Acessibilidade / Reportar erro

LEITURA REFLEXIVA PARA IGUALDADE DE GÊNERO: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA

Critical reading for gender equality: an experience report

RESUMO

Objetivo:

Relatar a experiência do projeto de extensão “Leitura reflexiva para igualdade de gênero” desenvolvido entre maio e agosto de 2022.

Método:

O projeto se fundamenta teoricamente nas teorias feministas, no conceito de bem-viver, de injustiça epistêmica, de competência crítica em informação e de mediação da leitura e usa o método da educadora Bell Hooks de prática educativa baseada em aceitação, afetos e diálogo como meio de se atingir uma formação emancipadora. Ele foi idealizado, colaborativamente, por uma docente e seis discentes e consistiu em seis encontros de leitura, aos sábados, no Skate Parque.

Resultado:

Os resultados incluem dificuldades e acertos. Por um lado, não houve participantes de fora do grupo, apesar da divulgação, indicando que ele não conseguiu envolver o público externo; por outro, as discentes relatam desenvolvimento de leitura e de interpretação de texto, além de aumento da segurança para se expressar. Para elas, o projeto proporcionou acesso diferenciado à leitura e promoveu diversas reflexões sobre o tema da igualdade de gênero, além de estimular sua auto-estima.

Conclusões:

Conclui que o desenvolvimento da capacidade de leitura crítica a partir de práticas pedagógicas feministas funciona. Além disso, o fortalecimento de nossas estudantes é bom para elas, para nós, para nossa profissão e ajuda a sociedade em geral a dar um pequeno passo em direção à igualdade de gênero.

PALAVRAS-CHAVE:
Práticas de leitura; Pensamento crítico; Igualdade de gênero; Injustiça epistêmica; Teorias feministas

ABSTRACT

Objective:

The objective of this paper is to report an experience report of the extension project “Critical Reading for Gender Equality” developed between May and August 2022.

Methods:

The project is theoretically based on feminist theories, on the concept of good living, of epistemic injustice, critical information literacy, mediation of reading and adopts Bell Hooks’ method of educational practice based on acceptance, affection and dialogue as a means of achieving an emancipatory formation. It was idealized, collaboratively, by a teacher and six students and consisted of six reading meetings, on Saturdays, at Skate Parquek.

Results:

The results include difficulties and successes. On one hand, there were no participants from outside the group, despite the publicity, indicating that it failed to engage external audiences; on the other, the students report development of reading and text interpretation, as well as increased confidence to express themselves. For them, the differentiated access to reading promoted several reflections on the theme of gender equality, in addition to stimulating their self-esteem.

Conclusions:

It concludes that the development of critical reading skills based on feminist pedagogical practices works. Furthermore, empowering our students is good for them, for us, for our profession and helps society at large take a tiny step towards gender equality.

KEYWORDS:
Reading practices; Critical thinking; Gender Equality; Epistemic injustice; Feminist theories

1. INTRODUÇÃO

O projeto “Leitura reflexiva para a igualdade de gênero” surgiu para resolver um problema muito concreto, encontrado na prática docente em uma universidade federal brasileira. A ideia partiu das apresentações finais de uma disciplina do quinto período de Biblioteconomia da Universidade Federal de Rondônia, em 2022. A docente constatou que algumas discentes tinham dificuldades para interpretar o significado das leituras e também, ou até em consequência disso, demonstravam bastante timidez com relação à fala em sala de aula, especialmente diante do protagonismo de seus colegas homens.

Diante disso, a docente convidou as discentes para colaborar com a criação de um grupo de leitura, o que elas aceitaram imediatamente. Na mesma semana se reuniram e começaram a idealizar o projeto. Optaram por selecionar leituras escritas e protagonizadas por mulheres fortes, que tratam de temas de gênero e/ou de crítica ao status quo, para estimular o debate, a reflexão e, talvez, fortalecer a auto-estima das discentes.

O presente relato foi escrito pela docente com colaboração de uma discente que participou dos encontros e coletou, com suas colegas, memórias das leituras e as impressões causadas nelas pelo projeto. Os relatos orais das discentes foram coletados em conversas informais e redigidos sob a forma de reconto. A análise dos relatos foi feita de acordo com o referencial teórico, destacando pontos de interesse. Esse trabalho tem o objetivo de compartilhar a experiência da proposta e dos resultados obtidos, a fim de inspirar outras pessoas bibliotecárias, docentes ou de áreas profissionais afins, a criarem projetos colaborativos e potencialmente emancipadores.

O projeto consistiu em seis encontros de leitura, aos sábados, no parque. A proposta foi ler um trecho de um livro diferente por encontro, sendo as leituras escolhidas pela participante da vez. Essa leitura foi feita em voz alta para estimular o ato de ler em grupo, tendo várias pausas para reflexão sobre os trechos lidos, com perguntas do tipo: o que isso significa? Alguém já teve uma experiência parecida? O que está acontecendo com a personagem? Essa forma de ler, interrogando o texto e relacionando-o com as experiências do grupo é o que chamamos de leitura crítica.

A prática desse tipo de leitura está diretamente relacionada com o que chamamos de competência crítica em informação, ou seja, o entendimento dos mecanismos de construção social da informação, suas implicações e o desenvolvimento de um relacionamento crítico com a informação, as mídias e as tecnologias.

