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Práticas educativas e de divertimento junto à natureza: a cultura física em Curitiba (1886-1914)

Educational practices and amusements amid nature: physical culture in Curitiba (1886-1914)

Resumo

O presente artigo tem como tema central as práticas educativas junto à natureza e a emergência de uma cultura física em Curitiba entre os anos de 1886 e 1914. Essa cidade nasceu sob a égide de preceitos urbanísticos assentados em ideários médicos e sanitários, em noções, conceitos e normas em que novas relações com a natureza se estabeleceram e onde jardins e parques, praças e ruas arborizadas compuseram seus contornos. Como objetivo, o artigo busca compreender as diferentes manifestações da cultura física junto à natureza que se configuraram em Curitiba como constitutivas de novas práticas educativas presentes na cidade. Em termos metodológicos, realizamos uma pesquisa documental que teve como fonte principal o jornal O Diário da Tarde e como fontes complementares os jornais A República, A Tribuna e Dezenove de Dezembro. A presença de um discurso que valorizava a cultura física junto à natureza entre os habitantes de Curitiba, assim como o ocorrido em outras cidades brasileiras, fez parte do processo de urbanização da capital paranaense, dentro dos parâmetros fornecidos pela nova ordem republicana que se instalava no país no final do século XIX e início do XX. Entre todos os aprimoramentos urbanos que chegaram a Curitiba, ocorreu também a elaboração de um discurso que, influenciado por uma noção de cultura física, possibilitou o surgimento de ações junto aos parques e praças, bem como a criação de diversas associações esportivas.

Natureza; Práticas educativas; Divertimentos; Cultura física

Abstract

Educational practices amid nature and the emergence of a physical culture in Curitiba, between 1886 and 1914, are the main topic of this paper. The city of Curitiba was born under the auspices of urban planning precepts anchored on medical and sanitary ideations; on notions, concepts, and norms that established new relations with nature, and in which gardens, parks, and wooded streets composed its boundaries. This paper aims at comprehending the different manifestations of physical culture towards and alongside nature that were set up in Curitiba as constitutive of new educational practices in the city. Regarding the methodology, we have carried out a documental research using the newspaper O Diário da Tarde as main source, supplemented by the newspapers A República , A Tribuna , and Dezenove de Dezembro . Likewise other Brazilian cities, a discourse that valued physical culture alongside nature was present in Curitiba and was part of its urbanization process accordingly to the parameters provided by a new republican order that was settling in the country in the late 19th century and the early 20th century. Among all the urban improvements that reached Curitiba, a new discourse was also produced, under the influence of the notion of physical culture, which allowed the emergence of actions in parks and squares, as well as the creation of numerous sporting associations

Nature; Educational practices; Amusements; Physical culture

Introdução

E quem vê hoje a capital: rendilhada de edifícios luxuosos, cortada de longos arruamentos, destacando-se nos arredores encantadoras vivendas; quem olhe-a e observe-a: ruas já calçadas onde se cruzam carros, bonds e peões, as fabricas florescentes, os logradouros publicos de um aspecto artístico e risonho; quem veja-a à noite: iluminada a luz electrica, e pense que no perímetro urbano se abriga uma população de cerca de 30.000 almas, compreendera esse progresso desde que sobre isso tudo se lembre de que a cidade de hoje era ainda em 1812, a vila branca e pequenina perdida no meio dos verdes campos [...]. (DIÁRIO DA TARDE, 08 abr. 1899, p. 1).

Curitiba, cidade de muitas histórias. Indígenas, sertanistas, aventureiros, religiosos, bandeirantes, tropeiros, industriais da erva-mate, portugueses, espanhóis, imigrantes alemães, italianos, poloneses, ucranianos, entre outros foram os diversos personagens que compuseram as muitas histórias de constituição dessa cidade brasileira. De uma vila acanhada e sombria, situada entre a Serra do Mar e os Campos Gerais do Paraná, floresceu um núcleo urbano que, pouco a pouco, afirmou-se em consonância ao ideário europeu de civilidade e urbanidade, conforme demonstra o texto da epígrafe recortada para dar início à nossa narrativa.

No relato de viajantes europeus, como foi o caso de Saint-Hilaire, ainda no século XIX, Curitiba já era narrada como um lugar em que o ar era mais puro e leve, atestando, de certo modo, a excelência de seu clima de serra acima, considerado mais salubre. Diversas fontes corroboram essa afirmação e acentuam a excelência desse clima mais frio e distante do litoral ( GOÉS; VASCONCELOS, 1854GÓES E VASCONCELLOS, Zacarias de. Relatorio do Vice-Presidente da Provincia do Província na abertura da 2ª. Sessão da 10ª. Legislatura da Assemblea Legislativa Provincial em 17 de fevereiro de 1873. Curityba: Typographia Paranaense de Candido Martins Lopes, 1854. ; PARANÁ, 1899PARANÁ, Sebastião. Chorographia do Paraná. Curitiba: Econômica, 1889. ; SAINT-HILAIRE, 1978SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem a Curitiba e Santa Catarina. Belo Horizonte; Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1978. (Publicado orginalmente em 1936). ; AVÉ LALLEMANT, 1980AVÉ-LALLEMANT, Robert. 1858, viagem pelo Paraná. Curitiba: Fundação Cultural de Curitiba, 1995. ; ROCHA POMBO, 1980ROCHA POMBO, José Francisco da Rocha. O Paraná no centenário: 1500-1900. 2. ed. Rio de Janeiro: José Olympio; Curitiba: Secretária da Cultura e do Esporte do Estado do Paraná, 1980. ; MACEDO, 1995MACEDO, Francisco Ribeiro de Azevedo. Conquista pacífica de Guarapuava. Curitiba: Fundação Cultural, 1995. ; VÍTOR, 1996VITOR DOS SANTOS, Nestor. A terra do futuro: impressões do Paraná. Curitiba: Prefeitura Municipal de Curitiba, 1996. (Publicado originalmente em 1912). ).

Em meados do século XIX, um discurso de valorização da natureza e seus elementos ( BAHLS, 1998BAHLS, Aparecida Vaz da Silva. O verde na metrópole: a evolução das praças e jardins em Curitiba (1885-1916). 1998. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1998. ) já podia ser constatado no que concerne à Curitiba, cidade que se desenhava com outras tonalidades e formas, cuja moldura era buscada na natureza inventada pela vida urbana, ou seja, nos parques, jardins, hortos, passeio público e, mais tarde, praças de jogos ao livre e esportes. Ela nasceu sob a égide de preceitos urbanísticos assentados em ideários médicos e sanitários, em noções, conceitos e normas que já acolhiam a ideia cara ao contexto europeu desde fins do século XVIII, de novas relações com a natureza, onde jardins e parques, praças e ruas arborizadas compunham os contornos das aglomerações urbanas.

Curitiba parece expressar de modo bastante visível esse conjunto de ideias e valores, atravessados também pelo pensamento romântico, e que se explicitam em atitudes humanas completamente distintas em relação ao mundo natural, seja pelo interesse em relação à meteorologia, ao clima, à flora e à fauna, seja pela simples ideia de contemplação de uma paisagem, essa mesma, uma construção humana, ou, ainda, da ideia de uma vida ao ar livre como possibilidade de educação, cura e divertimento.

Thomas (1996)THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural: mudanças de atitudes em relação as plantas e aos animais, 1500-1800. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. afirma que entre os séculos XVI e XVIII se operou uma profunda transformação das sensibilidades, uma autêntica revolução das percepções em relação à natureza, principalmente dos habitantes dos núcleos mais urbanizados. Conforme analisou Williams (1990)WILLIAMS, RAYMOND. O campo e a cidade: na história e na literatura. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. , ao estudar o contexto inglês, quando valores urbanos tendem a se afirmar, constroem, paulatinamente, certo distanciamento daqueles próprios ao mundo rural, abrindo espaço para que novas atitudes humanas em relação à natureza e seus elementos possam existir, sobretudo, consubstanciando a ideia de serem benéficos para a vida em sociedade. Essas novas atitudes não ficaram restritas ao continente europeu, mas se fizeram presentes, também, no chamado Novo Mundo. Embora diversa das modificações ocorridas no contexto europeu, essa metamorfose na percepção brasileira, conforme aponta Holanda (2010HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do paraíso: os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2010. , p. 224), aconteceu principalmente pela superação de um imaginário segundo o qual ela simbolizaria forças divinas ou sobrenaturais.

