A MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO EM PROL DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: ESTUDO NO MAPA MUNDIAL DA IFLA

The mediation of information for Sustainable Development: a study on the IFLA world map

RESUMO

Objetivo:

Identificar e apresentar as ações de mediação da informação presentes nos relatos compartilhados na aba SDG Stories do Library map of the world.

Método:

Observação sistemática, por meio de um roteiro que analisou 56 relatos de experiências sobre ações de bibliotecas para o Desenvolvimento Sustentável, disponíveis na aba SDG Stories do Library map of the world. A forma de tratamento de dados foi a análise de conteúdo de Bardin (2015).

Resultado:

Identificou-se ações de mediação da informação em 48 dos 56 relatos, sendo 7 do tipo implícita e 41 explícita, em 32 países. A maioria das ações de mediação são de capacitação de usuários (workshops, oficinas, treinamentos) e estão vinculadas ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4: Educação de qualidade.

Conclusões:

A maior parte das ações de mediação da informação compartilhadas no Library map of the world são do tipo explícita. Dentre elas estão: capacitação de usuários, oferta de fontes de informação, auxílio prestado nas buscas por informação, assistência pessoal e outras formas de interação com o usuário, sendo a capacitação de usuários (workshops, oficinas, treinamentos) a atividade mais frequente nos relatos analisados. Quanto aos ODS, a maioria das ações estão vinculadas ao ODS 4: Educação de qualidade, concluindo-se que é necessário promover mais ações que contemplem os demais ODS.

PALAVRAS-CHAVE:
Mediação da Informação; Objetivos de Desenvolvimento Sustentável; Ciência da Informação; Bibliotecas; Agenda 2030

ABSTRACT

Objective:

To identify and present the information mediation actions present in the reports shared in the SDG Stories tab of the Library map of the world.

Method:

Systematic observation, through a script that analyzed 56 experience reports on library actions for Sustainable Development, available on the SDG Stories tab of the Library map of the world. The form of data treatment was content analysis.

Result:

Information mediation actions were identified in 48 of the 56 reports, 7 of which were implicit and 41 explicit, in 32 countries. Most mediation actions are user training (workshops, workshops, training) and are linked to Sustainable Development Goal 4: Quality education.

Conclusions:

Most of the information mediation actions shared in the Library map of the world are of the explicit type. Among them are: user training, provision of information sources, assistance provided in searches for information, personal assistance and interaction with the user, with user training (workshops, workshops, training) being the most frequent activity in the analyzed reports. As for the SDGs, most actions are linked to SDG 4: Quality education, concluding that it is necessary to promote more actions that address the other SDGs.

KEYWORDS:
Information Mediation; Sustainable Development Goals; Information Science; Libraries; Agenda 2030

1 INTRODUÇÃO

Como uma ciência social e que se dedica ao estudo dos meios de acesso e uso da informação, a Ciência da Informação (CI) também precisa debater a temática do Desenvolvimento Sustentável. Cumpre ressaltar que a discussão sobre o Desenvolvimento Sustentável e a CI, em âmbito nacional, não é recente, sendo possível observar trabalhos na década de 1990 (ALBAGLI, 1995).

Atualmente, diante da instituição da Agenda 2030, documento global norteador para o Desenvolvimento Sustentável, a International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA, 2015) convocou as bibliotecas para colaborarem com o alcance dos objetivos propostos nessa Agenda, por meio de seus serviços. A IFLA (2015) partiu do entendimento de que a informação é um dos recursos essenciais para o Desenvolvimento Sustentável das nações. Nestes termos, as bibliotecas, como instituições responsáveis pelo registro, organização, disseminação, disponibilização e uso da informação são potenciais organizações para contribuir com o processo de alcance do Desenvolvimento Sustentável.

Preocupada em inserir as bibliotecas nesse cenário, a IFLA (2015) disponibilizou um conjunto de ferramentas (que tem o acesso à informação como principal eixo norteador), para que essas unidades de informação desenvolvessem ações em âmbito local, que colaborassem para o alcance dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos na Agenda 2030.