O desenvolvimento desta consciência em relação à informação e o desenvolvimento de uma relação crítica (em todos os sentidos) com a informação são mais do que necessários em tempos de desinformação, pós-verdade, fake news, negacionismo e de todas as distorções informacionais dos nossos dias, assim como os ataques às humanidades, o conservadorismo moral e os retrocessos nas políticas públicas de inclusão e reparação de grupos minorizados, invisibilizados e vulnerabilizados (DOYLE; BRISOLA, 2022DOYLE, Andréa; BRISOLA, Anna. Dois dedos de prosa sobre competência crítica em informação. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 27, n. 2, 2022. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/pci/article/view/40000/30701. Acesso em: 23 fev. 2023.
https://periodicos.ufmg.br/index.php/pci...
, p. 95).

A partir dessa afirmação, nota-se a centralidade dessa competência para qualquer tipo de ação social que se pretenda emancipadora. No caso do projeto em questão, identificamos que as discentes, em grande maioria, além de mulheres, são oriundas de grupos sociais menos favorecidos. Essa junção de marcadores sociais, ou seja, o acúmulo de diferentes tipos de opressão, se traduz em diversas formas, sendo uma delas, que será discutida adiante, o silêncio e a timidez. Para superá-los, a aposta do projeto foi mostrar que os sistemas sociais são injustos, que a opressão é implacável e que o conhecimento e a autoestima são boas ferramentas para resistir e transformar a sociedade.

Este trabalho se constitui de cinco partes: esta introdução; o referencial teórico pautado nas teorias e pedagogias críticas, principalmente as feministas; a descrição do projeto; uma reflexão sobre os encontros, os aprendizados e os fortalecimentos proporcionados pela participação no projeto e uma seção de considerações finais.

2. TEORIAS E PEDAGOGIAS CRÍTICAS

A educação, a ciência, a arte e a tecnologia não são neutras. Elas são produzidas por pessoas/grupos em contextos sociais específicos, em um tempo, espaço e em uma cultura determinada. As produções, sejam elas em forma de textos, filmes, equipamentos, códigos, ou qualquer outra criação humana, refletem as possibilidades, limitações e objetivos de quem as produziu. Essa particularidade se apresenta tanto na constituição da obra quanto no seu efeito, tornando-as obrigatoriamente circunstanciais, parciais e localizadas.

As teorias feministas buscam mostrar que as tendências advindas dessas parcialidades têm um impacto profundo no modo como pensamos, sentimos, agimos e projetamos nossas ambições. Ou seja, elas têm influência tanto no plano das ideias quanto nas condições concretas e cotidianas de vida das pessoas. O saber localizado de Donna Haraway (1988HARAWAY, Donna. Situated knowledges: the science question in feminism and the privilege of partial perspective. Feminist Studies, Washington, v. 14, n. 3, p. 575-599, 1988.), a ideia de subalternidade de Gayatri Spivak (2010SPIVAK, Gayatri. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.), de outridade de Grada Kilomba (2016KILOMBA, Grada. Who can speak? Tradução de Anne Caroline Quiangala. Preta, Nerd e Burning Hell, 12 jan. 2016. Disponível em: http://www.pretaenerd.com.br/ 2016/01/traducao-quem-pode-falar-grada-kilomba.html. Acesso em: 27 out. 2019.
http://www.pretaenerd.com.br/ 2016/01/tr...
) e de lugar de fala de Djamila Ribeiro (2017RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala?. Belo Horizonte: Letramento, 2017.) são alguns exemplos de propostas que denunciam a premissa da neutralidade/objetividade como mecanismo de dominação patriarcal da sociedade, da ciência e do discurso.

As autoras e pesquisadoras citadas têm em comum destacar como o conhecimento produzido pelo homem branco hétero do norte global tornou-se o cânone artístico, científico ou acadêmico por conta de seu prestígio social, forjado à custa da opressão de todos os outros grupos sociais. Inversamente, também demonstram que os grupos marginalizados não só tiveram seu acesso à educação, às artes e à ciência negados, como também seus próprios conhecimentos invisibilizados, refutados ou até demonizados.

Miranda Fricker (2007FRICKER, Miranda. Epistemic Injustice: power and the ethics of knowing. New York: Oxford University Press, 2007.) entende a injustiça epistêmica a partir de dois aspectos: a injustiça testemunhal e a injustiça hermenêutica. A primeira acontece quando o que é dito por uma pessoa de um grupo marginalizado é desconsiderado por causa de seu pertencimento. Por exemplo, quando a mulher denuncia violência doméstica e a autoridade acha que é exagero. A segunda, lembrando que hermenêutica é a arte de interpretar, acontece quando faltam recursos interpretativos para que a própria pessoa possa entender o que acontece com ela. Um exemplo seria a mulher que sofre gaslighting1 1 Gaslighting foi a palavra do ano de 2022 selecionada pelo dicionário inglês Merriam-Webster. Se refere a um tipo de manipulação psicológica por meio de falsificação de fatos da realidade que faz a vítima duvidar da sua sanidade mental. O termo vem de um romance em que o marido, para ficar com a fortuna da esposa, diminui a iluminação a gás da casa e, quando ela percebe, ele diz que ela está maluca (O QUE..., 2022). (O QUE..., 2022) sem conhecer esse conceito. Quando não dispomos de boas bases interpretativas, temos mais dificuldade de nomear, compreender e dar sentido a nossas próprias experiências.

