. 749-61, 2007. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18229509>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18229...
; WANG; IANNOTTI; NANSEL, 2009WANG, Jing; IANNOTTI, Ronald; NANSEL, Tonja. School bullying among adolescents in the United States: physical, verbal, relational, and cyber. Journal of Adolescent Health, v. 45, n. 4, p. 368-375, 2009. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19766941>. Acesso: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19766...
), o que vai ao encontro dos dados encontrados neste estudo. Segundo Obrdalj et al. (2013)OBRDALJ, Edita Cerni et al. Trauma symptoms in pupils involved in school bullying: a cross sectional study conducted in Mostar, Bosnia and Herzegovina. Collegium Antropologicum, v. 37, n. 1, p. 11-16, Mar 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23697244>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23697...
, os homens sentem maior necessidade psicológica de demonstrar força física, a qual, aliada aos fatores biológicos, como tamanho e força, e a fatores sociais, como maior probabilidade de possuir armas e maior encorajamento por parte dos pais, faz com que estejam mais propensos a usar a agressão física, causando sérios danos e violando as leis (BRANNON, 1999BRANNON, Linda. Gender: psychological perspectives. Boston: Allyn and Bacon, 1999.).

Contudo, a vitimização mais prevalente ocorreu com agressões verbais, principalmente entre as meninas, como encontrado também nos estudos de Wang, Iannotti e Nansel (2009)WANG, Jing; IANNOTTI, Ronald; NANSEL, Tonja. School bullying among adolescents in the United States: physical, verbal, relational, and cyber. Journal of Adolescent Health, v. 45, n. 4, p. 368-375, 2009. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19766941>. Acesso: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/19766...
nos Estados Unidos, os de Vieno, Gini, e Santinello (2011)VIENO, Alessio; GINI, Gianluca; SANTINELLO, Massimo. Different forms of bullying and their association to smoking and drinking behavior in Italian adolescents. Journal of School Health, v. 81, n. 7, p. 393-399, 2011. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21668879>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21668...
na Itália, e os de Chang et al. (2013)CHANG, Fong-Ching et al. Relationships among cyberbullying, school bullying, and mental health in Taiwanese adolescents. Journal of School Health, v. 83, n. 6, p. 454-462, Jun 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23586891>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23586...
em Taiwan. Em contrapartida, nesses mesmos estudos, o cyber bullying foi bastante significativo, estando presente entre 13% a 19% dos participantes envolvidos neste tipo de comportamento, e sendo mais prevalente inclusive do que a vitimização étnica, o que não corresponde com a realidade dos participantes do atual estudo, no qual apenas 1,5% dos meninos e 1,0% das meninas relataram sofrer bullying pelos meios virtuais. Isso pode se dar principalmente pelas condições sociais destas crianças e adolescentes de alta vulnerabilidade, as quais têm pouco ou nenhum acesso a esses meios.

