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OUTROS HORIZONTES CRÍTICOS E DECOLONIAIS NOS ESTUDOS ARQUIVÍSTICOS: EM CONSTRUÇÃO UM MAPEAMENTO DO DOMÍNIO EDITORIAL INTERNACIONAL

Other critical and decolonial horizons in archival studies: under construction a mapping of the international publishing domain

RESUMO

Objetivo:

Os estudos críticos e decoloniais estão cada vez mais presentes nas produções científicas dos campos relacionados aos arquivos, bibliotecas e museus, em especial na literatura internacional. Considerando a escassez de literatura Arquivística sobre o tema no contexto brasileiro, este artigo realiza um mapeamento no domínio editorial internacional da Arquivística, buscando por números especiais/temáticos e livros cujos focos e temas recaem sobre a dimensão epistêmica crítica e decolonial.

Método:

A metodologia é exploratória e descritiva, com uso da análise de domínio de Hjørland (2002) na lente de estruturação científica e epistêmica. Foram selecionados para análise os periódicos Archival Science e Journal of Critical Library and Information Studies e as editoras Litwin Books e Routledge, com as respectivas séries temáticas Archives, Archivists and Society e Studies in Archives.

Resultado:

Os resultados demonstraram um domínio composto por oito editoriais (2 em revistas e 6 em livros) em um período de 2017 a 2022, indicando uma preocupação recente da área em discutir os temas críticos e decoloniais. Outrossim, os 13 editores compõem uma comunidade discursiva ainda em construção, advindos de países com histórico de colonização, com maior predominância na América do Norte, filiados às Universidades, com pesquisas voltadas para os temas que englobam o espectro da dimensão crítica e decolonial (arquivos comunitários, justiça social, história oral, impacto emocional do trabalho arquivístico, arquivos digitais, memória, direitos humanos, entre outros).

Conclusões:

Por meio deste mapeamento foi possível chegar à identificação, ainda que inicial, da lógica da estruturação científica e epistêmico-biográfica das temáticas crítica e decolonial na Arquivística internacional.

PALAVRAS-CHAVE:
Arquivística Decolonial; Estudos arquivísticos críticos; Pluralismo Arquivístico; Análise de Domínio; Domínio editorial

ABSTRACT

Objective:

Critical and decolonial studies are becoming increasingly common in scholarly productions related to archives, libraries, and museums, especially in international literature. Considering the lack of archival literature on the subject in the Brazilian context, this article aims to map the international editorial domain of Archival Science, searching for special/thematic issues and books whose focus and theme fall in the critical and decolonial epistemic dimension.

Methods:

The methodology is exploratory and descriptive, using Hjørland (2002) domain analysis through the lens of scientific and epistemic structuring. The journals Archival Science and Journal of Critical Library and Information Studies and the publishers Litwin Books and Routledge were selected for analysis, with the corresponding thematic series Archives, Archivists and Society and Studies in Archives.

Results:

The results showed a domain composed of eight editorials (2 in journals and 6 in books) from 2017 to 2022, indicating a recent concern in discussing critical and decolonial themes. Furthermore, the 13 editors make up a discourse community still under construction, coming from countries with a history of colonization, with a more significant predominance in North America. They are affiliated with universities, with research focused on the themes encompassing the critical and decolonial dimensions (community archives, social justice, oral history, the emotional impact of archival work, digital archives, memory, and human rights, among others).

Conclusions:

Through this mapping, it was possible to identify, albeit initially, the logic of the scientific structuring, and biographical epistemic of critical and decolonial themes in international archival science.

KEYWORDS:
Decolonial Archival Science; Critical Archival Studies; Plural Archival Studies; Domain Analysis; Editorial Domain

1 INTRODUÇÃO

Embora nem sempre sob a égide do termo decolonial, os estudos críticos sobre a produção, organização e uso do conhecimento podem ser encontrados na literatura há bastante tempo, em especial na Biblioteconomia, Documentação, Organização do Conhecimento e História do Livro e da Biblioteca, buscando compreender as implicações políticas, sociais e culturais das formas como o conhecimento é produzido, organizado, representado e utilizado em diferentes contextos.

No contexto brasileiro, observamos nas últimas décadas um aumento do debate crítico e decolonial na literatura, sobretudo na área de estudos da informação, com especial foco na Organização do Conhecimento (MOURA, 2018MOURA, M. A. Organização social do conhecimento e performatividade de gênero: dispositivos, regimes de saber e relações de poder. Liinc Em Revista, Rio de Janeiro, v. 14, n.2, p. 118-135, 2018. DOI: https://doi.org/10.18617/liinc.v14i2.4472. Disponível em: https://revista.ibict.br/liinc/article/view/4472/3941. Acesso em: 02 abr. 2023.
https://doi.org/10.18617/liinc.v14i2.447...
; SALDANHA, 2019SALDANHA, G. Sem e cem teorias críticas em ciência da informação: Autorretrato da teoria social e o método da crítica nos estudos informacionais, uma bibliografia benjaminiana aberta. In: BEZERRA, A.C. et al. (Org). iKrítika: estudos críticos em informação. Rio de Janeiro: Garamond, 2019, p. 171-240.; MIRANDA, 2019MIRANDA, M. L. C. de. A Organização do Conhecimento e a filosofia do pluralismo religioso no contexto das religiões de matrizes africanas. In: Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência Da Informação, XX, 2019, Florianópolis. Anais[...] Florianópolis: UFSC, 2019. Disponível em: https://conferencias.ufsc.br/index.php/enancib/2019/paper/view/1374. Acesso em: 02 abr. 2023.
https://conferencias.ufsc.br/index.php/e...
; GARCEZ; SALES, 2021GARCEZ, D. C.; SALES, R. Decolonizando a organização do conhecimento: um olhar do periódico Knowledge Organization (2000-2020). Tendências da Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação, ANCIB, v. 14, p. 1-21, 2021. Disponível em: http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapci/195017. Acesso em: 02 abr. 2023.
http://hdl.handle.net/20.500.11959/brapc...
). Os estudos argumentam que as práticas de organização do conhecimento não são neutras, mas moldadas por pressupostos políticos, culturais e históricos, como um reflexo das relações de poder que existem na sociedade. A perspectiva decolonial e crítica versa, principalmente, sobre uma visão de mundo emancipatória, visando um pensamento não opressor em qualquer marcador social existente.

Ao contrário do que observamos no âmbito da Biblioteconomia e da Organização do Conhecimento, no que toca à produção científica no contexto da Arquivística há uma escassez de textos que incluem a discussão dos estudos críticos e decoloniais, conforme demonstrou o resultado da busca1 1 Busca realizada no dia 02/04/2023. pelos termos combinados: "teoria crítica" AND "arquivologia/arquivística" e "decolonial AND arquivologia/arquivística" na Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI) e na Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) (campo assunto), onde foi recuperado um trabalho2 2 O trabalho recuperado é de Tognoli e Rocha (2021) intitulado: A justiça social na Arquivologia: uma revisão de literatura. na vertente crítica e nenhum na vertente decolonial.