Nessa conjuntura e considerando que a Mediação da informação assume um papel importante para satisfação das necessidades de informação das pessoas, torna-se fundamental discutir sobre as ações de Mediação da Informação desenvolvidas pelos bibliotecários, visando o Desenvolvimento Sustentável, a fim de contribuir para ampliar a discussão sobre essa temática nas pesquisas científicas da Ciência da Informação.

Para registrar e compartilhar as ações desenvolvidas por bibliotecários ao redor do mundo, a IFLA criou no site Library Map of the World (IFLA, [2022]), a aba Sustainable Development Goals & Libraries (SDG) Stories, na qual estão registradas diversas ações que contribuem para o Desenvolvimento Sustentável, executadas por bibliotecas em âmbito mundial.

Desse modo, esta pesquisa é orientada pela seguinte questão: Quais são as ações de mediação da informação que estão presentes nos relatos de experiência disponíveis na aba SDG Stories do Library map of the world? Dessa forma, o objetivo deste artigo é identificar e apresentar as ações de mediação da informação presentes nos relatos compartilhados na aba SDG Stories do Library map of the world.

A pesquisa que originou este artigo se justifica pela importância do Desenvolvimento Sustentável para a comunidade científica, sendo um tema em voga para ambos: sociedade e a classe profissional, uma vez que a mediação da informação é uma ação que está presente em diversos aspectos das bibliotecas, como a formação da coleção e a prestação de auxílio ao usuário. Além disso, os dados apresentados podem colaborar para aprimoramento das ações de mediação da informação realizadas pelas bibliotecas, em prol do Desenvolvimento Sustentável, contribuindo, portanto, com ambos: os ODS da Agenda 2030 e as pesquisas da área da CI.

2 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO

A atual perspectiva de Desenvolvimento Sustentável se estrutura a partir de quatro dimensões: 1) ambiental; 2) econômica; 3) institucional; e 4) social, as quais estão presentes na Agenda 2030, documento que se baseia em cinco eixos conhecidos como 5 P’s: Paz, Pessoas, Planeta, Prosperidade e Parcerias. O referido documento é resultado de um compromisso assumido em 2015 pelos 193 países membros da ONU, para trabalharem o desenvolvimento do planeta, em 15 anos, a partir de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), expressos no Quadro 1, distribuídos em 169 metas.

Quadro 1
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

Número do ODS	Objetivo do Desenvolvimento Sustentável
1	Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares;
2	Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável;
3	Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades
4	Assegurar a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos;
5	Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas;
6	Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos;
7	Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos
8	Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos;
9	Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação;
10	Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles;
11	Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis;
12	Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis;
13	Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos;
14	Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável;
15	Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade
16	Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis;
17	Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável.

• Fonte: Elaboração própria, a partir de IPEA (2019)

Como apresentado no Quadro 1, a perspectiva de Desenvolvimento Sustentável trazida pela Agenda 2030 está além de propostas apenas no aspecto ambiental, mas também abrange dimensões nas esferas: econômica, institucional e social. Nesta direção, é importante ressaltar que um dos paradigmas pelo qual a CI se estrutura é um paradigma social, que para Capurro (2003, p. 3) inclui pensar a Ciência da Informação como uma ciência que se preocupa com: “todos os aspectos sociais e culturais próprios do mundo humano”.

As ideias de Buckland (2018) também corroboram para considerar o aspecto social na Ciência da Informação. O autor defende que a Ciência da Informação é “engajamento social” (BUCKLAND, 2018, p. 13) e complementa salientando que enquanto comunidade de CI, “nosso objetivo é capacitar todos a se tornarem mais informados e menos ignorantes” (BUCKLAND, 2018, p. 14).

Nesse cenário, destaca-se que a informação, objeto de estudo da CI, tem sido apontada como um recurso essencial para o alcance do Desenvolvimento Sustentável (IFLA, 2015). Com efeito, na década de 1990, quando a Agenda 21¹ era discutida como orientação para o Desenvolvimento Sustentável, Albagli (1995) apresentou a informação, em especial a informação ambiental, como fundamental para promover o Desenvolvimento Sustentável, amparado, naquele momento, pelos princípios da eficácia, da diversidade e da descentralização no uso de recursos.