Foi nessa época que a chamada interpretação moral da natureza, impregnada de mistérios, caiu em desuso. Uma natureza assustadora, fonte de medo e associada a uma estética da feiura começava a ser superada ao longo do século XVIII, sobretudo com o advento do pensamento romântico ( VILLARET, 2005VILLARET, Sylvain. Histoire du naturisme en France depuis le siècle des lumières. Paris: Vuibert, 2005. , 2016VILLARET, Sylvain. Naturismo e educação corporal (fim do século XIX e início do século XX): uma «natureza» em movimento. In: SOARES, Carmen Lúcia. Uma educação pela natureza: a vida ao ar livre, o corpo e a ordem urbana. Campinas: Autores Associados, 2016. p.69-89. ).

Mais do que simplesmente olhar para a natureza e nela identificar a presença e a manifestação do Espírito Santo e de um universo divino, conforme aponta Holanda (2010)HOLANDA, Sérgio Buarque de. Visão do paraíso: os motivos edênicos no descobrimento e colonização do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2010. , esse olhar ficou mais próximo do que indica Thomas (1996)THOMAS, Keith. O homem e o mundo natural: mudanças de atitudes em relação as plantas e aos animais, 1500-1800. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. , ou seja, de algo que se pode tocar, experimentar, usufruir, e que aporta inumeráveis possibilidades de cura e de divertimentos. Ciência e arte estão na base dessa nova atitude que vai permitir, então, novos usos e, sobretudo, novas maneiras de se comportar nos espaços de natureza transformados pela mão humana.

No Brasil, as primeiras ações no sentido de valorizar hortos, praças, parques e ruas arborizadas no interior das aglomerações urbanas foram desencadeadas desde o final do século XVIII. O Passeio Público do Rio de Janeiro, com as obras iniciadas em 1779, e o Horto de Belém, inaugurado em 1798, foram os pioneiros entre essas ações, sendo posteriormente seguidos pelas versões pernambucana, baiana, mineira, paulista e paranaense. Os Passeios Públicos expressaram de modo mais contundente um ideário de vida ao ar livre, atravessado pelo pensamento higienista que contribuiu, posteriormente, para a difusão de uma cultura física junto à natureza ( BAHLS, 1998BAHLS, Aparecida Vaz da Silva. O verde na metrópole: a evolução das praças e jardins em Curitiba (1885-1916). 1998. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1998. ; DIAS, 2010DIAS, Cleber Augusto Gonçalves. História do lazer na natureza no Rio de Janeiro entre 1779 e 1838: um estudo de caso. 2010. Tese (Doutorado) – Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2010. ).

Efetivamente, a cidade salubre, aquela desenhada pelo ideário médico e sanitário, será emoldurada pelo verde dos jardins e parques, por uma natureza totalmente dominada e redesenhada pela mão humana. Se a cidade concentra a fumaça da indústria e os barulhos dos carros, seriam os jardins públicos, as ruas arborizadas, as sociedades recreativas e esportivas os hiatos de harmonia em meio ao bulício urbano.

São nesses lugares que surgem novas maneiras de se relacionar com a natureza e seus elementos. Trata-se dos locais onde encontramos o que Kirk (1999KIRK, David. Physical culture, Physical education and relational analysis. Sport, Education and Society. London, v. 4, n. 1, p. 63-73, 1999. , 2010KIRK, David. Physical education futures. Routledge, New York. 2010. ) e Scharagrodsky (2014SCHARAGRODSKY, Pablo. Introducción. In: SCHARAGRODSKY, Pablo (Org.). Miradas médicas sobre la ‘cultura física’ en Argentina (1880-1970). Buenos Aires: Prometeo, 2014. p. 9-12. , 2017SCHARAGRODSKY, Pablo. Girls, women and physical activity in Argentina: past and present. The International Council of Sport Science and Physical Education (ICSSPE). Bulletin. Journal of Sport Science and Physical Education, Berlin. n. 72, p. 29-36, jun. 2017. ) analisam como uma cultura física, conceito através do qual se pode pensar uma complexa rede de significações (e de conceitos) marcadamente heterogênea, que permite a aproximação com temas e problemas que ultrapassam a dimensão biológica em torno da qual, seguidamente, são pensadas as ginásticas, os esportes, as distintas performances corporais — esportivas ou não — e, ainda, as singelas práticas recreativas junto à natureza.

Conforme analisou Kirk (1999KIRK, David. Physical culture, Physical education and relational analysis. Sport, Education and Society. London, v. 4, n. 1, p. 63-73, 1999. , 2010KIRK, David. Physical education futures. Routledge, New York. 2010. ), cultura física é um conceito que permite operar com discursos sobre o corpo centrados em torno de significados construídos a partir de três formas institucionalizadas e codificadas do exercício físico: o esporte, a recreação e as distintas ginásticas. Para Scharagrodsky (2014SCHARAGRODSKY, Pablo (Org.). Miradas médicas sobre la ‘cultura física’ en Argentina (1880-1970). Buenos Aires: Prometeo, 2014. , 2017SCHARAGRODSKY, Pablo. Girls, women and physical activity in Argentina: past and present. The International Council of Sport Science and Physical Education (ICSSPE). Bulletin. Journal of Sport Science and Physical Education, Berlin. n. 72, p. 29-36, jun. 2017. ) e Reggianie; Scharagrodsky (2016)REGGIANI, Andres; SCHARAGRODSKY, Pablo. Circulación, difusión y apropiación de saberes y prácticas corporales: el caso de la gimnasia ‘femenina’ de Ruth Schwarz de Morgenroth (1935-1945). In: SCHARAGRODSKY, Pablo (Org.). Mujeres en movimiento: deporte, cultura física y feminidades. Argentina, 1870-1980. Buenos Aires: Prometeo, 2016. p. 49-84. , o termo cultura física está intimamente implicado em sistemas de exercícios físicos consolidados ao longo do século XIX, sistemas, portanto, modernos, e que se traduzem pela busca de uma simetria corporal, de racionalização energética etc. As ginásticas, as danças, os jogos e os esportes foram, assim, mais que simples exercitações físicas; expressaram crenças, saberes e práticas individuais e sociais mais amplas, constituindo o que os autores citados denominam como uma cultura física, constatação que permite afirmar a indissociabilidade do que se compreende como experiência moderna.

De forma mais ampla, o termo cultura física permite operar com discursos e práticas centradas no corpo:

[…] su estudio, uso o despliegue con fines estéticos, recreativos, científicos, militares o económicos, tales como las artes escénicas y plásticas, la literatura, los deportes, las gimnasias y la recreación, la medicina y la sexología, la moda y la publicidad, el trabajo y la ergonomía, la arquitectura y la música […]. ( REGGIANI; SCHARAGRODSKY, 2016REGGIANI, Andres; SCHARAGRODSKY, Pablo. Circulación, difusión y apropiación de saberes y prácticas corporales: el caso de la gimnasia ‘femenina’ de Ruth Schwarz de Morgenroth (1935-1945). In: SCHARAGRODSKY, Pablo (Org.). Mujeres en movimiento: deporte, cultura física y feminidades. Argentina, 1870-1980. Buenos Aires: Prometeo, 2016. p. 49-84. , p. 49-84).

No presente artigo, esse conceito foi tomado para indagar a cultura física em determinado tempo e espaço — na Curitiba entre 1886 e 1914 —, pois ele permite-nos a compreensão de certas relações sociais, econômicas e políticas, sexuais, éticas e morais que se configuraram no passado e, de alguma maneira, como e porque seguem (ou não) no presente ( SCHARAGRODSKY, 2014SCHARAGRODSKY, Pablo. Introducción. In: SCHARAGRODSKY, Pablo (Org.). Miradas médicas sobre la ‘cultura física’ en Argentina (1880-1970). Buenos Aires: Prometeo, 2014. p. 9-12. , 2017SCHARAGRODSKY, Pablo. Girls, women and physical activity in Argentina: past and present. The International Council of Sport Science and Physical Education (ICSSPE). Bulletin. Journal of Sport Science and Physical Education, Berlin. n. 72, p. 29-36, jun. 2017. ). Como grade interpretativa, a cultura física permite-nos identificar um repertório de práticas e construções discursivas acerca do corpo, de grupos sociais, de indivíduos, de instituições. Esse conceito implica, portanto, a possibilidade de pensar acerca de saberes e práticas, de modos de subjetivação, de paradigmas de inteligibilidade sobre os corpos como um campo de disputas. Assim, sempre que o conceito for evocado ao longo de nosso artigo, nos remetemos à compreensão e aos autores brevemente aqui citados.

Desse modo, evocar uma cultura física na Curitiba do período por nós recortado permite afirmar que a experiência moderna daquela cidade também teve como elementos centrais o debate, as prescrições e os conselhos que giravam em torno de disputas sobre o corpo, a saúde e a educação, sobre os lugares em que essa educação se daria, como foi o caso do pensamento que engendrou uma determinada natureza como esse lugar privilegiado.