A falta de produção científica sobre o tema no contexto nacional evidencia, ainda, uma não-visibilidade dos estudos críticos e decoloniais também no contexto de formação na educação Arquivística brasileira, aspecto que motiva este artigo3 3 Este artigo faz parte de um dos eixos de um projeto coletivo e colaborativo maior, ainda em construção, intitulado: Mapeamento de domínios editoriais críticos e decoloniais na área de estudos da informação: Foco nas áreas da Arquivística, Biblioteconomia, Ciência da Informação e a Organização do Conhecimento (2000-2022), que visa identificar autores/as, vínculos institucionais, e temáticas a partir de um enfoque da Análise de Domínio com as lentes de estruturação científica, epistêmica-biográfica, e bibliométrica. .

Nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo apresentar um mapeamento a partir do domínio editorial internacional de artigos e livros cujos focos e temas recaem sobre a dimensão epistêmica crítica e decolonial, ao debater, especificamente, os temas de justiça social e direitos humanos. Pretendemos, ainda, iniciar a caracterização da comunidade discursiva envolvida na construção desse domínio voltado aos estudos arquivísticos críticos e decoloniais.

A escolha por agrupar as dimensões crítica e decolonial se justifica por duas razões: a primeira é que ambas são formas de enfrentamento do contexto macro de dominações patriarcal, capitalista e colonial, visando, portanto, a ampliação do campo arquivístico em direção a um movimento emancipatório de memória libertadora (CASWELL, 2021CASWELL, M. Urgent Archives: Enacting Liberatory Memory Work. 1. ed. Routledge Studies in Archives. New York: Routledge Press, 2021.); a segunda é que são temas que se aproximam em seus objetivos, com autores em comum, o que estrategicamente nos permite evidenciar um mapeamento contextual.

A metodologia é do tipo exploratória e descritiva, com uso da análise de domínio de Hjørland (2002HJØRLAND, B. Domain analysis in information science: eleven approaches: traditional as well as innovative. Journal of Documentation, [s.l.], v. 58, n.4, p. 422-462, 2002.) na lente de estruturação científica e epistêmica. As etapas incluem a caracterização das fontes, seus autores e autoras, bem como as temáticas abordadas, tendo como recorte as edições especiais dos periódicos Archival Science e Journal of Critical Library and Information Studies, além da série de publicações Arquivísticas das editoras Litwinbooks - Archival Studies e Routledge Studies in Archives.

Os periódicos e as editoras escolhidos para análise neste artigo possuem séries e dossiês especiais com foco nas dimensões crítica e decolonial, razão pela qual foram selecionados. O periódico Archivaria, embora possua textos com a temática, não foi selecionado para compor o corpus devido à quantidade menor de dossiês temáticos da proposta, bem como à necessidade de um recorte da pesquisa.

2 A PERSPECTIVA CRÍTICA E DECOLONIAL NOS ESTUDOS ARQUIVÍSTICOS

A temática de estudos arquivísticos de cunho crítico e decolonial - com esses termos explícitos - é considerada recente na área, ainda que a busca por uma perspectiva pluralista na Arquivística possa ser observada desde os estudos de Zinn (1977ZINN, H. Secrecy, archives, and the public interest. The midwestern archivists, [s.l.], v. 2, n. 2, p. 14-26. 1977.), ecoando nos trabalhos de autores contemporâneos (JIMERSON, 2007; HARRIS, 2002HARRIS, V. The archival sliver: Power, memory, and archives in South Africa. Archival Science, v. 2, p. 63-86, 2002. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/BF02435631#citeas. Acesso em: 25 dez. 2022.
https://link.springer.com/article/10.100...
, CASWELL, 2021CASWELL, M. Urgent Archives: Enacting Liberatory Memory Work. 1. ed. Routledge Studies in Archives. New York: Routledge Press, 2021., GILLILAND, 2011GILLILAND, A. Neutrality, social justice and the obligations of archival education and educators in the twenty-first century. Archival Science, [s.l.], v. 11, n. 3-4, p.193-209, 2011. DOI: http://dx.doi.org/10.1007/s10502-011-9147-0. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s10502-011-9147-0. Acesso em: 23 dez. 2022.
http://dx.doi.org/10.1007/s10502-011-914...
) que discutem a necessidade de ampliar teorias e práticas em direção a uma aproximação para e com os grupos sociais marginalizados.

Os estudos arquivísticos críticos têm como base as teorias críticas da Escola de Frankfurt, visando discutir as relações dos arquivos com os fenômenos estruturais da sociedade, com especial ênfase no impacto desses na práxis Arquivística. Assim, emergem as discussões sobre a análise e operação do poder no contexto de criação dos documentos, nas funções Arquivísticas (especialmente na criação, descrição e avaliação) e nos princípios e conceitos que sustentam a disciplina. Consequentemente, são afetadas as relações com a atuação profissional dos arquivistas, cuja formação deve se pautar, também, em um ensino voltado para a ética e para o cuidado com o outro.

Os estudos arquivísticos críticos são abordagens que visam explicar o que é injusto na prática e pesquisa da Arquivologia contemporânea com agendas de pesquisa com objetivos para transformar a prática e a teoria Arquivística e a sociedade de maneira ampla (CASWELL; PUNZALAN; SANGWAND, 2017CASWELL, M.; PUNZALAN, R.; SANGWAND, T. Critical Archival Studies: an Introduction. Journal of Critical Library and Information Studies, v. 1, n. 2, p. 1-8, 2017. DOI: https://doi.org/10.24242/jclis.v1i2.50. Disponível em: https://journals.litwinbooks.com/index.php/jclis/article/view/50/30. Acesso em: 23 dez 2022.
https://doi.org/10.24242/jclis.v1i2.50...
). Esses esforços incluem diferentes teorias, como a teoria crítica da raça, teoria queer, teoria feminista, teorias pós-coloniais e decoloniais.4 4 Destacamos que, embora não exista consenso sobre a decolonialidade inserida nas teorias críticas, estamos partindo, por ora, da visão de que seja uma teoria alternativa àquelas da Arquivística tradicional, sendo considerada, portanto, uma teoria crítica.