No início dos anos 2000, enquanto ainda vigorava a Agenda 21, Ferraz, Hayashi e Hayashi (2006) discutiram acerca das contribuições da Ciência da Informação para o Desenvolvimento Sustentável, identificando a presença dessa temática em grupos de pesquisas da Universidade Federal de São Carlos cadastrados no CNPq. Os autores concluíram que o Desenvolvimento Sustentável, naquela ocasião, era discutido em onze grupos de pesquisa daquela universidade, pertencentes a diferentes áreas de conhecimento, demonstrando o caráter interdisciplinar dessa temática.

Geraldo e Pinto (2019) ao analisarem 35 periódicos brasileiros da CI, entre os anos de 2008 e 2018, quanto à presença dos termos: “Sustentabilidade”, “Desenvolvimento Sustentável”, “Objetivos do Desenvolvimento Sustentável” e “Agenda 2030 identificaram que mais de 46% dos periódicos apresentavam a temática e que houve um crescimento dos debates em torno do tema em tese, nas publicações de 2008 para 2018.

Geraldo e Pinto (2021) também fizeram uma análise em trabalhos publicados nos anais do XXVII Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação (CBBD), com o propósito de identificar a aderência dessas publicações às diretrizes da IFLA para as bibliotecas, no que concerne aos ODS da ONU, a partir de quatro eixos: a) Objetivos do Desenvolvimento Sustentável; b) 3º Fórum Brasileiro de Biblioteconomia Escolar: pesquisa e prática; c) Biblioteca para todos: Acessibilidade para pessoas com deficiência, inclusão social, enfoque de gênero, bibliotecas como espaço de aprendizagem, biblioteconomia social e d) Advocacy, Inovação e Empreendedorismo.

Os autores analisaram 167 estudos (46,7 % dos Anais). Concluíram que a aderência maior foi no eixo 4 (28%) e a menor no eixo 2, com resultado negativo de - 21,6%, o que gerou uma recomendação, por parte dos autores, aos gestores de bibliotecas para o desenvolvimento de ações que beneficiem um maior público e também contribuam para as gerações atuais e futuras.

Outro importante evento na área da CI, o Encontro Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Ciência da Informação (ENANCIB), também foi estudado a fim de verificar a presença da discussão acerca de questões ambientais e sustentabilidade. A pesquisa de Silva, Silva e Oliveira (2022) concluiu que 17 publicações que envolviam a temática foram veiculadas nos Anais do ENANCIB, no período de 2015 a 2021.

Os autores apontaram que esses resultados permitem concluir que na CI se desenvolvem pesquisas concernentes a questão ambiental, como as que foram submetidas ao ENANCIB. Além disso, segundo os autores, essas publicações também apresentam resultados relacionados às bibliotecas.

Cumpre ressaltar que a identificação de ações das bibliotecas para a Agenda 2030 também é uma forma de observar a relação entre CI e Desenvolvimento Sustentável, uma vez que a literatura da CI contém diversos trabalhos com esse propósito.

Em âmbito nacional, Pereira et al. (2021) realizaram uma busca na Base de Dados em Ciência da Informação (BRAPCI) e no repositório da Federação Brasileira de Associações de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições (FEBAB) para selecionar produções científicas que apresentam ações desenvolvidas por bibliotecas públicas, para alcançar os ODS, propostos na Agenda 2030, no período entre 2015 e 2021. Os autores identificaram 10 estudos com esse objetivo.

Gama e Zaninelli (2022), por sua vez, empreenderam uma pesquisa bibliográfica em âmbito internacional, para identificar os Serviços de Informação relacionados a Agenda 2030. Os resultados da pesquisa apontaram 23 trabalhos nos quais os bibliotecários de 12 países compartilharam as suas ações em prol do Desenvolvimento Sustentável.

Nestes termos, observa-se que o Desenvolvimento Sustentável é uma temática estudada sob a ótica da CI, a qual tem sido amplamente discutida. Geraldo e Pinto (2019) sublinham que a CI sendo uma área que se dedica ao estudo da informação, a partir de sua organização e disseminação, deve buscar atender as necessidades informacionais de uma sociedade que visa o Desenvolvimento Sustentável.

