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Extensão rural e floricultura tropical para o desenvolvimento local: a cooperação no processo de inclusão competitiva dos agricultores familiares em Pernambuco

Extensión agrícola y floricultura tropical para el desarrollo local: la cooperación en el proceso d'inclusión competitiva de los agricultores familiares en Pernambuco

Extension rural and tropical floricultura for the local development: the cooperation in the process of competitive inclusion of the familiar agriculturists in Pernambuco

Extension agricole et floriculture tropicale pour le développement local: la cooperation dans le processus d'inclusion concurrentielle des agriculteurs familiers dans Pernambuco

Resumos

As políticas de Desenvolvimento Local e os processos de cooperação entre os agricultores familiares constituem os temas centrais deste artigo. Buscou-se investigar o papel da Cooperação na Extensão Rural no processo de Inclusão Competitiva dos Agricultores familiares da Floricultura Tropical em Pernambuco.

Desenvolvimento Local; Cooperação; Floricultura tropical


Las políticas del desarrollo local y de los procesos de la cooperación entre los agrónomos familiares constituyen sede de los temas de este artículo. Se ha buscado investigar el papel de la cooperación en la extensión agrícola e el proceso de inclusión competitiva de los agrónomos familiares del Floricultura tropical en Pernambuco.

Desarrollo local; Cooperación; Floricultura tropical


The politics of Local Development and the processes of cooperation between the familiar agriculturists constitute the subjects central offices of this article. One searched to investigate the role of the Cooperation in the Agricultural Extension in the process of Competitive Inclusion of the familiar Agriculturists of the Tropical Floricultura in Pernambuco.

Local development; Cooperation; Tropical floricultura


Les politiques de Développement Local et les procédures de coopération entre les agriculteurs familiers constituent les sujets centraux de cet article. Il s'est cherché enquêter le rôle de la Coopération dans l'Extension Agricole dans le processus d'Inclusion Concurrentielle des Agriculteurs familiers de la Floriculture Tropicale dans Pernambuco.

Développement local; Coopération; Floriculture tropicale


ARTIGOS

Extensão rural e floricultura tropical para o desenvolvimento local: a cooperação no processo de inclusão competitiva dos agricultores familiares em Pernambuco* * Este artigo faz parte da pesquisa mais ampla desenvolvida para obtenção do título de mestre do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento Local (POSMEX).

Extension rural and tropical floricultura for the local development: the cooperation in the process of competitive inclusion of the familiar agriculturists in Pernambuco

Extension agricole et floriculture tropicale pour le développement local: la cooperation dans le processus d'inclusion concurrentielle des agriculteurs familiers dans Pernambuco

Extensión agrícola y floricultura tropical para el desarrollo local: la cooperación en el proceso d'inclusión competitiva de los agricultores familiares en Pernambuco

Fausta Calado SilvaI; Maria do Rosário de Fátima Andrade LeitãoII

IBacharel em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco /UFPE, Mestranda em Extensão Rural e Desenvolvimento Local. E-mail: fausta.silva@uol.com.br

IIProfessora Doutora da Universidade Federal Rural de Pernambuco/ UFRPE - Doctorado en Estudios Iberoamericanos por la Universidad Complutense de Madrid. - Docente do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento Local - Posmex. Recife- PE. E-mail: rosário@dlch.ufrpe.br

RESUMO

As políticas de Desenvolvimento Local e os processos de cooperação entre os agricultores familiares constituem os temas centrais deste artigo. Buscou-se investigar o papel da Cooperação na Extensão Rural no processo de Inclusão Competitiva dos Agricultores familiares da Floricultura Tropical em Pernambuco.

Palavras-chave: Desenvolvimento Local. Cooperação. Floricultura tropical.

ABSTRACT

The politics of Local Development and the processes of cooperation between the familiar agriculturists constitute the subjects central offices of this article. One searched to investigate the role of the Cooperation in the Agricultural Extension in the process of Competitive Inclusion of the familiar Agriculturists of the Tropical Floricultura in Pernambuco.

Key words: Local development. Cooperation. Tropical floricultura.