Entendemos o conceito de decolonialidade tendo como base os autores/autoras da vertente modernidade-colonialidade. Assim como ocorre com as teorias críticas, o campo dos estudos decoloniais é muito amplo e envolve diferentes áreas do conhecimento. Mas, de que falamos quando usamos o sentido decolonial em âmbito arquivístico? Trata-se de decolonizar o que exatamente? A disciplina Arquivística, as práticas em um Arquivo, a forma como atuamos, ensinamos e pensamos os Arquivos?5 5 “Uma pergunta final é: devemos ter o objetivo de 'decolonizar os arquivos'? Reconhecendo os paradigmas coloniais inerentes que informam e moldam os arquivos como instituições, propomos afastar-nos da questão da decolonização dos próprios arquivos e sugerir, em vez disso, a aplicação de uma sensibilidade crítica decolonial historicamente informada em nosso envolvimento com os arquivos.” (FRASER; TODD, 2016, s-p, tradução nossa)

Certamente, pode tratar-se de todas elas e envolver tantas outras formas possíveis, com foco em romper com a dimensão colonial existente, desde uma decolonialidade centrada no poder, saber ou ser. Há, portanto, muitos caminhos para responder a essas perguntas.

Ao olharmos para a questão, um caminho possível é a compreensão de que quando falamos em decolonialidade, reconhecemos a existência da colonialidade, isto é, que há, ainda, uma forma de dominação existente enquanto uma “lógica global de desumanização”. Nesse sentido, a decolonialidade “refere-se a luta contra a lógica da colonialidade e seus efeitos materiais, epistêmicos e simbólicos” (MALDONADO-TORRES, 2018MALDONADO-TORRES, N. Analítica da colonialidade e da decolonialidade: algumas dimensões básicas. In: BERNARDINO-COSTA, Joaze; GROSFOGUEL, Ramón. (org.). Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2018, p. 9-26.. p. 36), sendo, portanto, um conceito que está alinhado com o conceito de libertação.

Maldonado-Torres utiliza o termo “giro decolonial” para referir-se “tanto a uma mudança de atitude como a afirmação de um projeto de ação que envolve intervenções políticas, artísticas, intelectuais, epistemológicas, entre outras” (MALDONADO-TORRES, 2020MALDONADO-TORRES, N. El Caribe, la colonialidad, y el giro decolonial. Latin American Research Review, v. 55, n. 3, p. 560-573, 2020. Disponível em: https://www.cambridge.org/core/journals/latin-american-research-review/article/el-caribe-la-colonialidad-y-el-giro-decolonial/3063123107450770B0313350A6545B6E. Acesso em: 23 dez 2022.
https://www.cambridge.org/core/journals/...
, p. 562, tradução nossa), de forma que a compreensão de decolonialidade tem a ver com “a produção de um mundo novo e de uma noção e prática nova de ser humano” (MALDONADO-TORRES, 2020, p. 562, tradução nossa). Atribuindo esse mesmo sentido em âmbito arquivístico “a decolonização dos arquivos é uma manifestação crítica dessa “mente decolonial” em desenvolvimento e os registros que uma comunidade cria estão no centro dessa progressão.” (BASTIAN; AARONS; GRIFFIN, 2008, p. 3, tradução nossa).

A respeito das origens dos Arquivos, e considerando o contexto da Revolução Francesa, compreendemos que os “arquivos nacionais e os princípios que sustentam sua gestão são sempre já coloniais e imperiais [...]” (GHADDAR; CASWELL, 2019GHADDAR, J; CASWELL, M. Towards a Decolonial Archives. Archival Science, [s.l.], n.19, p. 71-85, 2019. DOI: https://doi.org/10.1007/s10502-019-09311-1.Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s10502-019-09311-1. Acesso em: 23 dez 2022.
https://doi.org/10.1007/s10502-019-09311...
, p. 76, tradução nossa).

[...] a práxis arquivística decolonial começa a partir desse entendimento de que o colonialismo, o império e a raça ocidentais são aspectos muito mais penetrantes de nosso campo do que geralmente se considera. De fato, eles estão inextricavelmente enredados com todas as facetas de como pensamos, falamos e trabalhamos no campo porque são características definidoras da modernidade em todos os lugares, inclusive na forma neoliberal hoje (GHADDAR; CASWELL, 2019GHADDAR, J; CASWELL, M. Towards a Decolonial Archives. Archival Science, [s.l.], n.19, p. 71-85, 2019. DOI: https://doi.org/10.1007/s10502-019-09311-1.Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s10502-019-09311-1. Acesso em: 23 dez 2022.
https://doi.org/10.1007/s10502-019-09311...
, p. 78, tradução nossa).

Nesse sentido, abordar a decolonialidade na área pode ser considerada uma ação contra as lógicas coloniais no contexto dos registros e da memória. Por exemplo, a criação de narrativas pelo foco do oprimido pode envolver a criação de arquivos comunitários ou participativos, entre outras ações.

Em síntese, os estudos arquivísticos decoloniais visam romper com a lógica da colonialidade existente no campo, seja no ensino ou nas práticas de criação e preservação da memória. Por fim, sobre as dimensões decolonial e crítica juntas, não temos a pretensão de esgotar o assunto aqui, já que o tema demanda estudos mais aprofundados, porém, entendemos que uma forma inicial de analisar a literatura internacional da área é situar ambas enquanto correntes epistêmicas que visam mudanças de forma estrutural nas práxis Arquivísticas.

3 OS DOMÍNIOS EDITORIAIS TEMÁTICOS ENQUANTO CAMINHOS DE VISIBILIDADE NA COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

Nesta seção, apresentamos a vertente editorial temática enquanto um domínio, compreendido segundo um “corpo de conhecimento, definido social e teoricamente como o conhecimento de um grupo de pessoas que compartilham compromissos ontológicos e epistemológicos [...] níveis de estabilidade e infraestrutura”(HJØRLAND, 2017HJØRLAND, B. Domain analysis. Knowledge Organization, [s.l.], v.44, n. 6, p. 436-464, 2017., s. p.). Cabe destacar, também, que um domínio pode ser definido enquanto um conjunto literário ou um grupo de pessoas trabalhando juntas em uma organização (MAI, 2005MAI, J. E. Analysis in indexing: document and domain centered approaches. Information Processing and Management, [s.l.], v. 41, n. 3, p. 599-661, 2005.; REGO, 2020REGO, L. M. P. O periódico científico como forma de representação de domínio em ciência da informação: uma análise da revista BRAJIS (2006-2019). 2020. 571 p. Tese. (Doutorado em Ciência da Informação). Universidade Estadual Paulista (Unesp). Faculdade de Filosofia e Ciências, Marília, 2020.).

O mapeamento de um domínio pode ocorrer por diferentes vias, mas ao caracterizar as linhas editoriais enquanto um domínio, torna-se possível conhecer a procedência de grupos que escrevem sobre um tema, o que consideramos ser um importante elemento para a caracterização de comunidades discursivas, compreendidas aqui “enquanto distintos grupos sociais sincronizados em pensamento, linguagem e conhecimento, constituintes da sociedade moderna” (HJØRLAND; ALBRECHTSEN, 1995HJØRLAND, B.; ALBRECHTSEN, H. Toward a new horizon in information science: domain-analysis. Journal of the American Society for Information Science, [s.l.], v. 46, n. 6, p. 400-425, 1995., p. 400).