A prática educativa feminista e antiracista de Bell Hooks (2019aHOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática de liberdade. São Paulo: Martins Fontes, 2019a., 2019bHOOKS, Bell. Teoria feminista da margem ao centro. São Paulo: Perspectiva, 2019b., 2020HOOKS, Bell. Ensinando pensamento crítico: sabedoria prática. São Paulo: Elefante, 2020.) nos aparece como uma poderosa resistência à injustiça epistêmica. Ela desenvolveu uma forma de ensinar pautada no acolhimento, no afeto e no diálogo como meio de se atingir uma formação libertadora. Ela relata que começa suas aulas reconhecendo suas parcialidades de mulher negra ao mesmo tempo em que inclui e convida suas turmas a falar, ouvir e respeitar as pessoas oriundas de outros grupos. Para Hooks, é importante acolher e fortalecer as pessoas tanto como aprendizes ricas de suas experiências de vida, quanto como produtoras de conhecimento acadêmico.

Junta-se a essa proposta a ideia de bem-viver das feministas indígenas de Abya Yala como Julieta Paredes (2010PAREDES, Julieta. Hilando fino desde el feminismo comunitario. In: MIÑOSO, Yuderkys Espinosa (coord.). Aproximaciones críticas a las prácticas teórico políticas del feminismo latino-americano. Buenos Aires: En la Frontera, 2010. p. 117-120.) e Lorena Cabnal (2010CABNAL, Lorena. Acercamiento a la construcción de la propuesta de pensamiento epistémico de las mujeres indígenas feministas comunitarias de Abya Yala”. In: ACSUR, Las Segovias. Feminismos Diversos: el feminismo comunitario. Las Segovias: ACSUR, 2010. p. 11-25. Disponível em: https://1drv.ms/b/s!AoZ-as87gk9xhy-MjulDQmTdFIH3. Acesso: 28 jul. 2017.
https://1drv.ms/b/s!AoZ-as87gk9xhy-MjulD...
). O conceito de bem-viver tem três pilares: a luta, a continuidade e a felicidade. Elas entendem que não podemos ser felizes se alguém, seja pessoa, bicho, planta ou qualquer ser, está sendo atacado, destruído ou desvalorizado. Para atingir a felicidade, precisamos então lutar para acabar com todo o tipo de opressão. Como as opressões são muitas e são sistematicamente renovadas, a luta é contínua, não tem um final à vista. Se não vislumbramos o fim da luta, precisamos então ser felizes lutando.

Por fim, vale destacar que o campo da Biblioteconomia tem rica contribuição para esse projeto por meio do conceito de mediação de leitura. Para Lídia Cavalcante (2020CAVALCANTE, Lidia Eugênia. Mediação da leitura e alteridade na educação literária. Informação & Sociedade: Estudos, João Pessoa, v. 30, n. 4, p. 1-14, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/view/57262. Acesso em: 22 mar. 2023.
https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.ph...
, p. 7) “a mediação da leitura é, portanto, uma trilha de experiências que aproxima os sujeitos”. A autora conclui seu estudo dizendo que a mediação da leitura

nos permite lançar olhar sensível, reflexivo e crítico sobre as representações do ato de ler visando a transformação social. Não se trata de por na leitura e na educação a responsabilidade em relação a essas mudanças. Por meio delas, porém, é possível vislumbrar uma trilha para repensar um processo de crescimento civilizatório, mais sensível à história de vida e às experiências de cada um, permitindo descortinar novos horizontes sociais e culturais. (CAVALCANTE, 2020CAVALCANTE, Lidia Eugênia. Mediação da leitura e alteridade na educação literária. Informação & Sociedade: Estudos, João Pessoa, v. 30, n. 4, p. 1-14, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/view/57262. Acesso em: 22 mar. 2023.
https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.ph...
, p. 12)

Assim, as bases teóricas do projeto de extensão podem ser entendidas em duas frentes: a crítica e a resistência. Enquanto as teorias críticas feministas nos chamam atenção para as diversas formas e mecanismos de reprodução de injustiças sociais e epistêmicas, as pedagogias críticas, o feminismo comunitário e a mediação da leitura nos ajudam a nos fortalecer para identificá-las nas nossas realidades e lutar contra elas com alegria.

3. DESCRIÇÃO DO PROJETO

O projeto intitulado "Leitura reflexiva para igualdade de gênero" tem como proposta a leitura crítica de textos sobre as questões de gênero e o objetivo de desenvolver a capacidade de questionamento e compreensão, favorecendo o empoderamento individual e coletivo. Protagonizado por seis discentes do curso de Biblioteconomia e uma docente, o projeto foi idealizado para ser aberto ao público geral, realizado em espaço público aberto de lazer para favorecer uma associação positiva entre lazer, natureza, conhecimento e empoderamento.