Trata-se de uma natureza transformada pela mão humana que, sem dúvida, contribuiu para a consolidação de uma cultura física como forte aliada na resolução de importantes questões sanitárias, uma vez que, além de proporcionar a pureza do ar, fabricava também lugares em que novas sensibilidades eram desenhadas. Assim sendo, novos comportamentos passaram a ser considerados adequados nos passeios públicos, jardins e parques urbanos, mas também nos clubes e associações recreativas e esportivas, indivíduos e grupos criaram novos espaços de sociabilidade em que divertimentos se misturavam com práticas educativas voltadas à saúde. Tornaram-se, portanto, locais para se ver e ser visto.

O presente artigo tem como objetivo compreender as diferentes manifestações da cultura física junto à natureza na cidade de Curitiba, entre 1886 e 1914, consideradas constitutivas de novas práticas educativas presentes na cidade. Em termos metodológicos, realizamos uma pesquisa documental que teve como fonte principal o jornal O Diário da Tarde e como fontes complementares os jornais A República, A Tribuna e Dezenove de Dezembro .

Moraes e Silva (2015)MORAES E SILVA, Marcelo. Comportamentos urbanos e esportes: contribuições para a esportivização do Turf e da Pelota Basca em Curitiba (1899-1905). Licere, Belo Horizonte, v. 18, n. 3, p. 86-115, 2015. e Moraes e Silva; Capraro (2015)MORAES E SILVA, Marcelo; CAPRARO, André Mendes. O tiro de guerra 19 Rio Branco: apontamentos acerca da institucionalização esportiva de Curitiba (1909-1910). Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 29, n. 2, p. 229-243, 2015. apontam que a imprensa curitibana das primeiras décadas do século XX desempenhou papel importante na cidade, uma vez que, em suas páginas, a população local tinha acesso aos acontecimentos de outros centros urbanos do país e do mundo; era esse meio de comunicação que divulgava novos modos de se comportar, criando, assim, uma série de imagens idealizadas da vida urbana.

A utilização da imprensa periódica como fonte para a pesquisa histórica é, conforme aponta Luca (2008)LUCA, Tania Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi. Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2008. p. 111-153. , um dos resultados da renovação historiográfica das últimas décadas do século XX. Ao propor uma ampliação dos problemas e temáticas historiográficas, essa revolução originou, também, uma ampliação de abordagens e, consequentemente, de potenciais fontes. Nesse sentido, a possibilidade de se estudar a emergência de uma cultura física junto à natureza em Curitiba, bem como de fazê-lo a partir da análise de jornais que circulavam na cidade neste período são frutos desse processo de renovação iniciado pela Escola dos Annales e que vem se intensificando nas últimas décadas.

Zicman (1985)ZICMAN, Renée Barata. História através da imprensa: algumas considerações metodológicas. Projeto História, São Paulo, v. 4, p. 89-102, 1985. afirma que a utilização da imprensa como fonte tem como vantagens o fato de os jornais serem arquivos do cotidiano, pois criam um registro diário que nos permite acompanhar a cronologia dos fatos estudados, e de inserirem esses fatos em um contexto mais amplo, possibilitando ao pesquisador compreendê-los em diálogo com outros acontecimentos do mesmo período. Entretanto, como outras fontes, os periódicos são apenas fragmentos do período estudado que devem ser trabalhados com cautela.

Segundo Martins (2003)MARTINS, Ana Luiza. Da fantasia à história: folheando páginas revisteiras. História, Franca, v. 22, n. 1, p. 59-79, 2003. , com seu conjunto de imagens, publicidades, textos e notas, os periódicos geram um fascínio que pode levar ao “risco da leitura amena e ligeira, decorrente do mero folhear dessas publicações de época que acabam por envolver o leitor/historiador no tempo pretérito que busca reconstruir” ( MARTINS, 2003MARTINS, Ana Luiza. Da fantasia à história: folheando páginas revisteiras. História, Franca, v. 22, n. 1, p. 59-79, 2003. , p. 60). Nesse sentido, assim como reconhecemos a riqueza dos periódicos para os estudos históricos, reconhecemos, também, a necessidade de se olhar para eles com a mesma cautela e desconfiança exigidas por outras fontes escritas.

Os jornais não são um puro reflexo do passado, esperando para serem abertos e desvendados. Na verdade, eles apenas se tornam fontes a partir do momento em que os interrogamos, em que folheamos suas páginas amareladas com uma pergunta orientadora, um objetivo determinado que, neste caso, é compreender como a cultura física emergiu como prática educativa e de divertimento nessa Curitiba que se pretendia cada vez mais urbana e moderna.

Como outras fontes, os periódicos devem ser historicizados, ou seja, deve-se buscar entender as condições e intenções de sua produção por determinados grupos em determinados períodos ( LUCA, 2008LUCA, Tania Regina de. História dos, nos e por meio dos periódicos. In: PINSKY, Carla Bassanezi. Fontes históricas. São Paulo: Contexto, 2008. p. 111-153. ). No recorte de tempo proposto por nossa pesquisa, a imprensa ampliava-se e, ao mesmo tempo também, mantinha como característica a busca por intervenção na vida pública. Desse modo, a expressão da opinião dos jornalistas a respeito dos temas ali tratados, elemento bastante visível em diferentes inserções encontradas sobre vida ao ar livre e exercícios físicos nos jornais curitibanos aqui analisados, surgia ali de maneira bastante evidente. Esses eram veículos de comunicação que expressavam claramente um ideário de civilidade, com a finalidade de estimular o poder público a desencadear ações que viabilizassem o progresso da cidade.

Para este artigo foram analisadas todas as edições do jornal Diário da Tarde publicadas entre maio de 1899 e fevereiro de 1914. Nesse conjunto de fontes, localizamos mais de 500 inserções relacionadas ao tema em colunas, anúncios publicitários, reportagens e ilustrações. Desse total, 26 foram objeto de nossa narrativa. Cabe destacar que os jornais aqui analisados raramente tinham suas seções assinadas; o formato seguia aquele das pequenas notas e/ou colunas que nunca ultrapassavam o espaço de uma página, sendo cada edição composta de, no máximo, três ou quatro laudas. A grande maioria das notícias veiculadas nos periódicos analisados era anônima ou assinada na forma de pseudônimos.

O jornal Diário da Tarde, fonte principal do presente artigo, tinha sua sede na rua XV de Novembro e seu primeiro número circulou em 18 de março de 1899. Seu fundador foi Estácio Correia e sua direção passou pelas mãos de vários intelectuais paranaenses, como Bernardo Veiga, Manoel Ferreira da Costa, Celestino Júnior, Arthur Obino e Jayme Ballão. Na galeria de seus redatores chefes figuraram personalidades do mundo das letras paranaenses, como Euclides Bandeira, Ermelino Leão e Leôncio Correia, além das contribuições de Dario Vellozo e Nestor Victor. ( BENVENUTTI, 2004BENVENUTTI, Alexandre Fabiano. As reclamações do povo na Belle Époque: a cidade em discussão na imprensa curitibana (1909-1916). 2004. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes Curitiba, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2004. ).

Conforme salienta Cunha Filho (1998)CUNHA FILHO, Valter Fernandes de. Cidade e sociedade: a gênese do urbanismo moderno em Curitiba (1889-1940). 1998. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Curitiba: Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1998. , o Diário da Tarde era um veículo de comunicação de forte tendência liberal e anticlerical, que buscava, com seu conteúdo, cobrar do poder público condutas coerentes com os postulados liberais, considerados fundamentais para viabilizar o progresso e a modernização da cidade. Esse mesmo jornal abriu espaço em suas páginas aos mais variados temas julgados de interesse da sociedade, razão pela qual era comum encontrar assuntos que iam da economia e da política aos mais banais e cotidianos, como os relacionados à cultura física na cidade. O colunismo social, por exemplo, era bastante valorizado e foi nesse espaço que encontramos, inicialmente, parte significativa dos extratos aqui analisados, relacionados a uma cultura física e, mais amplamente, a práticas educativas junto à natureza em Curitiba.

A cidade emoldurada pela natureza: novas sensibilidades, novos comportamentos

No ano de 1886, Curitiba inaugurou seu Passeio Público, primeiro espaço de uma natureza ajardinada que vai compor seu novo desenho urbano e que, conforme Bahls (1998)BAHLS, Aparecida Vaz da Silva. O verde na metrópole: a evolução das praças e jardins em Curitiba (1885-1916). 1998. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1998. , foi um dos primeiros locais de divertimento de seus habitantes. Moraes e Silva (2011)MORAES E SILVA, Marcelo. Novos modos de olhar outras maneiras de se comportar: a emergência do dispositivo esportivo da cidade de Curitiba (1899-1918). 2011. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2011. sublinham que, apesar de já existir na cidade um conjunto de outros espaços de sociabilidade e divertimento como teatros, clubes sociais e inúmeras associações formadas por imigrantes, foi o Passeio Público que permitiu relacionar divertimento e utilidade em uma área central, ajardinada e pública.