No Brasil, as linhas editoriais da área da Arquivística estão centradas e relacionadas com os campos da História, da Ciência da Informação e da Organização do Conhecimento. Tem-se, por exemplo, periódicos arquivísticos ligados às Associações profissionais, com foco em textos teóricos e aplicados da área dos arquivos (ex. Informação Arquivística, Officina, Ágora e a extinta Arquivo & Administração), outros são ligados às instituições Arquivísticas, notadamente aos arquivos públicos, com foco em textos acadêmicos e práticos, tangenciando os temas ligados à história e à administração (ex. Revista Acervo, Revista do Arquivo Público Mineiro, Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio Janeiro); há, ainda, periódicos ligados aos programas de pós-graduação em Ciência da Informação, os quais conformam as ligações entre Arquivologia, Ciência da Informação e Organização do Conhecimento (ex. Informação & Informação, Em Questão, Encontros Bibli, entre outros).

Além dos periódicos, editoras como a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) possuem séries temáticas dedicadas aos estudos arquivísticos. Todos esses domínios atuam enquanto canais de comunicação científica, direcionando a formação, atuação e o ensino em Arquivística, contribuindo para a visibilidade e conformação da comunidade discursiva da área. No contexto internacional, os domínios editoriais da Arquivística também seguem uma formação parecida, como será demonstrado na seção 5 deste trabalho.

4 METODOLOGIA

A metodologia utilizada é do tipo exploratória e descritiva com o uso da Análise de Domínio com as lentes de estruturação científica e epistêmica. As etapas do trabalho foram sistematizadas na Tabela 1:

Tabela 1
Procedimentos metodológicos para a seleção, composição e análise do corpus

Segundo Tennis (2012TENNIS, J. Com o que uma análise de domínio se parece no tocante a sua forma, função e gênero? Brazilian Journal of Information Science: research trends, [s.l.], v. 6, n. 1, p 3-15. 2012.), há dois tipos de Análise de Domínio, a descritiva e a instrumental: a primeira é utilizada somente em pesquisas básicas, enquanto a instrumental é usada para criar sistemas de organização do conhecimento. Para fins deste trabalho, as análises estão focadas no âmbito descritivo, seguindo as etapas: a) definição do domínio - domínio editorial em âmbito arquivístico de cunho crítico e decoloniaI, no período de 2017-2022; b) escopo e alcance - dois dossiês de periódicos (um da Archival Science e outro da JCLIS) e seis livros (1 da Litwin Books e 5 da Routledge); e c) propósito - mapear o domínio editorial em âmbito arquivístico de cunho crítico e decolonial, mediante dossiês temáticos e linhas editoriais de séries de livros, para iniciar a caracterização da comunidade discursiva do domínio analisado.

Outra observação que julgamos necessária acrescentar aqui diz respeito às escolhas metodológicas para a seleção de artigos e livros que tivessem os termos decolonial e/ou estudos críticos no título dos dossiês/artigos, o que certamente limitou a pesquisa, deixando de fora alguns trabalhos que, apesar de não trazerem no título os termos “decolonial” ou “crítico, apresentam estudos emancipatórios nesta direção.

Considerando ainda que os escopos de séries são descrições de objetivos gerais, optamos por considerar, também, os termos do núcleo mais amplo como, por exemplo, justiça social e direitos humanos. Outro ponto observado foi a presença da menção à ampliação e/ou questionamento dos estudos arquivísticos, na descrição dos objetivos dos dossiês temáticos e das séries de livros. Essa situação foi observada no caso da Routledge Studies.

É importante esclarecermos, ainda, que temos consciência de que a presença dos termos decolonial e crítico no título não necessariamente significa que houve, de fato, um projeto de pesquisa em direção a uma agenda decolonial ou crítica, mas ainda assim devem ser considerados parte do corpus não só por estarem de acordo com os critérios estabelecido nesta pesquisa, como pelo fato de considerarmos que os textos podem contribuir para tornarem explícitos os termos e as discussões.

Certamente, há ainda um caminho a ser percorrido nas pesquisas de cunho decolonial e crítico que devem englobar estudos mais verticalizados em direção, por exemplo, à análise de conteúdo dos textos, a fim de um mapeamento mais completo da questão decolonial na Arquivística. Aqui não pretendemos esgotar o debate, mas, sim, iniciá-lo e apontar a sua necessidade.

5 RESULTADOS: ANÁLISES E DISCUSSÕES

Conforme o critério da pesquisa para a seleção do corpus, qual seja, a vertente crítica e decolonial no domínio editorial internacional da Arquivística, foram selecionados dois periódicos (Archival Science e Journal of Critical Library and Information Studies) e duas editoras com séries temáticas (Litwin Books - Série: Archives, Archivists and Society e Routledge- Série Studies in Archives).6 6 Embora a editora Faceta Publishing, da Cambrigde, possua a série Principles and Practice in Records Management and Archives, ela não foi considerada parte do corpus por não haver no escopo da série a vertente crítica e decolonial, embora possua títulos como Community Archives: the shapping of memory (2009) de Jeannette A. Bastian; Community Archives, Community Spaces: Heritage, Memory and Identity (2019) de Jeannette A. Bastian e Andrew Flinn e Participatory Heritage de Henriette Roued-Cunliffe e Andrea Copeland. Em seguida, apresentam-se os resultados obtidos, categorizados em três subseções: 5.1 Domínio editorial: Edições temáticas de periódicos; 5.2 Domínio editorial: Séries de livros; e 5.3 Caracterização geral dos domínios editoriais de periódicos e livros em conjunto.

5.1 Domínio editorial: Edições temáticas de periódicos

O Archival Science é um periódico internacional, de periodicidade trimestral, publicado pela Springer. Seus editores atuais, Karen Anderson, Gillian Oliver e Elizabeth Yakel, pertencem a três diferentes países (Suécia, Austrália e Estados Unidos, respectivamente), assim como seu corpo editorial, que engloba pesquisadores renomados de diferentes continentes, o que demonstra uma intenção em pluralizar o debate acerca da Arquivística, considerando diferentes contextos, abordagens e teorias. Sobre sua política de acesso, há alguns artigos em formato open source7 7 Na política de acesso, consta que os autores/autoras que optam por publicar em acesso aberto devem pagar uma taxa de processamento do artigo. , mas predomina o formato pago. Em seu escopo, o periódico:

[...] promove o desenvolvimento da arquivística enquanto uma disciplina científica autônoma. A revista cobre todos os aspectos da teoria, metodologia e prática da ciência arquivística. Além disso, investiga diferentes abordagens culturais para a criação, gestão e fornecimento de acesso a arquivos, registros e dados. [...] Tem abordagem de foco integrada, interdisciplinar e intercultural. Seu escopo abrange todo o campo de informações relacionadas ao processo (recorded process-related information), analisadas em termos de forma, estrutura e contexto. Para atingir seus objetivos, a revista se baseia em disciplinas científicas que lidam com a função dos registros e a maneira como são criados, preservados e recuperados; o contexto no qual a informação é gerada, gerenciada e usada; e o ambiente social e cultural da criação de documentos em diferentes épocas e lugares. (WEBSITE ARCHIVAL SCIENCE, 2022, tradução nossa).