A produção do projeto envolveu dois encontros para preparação, seis encontros para leitura e um para o encerramento. No primeiro encontro de preparação colaborativa do projeto, realizado dia 14/05/2022, iniciamos uma leitura do livro: “As Mulheres e os Homens” (PLANTEL, 2016PLANTEL, Equipo. As Mulheres e os Homens. São Paulo: Boitempo, 2016.). O livro foi indicado pela professora que leu e fez algumas pausas durante a leitura, para reflexão sobre os papéis de homens e mulheres na sociedade, as expectativas das discentes e as coisas que eram aceitas antes e não são mais. Em seguida pensamos no formato do projeto, decidimos o local onde seria executado, cadastramos as discentes e submetemos o projeto à avaliação do departamento e das instâncias universitárias de extensão.

O segundo encontro de preparação aconteceu dia 28/05/2022, já no parque selecionado para ser o local dos encontros, o Skate Parque, localizado no bairro de Cuniã, Porto Velho, Rondônia. Cadastramos novas discentes e produzimos o formulário de inscrição e a peça de divulgação a ser publicada na conta do Instagram do departamento. As discentes relataram que participar da elaboração desse projeto foi gratificante. “Poder participar de etapa por etapa, este projeto abriu mais a minha mente, encontrei títulos que me ajudaram bastante e [pude] ver o quanto é trabalhoso elaborar um projeto de extensão” (relato oral de discente).

O primeiro encontro de leitura aconteceu quinze dias depois, sábado, dia 04/06/2022, às 16h30, horário fixado pelo grupo para o início dos encontros. O livro escolhido para a leitura pela professora foi “A importância do ato de ler” de Paulo Freire (2021FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: três artigos que se completam. 52. ed. São Paulo: Cortez, 2021.). Ela abriu a roda de leitura para igualdade de gênero, explicando quem foi Paulo Freire, sua vida, sua proposta e sua importância internacional para a educação emancipadora.

Durante a leitura, o autor cita vários acontecimentos vividos por ele, fatos ocorridos na sua trajetória, que o deixam feliz de relembrar. No decorrer da leitura, houve vários trechos interessantes no qual Freire (2021FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: três artigos que se completam. 52. ed. São Paulo: Cortez, 2021.) relata que preparar essa fala o fez sentir-se levado, gostosamente, a reler momentos fundamentais da sua prática guardados na memória desde as experiências mais remotas da sua infância, adolescência e mocidade em que a compreensão crítica da importância do ato de ler foi se constituindo nele.

Outro momento que impactou o momento leitura, foi quando em um trecho do texto, Paulo Freire (2021FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: três artigos que se completam. 52. ed. São Paulo: Cortez, 2021.) fala que a leitura do mundo precede a leitura da palavra. Ou seja, mesmo antes de aprender a leitura da palavra, ele já tinha um vasto conhecimento da leitura do mundo. A expressão do autor causou um impacto positivo, em todas ali presentes. Sua fala nos faz pensar que antes mesmo de aprendermos a ler, a vida nos ensina valores e aprendizados fundamentais que nos acompanham pelos caminhos que trilhamos. O encontro gerou bastante participação das discentes, que contaram casos de suas infâncias e de como se alfabetizaram e terminou de forma alegre, ao anoitecer.

No segundo encontro de leitura, dia 18/06/2022, era para duas discentes escolherem o texto, porém elas faltaram e quem acabou sugerindo as leituras foi a professora, que antecipando essa possibilidade, levou algumas opções extras. O texto selecionado na hora foi “A mão esquerda da escuridão” de Úrsula Le Guin (2019). A docente explicou quem foi Úrsula Le Guin, a importância de sua obra de ficção científica e seu alinhamento com o movimento feminista, a discussão em torno da igualdade de gênero, além das críticas que seu livro sofreu.

Começamos a leitura pelo capítulo 17 “Um Mito Orgota da Criação” (LE GUIN, 2019LE GUIN, Ursula. A mão esquerda da escuridão. 3. ed. São Paulo: Aleph, 2019.), que fala da criação de Godrin, a primeira civilização do país Inverno, onde se passa a trama.

Algumas partes do texto chamaram minha atenção, como a história do primeiro homem chamado Edondurath, que construiu uma casa com os corpos dos seus irmãos a quem ele havia matado, e depois tem uma cena de sexo entre Edondurath e o irmão mais novo que sobreviveu, e através deles surge a primeira nação de homens. (relato oral de discente).

Discutimos sobre essa mitologia, as diversas mitologias, e como as histórias desse gênero são incríveis e sanguinárias.

Tivemos dificuldades na leitura, que tinha uma história complexa. Conversamos muito durante toda a leitura, falamos sobre a criação da humanidade, sobre o encontro de dois homens e como no passado essas conversas ficavam escondidas, as pessoas fingiam não ver. O capítulo acaba com um tom filosófico, e muito intrigante, envolvente. Foi uma tarde agradável, porém intrigante, pois apesar de uma abordagem forte, ao mesmo tempo havia uma certa sensibilidade, criatividade, que prendia a atenção. (relato oral de discente)

No terceiro encontro, dia 02/07/2022, novamente não houve sugestões por parte das participantes, o que abriu espaço para que a docente sugerisse a leitura de “Por um feminismo afro-latino-americano” de Lélia Gonzalez (2020GONZALEZ, Lélia. Por um Feminismo Afro-Latino-Americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio Janeiro: Zahar, 2020.). A docente explica que a obra é importante para entender as questões que levaram Lélia Gonzalez a estudar o racismo, buscar quebrar a ideologia da democracia racial e questionar a contribuição dos afro-latinos para a cultura brasileira.