O memorialista Nestor Vítor, ao caracterizar, em 1912, a velha Curitiba, fornece indícios acerca de como era a situação de suas áreas centrais no final do século XIX:

Uma conseqüência desses grandes pântanos era a enorme quantidade de sapos [...], não só nas lagoas e nos matagais, como à noite, até em ruas localizadas ainda bem no centro da cidade, quando não fosse dentro das próprias casas. O coaxar penetrante e plangente daquela vasta população batráquia, desde o escurecer, a péssima iluminação pública, ainda à gás-globo, os perigosos valados, em tempos de chuva, de muitos trechos da cidade, quase toda ela ainda por calçar, o mugido das vacas, às vezes em estábulos próximos, quando não andassem soltas de mistura com numerosa cavalhada, tudo isso dava a Curitiba ainda a feição flagrante de aldeia ( VÍTOR, 1996VITOR DOS SANTOS, Nestor. A terra do futuro: impressões do Paraná. Curitiba: Prefeitura Municipal de Curitiba, 1996. (Publicado originalmente em 1912). , p. 74).

As condições assinaladas pelo memorialista eram exatamente as que necessitavam ser transformadas em uma cidade que já fora alçada ao estatuto de capital paranaense. Afinal, no coração da cidade, não caberia qualquer área insalubre, qualquer traço de miasmas. Nele, uma natureza dominada pela mão humana é que deveria grassar, sendo que a construção do Passeio Público simbolizava bem essa conquista. Eis o que apontava em sua coluna o Diário da Tarde:

Dia a dia vão melhorando as condições de limpeza e trato desse nosso bello logradouro público. Muitas mudas de árvores e de flores tem sido para alli ultimamente transplantadas e grandes números de bancos convenientemente pintados tem sido ali colllocados em todas as alamedas. ( DIÁRIO DA TARDE, 20 mar. 1901DIÁRIO DA TARDE, 20 mar. 1901, p. 2. , p. 2).

Outro aspecto que contribuiu para a valorização da natureza e de seus elementos na composição dos espaços urbanos foram projetos de educação corporal visando à preservação da saúde da população. Nesses primeiros anos do século XX, constata-se, em diferentes discursos, uma ênfase em hábitos higiênicos e distintas práticas educativas junto à natureza buscavam materializá-los. Seria oportuno recordar aqui o lugar bastante destacado que a higiene ocupou no Brasil nesse período, tendo sido evocada como arma para combater as desordens urbanas ( ROCHA, 2003ROCHA, Heloísa Helena Pimenta. A higienização dos costumes: educação escolar e saúde no projeto do Instituto de Hygiene de São Paulo. Campinas: Mercado de Letras: Fapesp, 2003. ; DALBEN, 2009DALBEN, André. Educação do corpo e a vida ao ar livre: natureza e educação física em São Paulo (1930-1945). 2009. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009. ).

Ordenar as cidades implicava, entre outras ações, criar e ampliar espaços ajardinados, ruas arborizadas, parques e praças. Implicava, também, apoiar projetos educacionais e médicos voltados à cura de inúmeras doenças do mundo urbano, sobretudo as respiratórias, como a tuberculose, a partir da exaltação da vida ao ar livre. Políticas e lugares específicos foram criados para essa finalidade: colônias de férias escolares, preventórios e sanatórios ( DALBEN, 2009DALBEN, André. Educação do corpo e a vida ao ar livre: natureza e educação física em São Paulo (1930-1945). 2009. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2009. ; 2016DALBÉN, André. Práticas educativas em uma natureza-jardim: a educação extraescolar da cidade de São Paulo, seus parques infantis e colônias de férias (1930-1950). In: SOARES, Carmen Lúcia. Uma educação pela natureza: a vida ao ar livre, o corpo e a ordem urbana. Campinas: Autores Associados, 2016. p. 91-112. ).

A tuberculose, doença que alcançava diferentes classes sociais, vinha sendo combatida por meios naturais, sobretudo, em uma relação direta dos indivíduos doentes junto à natureza, em localidades de altitude e de ar mais rarefeito. No Diário da Tarde podemos ler pequena nota de algumas linhas presente numa edição de agosto de 1900, acerca da importância da natureza e seus elementos na cura e regeneração dos indivíduos acometidos pelos males urbanos:

[…] a medicina moderna, de accordo com o bom senso, chegou a conclusão de que a melhor medicação para o tuberculoso é a hygiene; […] o tratamento hygienico, pelos meios naturaes; o clima apropriado, a super-alimentação, o repouso, o ar livre [...] ( DIÁRIO DA TARDE, 03 ago. 1900DIÁRIO DA TARDE, 03 ago. 1900, p. 2. , p. 2).

O Passeio Público de Curitiba foi expressão de uma importante conquista urbanística que, entre outras funções, também contribuiu para minimizar e auxiliar na eliminação dos males urbanos, como a tuberculose. A criação desse primeiro grande parque público na capital foi o resultado da aliança entre engenharia, arquitetura e medicina, sobretudo aquela de corte sanitarista, com a finalidade de transformar uma área central considerada inóspita, portadora de miasmas e facilitadora da disseminação de inúmeras doenças, em um lugar aprazível e pleno de possibilidades educativas voltadas à saúde do indivíduo urbano.

A beleza do local, atrelada às novas formas de divertimento, compunha o cenário ideal de expressão de novas sensibilidades urbanas que se consolidavam. O hábito de ir ao Passeio Público, inclusive para simplesmente contemplar a natureza, tornava-se corriqueiro entre os curitibanos e diversas solenidades cívicas, religiosas e sociais passaram a ser ali realizadas com apresentações de bandas de música, constituindo uma das primeiras formas de entretenimento nesse lugar, conforme a pequena nota que segue:

Hontem à tarde tocou neste logradouro publico a banda de musica do Regimento de Segurança. Entre outras peças foram executadas a Symphoniae um trecho escolhido entre os melhores da opera Guarany. [...] ( DIÁRIO DA TARDE, 22 maio 1899DIÁRIO DA TARDE, 22 maio 1899, p. 1-2. , p. 1).

O Passeio certamente esteve na base de construções bastante idealizadas da cidade por parte da imprensa, que o desenhou de inúmeras maneiras como lugar de encontro entre indivíduos e grupos portadores de códigos de civilidade próprios à vida urbana, em que podemos observar desde o cuidado com a vestimenta até os modos como se ouve uma música. A seguinte coluna, encontrada no Diário da Tarde, enfatiza esses pontos:

Davam uma nota suggestiva às alamedas do passeio grupos de damas e de cavalleiros. Muitas senhoras e senhoritas com elegantes chapeos, belíssimas toilets de inverno. A musica do regimento de segurança fez-se ouvir das 4 às 6 horas da tarde. [...] A temperatura leve e agradavel da tarde contribuiu para attrahir grande concurrencia ao pittoresco logradouro. Felizmente o passeio publico está se tornando aos domingos ponto obrigado da sociedade elegante de nossa terra. ( DIÁRIO DA TARDE, 13 maio 1901DIÁRIO DA TARDE, 13 maio de 1901, p. 1. , p. 1).

A imprensa, contudo, também reservava espaço para instantâneos não tão laudatórios acerca do que ocorria neste local e surgiam, em suas páginas, exigências de aperfeiçoamento das condições estruturais, não apenas do Passeio Público, mas de outros parques e jardins da cidade; os cronistas criticavam, com frequência, o abandono e o desleixo desses espaços. Sob o pseudônimo de QBosina, lemos uma coluna nas páginas do Diário da Tarde que sublinha ser:

[...] uma lastima o estado em que se encontra o nosso passeio publico. Hontem levei áquelle logradouro um amigo meu que pela primeira vez visita esta cidade. [...] E ao deparar com aquelle triste estado de abandono, aquellas aguas sujas e estagnadas dos canaes, aquellas areas mal cuidadas, aquellas terras revolvidas, enfim aquelle desamparo digno de dó, não pode deixar de manifestar a decepção porque passará, tendo sua imaginação, em vista do que haviam narrado, creado um jardim modelo, especie de parque inglez, ricamente arborizado, circundado e cortado de canaes de claras aguas correntes, e onde as famílias encontrassem pelas manhas transparentes e pelas tardes amenas um lugar apropriado para recrearem a vista, com a bella paizagem, o olfacto com o perfume santificante das flores e das matas e o ouvido com os accordes doces de uma musica agradavel. Nada d’isso, porem, tudo sujo e abandonado. ( DIÁRIO DA TARDE, 17 jul. 1900DIÁRIO DA TARDE, 17 jul. 1900. p. 1. , p. 1).