RÉSUMÉ

Les politiques de Développement Local et les procédures de coopération entre les agriculteurs familiers constituent les sujets centraux de cet article. Il s'est cherché enquêter le rôle de la Coopération dans l'Extension Agricole dans le processus d'Inclusion Concurrentielle des Agriculteurs familiers de la Floriculture Tropicale dans Pernambuco.

Mots-clés: Développement local. Coopération. Floriculture tropicale.

RESUMEN

Las políticas del desarrollo local y de los procesos de la cooperación entre los agrónomos familiares constituyen sede de los temas de este artículo. Se ha buscado investigar el papel de la cooperación en la extensión agrícola e el proceso de inclusión competitiva de los agrónomos familiares del Floricultura tropical en Pernambuco.

Palabras clave: Desarrollo local. Cooperación. Floricultura tropical.

Introdução

Além de pioneiro no setor de floricultura tropical no país, desde a década de 1990, o Estado de Pernambuco tem dinamizado esse segmento, liderando as exportações no Brasil e incorporando um grande e crescente número de produtores nessa atividade econômica. Contudo, há duas realidades bem distintas na floricultura tropical do Estado. Constatou-se a existência de um pequeno conjunto de produtores familiares bem estruturados e totalmente consolidados tanto no cenário nacional como internacional e por outro lado, muitos não-estruturados e não-consolidados.

A inclusão competitiva1 1 Na terminologia aqui empregada, o termo " Inclusão Competitiva" está sendo usado para indicar uma situação em que os agricultores familiares estão preparados para competirem no mercado mesmo na ausência de apoio assistencialista do governo ou de qualquer outro ente, público ou privado. Ou seja, produtores familiares que conseguem, a partir de sua própria produção, sobreviverem no mercado. dos produtores familiares não-estruturados a partir do desenvolvimento de processos de cooperação, a ser liderado por eles próprios e tendo a participação fundamental dos produtores estruturados e consolidados, tende a possibilitar uma promoção, mais efetiva dessa forma de Desenvolvimento Local.

É dentro desse contexto que se insere o presente artigo, que tem como objetivo levantar e analisar as instâncias e áreas em que a cooperação existe, está faltando e tem possibilidades de conduzir a um processo de inclusão competitiva dos produtores familiares não-estruturados.

Acredita-se que a análise dos fatores determinantes da cooperação entre os agricultores familiares, dando-se ênfase aos elementos vinculados à teoria sociológica constitui um esforço que merece ser empreendido junto ao setor de floricultura tropical do estado de Pernambuco.

Espera-se com essa pesquisa de campo contribuir para uma melhor compreensão da realidade local dos produtores familiares de modo a subsidiar a elaboração, a implementação e a avaliação de estratégias, públicas e privadas que busquem o desenvolvimento local do Setor.

Quanto aos procedimentos metodológicos o trabalho foi constituído em duas etapas, uma envolvendo a pesquisa bibliográfica e outra sendo composta pela pesquisa empírica. A presente pesquisa deve ser compreendida como exploratória e de caráter qualitativo, onde a base de informações foi levantada a partir da utilização de formulário estruturado e complementado por entrevistas (semi-estruturadas) e não estruturadas. Esta pesquisa está no campo das ciências sociais, tem natureza aplicada, conforme classifica Ander-Egg (1978, p.33) apud Marconi e Lakatos (1986, p.19). Tem preocupações descritivas, buscando-se analisar e interpretar relacionamentos entre os produtores. Também, segundo Hymann (1967, p.107-108) apud Marconi e Lakatos (1986, p.19), a presente pesquisa também se classifica como experimental, uma vez que procedeu a levantamento explicativo, avaliativos e interpretativos, buscando-se subsídios para melhorias futuras nos relacionamentos cooperativos dos produtores da floricultura tropical.

Deve advertir que os dados levantados buscaram compreender, principalmente, a perspectiva dos próprios produtores familiares sobre os temas aqui analisados. Essa foi a preocupação básica para se inferir sobre as reais possibilidades de cooperação na visão desses atores. A partir da perspectiva dos próprios produtores familiares, as principais características, problemas, instituições e aspectos das articulações cooperativas existentes entre os atores sociais e econômicos envolvidos com o setor, dando ênfase nas instituições (públicas e privadas) que poderiam exercer papel importante na dinamização do setor de floricultura tropical do Estado, de forma que possam participar de uma inclusão competitiva dos agricultores familiares.