Os diversos tipos de bullying podem ocorrer dentro de todo o ambiente escolar e suas imediações, principalmente nos espaços e tempos livres dos alunos (LOURENÇO; PEREIRA, 2009LOURENÇO, Lélio Moura; PEREIRA, Beatriz Oliveira. A gestão educacional e o bullying: um estudo em escolas portuguesas. Interacções, n. 13, p. 208-228, 2009.). Neste estudo, verificou-se que as vitimizações ocorrem principalmente nas salas de aulas, nos recreios, nas aulas de Educação Física ou espaços destinados para tal e na saída da escola. Esses achados confirmam os dados de Salmivalli, Voeten e Poskiparta (2011)SALMIVALLI, Christina; VOETEN, Marinus; POSKIPARTA, Elisa. Bystanders matter: associations between reinforcing, defending, and the frequency of bullying behavior in classrooms. Journal of Clinical Child & Adolescent Psychology, v. 40, n. 5, p. 668-676, 2011. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21916686>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/21916...
, que também apontam a sala de aula como o principal local de ocorrência de bullying, talvez pelo tempo em que os alunos permanecem neste ambiente. Diversos estudos também vêm indicando um elevado número de agressões ocorridas nos espaços e nas aulas de Educação Física (FAITH ET AL., 2002FAITH, Myles et al. Weight criticism during physical activity, coping skills, and reported physical activity in children. Pediatrics, v. 110, n. 2, pt 1, p. E23, Aug. 2002. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/12165622>. Acesso em: 2014.
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; VAILLANCOURT ET AL., 2010VAILLANCOURT, Tracy et al. Places to avoid: population-based study of student reports of unsafe and high bullying areas at school. Canadian Journal of School Psychology, v. 25, n. 1, p. 40-54, 2010.; MELIM; PEREIRA, 2013MELIM, Fernando Marcelo Ornelas; PEREIRA, Beatriz Oliveira. Prática desportiva, um meio de prevenção do bullying na escola? Movimento, v. 19, n. 2, p. 55-77, 2013.; PUHL; KING, 2013PUHL, Rebecca; KING, Kelly. Weight discrimination and bullying. Best Practice and Research Clinical Endocrinology & Metabolism, v. 27, n. 2, p. 117-127, Apr. 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23731874>. Acesso em: 2014.
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). Isso reforça a importância do envolvimento dos professores de Educação Física, juntamente com todos os participantes do ambiente escolar, no combate ao bullying, pois a vitimização está fortemente relacionada com a falta de exercícios físicos e um estilo de vida sedentário na idade adulta (GRAY ET AL., 2008GRAY, Wendy et al. The impact of peer victimization, parent distress and child depression on barrier formation and physical activity in overweight youth. Journal of Developmental & Behavioral Pediatrics, v. 29, n. 1, p. 26-33, 2008. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18300722>. Acesso em: 2014.
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; PETERSON; PUHL; LUEDICKE, 2012PETERSON, Jamie Lee; PUHL, Rebecca M.; LUEDICKE, Joerg. An experimental assessment of physical educators’ expectations and attitudes: the importance of student weight and gender. Journal of School Health, v. 82, n. 9, p. 432-440, Sep. 2012. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22882107>. Acesso em: 2014.
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; STANKOV; OLDS; CARGO, 2012STANKOV, Ivana; OLDS, Timothy; CARGO, Margaret. Overweight and obese adolescents: what turns them off physical activity? International Journal of Behavioral Nutrition and Physical Activity, v. 9, p. 53, 2012. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/22554016>. Acesso em: 2014.
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; ROMAN; TAYLOR, 2013ROMAN, Caterina; TAYLOR, Caitlin. A multilevel assessment of school climate, bullying victimization, and physical activity. Journal of School Health, v. 83, n. 6, p. 400-407, June 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23586884>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23586...
). Assim, as comunidades escolares devem se preocupar em desenvolver ambientes físicos e sociais seguros e implementar propostas que ajudem os alunos a aprender sobre e adotar escolhas saudáveis (LEVASSEUR; KELVIN; GROSSKOPF, 2013LEVASSEUR, Michael; KELVIN, Elizabeth; GROSSKOPF, Nicholas. Intersecting identities and the association between bullying and suicide attempt among new york city youths: results from the 2009 new york city youth risk behavior survey. American Journal of Public Health, v. 103, n. 6, p. 1082-1089, 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23597376>. Acesso em: 2014.
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; ROMAN; TAYLOR, 2013ROMAN, Caterina; TAYLOR, Caitlin. A multilevel assessment of school climate, bullying victimization, and physical activity. Journal of School Health, v. 83, n. 6, p. 400-407, June 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23586884>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23586...
).

No presente estudo, segundo relatos dos alunos vitimizados, os alunos agressores eram da mesma sala e mais velhos que a vítima. Esses achados foram semelhantes aos de Raimundo e Seixas (2009)RAIMUNDO, Raquela; SEIXAS, Sónia. Comportamentos de bullying no 1º ciclo: estudo de caso numa escola de Lisboa. Interacções, n. 13, p. 164-86, 2009., que salientam a manutenção da desigualdade de poder, característica do bullying, pelo status social no seio da turma e fatores físicos relacionados à maior idade, como tamanho e força física. Apesar de Carvalhosa, Lima e Matos (2001)CARVALHOSA, Susana; LIMA, Luísa; MATOS, Margarida Gaspar. Bullying – a provocação/vitimação entre pares no contexto escolar português. Análise Psicológica, v. 4, n. 19, p. 523-37, 2001. encontraram que os agressores, além de serem alunos mais velhos, também eram de anos escolares superiores, os dados reforçam a ideia de abuso de poder, impossibilitando a defesa da vítima (SALMIVALLI, 1997). Vale ressaltar que o fato, encontrado na presente pesquisa, de que alunos mais velhos frequentaram a mesma turma de alunos mais novos é bastante comum em escolas de perfil de alta vulnerabilidade social, nas quais os alunos apresentam um elevado índice de distorção idade/série, em função das inúmeras reprovações.