As constantes notas sobre o Passeio Público presentes na imprensa curitibana contribuíram para realçar e idealizar algumas imagens em detrimento de outras. Expressão da ciência moderna, esse espaço arquitetônico bordado de natureza almejava educar seus frequentadores, torná-los mais polidos, ensinar-lhes códigos bastante específicos voltados ao corpo e aos comportamentos. Era preciso e necessário, pois, elaborar um rígido código de conduta.

Usos de uma natureza ajardinada

A natureza dominada pela mão humana que vai compor o desenho das cidades traz consigo novos modos de se comportar e, portanto, incide de maneira bastante acentuada nos corpos dos indivíduos urbanos. Não se trata de reproduzir o mundo rural com suas mazelas e dissabores, suas doenças e misérias, mas, bem ao contrário, de afastar-se desse mundo, de todos os gestos e comportamentos que dele fazem parte.

Essa natureza jardim que compõe as aglomerações urbanas no Brasil e, em nosso artigo, a cidade de Curitiba, atraía indivíduos de diferentes classes sociais e se tornava um local em que formas distintas de se portar e agir entravam em conflito. Nesse sentido, conforme sublinha Bahls (1998)BAHLS, Aparecida Vaz da Silva. O verde na metrópole: a evolução das praças e jardins em Curitiba (1885-1916). 1998. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1998. , em 1895 a Câmara Municipal de Curitiba, em seu Código de Posturas, criou certas normas que regulamentavam o comportamento nos logradouros públicos, proibindo bebedeiras, algazarras, lavagens de roupas, carros e cavalos.

Uma natureza jardim implantada no coração das cidades foi concebida para ser um espaço de celebração da vida urbana. Contudo, nos parques e praças, jardins e bosques urbanos também se revelava a face sombria das cidades, principalmente pela constante presença dos indivíduos considerados indesejados ( SEGAWA, 1996SEGAWA, Hugo. Ao amor do público: jardins no Brasil. São Paulo: Studio Nobel: Fapesp, 1996. ). Não seria por outra razão que medidas de ordenamento das cidades idealizavam determinados modelos de práticas educativas, efetuando uma rígida separação entre indivíduos que expressavam determinados códigos de civilidade e aqueles que não os possuíam. Em Curitiba não foi diferente, como atesta esta pequena e curiosa nota publicada no jornal Diário da Tarde, em 1900:

Homem n’agua

Hontem gozava, no Passeio Publico, as delicias da tardinha um indivíduo algum tanto embriagado. Embevecido na admiração das maravilhas que o bello Passeio apresenta a cada um de seus visitantes, foi caminhando, caminhando, até que resvalou n’uma rampa e cahiu no lago de cabeça para baixo. Com algum esforço conseguiu alcançar novamente a rampa e pôr-se a salvo, pingando como um pinto. Esse indivíduo, cujo nome não sabemos, ficou sentado n’um banco, onde talvez passasse a noite cosendo a embriagez. ( DIÁRIO DA TARDE, 25-26 mar. 1900DIÁRIO DA TARDE, 25-26 mar. 1900, p. 2. , p. 2).

Há, pois, um desejo incessante de fazer com que esses espaços públicos fossem frequentados por aqueles e aquelas que já incorporaram os novos códigos de civilidade e urbanidade em que a embriaguez não era aceita. Higienizar esses espaços públicos significava, também, mudar comportamentos e não apenas arrancar o mato e limpar os passeios. Bahls (1998)BAHLS, Aparecida Vaz da Silva. O verde na metrópole: a evolução das praças e jardins em Curitiba (1885-1916). 1998. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1998. lembra que, na passagem do século XIX para o XX, diversas obras foram executadas nos parques curitibanos, principalmente no Passeio Público. A autora cita como exemplo, ainda no ano de 1887, a construção de cercas, a iluminação por meio de lampiões a gás, a construção de um botequim e do coreto para as apresentações das bandas musicais.

A intenção de ofertar novos divertimentos intensificou-se nos anos posteriores, tanto que, em 1890, a prefeitura abriu concorrência para a construção de um chalé no passeio público. O estabelecimento deveria servir, além de bar, como um local para a instalação de uma série de jogos e outros passatempos. Ao oferecer novas formas de divertimentos, evidenciava-se certa exaltação das práticas relacionadas a uma cultura física que se revela, também, como forma de distinção de indivíduos e grupos em relação a comportamentos aceitos e esperados para os usos dessa natureza ajardinada.

A emergência da cultura física em meio a uma natureza jardim

A natureza e seus elementos como benéficos para vida dos habitantes das cidades, assim como a emergência de uma cultura física, compõem os cânones da vida urbana brasileira. Em nosso artigo, que trata desta temática na cidade de Curitiba, discutimos como uma cultura física pode emergir em suas praças e parques públicos. O extrato que segue auxilia em nossa análise:

Art. 4°. O Diretor do Passeio poderá estabelecer de forma que julgar mais conveniente diversões públicas, tais como regatas, jogos atléticos, corridas de byclicletas, de pombos-correios, etc., podendo para isso estabelecer a cobrança das entradas, devendo o resultado de tudo ser aplicado ao embelezamento do Passeio. (CURITYBA, 1896, apud BAHLS, 1998BAHLS, Aparecida Vaz da Silva. O verde na metrópole: a evolução das praças e jardins em Curitiba (1885-1916). 1998. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1998. , s.p.).

Os parques foram um importante lugar de desenvolvimento de práticas educativas em que se exalta uma cultura física que engaja a administração pública na promulgação de leis e formação de conselhos. Esse foi o caso da Câmara Municipal de Curitiba que, em 1897, recomendou que os alunos das escolas públicas da capital estivessem isentos, uma vez por semana, de pagar ingressos para usufruir dos divertimentos existentes no Passeio Público. Essa ação tinha como finalidade permitir aos escolares experiências na exercitação dos músculos em atividades diversas, esportivas ou não ( BAHLS, 1998BAHLS, Aparecida Vaz da Silva. O verde na metrópole: a evolução das praças e jardins em Curitiba (1885-1916). 1998. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1998. ). Em 1911, o então diretor da Escola de Aprendizes e Artífices do Paraná reivindicou um aplainamento no Passeio Público para que ali pudessem, conforme indica a nota, “[...] ser efetuados pequenos exercícios esportivos pelos alunos daqueles estabelecimentos e outros que desejarem aproveitar” ( A REPÚBLICA, 26 maio 1911A REPÚBLICA, 26 maio 1911, p. 2. , p. 2).

A presença da cultura física nos parques curitibanos tinha como objetivo central criar algumas imagens idealizadas. Bahls (1998)BAHLS, Aparecida Vaz da Silva. O verde na metrópole: a evolução das praças e jardins em Curitiba (1885-1916). 1998. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1998. lembra que o prefeito Luís Xavier, em 1906, indicou que era necessário transformar os parques, em especial o Passeio Público, em um grande jardim de utilidade. Para alcançar tal intento, imagens atléticas, corpos robustos e uma exaltação das práticas esportivas foram sobrepostas a outras, consideradas menos nobres, tal como a presença de um botequim no Passeio Público. Na opinião do prefeito, esse estabelecimento atraía indivíduos ociosos, viciados, portanto, estranhos ao desenho límpido que se desejava para fazer viver esse importante espaço da cidade.

O Diário da Tarde destacava as novas práticas educativas junto à natureza que, nas palavras do médico Alberto Seabra, encontradas em uma coluna, exaltavam uma cultura física:

[…] A força, o vigor physico não dão medida da saude. Já a este proposito, fizemos leves considerações […]. Levantar grandes pesos, dar saltos muito elevados, levar a palma em vertiginosa carreira, são qualidades facilmente adquiridas pelo exercício methodico. Não podemos no entanto, identificar o vigor physico com o vigor constitucional. Aquelles exercicios são salutares e beneficos desde que se fazem livremente, prazerteiramente. Este sentimento de prazer actua no organismo como um tonico de primeira ordem e por essa razão os passeios a pé, em agradavel companhia, continuaram a ser para as pessoas adultas um dos melhores preceitos de hygiene physica. […] Um exercicio mais agradavel, ainda que mais curto, teria sido de melhor proveito. […] ( DIÁRIO DA TARDE, 26 fev. 1907DIÁRIO DA TARDE, 26 fev. 1907, p. 1. , p. 1).

A moderação na prática de diferentes exercícios físicos, jogos e esportes, é uma ideia chave do período e o médico Seabra a expressou de maneira límpida. Essas práticas pouco a pouco deixaram de ser consideradas nocivas à saúde, uma vez que indivíduos com olheiras profundas, magros e fracos já não eram mais vistos com bons olhos. No horizonte das principais cidades brasileiras começavam a se destacar os tipos físicos vigorosos e, assim, os esportes e jogos ao ar livre se faziam presentes de maneira substantiva. Desse modo, as regatas realizadas no Passeio Público de Curitiba passaram a dar uma nova dinâmica a esse cenário, conforme se pode ler na pequena nota:

Tivemos, no ultimo domingo, uma diversão nova completamente para Coritiba, - as regatas. Assim elas se repetissem todos os domingos... não por ellas, mas pela aflluencia de pessoas que fazem ir ao Passeio. Alli, ao menos, passa-se alegramente o tempo... ( A TRIBUNA, 28 set. 1895A TRIBUNA, 28 set. 1895, p. 1-2. , p. 2).