Lemos a parte II Intervenções, o texto “Mulher negra, essa quilombola” (GONZALEZ, 2020GONZALEZ, Lélia. Por um Feminismo Afro-Latino-Americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio Janeiro: Zahar, 2020.). Já no começo da leitura temos uma referência a Zumbi, também conhecido como Zumbi dos Palmares, que foi um líder quilombola brasileiro.

Já de cara vem à lembrança as novelas que assistimos com a família como “A escrava Isaura”. Falamos sobre a importância de Zumbi para a resistência em como ele transformou-se no símbolo da resistência e da luta por uma sociedade alternativa. Na próxima página temos a representação da mulher negra, sim nada menos que Dandara, ela lutou pela libertação total das negras e negros, liderava homens e mulheres, particularmente, não se encaixava nos padrões de gênero que ainda hoje são impostos às mulheres. Falamos como nós mulheres podemos lutar, falamos sobre a resistência passiva, vimos a história da Marli Mulher, que poder ser qualquer mulher, que acorda cedo, vai para o trabalho, volta à noite, pegar transporte público e por aí vai. Mulheres comuns como qualquer outra. (relato oral de discente).

Foi uma tarde agradável e interessante, pois apesar da força da abordagem, houve uma certa sensibilidade e comoção que chamaram a atenção. Como Dandara, mesmo enquanto pessoa escravizada, estimulou os companheiros para a revolta, nunca deixando de educar seus filhos dentro do espirito anticolonialista, antiescravista e antirracista. Lélia Gonzalez é uma das mais importantes intelectuais brasileiras, na luta contra o racismo estrutural e na articulação entre gênero e raça.

O quarto encontro de leitura foi adiado por conta da chuva e ocorreu no sábado dia 30/07/2022. Uma discente trouxe o livro “Hibisco Roxo” de Chimamanda Adichie (2011ADICHIE, Chimamanda. Hibisco Roxo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.). A protagonista Kambili relata a sua vida, a superproteção e religiosidade do pai, e como ela e seu irmão Jaja tinham medo dele. A história se passa na Nigéria no período pós-colonial, em que o catolicismo capitalista oscila entre o humanismo e a opressão religiosa, que rejeita as tradições locais. Kambili relata como seu pai vai lentamente destruindo a vida de todos com mistura de fé, superproteção e medo.

Lemos o primeiro capítulo "Domingo de Ramos” (ADICHIE, 2011ADICHIE, Chimamanda. Hibisco Roxo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.) e já no começo o pai atira seu pesado missal porque Jaja não tinha recebido a primeira comunhão. Kambili narra toda a história de forma simples, ela fala da missa, da feira de quando ela vai com a mãe e o irmão, descrevendo a pobreza local. O livro Hibisco Roxo traz à cena a quebra das fronteiras do espaço patriarcal ao idealizar na obra um espaço de resistência, sendo que a história se passa no periodo crítico na África, que está sofrendo com uma grave crise político-econômica, consequência da ditadura militar imposta pelas forças armadas.

Foi uma tarde agradável e divertida com bastante diálogo, lembramos de como nosso pais e avós foram criados, com rigidez, também falamos como a narrativa é envolvente a ponto de imaginarmos todos os cenários. A leitura é cativante, Chimamanda traz diálogos incríveis tratando de assuntos importantíssimos, como feminismo, sociopolítica e econômia da Nigéria e religiosidade. O livro Hibisco Roxo foi uma indicação de uma amiga do trabalho, amei o livro agora sou eu que saio indicando para todos os meus amigos. A tarde foi maravilhosa, porém não conseguimos sair do primeiro capítulo, porque foi escurecendo mas ficou um gostinho de quero mais. (relato oral de discente).

Já no quinto encontro, dia 06/08/2022, a leitura escolhida por uma outra discente foi “A invenção do cotidiano” do historiador e antropólogo francês Michel de Certeau (2002CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.). Começamos a leitura no prefácio que relata o impacto da visão crítica de Michel de Certeau sobre a academia clássica e como estas visões são excluídas.

Tivemos dificuldade para entender o texto, pois ele continha muitas palavras novas para a gente, muitas referências desconhecidas e não conseguimos nem terminar o prefácio. Mas foi maravilhoso só de sair de casa, ir para um lugar lindo, e ver pessoas, fazendo suas caminhadas. As pessoas passavam e ficavam nos olhando, foi bem gratificante. (relato oral de discente).

No sexto e último encontro, 20/08/2022, por sugestão de uma discente, fizemos a leitura e discussão do livro “Nó na garganta” de Mirna Pinsky (2009PINSKY, Mirna. Nó na garganta. 53. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.). O livro conta a história de Tânia, uma menina negra de 10 anos cuja família decidiu sair da cidade grande por uma oportunidade diferente no litoral. Lemos o primeiro capítulo “A viagem”, que narra toda a trajetória da viagem, as angústias, a dureza do pai, a frieza da mãe. Somos apresentadas ao um estereótipo de beleza, a mãe da Tânia não gosta do seu cabelos crespos.