Competição e cooperação

No contexto deste trabalho, pode-se entender competição como uma disputa entre pessoas que tentam maximizar suas vantagens às expensas dos demais. Diferentemente, cooperação corresponde ao esforço coordenado por indivíduos para se atingir objetivos comuns. Duas questões podem ser relacionadas a essas idéias: a competição é necessariamente nociva? E qual delas, cooperação ou competição, tende a prevalecer nas sociedades urbanas?

Sociológicos como Herbert Spencer (conforme JOHNSON, 1997) consideravam a competição um mecanismo necessário para promover o progresso social, opinião esta que concordava em grande parte com o sistema capitalista então emergente, aproximando-se, inclusive da metáfora da "mão invisível", que dizia que na busca de seus próprios interesses individualistas os atores sociais terminavam por promover o bem-estar geral da coletividade. A Escola de Chicado também enfatizou o papel da competição nos padrões de crescimento urbano, à medida que vários grupos étnicos, raciais e de classe, entre outros, competem por espaço e Max Weber considerava a competição uma forma pacífica de conflito. Contrariamente, Karl Marx, em sua crítica ao capitalismo, argumenta que a competição entre capitalistas, entre trabalhadores e entre capitalistas e trabalhadores eram as principais causas da contradição. Na abordagem marxista fica, portanto, a idéia de que a competição própria do sistema capitalista provoca conseqüências claramente negativas, particularmente as relacionadas com a exploração da classe trabalhadora e a falta de consciência e unidade dessa classe quanto à sua subordinação.

Elementos fundamentais no processo de cooperação destacados pela Sociologia

Parte-se do conceito de socialização, que se refere às interações que induzem os indivíduos a partir dos componentes básicos da personalidade necessários à sua participação na sociedade, conforme Turner (1999, p.253). Para Galliano (1981, p.307) a socialização pode ser compreendida como sendo um processo de "aquisição de conhecimentos, padrões, valores, símbolos". Adiciona, ainda o autor, que o conceito compreende também a aquisição, durante toda a vida do indivíduo, de "maneiras de agir, pensar e sentir próprias dos grupos, da sociedade, da civilização em que o indivíduo vive". Logo, o modo de produção - que compreende, como será visto adiante neste trabalho, as forças produtivas e as relações de produção - são elementos fundamentais influenciadores do processo de socialização em qualquer sociedade. Considera-se que o modo de produção prevalecente em determinada sociedade seja um elemento básico a influenciar a socialização e, portanto, as percepções dos indivíduos e grupos, estabelecendo uma maior ou menor propensão para se agir em determinado sentido.

As forças produtivas de uma determinada sociedade são compostas por meios de produção (máquinas e equipamentos) e pessoas. Em todo processo produtivo há também um processo de interação entre pessoas e o resultado, a produção, é fundamentalmente um resultado de um ato social. Em todas as fases do circuito econômico (produção, distribuição e consumo) estabelece-se um emaranhado de relações entre pessoas, resultando nas chamadas relações de produção. O traço mais característico das relações de produção no capitalismo é dado pela existência, de um lado, dos proprietários dos meios de produção e, de outro, a existência dos trabalhadores assalariados detentores apenas de sua força-de-trabalho. O conceito de modo de produção, ou sistema econômico, de uma determinada sociedade é determinado pelas forças produtivas e pelas relações de produção que estão vinculadas a essa sociedade. Sendo assim, o modo de produção é definido pela maneira através da qual uma dada sociedade produz os seus bens e serviços, os utiliza e os distribui, sendo o modo de produção o centro organizador de todos os aspectos da sociedade, conforme Oliveira (2001).