Desde os primeiros números em 2001 até 2022, foram publicadas 75 edições, sendo 25 temáticas, conforme o Quadro 1:

Quadro 1
Relação das edições especiais da Archival Science (2001-2022)

É possível notar a continuidade de edições especiais, em específico de temas sobre a dimensão de mudanças epistêmicas na área, como, por exemplo, com focos de justiça social, direitos humanos, ativismo, entre outros. Nesse mesmo segmento, outra análise refere-se aos editores e editoras, onde nota-se que são referenciais nos temas, publicando sobre eles e construindo editoriais que dão visibilidade às dimensões discutidas nas edições temáticas.

No que concerne especificamente ao pensamento crítico e decolonial, destacam-se as edições8 8 Compõem o corpus dessas edições 105 artigos que estão sendo analisados em uma pesquisa em andamento de um dos autores deste texto, e que têm sido influentes para as discussões de teorias e métodos do pluralismo arquivístico. de 2009 (Vozes indígenas e comunitárias em arquivos), 2011 (Os arquivos e a ética da construção da memória; Arquivos, registros e identidades - questões de confiança), 2012 (Mantendo culturas vivas: arquivos e direitos humanos indígenas; Estudos de gêneros em arquivos), 2013 (Memória, identidade e paradigma arquivístico), 2014 (Arquivos e direitos humanos), 2015 (Archiving Ativismo e ativismo arquivístico), 2016 (Afeto e Arquivo, Arquivos e seus afetos), 2017 (Ir além: em direção a uma práxis arquivística decolonial), 2019 (Arquivos na mudança climática I e II) e 2021 (Pensamento arquivístico: arqueologias e genealogias), cujos editores são Andrew Flinn, Elizabeth Shepherd, Sue McKemmish, Wendy M. Duff, Michelle Caswell, Ben Alexander, Anne J. Gilliland, Marika Cifor, Ricardo L. Punzalan, Jamila Ghaddar, James Lowry e Heather MacNeil.

O segundo periódico, Journal of Critical Library and Information Studies (JCLIS) teve início em 2017, seu editor chefe é André Lau, e os editores associados são: Emily Drabinski e Rory B. Litwin. Sua publicação é em acesso aberto pela editora acadêmica independente de livros sobre mídia, comunicação e registro cultural, a Litwin Books. Apesar desse periódico não ser voltado apenas para a Arquivística, há uma predominância de focos da área, com publicações de autoras e autores representativos dentro dos estudos arquivísticos críticos e decoloniais. Nesse sentido, cabe ressaltar sua ênfase na dimensão explícita de cunho crítico, ao mencionar o objetivo de:

[...] dar visibilidade a pesquisas inovadoras que questionam e criticam os paradigmas atuais e predominantes em estudos de biblioteca e informação, na teoria e na prática por meio de abordagens críticas e perspectivas que se originam nas ciências humanas e sociais. A JCLIS está empenhada em fornecer uma plataforma para a publicação de pesquisa inter/multi/transdisciplinar rigorosa que, de outra forma, poderia ser marginalizada dos discursos dominantes. (WEBSITE JCLIS, 2022, tradução nossa).

Desde sua criação o periódico publicou 6 edições, todas temáticas.

Quadro 2
Relação das edições do JCLIS (2017-2022)

Importante destacar que até o fechamento desse artigo, haviam duas edições ainda em versão pre-print, que não foram consideradas no trabalho, sendo estas: 2020, v.3) "Chatman Revisited: Re-examining and Resituating Social Theories of Identity, Access, and Marginalization in LIS" (6), com as editoras Dr. Nicole A. Cooke e Dr. Amelia N. Gibson; e 2022, v. 4) "Library and Information Studies and the Mattering of Black Lives"(2) com as editoras: Michelle Caswell, Safiya Umoja Noble, Sarah T. Roberts e Tonia Sutherland.

Situado nos temas de mudanças, na medida que se aproxima de um pensamento crítico e decolonial, destacamos por meio da análise dos títulos as edições de 2017 (Inaugural Issue; Critical Archival Studies) e 2021 (Radical Empathy in Archival Practice ), cujos editores são: Michelle Caswell, Ricardo Punzalan, T-Kay Sangwand, Elvia Arroyo-Ramírez, Jasmine Jones, Shannon O’Neill e Holly A. Smith. Os temas dos arquivos aparecem, também, em textos de outras edições, apesar de não serem mencionados nos títulos dos dossiês (há um total de 59 artigos, e destes, os tópicos arquivísticos constam de forma frequente).

Sobre a dimensão editorial de periódicos, devido à necessidade de um recorte, optamos por detalhar os artigos das edições cujo tema explícito é a dimensão decolonial e crítica, selecionando, portanto, uma edição de cada periódico que são representativos de tais questões, conforme ilustra o Quadro 3:

Quadro 3
Caracterização do domínio editorial de periódicos com focos críticos e decoloniais na Arquivística (2017 e 2019)

Na dimensão dos periódicos 23 autores/autoras estão a cargo das publicações, sendo que Caswell e Sutherland figuram tanto como autoras da dimensão crítica quanto decolonial, e a primeira repete essa característica enquanto editora. Notamos que os autores/autoras no geral são docentes da área de Arquivística, o que revela o envolvimento do campo com esses temas, ainda que em estágio inicial.

5.2 Domínio editorial: Séries de livros

No domínio editorial, a editora Litwin Books, possui uma série intitulada Archives, Archivists and Society. A editora, localizada em Sacramento, Califórnia, caracteriza-se por ser uma editora independente sobre mídia, comunicação e registro cultural, cujo foco crítico consta em seu escopo:

Somos interdisciplinares em escopo e intenção e reunimos trabalhos de uma variedade de disciplinas, incluindo estudos arquivísticos, estudos de mídia, estudos de comunicação, estudos culturais, estudos de informação, filosofia da tecnologia, história da comunicação, história de arquivos e bibliotecas e campos relacionados. Nossa independência de instituições maiores nos dá a liberdade de oferecer perspectivas críticas que vão contra a corrente, bem como, ocasionalmente, dar mais liberdade aos pesquisadores cujo trabalho esteja fora de seu fluxo editorial comum. (WEBSITE LITWIN BOOKS, 2022, tradução e grifo nosso).