Desse modo, considerando o importante papel da informação e a complexidade que envolve esse recurso, é fundamental que os profissionais da informação reflitam sobre as diversas formas de satisfazer as necessidades informacionais. Neste artigo, destaca-se a mediação da informação, sendo importante observá-la como um contributo para o desenvolvimento ambiental, social, econômico e institucional.

3 MEDIAÇÃO DA INFORMAÇÃO

O termo mediação é utilizado em diferentes áreas de conhecimento, com múltiplos significados e definições para o termo. Embora a ideia de mediação esteja associada a conciliação e resolução de conflito, Santos Neto e Almeida Júnior (2017) destacam que o termo vai além dessa concepção, sendo caracterizado por uma ação e intervenção. O conceito de mediação da informação adotado neste artigo, refere-se aquele que a considera como:

Toda ação de interferência - realizada em um processo, por um profissional da informação e na ambiência de equipamentos informacionais -, direta ou indireta; consciente ou inconsciente; singular ou plural, individual ou coletiva; visando a apropriação de informação que satisfaça, parcialmente e de maneira momentânea, uma necessidade informacional, gerando conflitos e novas necessidades informacionais. (ALMEIDA JÚNIOR, 2015, p. 25).

Complementar ao referido pensamento, Santos Neto (2019, p. 377) entende que a mediação “coloca o sujeito no centro do processo e lhe interessa mais os desdobramentos da pós-relação entre ele e a informação, que minimamente compreende como a informação chegou até ele”.

Nunes e Carvalho (2017) entendem que a mediação da informação se desenvolve a partir das atividades realizadas pelos bibliotecários, as quais contribuem para a disseminação e o uso da informação por parte do usuário. Desse modo, não se pode deixar de destacar esse profissional como um ator no processo de mediação da informação.

Nessa perspectiva, Buckland (2018, p. 4) defende que "o bibliotecário tem a responsabilidade de tentar projetar e programar um serviço melhor" e que pequenas mudanças que visem promover a qualidade de um serviço podem gerar "grandes incrementos no uso que as pessoas fazem da biblioteca" (BUCKLAND, 2018, p. 5).

Almeida, Farias e Farias (2018) revelam que o planejamento e execução das atividades como a organização, representação, acesso, recuperação, uso e apropriação da informação são inerentes às atividades de mediação da informação e que esta se caracteriza como um fenômeno social (ALMEIDA; FARIAS; FARIAS, 2018).

Nessa direção, é oportuno apresentar os dois principais tipos de mediação da informação na visão de Almeida Júnior (2009) e que foram utilizados como norte no presente estudo. O autor afirma que a mediação da informação pode ocorrer tanto de forma implícita, quanto explícita. A primeira tem como característica acontecer nos espaços sem a presença física e imediata dos usuários, nos locais em que as ações são desenvolvidas, como por exemplo: o desenvolvimento de coleções, o planejamento de políticas e serviços aos usuários, enquanto que no segundo tipo há a necessidade da presença física do usuário, tal como os processos e etapas do Serviço de Referência e Informação. Nestes termos, é na mediação do tipo explícita que há o contato direto entre o profissional e o usuário (demandante da informação).

A partir do exposto, há que se destacar também o caráter social que está imbuído à ação mediadora, fundante ao fazer do profissional da informação. Nela, além dos aspectos pragmáticos decorrentes da ação (apropriar-se da informação e satisfazer-se de uma necessidade informacional), incidem os aspectos relacionados à transformação social proporcionada e impulsionada pela mediação da informação, à medida que tanto mediador, como mediando, compartilham da condição de protagonista social, conforme defendido por Gomes (2020), cada qual à sua maneira e contexto. Assim, a mediação da informação poderia contribuir para o desenvolvimento ambiental, social, econômico e institucional.

Nessa perspectiva, diante dos objetivos propostos pela Agenda 2030, no qual a informação assume papel fundamental, se torna importante conhecer as formas de mediação da informação utilizadas por bibliotecários em âmbito mundial que colaboram para o Desenvolvimento Sustentável.