O modo de produção é, portanto, o conceito básico a partir do qual se pode tentar compreender os aspectos levantados pela sociologia do conhecimento relativamente às possibilidades de cooperação dentro de um determinado grupo de pequenos produtores. Vale ressaltar que a condição dos pequenos produtores não os caracteriza como classe dominante, aproximam-se eles muito mais das vulnerabilidades próprias dos trabalhadores assalariados. Na verdade, mesmo os camponeses proprietários são considerados como proletário, segundo Merton (1970, p.574). O mencionado autor mostra também, que a classe dominante finda por impor o conteúdo da cultura e, por conseqüência, ideológico que mais lhe serve.

Análise dos resultados

Privilegiando-se a percepção dos produtores familiares entrevistados, buscou-se nessa análise caracterizar as unidades produtivas investigadas, os principais problemas enfrentados pela floricultura tropical do estado de Pernambuco, bem como as interações com os entes que compõem o entorno institucional do setor e as iniciativas vinculadas à cooperação, como meio de fortalecer a competitividade do setor. Pretendeu-se, como mencionado, obter a visão dos produtores entrevistados sobre quais os temas (ou questões) que poderiam ser considerados os mais relevantes dentro da floricultura tropical no Estado de Pernambuco.

O conjunto de produtores entrevistados2 2 Todos os entrevistados dedicam-se a Floricultura Tropical, porém os mesmos também atuam em outras atividades rurais ou urbanas. foi selecionado, principalmente, a partir do nível de estruturação e consolidação que apresentavam por ocasião das entrevistas. Assim, considerou-se para os propósitos perseguidos no presente trabalho, como "estruturado" o produtor que conseguia controlar todo ciclo de produção e vendê-la no mercado, caso contrário o produtor foi considerado "não-estruturado". Ou seja, esse produtor não consegue concluir o ciclo dos negócios das flores tropicais, ao não sistematizar os canais de distribuição necessários à sistematização de suas vendas. E considerou-se "consolidado" o produtor que já tenha realizado vendas para outros estados brasileiros ou para mercados internacionais, caso contrário o produtor foi considerado "não-consolidado". Em outras palavras, produtor consolidado já adquiriu maturidade suficiente para exportar a sua produção atendendo, conseqüentemente, aos requisitos de eficiência e qualidade necessária para atender os requisitos de qualidade produtiva e operacional (logística) e regulatória para tanto.

Considerando essa classificação, o conjunto selecionado (e entrevistado) de produtores foi assim constituído: dois produtores considerados estruturados e consolidados; dois produtores estruturados e não-consolidados e dois produtores não-estruturados e não-consolidados. Esses produtores foram estudados em profundidade nessa pesquisa, o que envolveu longas entrevistas, estruturadas e semi-estruturadas e visitas às suas propriedades, mantendo-se entrevistas com os trabalhadores das unidades produtivas.

Ressalta-se que todas as unidades produtivas entrevistadas se caracterizam como de base familiar. Vale observar, no entanto, que alguns entre os produtores estruturados mantêm mão-de-obra assalariada para a execução de um conjunto de tarefas específicas. No entanto, todos os produtores investigados caracterizam-se por manter uma gestão familiar dirigidas pelos próprios donos e seus familiares. Esses familiares desempenham, em geral, outras tarefas na produção e distribuição de flores tropicais e dedicam tempo integral ou parcialmente a elas.

Cabe observar que, levando-se em conta a grande heterogeneidade do grupo de produtores selecionados, em termos de estruturação e consolidação, a visão dos problemas que emergiu mostrou-se muito convergente e, conseqüentemente, consistente com o que na realidade marca as questões mais fundamentais para a floricultura tropical no Estado de Pernambuco.

É óbvio, como mencionado acima, que os resultados acima não poderão ser utilizados para extrapolações estatisticamente robustas sobre os temas tratados para toda a floricultura tropical do Estado, pois isso não faz parte do escopo do presente trabalho, mas certamente os resultados aqui obtidos poderão servir de úteis subsídios para o delineamento de pesquisas futuras, formalmente quantitativas. Afinal esse pode constituir um dos objetivos legítimos de uma pesquisa qualitativa e exploratória como a presente.