As fontes consultadas apresentam indícios de que essa prática se fez presente no Passeio Público de Curitiba, ainda que de maneira um pouco improvisada, como mostra a nota publicada em 1899: “Amanha se o tanque do Passeio Público tiver agua suffciente haverá alli grandes regatas...” ( DIÁRIO DA TARDE, 29 abr. 1899DIÁRIO DA TARDE, 29 abr. 1899, p. 4. , p. 4). Mesmo com todas as limitações, as regatas atraíam a curiosidade da população. Esse interesse, contudo, agregava alguns problemas, principalmente pela aglomeração de indivíduos, conforme indica a nota publicada no periódico A Tribuna:

Tenho a dar um conselho ao povo d’esta capital. No Domingo ultimo, por ocasião das regatas houve extraordinária agglomeração de pessoas nas diversas pontes; será bom que isso não se torne a succeder, pois não há certeza de muita segurança nas dictas pontes e assim evitar-se ha qualquer desgraça (A TRIBUNA, 28 set. 1895, p. 1).

O esporte tornava-se um espetáculo central nas aglomerações urbanas exigindo novos comportamentos. Intimamente ligado aos processos de controle das pulsões e à constituição de novas civilidades e sensibilidades, o esporte exige de seus praticantes, bem como dos espectadores, a observação de novos códigos de comportamentos segundo os quais, conforme analisaram Elias e Dunning (1992ELIAS, Norbert; DUNNING, Eric. A busca da excitação no lazer. In: ELIAS, Norbert; DUNNING, Elias. A busca da excitação. Lisboa: Difel, 1992. p. 101-108. , p. 112), “os excessos das explosões fortes e apaixonadas [devem ser] amortecidos por restrições embutidas e conservadas pelo controlo social”. É nesse sentido que foram criadas, por exemplo, as já mencionadas normas do Código de Postura da Câmara Municipal de Curitiba, que buscavam impedir que os divertimentos em locais públicos se tornassem momentos de algazarra e desregramento social.

Nessa cidade, assim como ocorria com o Turfe e a Pelota Basca ( MORAES E SILVA, 2015MORAES E SILVA, Marcelo. Comportamentos urbanos e esportes: contribuições para a esportivização do Turf e da Pelota Basca em Curitiba (1899-1905). Licere, Belo Horizonte, v. 18, n. 3, p. 86-115, 2015. ), as regatas também exigiam de seus espectadores comportamentos adequados, sejam aqueles em relação à segurança — menos indivíduos sobre as pontes —, sejam aqueles em relação à expressão de sentimentos, em que se notam a modulação da voz e a ausência de algazarras. O espetáculo esportivo nas águas do Passeio Público ampliou significativamente as redes de sociabilidades naquele local e proporcionou outras formas de divertimentos, conforme aponta a seguinte nota do jornal A Republica:

Concorridíssimo esteve o Passeio Público no domingo. Desde a uma hora da tarde começou a afluir grande massa popular para ali, a fim de assistir as regatas e Kermesse promovidas em benefício da Sociedade Protetora dos Operários. A banda do regimento de Segurança tocou das duas às seis da tarde, hora em que o povo debandou ( A REPÚBLICA, 09 set. 1902A REPÚBLICA, 09 set. 1902, p. 2. , p. 2.).

Nos traços deixados na imprensa curitibana, percebemos que as práticas esportivas realizadas nos logradouros públicos atraíam diferentes classes sociais, seja para assisti-las, seja para praticá-las. Pouco a pouco, novos espaços como parques particulares e clubes foram consolidando-se, o que demonstra relativa centralidade dessas formas de divertimento no seio da sociedade curitibana.

Uma natureza que educa, cura e diverte

No início do século XX, começaram a surgir em Curitiba novos lugares em meio à natureza, muito além dos parques e praças públicas já incorporados aos hábitos de parte significativa da população. Novas atitudes em relação à natureza engendraram novas e inéditas possibilidades de usufruir de seus benefícios, já bastante enaltecidos em diferentes discursos proferidos pelas autoridades públicas. É assim que, pouco a pouco, surgiu o hábito de passar certo período nos arredores da cidade, em um contato mais íntimo com a natureza, em que parques particulares ali situados assumissem certa primazia nos hábitos da elite curitibana.

Mais distantes da cidade, de difícil acesso, esses parques particulares começaram a ser considerados locais de refúgio e frequentados somente aos domingos e dias de festa ( BAHLS, 1998BAHLS, Aparecida Vaz da Silva. O verde na metrópole: a evolução das praças e jardins em Curitiba (1885-1916). 1998. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Setor de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1998. ). Esses locais permitiam que determinados grupos usufruíssem de uma natureza afastada da cidade, sem a necessidade de interagir com outros segmentos da população que, no caso dos parques e praças públicas, se faziam presentes. De certo modo, esses locais privados foram constituindo novas formas de sociabilidade entre iguais e afirmaram a prática da contemplação da natureza ao lado dos piqueniques, conforme registrou o jornal curitibano na seguinte nota: “Hontem teve logar, no Batel, o pic-nic do sympatico club <<Cassino Curitybano>>. Foi uma festa que deixou a mais agradavel impressão em todos que assistiram-na” ( DIÁRIO DA TARDE, 18 jun. 1900DIÁRIO DA TARDE, 18 jun. 1900, p. 3. , p. 3).

Seriam, assim, os arredores da cidade, os locais escolhidos por parte das associações curitibanas para organizar suas reuniões festivas. Uma nova sensibilidade surgia e expressava um apreço por essa natureza quase intocada, mais distante da cidade, porém, amparada por dispositivos institucionais. Nesse contexto foi possível também verificar proposições de diferentes classes sociais, conforme se pode ler na nota que segue:

Realizou-se hontem no Batel o pic-nic das sociedades Protectora dos Operarios e Beneficiente dos Trabalhadores da Herva Mate. Apesar do mau tempo, esta diversão e o baile que seguio-se-lhe no salão Tivoli, estiveram bastante animado. ( DIÁRIO DA TARDE, 09 jul. 1900DIÁRIO DA TARDE, 9 jul. 1900, p. 3. , p. 3).

Percebemos aqui que instituições que representavam operários e trabalhadores da erva mate estavam sintonizadas com o ideário de vida ao ar livre e viam a natureza como lugar de divertimento a ponto de promoverem piqueniques. Do mesmo modo, alguns clubes e associações de cunho esportivo passaram, pouco a pouco, a promover passeios nos arredores da cidade, como indica a nota encontrada sobre o Club Cyclista: “O Club Cyclista pretende fazer sábado próximo um picnic na Rocinha” ( DIÁRIO DA TARDE, 30 jan. 1907DIÁRIO DA TARDE, 30 jan. 1907. p. 2 , p. 2). Assim, uma natureza que diverte, educa e cura se mostrava acessível a parcelas mais amplas da população e se tornava possível afastar-se dos males urbanos e se beneficiar dos elementos da natureza, preferencialmente praticando algum tipo de exercício físico mais vigoroso e atestando, assim, o lugar de uma cultura física na cidade. O colunista de pseudônimo Erasto escreveu em coluna de 1901 que:

Decididamente não há dias mais insipidos em Curityba do que sejam os domingos. Hontem, principalmente as nossas ruas estiveram a certas horas da manha completamente desertas. Dir-se-ia que a população que, segundo o recenseamento há pouco effectuado orça de 40.000 almas, se retirava em peso para o campo; uns ao Prado de Corridas; outras aos pic-nicks; uns às caçadas; outros em excursões de bycicletas. ( DIÁRIO DA TARDE, 11 mar. 1901DIÁRIO DA TARDE, 11 mar. 1901, p. 1-2. , p. 1).

Inúmeras iniciativas de organizar práticas que valorizavam a cultura física ocorreram nos denominados parques particulares. Podemos mencionar o Parque Cruzeiro, no Batel; o Providência; o Tanque do Bacacheri (no bairro de mesmo nome); e o Parque Graciosa, no Juvevê. Esses dados foram detalhados pelo memorialista Nestor Victor, em livro que teve sua primeira edição em 1912:

Existe para o lado do Batel o espaçoso parque da Fabrica de Cerveja Cruzeiro, franqueado ao público. Ali se faz desporto ginástico e há campos para diversões infantis. Dentro em pouco outra grande fábrica em construção abrirá novo logradouro semelhante. Lá se vai o tempo, afinal, em que o recurso exclusivo da população curitibana aos domingos e dias de feriado era afluir para o Passeio Público, aliás um dos mais curiosos e lindos locais de recreio que há no Brasil. ( VÍCTOR, 1996VITOR DOS SANTOS, Nestor. A terra do futuro: impressões do Paraná. Curitiba: Prefeitura Municipal de Curitiba, 1996. (Publicado originalmente em 1912). , p. 124).