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta é uma pesquisa do tipo documental, exploratória e descritiva. A técnica utilizada foi a observação sistemática. Os procedimentos iniciaram com uma consulta ao site Library map of the world (IFLA, [2022]), no qual foi possível identificar, na aba SDG Stories, relatos de bibliotecas ao redor do mundo, que compartilharam suas experiências de contribuição para o Desenvolvimento Sustentável.

A partir de uma análise sucinta do site, foi elaborado um roteiro de observação, para ser utilizado como instrumento de coleta de dados e possibilitar a classificação dos relatos disponíveis na aba SDG Stories em: i) mediação implícita da informação e ii) mediação explícita da informação. O roteiro foi composto pelos itens descritos no quadro 2 e observados em cada um dos relatos de experiência.

Quadro 2
Detalhamento do roteiro de observação

Seção do roteiro	Item a ser observado	Fonte
Seção I: Informações gerais sobre os relatos de experiência	Título do relato de experiência	Library map of the world
	Objetivos do Desenvolvimento Sustentável que o relato contempla
	País onde ocorreu a experiência
Seção II: Aspectos dos relatos, inerentes à mediação da informação	Há interferência de um profissional da informação	Almeida Júnior (2015)
	A ação é desenvolvida com a presença do usuário	Almeida Júnior (2009)
	A ação está relacionada a atividades fins ou meio de bibliotecas
	A ação possui processos e etapas do Serviço de Referência e Informação
	Definição de atividades inerentes ao Serviço de Referência e Informação	SantaAnna, Dias e Maculan (2021)

• Fonte: Elaborado pelos autores (2022)

Cumpre destacar que considerando que uma das características da mediação explícita da informação é a presença de processos e etapas do Serviço de Referência e Informação (SRI), utilizou-se como norte os apontamentos de Santa Anna, Dias e Maculan (2021, p.19). Em um estudo sobre Mediação da informação e o SRI, esses autores identificaram as seguintes atividades como principais no SRI: auxílio prestado nas buscas por informação, interação com o usuário, assistência pessoal, orientação, oferta de fontes de informação e capacitação de usuários.

Após a elaboração do roteiro de observação, todos os relatos de experiência disponíveis no site Library map of the world (IFLA, [2022]) foram lidos na íntegra e analisados conforme o roteiro de observação. Além disso, foram observados outros recursos disponíveis de cada relato, tais como: vídeos e imagens. Os dados extraídos foram inseridos em planilhas do software Microsoft Excell, a fim de gerar subsídios para análise dos resultados.

Os dados foram analisados por meio de estatística descritiva, no que se refere ao país e o objetivo do Desenvolvimento Sustentável contemplado pelo relato. Os demais dados foram tratados por análise de conteúdo (BARDIN, 2015).

Para cumprir as recomendações propostas por Bardin (2015), as definições de Almeida Júnior (2009, 2015) e Santa Anna, Dias e Maculan (2021) foram utilizadas para separar os relatos em duas categorias: Mediação implícita da Informação e Mediação explícita da Informação.

A categoria Mediação implícita da informação gerou três subcategorias: i) Intervenção no espaço da biblioteca; ii) Desenvolvimento de coleções e iii) Políticas. Já na categoria Mediação explícita da informação, os resultados foram agrupados em quatro subcategorias: i) Capacitação de usuários; ii) Auxílio prestado nas buscas por informação e Assistência pessoal; iii) Ofertas de fontes de informação e iv) Outras formas de interação com o usuário.

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

O site Library map of the world apresenta 56 relatos de experiências nos quais várias bibliotecas expressam as ações que estão desenvolvendo para contribuir com o desenvolvimento sustentável (IFLA, [2022]). Dos 56 relatos de experiências, 8 foram excluídos deste estudo por não fornecerem, na visão dos pesquisadores, informações suficientes para afirmar que as ações se tratavam de mediação da informação, uma vez que não havia como atestar se ocorreram com a interferência de um profissional da informação, condição essencial para a mediação da informação (ALMEIDA JUNIOR, 2015) e, neste caso, de exclusão.