Os alunos também indicaram que as pessoas mais próximas a quem eles contam sobre as agressões sofridas são os pais ou responsáveis, mas as meninas os procuram em maior número que os meninos. Isso destaca novamente o maior suporte social dado às meninas e o sentimento de insegurança dos meninos em contar que foram vitimizados, o que colocaria em risco sua masculinidade estereotipada, muitas vezes reforçada pelos pais (BRANNON, 1999BRANNON, Linda. Gender: psychological perspectives. Boston: Allyn and Bacon, 1999.). Destaca-se ainda que, no atual estudo, muitos alunos vitimizados não contaram a ninguém sobre as agressões sofridas, bem como não tiveram ninguém que os defendesse, e salienta-se o quão carentes de apoio são essas crianças e adolescentes de alta vulnerabilidade social (KUBWALO et al., 2013KUBWALO, Hudson et al. Prevalence and correlates of being bullied among in-school adolescents in Malawi: results from the 2009 Global School-Based Health Survey. Malawi Med J., v. 25, n. 1, p. 12-14, Mar 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23717749>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23717...
). Entretanto, no que tange a defender outros colegas de agressões, verificou-se que os dados desta pesquisa condizem com a literatura (RIGBY; SLEE, 1991RIGBY, Ken; SLEE, Phillip. Bullying among Australian school children: reported behavior and attitudes toward victims. Journal of Social Psychology, v. 131, n. 5, p. 615-627, 1991. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/1798296>. Acesso em: 2014.
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; SALMIVALLI et al., 1996SALMIVALLI, Christina et al. Bullying as a group process: participant roles and their relations to socialstatus within the group. Aggressive Behavior, v. 22, p. 1-15, 1996.), apontando as meninas como mais defensoras das vítimas do que os meninos, que se apresentam muitas vezes como espectadores que incentivam a violência por parte dos agressores.

Nas questões relacionadas a ser um agressor e a se juntar ao grupo para cometer bullying, não houve diferenças entre as frequências esperadas e observadas com relação ao sexo. Contudo, os meninos tiveram uma maior porcentagem em relação às meninas, como também encontrado em outros estudos (WOLKE et al., 2001WOLKE, Dieter et al. Bullying and victimization of primary school children in England and Germany: prevalence and school factors. British Journal of Psychology, v. 92, n. 4, p. 673-696, 2001. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11762868>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/11762...
; SEALS; YOUNG, 2003SEALS, Dorothy; YOUNG, Jerry. Bullying and victimization: prevalence and relationship to gender, grade level, ethnicity, self-esteem, and depression. Adolescence, v. 38, n. 152, p. 735-747, 2003. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15053498>. Acesso em: 2014.
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; OBRDALJ et al., 2013OBRDALJ, Edita Cerni et al. Trauma symptoms in pupils involved in school bullying: a cross sectional study conducted in Mostar, Bosnia and Herzegovina. Collegium Antropologicum, v. 37, n. 1, p. 11-16, Mar 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23697244>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23697...
). Em contrapartida, apesar dessa necessidade dos homens de demonstrar maior agressividade, que pode ser explicada pela evolução humana, Cairns et al. (1989)CAIRNS, Robert et al. Growth and aggression: I childhood to early adolescence. Developmental Psychology, v. 25, p. 320-30, 1989. indicam que em média as meninas podem apresentar um comportamento menos agressivo que os meninos. Entretanto, quando muito agressivas, as crianças tendem a ser semelhantes entre si independente do sexo. Esse fato vai ao encontro do estudo de Brannon (1999)BRANNON, Linda. Gender: psychological perspectives. Boston: Allyn and Bacon, 1999., no qual a autora evidencia que, mesmo em contextos extremamente violentos, ambos os sexos fazem uso da violência para alcançar seus objetivos, mas, de modo geral, os objetivos de homens e mulheres são distintos entre si.