A editora possui um selo intitulado Library Juice Press, que também publica livros com questões teóricas e práticas na Biblioteconomia e Ciência da Informação a partir de uma perspectiva crítica. Há um total de cinco séries temáticas que ilustram essa dimensão contracorrente: 1) Critical Book, Publishing, and Literacy Studies; 2) Critical Information Organization in LIS; 3) Critical Race Studies and Multiculturalism in LIS; 4) Gender and Sexuality in Information Studies e, 5) Archives, Archivists and Society. Nesse trabalho, nosso foco será nesta última série, cuja editora é a Michelle Caswell, professora da UCLA.

Esta série destaca publicações em estudos arquivísticos críticos [...] A série oferece várias perspectivas de dentro e fora da comunidade arquivística sobre a ideia de arquivos, a educação dos arquivistas, os fundamentos históricos e os aspectos mais recentes que definem o conhecimento arquivístico, líderes arquivísticos e teóricos e novas ideias que influenciam como agora vemos e valorizamos arquivos e arquivistas em nossa era atual. Estas publicações destinam-se a arquivistas praticantes, estudiosos dentro e fora dos estudos arquivísticos e outros interessados na natureza dos arquivistas e arquivos, e estudantes que se preparam para carreiras arquivísticas. (WEBSITE LITWIN BOOKS, 2022, tradução e grifo nosso).

Apresentamos no Quadro 4 as edições publicadas pela Litwin da série Archives, Archivists and Society até 2022.

Quadro 4
Relação das edições da série Archives, Archivists and Society da editora Litwin Books (2008-2020)

Os nove livros que compõem a série retratam temas de aspectos teóricos e metodológicos da área da Arquivística, e há alguns que focam nas perspectivas contemporâneas da área, como os das edições de 2014, 2015, 2018 e 2020. Importante ressaltar que essa taxonomia de séries da editora apresenta uma dimensão inter relacionada com outras, por exemplo, há quatro livros da série Gender And Sexuality In Information Studies que possuem relação com a dimensão Arquivística, sendo eles: (2012) Make Your Own History: Documenting Feminist and Queer Activism in the 21st Century, editado por Lyz Bly e Kelly Wooten; (2014) Ephemeral Material: Queering the Archive, por Alana Kumbier; (2020) Documenting Rebellions: A Study of Four Lesbian and Gay Archives in Queer Times por Rebecka Taves Sheffield e, (2021) The Social Movement Archive por Jen Hoyer e Nora Almeida.

Já a editora britânica Routledge é multinacional, de abrangência global nas áreas em humanidades e ciências sociais. De acordo com informações na Wikipédia a empresa publica aproximadamente 1.800 periódicos e 5.000 novos livros a cada ano e sua lista de catálogos abrange mais de 70.000 títulos. Ela conta com mais de 300 séries nessas áreas do conhecimento.

O site da editora não apresenta categoria específica do campo de estudos da informação, há uma classe na busca por assunto intitulada: Reference & Information Science, e dentro dela: Library & Information Science. Com esse fluxo é possível chegar a séries como "Studies in Library and Information Science", entre outras. Quando se busca por livros, nem todos são classificados dentro de uma série, e essa padronização parece se aplicar aos mais recentes. Esse foi o caso de nossa busca por “archival” em que foi possível chegar à série foco deste artigo, Studies in Archives.

A série Routledge Studies in Archivespublica pesquisas novas e de ponta em estudos arquivísticos. Reconhecendo o imperativo do trabalho de record-keeping em apoio à memória, justiça social, sistemas técnicos, direitos legais e compreensão histórica, esta série amplia os limites disciplinares dos estudos arquivísticos. Ele vê o arquivamento em atividades pessoais, econômicas e políticas, culturas histórica e digitalmente situadas, subculturas e movimentos, desenvolvimentos tecnológicos e de infraestrutura e em muitos outros lugares [...] traz conhecimento de diversas tradições acadêmicas e culturais para uma conversa e apresenta o trabalho de estudiosos emergentes e estabelecidos, lado a lado. Promove a exploração da história intelectual da arquivologia, a internacionalização do discurso arquivístico e a construção de uma nova teoria arquivística. (WEBSITE ROUTLEDGE, 2022, tradução e grifo nosso).

A série é recente, com início em 2020, e conta com sete livros publicados até 2022. À frente como editor está o Professor da City University of New York, James Lowry.

Quadro 5
Relação da série Studies in Archives da editora Routledge (2022)

Assim como na Litwin Books, a Routleged também publicou livros sobre Arquivística que não se encontram na série analisada aqui, e cujas temáticas se enquadram no escopo crítico: Archives and Human Rights, editado por Jens Boel, Perrine Canavaggio e Antonio González Quintana com 17 capítulos (2021); Disputed Archival Heritage editado por James Lowry com 12 capítulos (2022); e Displaced Archives também editado por James Lowry com 12 capítulos (2021).

No que tange à caracterização do domínio editorial na dimensão dos livros publicados, devido à necessidade de um recorte para este artigo, são detalhados apenas as obras cujo tema explícito é a dimensão decolonial e crítica. Nesse sentido, apresentamos no Quadro 6, as obras selecionadas para este estudo.

Quadro 6
Caracterização do domínio editorial capítulos com focos críticos e decoloniais na Arquivística a partir das séries na Litwin Books e Routledge

Na dimensão editorial de livros, desconsiderando os duplicados, tem-se 77 autores/autoras. Dentre eles, os que publicaram mais de um capítulo nas coletâneas analisadas são: Allison O. Ramsay (2); Andrew Flin (2); Gracelyn Cassells (2); James Robertson (2); Joel A. Blanco-Rivera (2); Sharon Alexander-Gooding (2); David A Wallace (3); Jeannette A. Bastian (3); Stanley H. Griffin (3); Wendy M. Duff (3) e John A. Aarons (5). Destacam-se Caswell, Harris e Hoyle, enquanto autores de livros completos.

5.3 Caracterização geral dos domínios editoriais de periódicos e livros em conjunto

A caracterização conjunta desses domínios soma 8 editoriais com 2 dossiês em revistas e 6 livros, sendo esses últimos 3 de autoria única e 3 de coletâneas (descritos nos quadros 3 e 6).

Para essa análise, utilizamos a lente de estruturação científica, visando identificar: a) nome do periódico ou livro e sua caracterização; b) número, volume e ano de publicação; c) nome dos autores e editores; d) título dos artigos e capítulos; e) idioma das publicações; f) temas dos trabalhos, e g) condições de acesso.