Dos 48 relatos restantes, observou-se indicativos de mediação da informação do tipo implícita em 7 casos, uma vez que se constatou que o bibliotecário estava presente no planejamento do serviço, mas não na sua execução, conforme indica a definição de mediação implícita de Almeida Júnior (2009). Foram identificados 41 relatos que apontaram ações de mediação explícita da informação.

No que se refere a região geográfica, os 48 relatos estão distribuídos em 32 países, conforme o gráfico 1, sendo a Argentina o país que mais compartilhou experiências no SDG stories (4 relatos), seguido por: Cazaquistão, Holanda e Índia, com 3 relatos cada.

Gráfico 1
Categorização dos relatos de Mediação da informação

Importa mencionar que nenhum relato do Brasil foi identificado no Library map of the world, entretanto, em documento da Federação Brasileira de Bibliotecários, Cientistas da Informação e Instituições (FEBAB, 2018) constam ações de bibliotecas brasileiras que contribuem para o Desenvolvimento Sustentável. Este dado chama a atenção para que as bibliotecas brasileiras busquem compartilhar suas experiências também em âmbito mundial, a fim de dar visibilidade às ações nacionais e contribuir com outras bibliotecas em âmbito mundial, por meio dos relatos de casos brasileiros.

O Library map of the world (IFLA, [2022]) indica também a informação sobre o ODS que está sendo atendido pelos relatos de experiência, os quais podem contemplar mais de um ODS. O gráfico 2 apresenta os ODS atendidos pelos 48 relatos de experiência que fazem parte desta pesquisa.

Gráfico 2
Quantidade de relatos por Objetivo do Desenvolvimento Sustentável

Observa-se no gráfico 2 que o ODS 4: Educação de qualidade é o mais contemplado nos relatos de experiência, enquanto o ODS 7 é o menos atendido. Uma provável explicação para esse dado pode ser porque o ODS 4 é o que mais se relaciona diretamente com as atividades fins das bibliotecas: a educação; já o ODS 7, por tratar de energia limpa e acessível pode estar mais afastado das atividades fins das bibliotecas. Entretanto, é importante destacar que a IFLA (2016) propõe ações que podem ser desenvolvidas pelas bibliotecas para contribuir com todos os 17 ODS, considerando a informação como recurso central nesse processo.

Para Kear (2018), a biblioteca é citada, de forma mais explícita, no Objetivo 16 da Agenda 2030, mais precisamente na meta 16.10 no qual faz referência ao acesso a informação - “Assegurar o acesso público à informação e proteger as liberdades fundamentais, em conformidade com a legislação nacional e os acordos internacionais”. Entretanto, embora a biblioteca pareça estar mais vinculada a esse objetivo e meta, ressalta-se que no documento da IFLA (2016), o acesso à informação está explicitamente mencionado em 14 objetivos dos 17, inclusive no objetivo 7.

5.1 Relatos de Mediação Implícita

Nesta seção são apresentados os resultados acerca dos relatos de mediação implícita analisados neste estudo. Os 7 relatos identificados foram agrupados em 3 categorias construídas conforme procedimento descrito na seção Procedimentos Metodológicos. Os resultados estão expressos no gráfico 3.

Gráfico 3
Categorização dos relatos de Mediação implícita da informação

Na categoria “Intervenção no espaço da biblioteca” foram incluídos relatos que indicavam intervenções na estrutura física do espaço da biblioteca e que, desse modo, estão relacionados a dimensão estética da Mediação da Informação². Salienta-se, no entanto, que a dimensão estética da mediação da informação vai além dos elementos estéticos em seu sentido restrito; é compreendida por Gomes (2014, 2020) em seu sentido lato, isto é, acredita-se que ela seja alcançada quando o sujeito reconhece não só o conforto no acolhimento no âmbito dos equipamentos informacionais (devido ao espaço da biblioteca), mas também no prazer estético em aprender e se apropriar da informação, construir o conhecimento, crescer e se transformar. É nesse sentido que a dimensão estética se manifesta, no belo que está contido no processo de aprendizado e desenvolvimento social e cognitivo.