Com relação à participação dos professores e funcionários no bullying escolar, verificou-se que os alunos relataram desrespeitar mais vezes os professores, sendo estes também os que mais intervieram em situações de violência quando comparados aos funcionários, dados que vão de encontro aos de Lourenço e Pereira (2009)LOURENÇO, Lélio Moura; PEREIRA, Beatriz Oliveira. A gestão educacional e o bullying: um estudo em escolas portuguesas. Interacções, n. 13, p. 208-228, 2009., em que os funcionários foram mais interventores. No entanto, informações bastante preocupantes foram encontradas nesta pesquisa, na qual boa parte dos alunos relataram que professores (47,0%) e funcionários (63,0%) nunca ou quase nunca fazem nada para impedir que um aluno agrida o outro, favorecendo dessa forma a ocorrência de bullying, que se dá não apenas pela inexistência de intervenção ou supervisão (ainda que mínima) de pessoas adultas responsáveis pela organização e estruturação dos educandos, mas também pelas fracas relações entre alunos e professores (WALKER; GRESHAM, 1997WALKER, Hill; GRESHAM, Frank. Making schools safer and violence free. Intervention in School and Clinic, v. 32, n. 4, p. 199-204, 1997.; LOPES NETO; SAAVEDRA, 2003LOPES NETO, Aramis; SAAVEDRA, Lúcia Helena. Diga não ao bullying: Programa de Redução do Comportamento Agressivo entre Estudantes. Rio de Janeiro: ABRAPIA, 2003.; JALÓN; ARIAS, 2013JALÓN, María José Díaz-Aguado; ARIAS, Rosario Martínez. Peer bullying and disruption-coercion escalations in student-teacher relationship. Psicothema, v. 25, n. 2, p. 206-213, 2013. Disponível em: < http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23628535 >. Acesso em: 2014.
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; NYGREN et al., 2013NYGREN, Karina et al. Adolescent self-reported health in relation to school factors: a multilevel analysis. The Journal of School Nursing, May 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23674554>. Acesso em: 2014.
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; ROCHA; COSTA; PASSOS NETO, 2013ROCHA, Moana Oliveira; COSTA, Carmen Lucia; PASSOS NETO, Irazano. Bullying e o papel da sociedade. Cadernos de Graduação - Ciências Humanas e Sociais, v. 1, n. 16, p. 191-199, 2013.). Esse fato destaca a importância da presença mais forte do professor e de todos os envolvidos no ambiente escolar, não somente na sala de aula, para que assim seja possível garantir maior segurança aos alunos (OLWEUS, 1993OLWEUS, Dan.Bullying at school: what we know and what we can do.Oxford: Blackwell, 1993.; PEREIRA, 2008PEREIRA, Beatriz Oliveira. Para uma escola sem violência: estudo e prevenção das práticas agressivas entre crianças. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian; Fundação para a Ciência e Tecnologia, 2008.; LOURENÇO; PEREIRA, 2009LOURENÇO, Lélio Moura; PEREIRA, Beatriz Oliveira. A gestão educacional e o bullying: um estudo em escolas portuguesas. Interacções, n. 13, p. 208-228, 2009.).

Já em relação aos recreios, observou-se que as meninas relataram mais vezes ficarem sozinhas ou não terem amigos para brincar, quando comparadas aos meninos. Esse fato pode estar relacionado ao maior percentual de meninas que se declararam vítimas de bullying, tendo em vista que estudos indicam a solidão e a falta de amigos íntimos como fatores de risco para ser intimidado na escola (LISBOA, 2005LISBOA, Carolina Saraiva. Comportamento agressivo, vitimização e relações de amizade de crianças em idade escolar: fatores de risco e proteção. 2005. Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.; KUBWALO et al., 2013KUBWALO, Hudson et al. Prevalence and correlates of being bullied among in-school adolescents in Malawi: results from the 2009 Global School-Based Health Survey. Malawi Med J., v. 25, n. 1, p. 12-14, Mar 2013. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23717749>. Acesso em: 2014.
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23717...
). Esses fatores somados a um amplo ambiente escolar, pouca supervisão e intervenção de professores e funcionários, e poucas opções de materiais e jogos, podem ter se refletido no grande percentual de alunos que só sabem brincar de lutas e empurrões durante o recreio. Essas práticas muitas vezes são utilizadas pelos alunos mais aptos e vigorosos como forma de demonstrar maior status, excluindo, por conseguinte, aqueles alunos que não se sobressaem relativamente às suas habilidades para os chamados jogos dominantes (HIGGINS, 1994HIGGINS, Catherine. How to improve the school ground enviroment as an antibullying strategy. In: SHARP, Sonia; SMITH, Peter (Ed.). Tackling bullying in your school. London: Routledge, 1994. p. 133-73.). Isso também explicaria as diferenças entre os papéis de participação no bullying, em que as vítimas relataram ser mais perseguidas e solitárias no recreio, enquanto os agressores foram os que menos se sentiram sozinhos. Esses dados reforçam a ideia de Pinto e Branco (2011)PINTO, Raquel Gomes; BRANCO, Angela Maria Cristina Uchoa de Abreu. O bullying na perspectiva sociocultural construtivista. Revista Teoria e Prática da Educação, v. 14, n. 3, p. 87-95, 2011. de que o estigma das crianças vítimas de bullying mobiliza ações hostis, pois suas características são socialmente marcadas como negativas ou inferiores e, por isso, elas mereceriam ser alvo de crueldades.