Assim, sob a lente de estruturação científica, além dos elementos apresentados nas seções anteriores, tem-se os anos de publicação variando entre 2017 e 2022, no idioma inglês.

No que toca aos temas, é possível observar as categorias identificadas previamente por Tognoli e Rocha (2021TOGNOLI, N B; ROCHA, G. M de Q. A justiça social na Arquivologia: uma revisão de literatura. ÁGORA: Arquivologia em Debate, [s.l.], v. 31, n.63, p. 1-23, 2021. Disponível em: https://agora.emnuvens.com.br/ra/article/view/987. Acesso em 23 dez 2022.
https://agora.emnuvens.com.br/ra/article...
) ao analisarem os trabalhos sobre justiça social na literatura internacional, quais sejam: Contextos e Comunidades (Abandono, Pessoas com deficiência, Ditadura, Educação, Ética, Feminismo, Guerras, Comunidades Indígenas, Minorias Étnicas e Religiosas, Movimento LGBTQIA+, Movimento Negro e Teoria Arquivística); e Lutas (Igualdade, Reconciliação, Reconhecimento, (Re)construção da identidade, Reivindicação e Reparação e Revisão teórica). Sobre o acesso, a maioria dos textos não se encontra em acesso aberto, com exceção do periódico JCLIS.

Para além da lente de estruturação científica, buscando iniciar a caracterização da comunidade, utilizamos, também, a lente epistêmica biográfica, visando identificar: a) nome do autor-autora/editor-editora; b) atuação profissional; c) temas de pesquisa; d) formação acadêmica; e) filiação institucional; f) país.

Os resultados demonstram que esses domínios estão a cargo de 13 atores, sendo eles:

Quadro 7
Caracterização editores/autores categorizados por universidades e país

Uma reflexão possível a respeito desses dados é: o que significa ter editores e autores predominantes em universidades da América do Norte?

Certamente essa discussão não vai encontrar nesse trabalho um ponto final, mas, podemos evidenciar que há uma geografia desses debates ligados aos autores de universidades com investimentos e presença no cenário global. No entanto, há ainda, a presença de países como Jamaica e África do Sul, aspecto que podemos evidenciar enquanto positivo para tais discussões. Precisamos, ainda, de outros estudos para avaliar essa dimensão geográfica, e acreditamos que as discussões de Mignolo (2020MIGNOLO, W. Histórias locais, projetos globais: Colonialidade, saberes subalternos e pensamento liminar. Tradução de Solange Ribeiro de Oliveira. 1. ed. rev. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2020.) e outros autores/autoras da geopolítica do conhecimento podem enriquecer o debate.

No que tange aos dados biográficos, observamos que a maioria dos autores é ou foi docente em universidades, em departamentos de estudos da informação, com temas e pesquisa que englobam o espectro da dimensão crítica e decolonial (arquivos comunitários, justiça social, história oral, impacto emocional do trabalho arquivístico, arquivos digitais, memória, direitos humanos, entre outros). Há, ainda, autores/editores com trajetórias em instituições Arquivísticas como Verne Harris (Fundação Nelson Mandela) e John A. Aarons (Arquivo da Jamaica).

Sobre a formação acadêmica, todos possuem um background forte nas ciências humanas, com graduação e especialização nas áreas de Ciência da Informação, Biblioteconomia, Arquivística, História e Antropologia. Os autores/editores concentram-se em cinco países, com destaque para a América do Norte: Estados Unidos (5); Canadá (3); Jamaica (2); Inglaterra (2) e África do Sul (1).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O percurso aqui adotado teve como objetivo mapear e dar visibilidade ao campo da temática crítica e decolonial nos estudos arquivísticos, no domínio editorial do contexto internacional, considerando estas, enquanto duas correntes epistêmicas que visam mudanças de forma estrutural na práxis Arquivística.

De acordo com o critério de pesquisa, conforme os termos de busca, método e recorte realizado9 9 Destacamos aqui que esses resultados foram recuperados a partir de nosso recorte, desconsiderando, por exemplo, outros tipos de estudos críticos em informação que o estudo não abarcou. Não podemos esquecer que há diversos livros que foram publicados em formato impresso e que não foram foco do trabalho, especialmente aqueles do início do século passado. A questão de direitos autorais, editorias independentes e pequenas editoras também são uma das formas estratégicas de publicação nos estudos informacionais que ficam de fora do escopo tradicional. Não podemos esquecer que havia e há uma narrativa a ser preservada quando estamos falando dos estudos informacionais e de seu histórico. , observamos que a produção científica na área ainda é recente, com uma literatura escassa, produzida por uma comunidade discursiva ainda em desenvolvimento, no idioma inglês, e publicada em periódicos e livros que não estão em acesso aberto, com exceção do periódico JCLIS. Tal modelo de publicação denota uma total contradição com a proposta crítica e decolonial defendida por esses autores e autoras, uma vez que limita o conhecimento, excluindo o sul global e suas epistemologias, comprometendo, por exemplo, na América Latina, a divulgação de propostas e debates de um giro decolonial em âmbito arquivístico.

Por outro lado, é importante reconhecer esses esforços e notar que, não por acaso, o interesse em uma decolonização dos arquivos e da práxis Arquivística parte de países que foram colonizados, como Estados Unidos, Canadá e África do Sul, e que são raras as iniciativas em países europeus colonizadores (com exceção dos estudos de Flinn e Hoyle na Inglaterra).

Tal interesse acontece de forma predominante nas discussões realizadas no contexto acadêmico, por pesquisadores com formação humanística e projetos de pesquisa e laboratórios que visam não apenas o debate epistemológico da questão, mas, também, a aplicação de novas práticas e metodologias para a construção de um trabalho de memória libertadora, com a participação mais ativa da comunidade. Por outro lado, tal iniciativa é vista com menos vigor no âmbito das instituições Arquivísticas tradicionais, o que demonstra que o debate ainda está longe de se esgotar e que há muitos espaços a serem explorados, em especial no Brasil.

Em vista disso, podemos mencionar dois eixos de análises/desafios que se interrelacionam a respeito de futuras possibilidades para que esses horizontes possam ser terrenos férteis nas pesquisas e projetos de docentes e discentes da Arquivística brasileira: acesso/traduções e diálogos com nossa realidade social.

Para a questão do acesso a esses horizontes, há a necessidade de traduções, o que envolve um alinhamento terminológico desafiador10 10 O trabalho de Delgado Gómez (2007) sobre La indeterminação de la traducción archivística pode iniciar o debate, ajudando inclusive, a fundamentar mediante seus argumentos, quais conceitos podem ser traduzidos nesse campo semântico da crítica e decolonialidade na perspectiva Arquivística cujos trabalhos em idioma inglês têm sido predominantes. , discussões sobre políticas editoriais (escolha do formato e tipo de mercado editorial), além de incentivos e financiamento de publicações nacionais com tais temáticas.