Neste trecho algumas de nós nos sentimos na história que, algumas de nossas amigas tem cabelos crespos, e sofrem preconceitos por causa dos cabelos, passar por todo o processo de transição capilar tem toda a questão de autoestima. Continuando a leitura, a própria Tânia fala que a mãe ficaria mais bonita se não alisar os cabelos. Rimos muito com o modo de ver as coisas de Tânia. (relato oral de discente).

Ao final do encontro, fizemos um balanço do projeto, conversamos sobre como elas se sentiram por fazer parte dele e se as discentes tinham percebido alguma mudança.

Tivemos uma tarde agradável, rimos, olhamos as pessoas caminharem, tomamos sorvete, falamos da melhora da nossa oratória e como a leitura em voz alta nos ajudou muito, assim como os debates e as reflexões nos ajudam com a interpretação e compreensão de textos. (relato oral de discente).

O último encontro do projeto, dia 17/09/2022, foi dedicado ao fechamento e balanço. Discutimos sobre os erros e acertos do projeto e produzimos o relatório final para apresentação das atividades desenvolvidas.

4. ENCONTROS E APRENDIZADOS

Primeiramente, como foi dito pelas discentes em diversos relatos, o fato do grupo se reunir aos sábados em um parque gerou muitos sentimentos positivos. Sair de casa, estar em um ambiente agradável, ver pessoas caminhando, aproveitando o final de semana e olhando para o grupo com curiosidade foi motivo de satisfação e até de orgulho para o grupo.

Sobre as leituras propriamente ditas, os relatos mostram que todos os conteúdos foram aproveitados e cada tema foi considerado interessante e importante.

Todos os encontros foram significativos em nossas vidas, tendo em vista que a cada encontro trazia aprendizados enriquecedores. Todas as obras utilizadas para esse encontro nos trouxeram grandes fortalecimentos para podermos entender sobre questões importantes da atualidade. (relato oral de discente).

Além disso, o grupo destaca que “é notável a nossa expressão em como melhoramos nossa oratória, em cada trecho lido.” (relato oral de discente).

Um relato destaca que um dos maiores aprendizados obtidos com a participação no projeto

foi entendermos que podíamos enfrentar nossas dificuldades, nossos medos, nossas inseguranças e sermos capazes de nos aprimorarmos a cada dia. Os diálogos foram extremamente enriquecedores, nos deram a oportunidade de nos expressar com mais naturalidade. (relato oral de discente).

Outro relato diz:

Ao debatermos o assunto proposto, tal como o conceito e o entendimento de cada um, em cada momento de leitura pensamentos pairavam sobre as nossas cabeças, trazendo uma grande reflexão sobre o tema em questão. Nós nos dávamos conta do quão é importante esse momento de aprendizagem sobre os assuntos que não tínhamos conhecimentos sobre as diferenças sociais, e todos os aspectos mencionados sobre igualdade de gêneros e afins. (relato oral de discente).

Apesar das explicações sobre a leitura do mundo e a leitura da palavra de Paulo Freire (2021FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: três artigos que se completam. 52. ed. São Paulo: Cortez, 2021.), das realidades vividas por essas discentes e de alguém ter sempre alguma experiência para compartilhar que se relacionava com os textos, por meio do relato acima percebemos que a pessoa acha que, antes da leitura, não tinha conhecimento sobre as diferenças sociais ou de gênero. Supomos que ela quis dizer conhecimentos acadêmicos ou conhecimentos debatidos e formalizados sobre os temas, o que agora ela tem.

Em termos de autoestima, empoderamento e emancipação, os relatos envolvem crescimento e fortalecimento a partir das histórias das personagens que foram lidas e das discussões.

As abordagens, os encontros e as conversas trouxeram resultados de aprimoramento incríveis acerca do conhecimento e da segurança diante de certas dificuldades que a vida nos coloca. Percebemos que somos capazes de superar e melhorarmos cada dia mais. (relato oral de discente).

Outro relato explica um tema fundamental: a percepção da opressão que, de tão internalizada e naturalizada, passa desapercebida até pela própria pessoa. Esse ponto dialoga com a injustiça hermenêutica da Miranda Fricker (2007FRICKER, Miranda. Epistemic Injustice: power and the ethics of knowing. New York: Oxford University Press, 2007.), que envolve a falta de recursos interpretativos para analisar a própria situação.

O projeto nos proporcionou entender as dificuldades dos medos, de conseguir nos expressar, de forma objetiva e com determinação e confiança. [A timidez] era um traço tão nosso que não nos dávamos conta das nossas inseguranças. Hoje estamos mais seguras quando vamos falar em público. (relato oral de discente).

Esse relato nos remete a outra relação importante com relação à timidez: o silêncio. Paulo Freire (1980FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação, uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Centauro, 1980.) diz que o silêncio é muito mais indicativo de opressão do que de desinteresse ou de concordância. No caso do projeto, notamos esse silêncio tanto de forma concreta, com a dificuldade de opinar, quanto de forma simbólica, nos primeiros encontros. Entendemos, a posteriori, que a escolha das leituras foi uma fonte de tensão para as discentes. As primeiras discentes encarregadas de escolher a leitura do encontro avisaram, no dia do encontro, que precisariam faltar. O mesmo aconteceu no encontro seguinte, até que, no quarto encontro, uma discente levou um livro que foi lido e discutido. Na sequência, as discentes ficaram mais à vontade e até animadas para escolher os livros.