Os relatos na categoria “Intervenção no espaço da biblioteca” descrevem ações como: transformação dos espaços externos da biblioteca em hortas (LIBRARY-LED..., 2019), melhorias no sistema de iluminação da biblioteca (UNIVERSITY..., 2021) e cessão do espaço para qualificação de jovens (NATIONAL..., 2022).

Por sua vez, na categoria Desenvolvimento de Coleções foram incluídos dois relatos: um que aborda sobre a criação de um repositório institucional (PLATFORM..., 2020) e outro sobre ações de preservação do acervo que vinha sendo destruído no Iraque (IRAQI..., 2019). Ressalta-se que o desenvolvimento de coleções não ocorre com a presença do usuário e é uma atividade interna, sendo, portanto, característica da mediação da informação implícita.

A terceira categoria foi denominada Políticas e se refere a modos de condução dos serviços da biblioteca. Nessa categoria foi identificado um relato que compartilhava alterações no horário de funcionamento de uma biblioteca universitária, que passou a funcionar 24 horas por dia, 7 dias por semana, oferecendo um “lugar onde os alunos podem ter acesso confiável à luz e energia durante a noite” (24/7..., 2019, não paginado).

5.2 Relatos de Mediação Explícita

Observou-se indicativos de mediação da informação explícita em 41 relatos, uma vez que estes apresentavam características condizentes com a definição desse tipo de mediação, isto é: houve interferência do profissional da informação, mas esta não se restringiu ao planejamento do serviço; as ações ocorreram com a presença do usuário; estavam relacionadas a atividades fins da biblioteca, tais como: empréstimo, orientação para acesso à informação e apresentavam características de processos ou etapas de Serviço de Referência, como: “auxílio prestado nas buscas por informação, interação com o usuário, assistência pessoal, orientação, oferta de fontes de informação e capacitação de usuários” (SANTA ANNA; DIAS; MACULAN, 2021, p.19).

A descrição de atividades relacionadas a mediação da informação e SRI apontada por Santa Anna, Dias e Maculan (2021) foi utilizada com o objetivo de categorizar os 41 relatos analisados, dentro da categoria Mediação explícita da informação. O gráfico 4 apresenta a quantidade de relatos em quatro subcategorias.

Gráfico 4
Categorização dos relatos de Mediação explícita da informação

Foram agrupadas em: “Capacitação de usuários”, os relatos de experiência que informavam sobre atividades de ensino promovidas pelos profissionais da informação, por exemplo: workshops, oficinas e programas de treinamento.

Em “Oferta de fontes de informação” estão incluídos os relatos de experiência que apresentaram estratégias de incentivo à leitura para diferentes faixas etárias, além daqueles que objetivaram oferecer informações sobre a promoção da saúde (THE BIBLIOSIDA..., 2020) e mudanças climáticas (A LIBRARY..., 2020).

A partir da análise dos relatos, optou-se por não separar as atividades de: “Auxílio prestado nas buscas por informação” e “Assistência pessoal”, pois observou-se que nos relatos analisados, essas atividades se apresentaram de maneira muito intrínseca.

Desse modo, os relatos que descreviam essas ações foram incluídos em uma única subcategoria, na qual há ações como: programa de acolhimento para pessoas em risco de consumo de álcool e drogas (BIBLIOSTREET..., 2019), refugiados (TORONTO..., 2020), além de auxílio para agricultores (PUBLIC..., 2017) e outros cidadãos no uso de informações governamentais (DUTCH..., 2020).

Os relatos que estavam além de atividades de capacitação e que era possível identificar a relação não apenas entre usuário e profissionais da informação, mas também entre os próprios usuários, foram incluídos em: “Outras formas de Interação com os usuários”. Há, por exemplo, dois projetos nos quais jovens ensinam idosos a utilizarem computadores (CONNECTING, 2018; LIBRARY CONNECTS..., 2020) e outro relato no qual as pessoas interagem entre si, ao compartilharem suas histórias sobre como conseguiram vencer diferentes tipos de discriminação (“HUMAN LIBRARY”..., 2019).