Já o Parque Providência, inaugurado em 1901, em virtude da fundação da Cervejaria Providência, funcionava de forma semelhante, abrindo suas portas ao público nos domingos e feriados para diversas reuniões festivas, bem como para inúmeras atividades apontadas na pequena nota: “Visitei o bosque da Providência, lindo recanto, onde a gente pode passar alguns momentos de descanso. Um grupo de cavalheiros e senhoras jogava o tênis” ( DIÁRIO DA TARDE, 26 out. 1914DIÁRIO DA TARDE, 26 out. 1914, p. 1. , p. 1). Seria também oportuno mencionar aqui o Tanque do Bacacheri, extensa área privada de natureza intocada, e muito apreciada pela população curitibana no início do século XX; neste local, sobretudo nos fins de semana e feriados, era comum fazer piqueniques, e, também, praticar remo e natação. Outra opção muito apreciada era o Parque da Graciosa, localizado na estrada de mesmo nome. Poderíamos afirmar que este conjunto de parques particulares, apoiado por diferentes associações recreativas e mesmo esportivas, teve importância significativa na difusão de uma cultura física em Curitiba e foi local onde os esportes, uma novidade vinda da Europa, puderam florescer e ser difundidos entre os curitibanos de diferentes classes sociais.

Podemos dizer que, nesse momento, parece se esboçar uma compreensão de que a natureza educa, cura e diverte. Desse modo, há uma apropriação do que a cidade oferece em sua região central, mas, também, nesses arredores onde cresceram os parques e clubes privados. Esses locais foram, sem dúvida, esboços iniciais do que viriam a ser os clubes esportivos e toda uma cultura clubista que, vinculada à ideia de vida ao ar livre, criou-se em Curitiba no período estudado e abriu espaço para que uma cultura física se efetivasse na cidade.

Natureza e vida ao livre: os clubes e associações esportivas em Curitiba

Os clubes recreativos e esportivos que se foram criando na cidade de Curitiba no período estudado utilizaram, em um primeiro momento, os parques e praças públicas para a realização de atividades esportivas, como foi o caso do Clube de Regatas Curitybano, criado em 1899, conforme aponta a nota.

Club de Regatas Curitybano

Inauguração do Club às 4hs da tarde. Grandes Regatas no Lago do Passeio Público […] * Pede-se o comparecimento dos srs. Sócios às 2 horas da tarde de Domingo no Chalet do Passeio a fim de proceder-se-à a eleição da directoria e tratar-se mais negócios concernentes ao Club. ( DIÁRIO DA TARDE, 22 abr. 1899DIÁRIO DA TARDE, 22 abr. 1899, p. 4. , p. 4).

Em relação à formação de um clube de remo, Curitiba seguiu o modelo de outras cidades brasileiras como Rio de Janeiro, Recife, Vitória e Belém ( MELO, 2001MELO, Victor Andrade de. Cidade “sportiva”: primórdios do esporte no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Relume-Dumará: Faperj, 2001. ; DIAS; SOARES, 2014DIAS, Douglas da Cunha; SOARES, Carmen Lúcia. Entre velas, barcos e braçadas: Belém no reflexo das águas (do final do século XIX à década de 1920). Projeto História, São Paulo, n. 49, p. 165-196, 2014. ). O Diário da Tarde, em nota datada de março de 1900, assim se referiu à constituição de um clube de remo:

A comissão encarregada de reorganizar este excelente club, concurida a todos os srs. socios e aos rapazes que quizerem tomar parte do mesmo, para uma reunião no domingo 8 de abril no chalet do Passeio Publico, as 5 horas da tarde afim de se tratar dos interesses dos mesmo (DIÁRIO DA TARDE, 28-29 mar. 1900, p. 2).

Essas iniciativas, além de valorizarem uma prática esportiva já muito presente em outras cidades brasileiras, constituíam, também, um desejo de romper com a hegemonia existente na cidade de instituições formadas por imigrantes, principalmente alemães, no campo de uma cultura física urbana, com fortes traços esportivos ( MORAES E SILVA; CAPRARO, 2015MORAES E SILVA, Marcelo; CAPRARO, André Mendes. O tiro de guerra 19 Rio Branco: apontamentos acerca da institucionalização esportiva de Curitiba (1909-1910). Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 29, n. 2, p. 229-243, 2015. ).

Em um primeiro momento, parece claro que foram os jovens da elite curitibana que se engajaram para que clubes esportivos fossem criados fora dos espaços públicos. Parece ser claro, também, que a ideia de um clube é sempre aquela de um ambiente em que se tem controle dos seus membros e, sobretudo, de que se pode escolhê-los. É assim que Hobsbawm (1988HOBSBAWM, Eric J. A era dos impérios 1875-1914. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. , p. 257) argumenta que:

[...] os esportes alargavam o estreito círculo de família e conhecidos, da classe média e, por meio da rede de entrelaçamentos e interações [...] criavam um universo social fora das células domésticas auto-abrangentes.

No caso de Curitiba, foi interessante observar como os integrantes dos clubes, em sua maioria jovens, foram porta-vozes de uma noção acerca do lugar da cultura física como signo urbano, afirmando assim uma diferença em relação a gerações anteriores que viam a cultura atlética e, sobretudo, os esportes com muitas reservas. Eles estavam imbuídos da necessidade de se criar mecanismos que valorizassem a cultura física, conforme se pode ler em uma coluna publicada no Diário da Tarde, acerca da fundação do Club Sportivo:

No dia 16 do corrente, como foi annunciado, teve lugar a inauguração do Club Sportivo num dos salões da Associação dos Empregados no Commercio. [...] É que, embora a nossa época não seja mais de D. Quixote de lança e espada à cinta, uma época industrial, pacifica e scientifica, a sociedade culta do Brasil tem-se compenetrado todavia da seria necessidade inadiavel do desenvolvimento physico, base unica do desenvolvimento moral e intellectual. [...] Teremos ali, segundo nos afirmou o sr. capitão, os jogos de agilidade, o japonez chamado jiu-jitsu, a capoeira, o box e o sarale. Os manejos, à espada, à lança, a baioneta, à bengala e a pau. Exercicios de força corporal: a equitação, a gymnastica completa, a lucta romana, as corridas a pé, patinação, o ciclismo, e finalmente o tiro ao alvo em toda a sua generalidade. Saudando os organizadores de tão util empreendimento, fazemos os mais sinceros votos para que o Club Sportivo, completamente triumphante, seja uma escola para a sociedade coritibana. ( DIÁRIO DA TARDE, 21 mar. 1907DIÁRIO DA TARDE, 21 mar, 1907, p. 1. , p. 1).

Os idealizadores do Club Sportivo tinham como intuito principal difundir uma cultura física na cidade, fazendo com que os jovens da elite finalmente incorporassem as práticas esportivas e, mais amplamente, os exercícios físicos como parte de sua educação. Secundariamente, contudo, desejavam fazer face aos jovens imigrantes de origem alemã, dada a extensiva e completa gama de exercícios físicos e esportes que ofereciam em suas associações e clubes.

A vida associativa era constituinte deste grupo de imigrantes que se estabeleceram no Brasil desde meados do século XIX. Nos locais em que se organizaram, especialmente em áreas urbanas, como Curitiba, fundaram numerosas associações com as mais diferentes finalidades, como as recreativas, os clubes de ciclismo, de atiradores e as sociedades de ginástica.