Felizmente, acredita-se que os resultados encontrados na presente pesquisa excederam a mera provisão desses subsídios, ressalvadas as limitações colocadas acima. A convergência obtida nas respostas levantadas permite que as mesmas sejam exploradas no sentido de se inferir sobre o papel da cooperação como elemento fundamental na inclusão competitiva dos agricultores familiares entrevistados.

Nesse processo de dinamização, o setor de flores aparece com uma estrutura dividida, onde de um lado se encontra um pequeno conjunto de produtores estruturados e consolidados competitivamente, inclusive com experiência de exportações, e, de outro, um conjunto de produtores não-estruturados, que estão desenvolvendo forte esforço no sentido de obterem uma inclusão competitiva dentro do setor.

Observe-se que a floricultura tropical do Estado apresenta elevada possibilidade de expansão, podendo gerar um expressivo número de pontos de trabalho e renda, além de suas possibilidades de geração de divisas e tributos. Tudo isso só será possível, no entanto se houver uma inclusão competitiva de inúmeros produtores familiares que ainda se encontram não-estruturados. Torna-se, portanto, indispensável entender na perspectiva desses produtores, como se poderia desenvolver esforços, públicos e privados, convergentes com os interesses de todos. Com isso poderão ocorrer processos de cooperação mais efetivos e com resultados extremamente promissores.

Deve-se destacar primeiramente, nessa análise, que a produção de flores tropicais poderá ser significativamente ampliada através das seguintes possibilidades, entre outras, que se mostram viáveis: i) Aumento da área plantada pelos atuais agricultores familiares (estruturados, não-estruturados, consolidados e não-consolidados); ii) Incremento da produtividade das pessoas e da terra dos produtores familiares, principalmente dos não-estruturados; iii) Aumento do número de produtores pela inclusão de outros produtores que seriam atraídos em caso de sucesso mais efetivo (e visível) dos atuais produtores familiares não-estruturados; iv) Maior nível de especialização de todos os produtores, em variedade de plantas e funções mais claras dentro da cadeia produtiva; v) Melhor coordenação entre os processos e elos da cadeia produtiva; vi) Aumento dos lucros potenciais e, conseqüente, maiores possibilidades de re-investimentos no setor; vii) Redução de riscos empresariais e financeiros pela consolidação do setor; viii) Maior capacidade de oferta, maiores quantidades de um conjunto de plantas mais diversificado, implicando em maior regularidade na oferta e, conseqüentemente, maior confiabilidade dos clientes quanto ao atendimento da demanda.

Tudo isso remete à grande potencialidade apresentada pelo setor de floricultura tropical em termos de geração de emprego, renda, divisas e tributos. Uma eventual re-dinamização do setor implicará, como argumentado acima, numa maior oferta, tendendo a se observar uma relevante redução de custos por conta da escala produtiva. Isso, em si, pode gerar maiores lucros e, portanto, aumento das atratividades sobre novos investimentos, o que poderia caracterizar, em última instância, em função do caráter retro-alimentado do processo, uma promissora estratégia de desenvolvimento local.

Perfil socioeconômico dos produtores familiares entrevistados

Neste artigo priorizamos o perfil dos produtores não-consolidados que corresponde aos associados da Cooperativa dos Produtores de Flores Tropicais do Município de Paudalho, Copaflora, que se caracteriza como agricultores familiares com baixa escolaridade (em geral analfabetos) e se mostram muito dependentes de ações do órgão a que estão vinculados; não existe contratação de mão-de-obra assalariada, nem a contratação direta de técnicos. As orientações técnicas demandam da cooperativa, que, no caso analisado, ainda se encontra em processo de reestruturação3 3 Trata-se da Cooperativa dos Produtores de Flores Tropicais do Município de Paudalho - Copaflora do Município de Paudalho-PE. .

Os produtores agricultores familiares se apresentam como famílias de baixa renda e que vivem, quase que exclusivamente, do que plantam. Com relação à unidade produtiva, todos estão envolvidos totalmente com a produção. Apenas o escoamento da produção depende da cooperativa, pois eles não têm recursos e nem conhecimento para promovê-los.