Algumas ações encontradas nos relatos de experiência do Library map of the world para a promoção do Desenvolvimento Sustentável são semelhantes a outras compartilhadas na literatura científica da CI, com o mesmo objetivo. Dentre estas, podem ser citadas: ministrar palestras, seminários, atividades antidrogas e relacionadas à conservação de energia, que ocorrem em uma biblioteca da Índia, a qual também passou a oferecer espaço com horário estendido de estudo (VARGHESE; THIRUNAVUKKARASU, 2021), algo que também foi feito em uma biblioteca de Camarões (BAWACK, 2018) e que é semelhante ao relato 24/7... (2019), que consta no Library map of the world, relatado na seção 5.1.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir da pesquisa foi possível concluir que a maior parte das ações de mediação da informação compartilhadas no Library map of the world são do tipo explícita. Esse cenário vai ao encontro dos resultados obtidos em outras pesquisas, quando identificam que a tipologia da mediação explícita é a mais lembrada e discutida no âmbito profissional. Dentre as possibilidades de manifestação, foi possível destacar: capacitação de usuários, oferta de fontes de informação, auxílio prestado nas buscas por informação, assistência pessoal e outras formas de interação com o usuário, sendo a capacitação de usuários (workshops, oficinas, treinamentos) a atividade mais frequente nos relatos analisados.

Quanto aos ODS, a maioria das ações está vinculada ao ODS 4: Educação de qualidade, concluindo-se que é necessário promover mais ações que contemplem os demais ODS. Mesmo que não tenha sido o foco do presente artigo, é possível inferir que tais ações proporcionam o alcance da dimensão formativa da mediação da informação, conforme postula Gomes (2014, 2020).

Observou-se ainda que não há relatos de bibliotecários brasileiros no Library map of the world, mas há iniciativa semelhante da FEBAB para bibliotecas brasileiras. Diante do apresentado, sugere-se como pesquisa futura identificar as razões pelos quais os bibliotecários brasileiros não compartilham os seus relatos mundialmente, bem como analisar as formas de mediação disponíveis no documento da FEBAB (2018), a fim de traçar um panorama nacional, semelhante ao do presente estudo. Além disso, é necessário identificar como e em que medida as dimensões da mediação da informação têm sido alcançadas nas iniciativas em prol do desenvolvimento sustentável.

REFERÊNCIAS

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• CONJUNTO DE DADOS DE PESQUISA

  Todo conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.

• FINANCIAMENTO

  Não se aplica.

• 1
  “A Agenda 21 pode ser definida como um instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, em diferentes bases geográficas, que concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica” (BRASIL. Ministério do Meio Ambiente, [(20--?)].
• 2
  A dimensão estética da Mediação da Informação na visão de Gomes (2014, p. 50) está relacionada ao ambiente: “Os sujeitos da ação comunicativa precisam transitar com ‘conforto’ no ‘ambiente’ do encontro, no espaço da interlocução, precisam desenvolver o sentimento de pertença, já que o encontro promissor com a informação é aquele capaz de gerar o terreno propício para o desenvolvimento intelectual e a construção do conhecimento”.

• CONSENTIMENTO DE USO DE IMAGEM

  Não se aplica.

• APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

  Não se aplica.

• LICENÇA DE USO

  Os autores cedem à Encontros Bibli os direitos exclusivos de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution (CC BY) 4.0 International. Estra licença permite que terceiros remixem, adaptem e criem a partir do trabalho publicado, atribuindo o devido crédito de autoria e publicação inicial neste periódico. Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada neste periódico (ex.: publicar em repositório institucional, em site pessoal, publicar uma tradução, ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial neste periódico.

• PUBLISHER

  Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação. Publicação no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade.

Editado por

EDITORES

Edgar Bisset Alvarez, Ana Clara Cândido, Patrícia Neubert, Genilson Geraldo, Mayara Medeira Trevilsom, Jônatas Edison da Silva, Camila Letícia Melo Furtado e Beatriz Tarré Alonso

Disponibilidade de dados

Todo conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  20 Out 2023
• Data do Fascículo
  2023

Histórico

• Recebido
  22 Mar 2023
• Aceito
  28 Maio 2023
• Publicado
  28 Jun 2023