Os estudos a respeito das sociedades ginásticas realizados por Quitzau (2011QUITZAU, Evelise Amgarten. Educação do corpo e vida associativa: as sociedades ginásticas alemãs em São Paulo (fins do século XIX, primeiras décadas do século XX). 2011. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2011. ; 2016QUITZAU, Evelise Amgarten. Associativismo ginástico e imigração alemã no sul e sudeste do Brasil (1858-1938). 2016. Tese (Doutorado em educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2016. ) indicam que essas instituições tiveram um lugar importante no cenário associativo teuto-brasileiro, especialmente no que diz respeito à preservação da identidade étnica desses imigrantes. Por meio da difusão principalmente da ginástica e, posteriormente, também de outros jogos e esportes, essas associações buscaram equiparar-se especialmente à escola e à igreja como locais de manutenção da cultura germânica. Seus festivais de ginástica, elemento essencial de seus calendários, aconteciam sempre ao ar livre e atraíam a atenção não apenas da comunidade teuto-brasileira, mas também da população em geral, conforme o que se pode ler na coluna encontrada no Diário da Tarde:

Com dia magnifico e debaixo do azul immaculado do céo de inverno passou-se o alegre e ruidoso pick-nick, que em dia inteiro correu rapido, animado por multiplas diversões consoantes aos costumes allemães, ligados ao nosso habito do tradicional e suculento churrasco. Uma multidão de louras senhoritas de toiletes brancas animaram o vede scenario do bosque encatador, enquanto os rapazes uniformizados para os exercícios gymnasticos divertiam os convidados com seus trabalhos variadissimos. [...] Debaixo dos applausos ruidosos dos assistentes começaram então as danças caracteristicas em que tomaram parte gentis senhoritas e cavalheiros exercitados com perfeição admiravel. [...] ( DIÁRIO DA TARDE, 14 ago. 1900DIÁRIO DA TARDE, 14 ago. 1900, p. 2. , p. 2).

Se em um primeiro momento o associativismo teuto-brasileiro estava muito vinculado à ginástica, posteriormente ele começou a incorporar as práticas esportivas. Em São Paulo, as sociedades de ginástica dividiam espaço com um clube esportivo, o Sport Club Germania, que, apesar ter sido fundado para a prática do futebol, também afirmava ser sua finalidade a manutenção da cultura germânica e o fortalecimento físico e moral da juventude teuto-brasileira ( QUITZAU; SOARES, 2010QUITZAU, Evelise Amgarten; SOARES, Carmen Lucia. “A força da juventude garante o futuro de um povo”: a educação do corpo no Sport Club Germania (1899-1938). Movimento, Porto Alegre, v. 16, n. 3, p. 89-108, 2010. ; QUITZAU, 2013QUITZAU, Evelise Amgarten. Different clubs, similar purposes? Gymnastics and sports in the German colony of São Paulo/Brazil at the Turn of the nineteenth century. The International Journal of the History of Sport, v. 30, n. 9, p. 963-975, 2013. ). As próprias sociedades ginásticas começaram a ampliar a variedade de atividades oferecidas a seus associados, incorporando práticas como futebol, handebol, punhobol e basquetebol ( QUITZAU, 2011QUITZAU, Evelise Amgarten. Educação do corpo e vida associativa: as sociedades ginásticas alemãs em São Paulo (fins do século XIX, primeiras décadas do século XX). 2011. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2011. ; 2016QUITZAU, Evelise Amgarten. Associativismo ginástico e imigração alemã no sul e sudeste do Brasil (1858-1938). 2016. Tese (Doutorado em educação) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2016. ). O basquetebol, aliás, era um dos principais articuladores entre a sociedade ginástica e outras associações curitibanas como os clubes Palestra Itália e Junak.

Apesar de certo predomínio das sociedades ginásticas no contexto associativo teuto-brasileiro, outras instituições que tinham sua centralidade no exercício corporal e nos divertimentos também foram fundadas. É o caso das sociedades de tiro, também muito presentes nas áreas de colonização alemã, especialmente da região sul cujas festas ao ar livre atraíam a atenção da população, conforme podemos ler na nota que segue, publicada pelo Diário da Tarde:

O Club dos Atiradores Allemães celebrou hontem mais uma de suas festas nesta capital. A 1 hora da tarde dirigiram-se os socios, tendo a frente uma banda de musica, para o bosque, perto da Estação da Estrada de Ferro, e ahi começaram os seus habituaes divertimentos.

Foi uma bonita festa que honra fez ao Club dos Atiradores Allemães. ( DIÁRIO DA TARDE, 25-26 mar. 1900DIÁRIO DA TARDE, 25-26 mar. 1900, p. 2. , p. 2).

Estas ações não ficavam restritas aos imigrantes de origem germânica. Outras associações formadas por estrangeiros e descendentes diretos acabaram por operar suas ações seguindo os mesmos critérios das entidades alemãs, conforme pode ser lido na nota que segue:

Sociedade Scandinava – Celebrando, o 10º. aniversario de sua fundação esta distincta sociedade organizou para amanhã um pic-nicsahindo o prestito à 1 hora da tarde da Praça Osório, com destino ao bosque da fabrica Providência, no Batel, onde terão logardansas, exercicios de tiro ao alvo, etc. […] ( DIÁRIO DA TARDE, 02 fev. 1907DIÁRIO DA TARDE, 02 fev. 1907, p. 2. , p. 2).

Um conjunto de divertimentos novos afirmaram-se no espaço urbano e eles engajaram noções e conceitos que enalteceram a vida ao ar livre. Eram piqueniques, competições de tiro, ciclismo, regatas, remo, natação, realizadas sempre naqueles locais em que, de certa forma, a mão humana refez a própria natureza. Os clubes e as associações recreativas e esportivas, sejam agremiações formadas pela parcela mais abastada da população, sejam aquelas formadas por imigrantes, ou, ainda, aquelas de trabalhadores urbanos, operários ou não, pareciam imbuídos de um espírito marcado pelo enaltecimento de uma cultura física, esportiva talvez. A organização dessas práticas de divertimento que educavam, mas também preveniam e curavam os males urbanos, em clubes e associações institucionalizadas, contribuiu para consolidar a cultura física em Curitiba. E se clubes existiam na cidade, o desejo de evadir-se contribuiu para a disseminação de práticas, como foi o caso do ciclismo, cujos percursos longos que se distanciavam da cidade passaram a ser evocados e se tornavam um novo divertimento, conforme apontam duas notas encontradas no Diário da Tarde:

RADFAHRER CLUB – Esta exforçada sociedade, realizará um torneio de byclicletas no dia 26 do corrente. A distancia a percorrer sera desta cidade ao Xaxim, isto é 22 kilometros.

Haverá dous premios: ao primeiro vencedor uma taça de prata; ao segundo um rico thermometro. À tarde o Club realizará grande pic-nic no Portão. ( DIÁRIO DA TARDE, 18 mar. 1905DIÁRIO DA TARDE, 18 mar. 1905, p. 1-2. , p. 1).

Cyclistas – Correu simplesmente magnifica a viagem sportiva dos socios do Club Teuto BrasilianischTurnen-Verein, a cidade de Morretes. Os excursionistas partiam desta capital, em bycicletas, às 6 da manhã, fazendo o trajecto com toda a rapidez e regressando às 6 ½ da tarde pelo trem de tabella. Durante a viagem os passeiantes se mostraram sempre alegres e satisfeitos. ( DIÁRIO DA TARDE, 28 jan. 1907DIÁRIO DA TARDE, 28 jan. 1907, p. 1. , p. 1).

Considerações finais

A presença de discursos que valorizavam a cultura física junto à natureza entre os habitantes de Curitiba, assim como o ocorrido em outras cidades brasileiras, fez parte do processo de urbanização da capital paranaense, dentro dos parâmetros fornecidos pela nova ordem republicana que se instalava no país no final do século XIX e início do XX. Entre todos os aprimoramentos urbanos que chegaram a Curitiba, ocorreu também a elaboração de discursos que, influenciados por uma noção de cultura física, possibilitaram o surgimento de ações junto aos parques e praças, bem como a criação de diversas associações esportivas.

Nesse processo de afirmação do espaço urbano, uma cultura física em sua relação com a natureza ganhou contornos bastante visíveis em Curitiba. Imigrantes, operários, jovens da elite curitibana, enfim, representantes de diferentes grupos fizeram parte desse processo de afirmação da cultura física nessa sociedade, que se pretendia moderna e em sintonia com as mais atualizadas ideias acerca de ciência, saúde, educação, sociabilidade.

Iniciados principalmente como uma política vinculada a questões de salubridade urbana, de circulação de miasmas, purificação de ares e embelezamento da cidade, os parques, hortos e bosques curitibanos paulatinamente foram se transformando em mais um dos palcos da vida pública, em espaços para se ver e ser vistos e, principalmente, para exercitar-se e divertir-se de maneiras distintas. As diversas expressões da cultura física junto a essa natureza engendrada no cenário curitibano tornaram-se objeto e instrumento de ações, governamentais ou particulares, que contribuíram para a disseminação dos modos de agir e portar-se considerados adequados aos novos tempos que se introduziam. Assim, a vila acanhada e sombria, situada entre a Serra do Mar e os Campos Gerais do Paraná, paulatinamente afirmou-se como um núcleo urbano que expressou um ideal de civilidade em que práticas educativas junto à natureza, esportivas ou não, constituíram parte de uma narrativa de sua existência.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Nov 2018
  • Data do Fascículo
    2018

Histórico

  • Recebido
    10 Abr 2017
  • Revisado
    05 Jul 2017
  • Aceito
    22 Ago 2017
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