Ainda sobre a escolha das leituras, uma discente escolheu um livro que não se encaixava nos critérios propostos, a saber, obras escritas por ou sobre mulheres fortes. A discente disse que escolheu o livro por ele ser muito interessante, o que não foi questionado.

Ao pensarmos o que o projeto significou para o grupo enquanto estudantes de Biblioteconomia, obtivemos o seguinte relato:

Esse projeto teve um significado muito grande para mim como estudante de biblioteconomia e como pessoa. Através dele, tive contato com escritoras incríveis, como Chimamanda, Lélia González e tantas outras, que trouxeram uma perspectiva de mundo diferente, realidades diferentes mas tão parecidas. Tivemos mais contato com nossos colegas de graduação e trocamos relatos, vimos que temos muito em comum umas com as outras. (relato oral de discente).

O contato com obras de mulheres trazem não só novas perspectivas para as discentes, como também agregam bagagem cultural em termos de referências bibliográficas para sua futura prática profissional. Outro ponto mencionado no relato acima é aquilo que Bell Hooks (2019aHOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática de liberdade. São Paulo: Martins Fontes, 2019a.) chama de criação de uma comunidade de escuta e de auto-ajuda em suas salas de aula.

Nenhum relato mencionou uma questão que, para a docente, foi primordial na concepção do projeto: o fato dele ter, explicitamente, o objetivo de combinar o incentivo à leitura, o pensamento crítico e a discussão de gênero e outros marcadores sociais. Talvez esse aspecto do projeto tenha passado ao largo das percepções das estudantes ou, o que imaginamos, que essa característica não seja o principal interesse do projeto para elas.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados do projeto incluem dificuldades e acertos. Dentre as principais dificuldades, destacamos que não houve participantes de fora do grupo, apesar da divulgação nas redes sociais, indicando que ele não conseguiu envolver o público externo. Dessa forma, ele falha como projeto de extensão propriamente dito, visto que não se relacionou com a sociedade em geral, apenas com as universitárias.

Entre os acertos, as discentes relatam um grande desenvolvimento de leitura, de fala, de interpretação de texto e até diminuição da timidez e aumento da segurança para se expressar. Isto é muito importante para estudantes de Biblioteconomia, por vários motivos, principalmente porque para trabalharmos com públicos, saber se expressar e ter confiança em si são qualidades essenciais. Além disso, o envolvimento com o projeto desde sua concepção até seu fechamento gerou um sentimento de realização.

Entendemos que o projeto proporcionou acesso diferenciado ao estudo e à leitura e promoveu um novo olhar sobre o tema estudado, ou seja, a igualdade de gênero. Muitos temas foram tratados, dentre os quais destacamos: o papel de mãe, a fragilidade ou a submissão das filhas, o não-binarismo de gênero como possibilidade, interseções de relações de gênero com racismo e com o colonialismo, estereótipos de beleza e o amor entre pessoas.

Além disso, os encontros foram agradáveis, ao ar livre e tiveram até uma atmosfera transgressora, no sentido de subverter o estudo em lazer. Da mesma forma, compreendemos que discussões pesadas sobre injustiças profundas e estruturais podem nos trazer um grande bem-estar quando percebemos que outras pessoas também vivem situações parecidas, que não há dúvida que são injustas e que precisam ser combatidas. Essa empatia nos fortaleceu dentro do nosso grupo.

Assim, o grupo pretende continuar com uma segunda edição do projeto a ser desenvolvido em breve. Pretendemos encontrar outro lugar para os encontros, para ter opção para os dias de chuva e desejamos também fazer algumas parcerias com bibliotecas ou escolas para que tenhamos um público maior, podendo atender o público externo à universidade.

Terminamos esse texto reforçando que nosso objetivo ao escrever esse relato é inspirar pessoas bibliotecárias, docentes ou de áreas profissionais afins a criarem muitos projetos com esses princípios. O desenvolvimento da capacidade de leitura crítica a partir de práticas pedagógicas feministas funciona. Além disso, o fortalecimento de nossas estudantes é bom para elas, para nós, para nossa profissão e ajuda a sociedade em geral a dar um pequeno passo em direção à igualdade de gênero.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos às discentes que participaram do projeto de extensão e tornaram possível a experiência relatada aqui: Ana Cláudia Gigli Moura, Kelly Eloísa, Maiza Sales, Maria G.B.O Viera, Natalis dos Reis, Raylene Martins e Verônica Santiago Gomes. Agradecemos a contribuição de Verônica Santiago Gomes com os relatos orais.