A visibilidade (por meio de traduções ou eventos) desse domínio editorial crítico e decolonial dos estudos arquivísticos para o contexto nacional pode enriquecer os diálogos a respeito dos desafios inerentes à nossa realidade social, por ser fomento às discussões de um “trabalho de memória libertadora”11 11 O termo “trabalho de memória libertadora” (‘liberatory memory work’) aparece pela primeira vez em 2014 e seu objetivo “[...] é liberar as sociedades dos ciclos de violência, preconceito e ódio e, em vez disso, criar sociedades vibrantes e conscientes que se esforcem para alcançar um equilíbrio justo entre os direitos individuais e coletivos. [...] O trabalho de memória libertadora responde fundamentalmente ao apelo da justiça.” (GOULD; HARRIS, 2014, p.5, tradução nossa). , seja em âmbito do saber, poder ou ser, que comporta as vastas possibilidades do registro, em diferentes contextos latino-americano arquivísticos.

Por meio deste mapeamento foi possível chegarmos à identificação, ainda que inicial, da lógica da estruturação científica das temáticas crítica e decolonial na Arquivística internacional, o que nos permite conhecer os recursos informacionais disponíveis que podem ser utilizados no ensino, na pesquisa ou extensão, ao tratar sobre os temas. No entanto, é importante destacarmos que a identificação da dimensão editorial com autores e temáticas revela seus desafios do ponto de vista do recorte-temporal e geográfico.

Ainda, a identificação de editores e editoras certamente pode ser considerado um primeiro passo para a caracterização de uma comunidade discursiva compromissada com o rompimento estrutural na práxis Arquivística, visando, de forma crítica, ser mais plural, comunitária e inclusiva.

Enquanto recomendações futuras, esperamos que sejam realizadas pesquisas mais verticalizadas sobre essa comunidade, com vistas a fomentar o incentivo de domínios editoriais críticos e decoloniais arquivísticos para o contexto brasileiro, e também, da América Latina. Para o cenário brasileiro acreditamos que será necessário, além de fomentos com a tradução desses domínios, pensar também na formação continuada dos docentes dos cursos de Arquivologia, para que possam conhecer e se envolver com tais dimensões de rupturas/ampliação da Arquivística tradicional com objetivos emancipatórios mediante realização de projetos e pesquisas com discentes, em especial na extensão.

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  • CONJUNTO DE DADOS DE PESQUISA

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  • PUBLISHER

    Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação. Publicação no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade.
  • 1
    Busca realizada no dia 02/04/2023.
  • 2
    O trabalho recuperado é de Tognoli e Rocha (2021) intitulado: A justiça social na Arquivologia: uma revisão de literatura.
  • 3
    Este artigo faz parte de um dos eixos de um projeto coletivo e colaborativo maior, ainda em construção, intitulado: Mapeamento de domínios editoriais críticos e decoloniais na área de estudos da informação: Foco nas áreas da Arquivística, Biblioteconomia, Ciência da Informação e a Organização do Conhecimento (2000-2022), que visa identificar autores/as, vínculos institucionais, e temáticas a partir de um enfoque da Análise de Domínio com as lentes de estruturação científica, epistêmica-biográfica, e bibliométrica.
  • 4
    Destacamos que, embora não exista consenso sobre a decolonialidade inserida nas teorias críticas, estamos partindo, por ora, da visão de que seja uma teoria alternativa àquelas da Arquivística tradicional, sendo considerada, portanto, uma teoria crítica.
  • 5
    “Uma pergunta final é: devemos ter o objetivo de 'decolonizar os arquivos'? Reconhecendo os paradigmas coloniais inerentes que informam e moldam os arquivos como instituições, propomos afastar-nos da questão da decolonização dos próprios arquivos e sugerir, em vez disso, a aplicação de uma sensibilidade crítica decolonial historicamente informada em nosso envolvimento com os arquivos.” (FRASER; TODD, 2016, s-p, tradução nossa)
  • 6
    Embora a editora Faceta Publishing, da Cambrigde, possua a série Principles and Practice in Records Management and Archives, ela não foi considerada parte do corpus por não haver no escopo da série a vertente crítica e decolonial, embora possua títulos como Community Archives: the shapping of memory (2009) de Jeannette A. Bastian; Community Archives, Community Spaces: Heritage, Memory and Identity (2019) de Jeannette A. Bastian e Andrew Flinn e Participatory Heritage de Henriette Roued-Cunliffe e Andrea Copeland.
  • 7
    Na política de acesso, consta que os autores/autoras que optam por publicar em acesso aberto devem pagar uma taxa de processamento do artigo.
  • 8
    Compõem o corpus dessas edições 105 artigos que estão sendo analisados em uma pesquisa em andamento de um dos autores deste texto, e que têm sido influentes para as discussões de teorias e métodos do pluralismo arquivístico.
  • 9
    Destacamos aqui que esses resultados foram recuperados a partir de nosso recorte, desconsiderando, por exemplo, outros tipos de estudos críticos em informação que o estudo não abarcou. Não podemos esquecer que há diversos livros que foram publicados em formato impresso e que não foram foco do trabalho, especialmente aqueles do início do século passado. A questão de direitos autorais, editorias independentes e pequenas editoras também são uma das formas estratégicas de publicação nos estudos informacionais que ficam de fora do escopo tradicional. Não podemos esquecer que havia e há uma narrativa a ser preservada quando estamos falando dos estudos informacionais e de seu histórico.
  • 10
    O trabalho de Delgado Gómez (2007) sobre La indeterminação de la traducción archivística pode iniciar o debate, ajudando inclusive, a fundamentar mediante seus argumentos, quais conceitos podem ser traduzidos nesse campo semântico da crítica e decolonialidade na perspectiva Arquivística cujos trabalhos em idioma inglês têm sido predominantes.
  • 11
    O termo “trabalho de memória libertadora” (‘liberatory memory work’) aparece pela primeira vez em 2014 e seu objetivo “[...] é liberar as sociedades dos ciclos de violência, preconceito e ódio e, em vez disso, criar sociedades vibrantes e conscientes que se esforcem para alcançar um equilíbrio justo entre os direitos individuais e coletivos. [...] O trabalho de memória libertadora responde fundamentalmente ao apelo da justiça.” (GOULD; HARRIS, 2014, p.5, tradução nossa).

EDITORES

Franciéle Garcês, Natalia Duque Cardona, Edgar Bisset Alvarez, Ana Clara Cândido, Genilson Geraldo.

Disponibilidade de dados

O conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo não está disponível publicamente.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    30 Jan 2023
  • Aceito
    03 Abr 2023
  • Publicado
    05 Maio 2023
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