Considerações finais

O bullying é um fenômeno de extrema complexidade e que precisa ser investigado de maneira profunda, para que seja possível compreender suas diversas facetas. Os papéis de participação, os tipos de agressões mais prevalentes e os locais mais utilizados para a prática dessas atitudes violentas são informações indispensáveis quando se tenta buscar alternativas de redução para tais comportamentos. Por isso, este estudo teve o objetivo de descrever como ocorre o bullying em escolas de alta vulnerabilidade social da Grande Florianópolis e os papéis assumidos pelos alunos nesse fenômeno.

Percebeu-se neste estudo que meninos e meninas não se diferenciaram estatisticamente em relação aos papéis de participação no bullying. Embora estudos recentes já venham apontando dados semelhantes, a maior parte da literatura contradiz esse achado. Essa informação acaba por sugestionar que são necessárias pesquisas mais avançadas que comparem grupos com e sem situações de risco, para verificar se essa condição social pode ter influenciado nessas diferenças entre os sexos, ou então se, de fato, essa mudança de comportamento observada nos últimos anos é uma tendência para a igualdade entre os sexos, inclusive nos papéis de participação no bullying.

Além disso, neste estudo, ressaltou-se a fragilidade de crianças e adolescentes vitimizados, que, além de viverem em condições de risco, não encontram suporte social necessário na escola nem por parte dos pares, nem por parte dos professores e funcionários da mesma. Os resultados indicaram que muitos professores e funcionários ainda são omissos perante esse comportamento violento na escola. Assim, a junção de ambientes espaçosos, mas com pouca supervisão, e crianças ociosas torna essas escolas locais auspiciosos para a prática de bullying.

Embora o presente estudo tenha como objetivo apenas descrever o fenômeno em crianças e adolescentes de alta vulnerabilidade social, este apresenta limitações. Como exemplos, tem-se a análise dos dados feita com base em uma única perspectiva, que é a do próprio aluno, por meio do autorrelato e a falta de grupos de outras realidades sociais para possíveis comparações dos resultados.

Contudo, as informações obtidas são de grande importância para o meio acadêmico, tendo em vista que, mesmo sendo um tema bastante abordado, o fenômeno bullying ainda precisa ser melhor conhecido, principalmente em diferentes comunidades. Só assim poder-se-á elaborar programas de intervenção mais eficazes, de acordo com as necessidades de cada grupo social. Além disso, os resultados deste estudo sugerem que só com a participação de todos os agentes educativos é que se torna possível combater o bullying nas escolas. Sendo assim, o fortalecimento das relações entre a escola e os alunos, e um maior preparo dos professores e funcionários para combater todos os tipos de agressão são extremamente necessários para tentar minimizar os efeitos dos fatores de risco aos quais essas crianças estão expostas e, consequentemente, a violência na escola.

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  • 1
    - Este estudo é consequência de um projeto maior, no qual diversos instrumentos foram utilizados. Assim, a escolha por esse nível de ensino deu-se em função das idades ou séries/anos escolares propostas pelos instrumentos. Além disso, a presença dos termos séries e anos para a determinação do nível escolar é consequência do processo de transição pelo qual as escolas brasileiras ainda estão passando. Sendo assim, ambas as escolas ainda possuíam turmas em currículos diferentes.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2016

Histórico

  • Recebido
    26 Jul 2014
  • Aceito
    09 Dez 2014
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