REFERÊNCIAS

  • ADICHIE, Chimamanda. Hibisco Roxo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
  • CABNAL, Lorena. Acercamiento a la construcción de la propuesta de pensamiento epistémico de las mujeres indígenas feministas comunitarias de Abya Yala”. In: ACSUR, Las Segovias. Feminismos Diversos: el feminismo comunitario. Las Segovias: ACSUR, 2010. p. 11-25. Disponível em: https://1drv.ms/b/s!AoZ-as87gk9xhy-MjulDQmTdFIH3 Acesso: 28 jul. 2017.
    » https://1drv.ms/b/s!AoZ-as87gk9xhy-MjulDQmTdFIH3
  • CAVALCANTE, Lidia Eugênia. Mediação da leitura e alteridade na educação literária. Informação & Sociedade: Estudos, João Pessoa, v. 30, n. 4, p. 1-14, 2020. Disponível em: https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/view/57262 Acesso em: 22 mar. 2023.
    » https://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/view/57262
  • CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. 8. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
  • DOYLE, Andréa; BRISOLA, Anna. Dois dedos de prosa sobre competência crítica em informação. Perspectivas em Ciência da Informação, Belo Horizonte, v. 27, n. 2, 2022. Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/pci/article/view/40000/30701 Acesso em: 23 fev. 2023.
    » https://periodicos.ufmg.br/index.php/pci/article/view/40000/30701
  • FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação, uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Centauro, 1980.
  • FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: três artigos que se completam. 52. ed. São Paulo: Cortez, 2021.
  • FRICKER, Miranda. Epistemic Injustice: power and the ethics of knowing. New York: Oxford University Press, 2007.
  • GONZALEZ, Lélia. Por um Feminismo Afro-Latino-Americano: ensaios, intervenções e diálogos. Rio Janeiro: Zahar, 2020.
  • HARAWAY, Donna. Situated knowledges: the science question in feminism and the privilege of partial perspective. Feminist Studies, Washington, v. 14, n. 3, p. 575-599, 1988.
  • HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática de liberdade. São Paulo: Martins Fontes, 2019a.
  • HOOKS, Bell. Teoria feminista da margem ao centro. São Paulo: Perspectiva, 2019b.
  • HOOKS, Bell. Ensinando pensamento crítico: sabedoria prática. São Paulo: Elefante, 2020.
  • KILOMBA, Grada. Who can speak? Tradução de Anne Caroline Quiangala. Preta, Nerd e Burning Hell, 12 jan. 2016. Disponível em: http://www.pretaenerd.com.br/ 2016/01/traducao-quem-pode-falar-grada-kilomba.html Acesso em: 27 out. 2019.
    » http://www.pretaenerd.com.br/ 2016/01/traducao-quem-pode-falar-grada-kilomba.html
  • LE GUIN, Ursula. A mão esquerda da escuridão. 3. ed. São Paulo: Aleph, 2019.
  • O QUE é ‘gaslighting’, a palavra do ano do dicionário de inglês Merriam-Webster. BBC News Brasil. [S.l.], 2022. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-63802313 Acesso em: 20 mar. 2023.
    » https://www.bbc.com/portuguese/geral-63802313
  • PAREDES, Julieta. Hilando fino desde el feminismo comunitario. In: MIÑOSO, Yuderkys Espinosa (coord.). Aproximaciones críticas a las prácticas teórico políticas del feminismo latino-americano. Buenos Aires: En la Frontera, 2010. p. 117-120.
  • PINSKY, Mirna. Nó na garganta. 53. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
  • PLANTEL, Equipo. As Mulheres e os Homens. São Paulo: Boitempo, 2016.
  • RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala?. Belo Horizonte: Letramento, 2017.
  • SPIVAK, Gayatri. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
  • FINANCIAMENTO

    Não se aplica.
  • 1
    Gaslighting foi a palavra do ano de 2022 selecionada pelo dicionário inglês Merriam-Webster. Se refere a um tipo de manipulação psicológica por meio de falsificação de fatos da realidade que faz a vítima duvidar da sua sanidade mental. O termo vem de um romance em que o marido, para ficar com a fortuna da esposa, diminui a iluminação a gás da casa e, quando ela percebe, ele diz que ela está maluca (O QUE..., 2022).
  • CONSENTIMENTO DE USO DE IMAGEM

    Não se aplica.
  • APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

    Não se aplica.
  • LICENÇA DE USO

    Os autores cedem à Encontros Bibli os direitos exclusivos de primeira publicação, com o trabalho simultaneamente licenciado sob a Licença Creative Commons Attribution (CC BY) 4.0 International. Estra licença permite que terceiros remixem, adaptem e criem a partir do trabalho publicado, atribuindo o devido crédito de autoria e publicação inicial neste periódico. Os autores têm autorização para assumir contratos adicionais separadamente, para distribuição não exclusiva da versão do trabalho publicada neste periódico (ex.: publicar em repositório institucional, em site pessoal, publicar uma tradução, ou como capítulo de livro), com reconhecimento de autoria e publicação inicial neste periódico.
  • PUBLISHER

    Universidade Federal de Santa Catarina. Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação. Publicação no Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade.

Editado por

EDITORES

Franciéle Garcês, Natalia Duque Cardona, Edgar Bisset Alvarez, Ana Clara Cândido, Genilson Geraldo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    24 Jul 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    12 Dez 2022
  • Aceito
    06 Abr 2023
  • Publicado
    05 Maio 2023
Universidade Federal de Santa Catarina Campus Universitário Reitor João David Ferreira Lima - Trindade. CEP-88040-900, Telefone: +55 (48) 3721-2237 - Florianópolis - SC - Brazil
E-mail: encontrosbibli@contato.ufsc.br