Caracterização das unidades produtivas entrevistadas quanto à mão-de-obra empregada

Todas as unidades produtivas entrevistadas4 4 Essas unidades produtivas estão localizadas em: Aldeia/Camaragibe, Paudalho, Paulista e Ribeirão municípios do estado de Pernambuco. caracterizam-se por uma administração baseada na família. De fato, os produtores entrevistados participam diretamente do controle da gestão dos negócios de suas respectivas unidades produtivas, junto com seus familiares. No total, são 14 pessoas (proprietárias e membros da família) na gestão das unidades produtivas. Além desses, no conjunto das unidades produtivas entrevistadas, foram registradas mais 6 pessoas na área administrativa, esses assalariados. Trabalhando diretamente na produção, registrou-se mais 22 trabalhadores, totalizando juntamente com os mencionados trabalhadores da área administrativa, em todas as unidades entrevistadas, 28 trabalhadores assalariados.

Ressalte-se, que nas unidades produtivas dos produtores estruturados, apesar da existência de trabalhadores assalariados, inclusive na área administrativa, o controle é feito diretamente pelos proprietários ou alguém da família. Quanto aos agricultores familiares não-estruturados e não-consolidados todos da família estão envolvidos com a unidade produtiva, participando das tarefas em todo o processo da produção, exceto nas vendas.

Caracterização das unidades produtivas entrevistadas quanto à área e espécies plantadas, possibilidades de exportação e padrão de qualidade

Considerando-se os produtores entrevistados, o total da área plantada de flores tropicais chegou a 54 hectares, sendo 30 hectares a área plantada pelos associados da Cooperativa dos Produtores de Flores Tropicais do Município de Paudalho (Copaflora).

Com relação à exportação de flores tropicais, como já mencionado, só os produtores estruturados e consolidados já conseguiram realizar exportações, para outros estados brasileiros ou para outros países. Nos últimos anos, segundo relatos dos mesmos, as exportações do setor mostram-se praticamente paralisadas em função da variação do dólar frente ao real5 5 Segundo relatos dos produtores, como as exportações ocorriam através de uma espécie de consócio, a formalização das exportações junto aos órgãos reguladores federais e estaduais fica a cargo apenas de um representante dos produtores, onerando-o mais desproporcionalmente por remete-lo à outra categoria de contribuinte, em função das remessas de produtos ao exterior. Para uma equalização dos custos tributários e logísticos pertinentes. .

Os demais produtores, principalmente os da Copaflora, ainda estão distantes de conseguirem exportar, primeiramente, pelas dificuldades de acessar o mercado internacional, e depois pelos requerimentos de qualidade impostos pelo mercado internacional e, ainda, pelos problemas apontados pelos produtores que já exportaram (problema da taxa de câmbio, custos logísticos e pelos encargos tributários).

Caracterização das unidades produtivas entrevistadas quanto às espécies cultivadas

Na produção de flores tropicais as principais espécies cultivadas6 6 Todas essas espécies são muito valorizadas na produção de arranjos com flores tropicais Além das folhagens com seus diversos tipos que compõem os arranjos e buquês. Os retornos potenciais das flores tropicais e seus arranjos, comparando com a ociosidade da terra e com o emprego em outras culturas tradicionais. são as Heliconias (pequenas, médias, grandes e pendentes) com suas variedades; Bihai, Golden Torch, Rostrata, Rauliniana, Alan Carle, e outras, seguida da Alpinia (Ginger), o Bastão-do-imperador (Etlingera Elatior ,Torch Ginger), o Sorvetão (Zingiber Spectabilis), o Costus Tapeinochillus e outras flores tropicais, além das folhagens7 7 As folhagens são um item de grande importância na floricultura tropical, uma vez que 60% dos arranjos é de folhagem. No mercado local as hastes são vendidas a centavos, os arranjos por terem a arte e acompanhados de folhagens pode sair com um preço de R$ 130,00 (Arranjo Tropical R$ 130,00 cód.: 012, Coroa com Antúrios R$ 450,00 cód.: 048), segundo fontes no site da Teleflores Silvestre (2008) ( http://www.telefloressilvestre.com.br) e ainda os arranjos poderão sofrer variações em função da disponibilidade das flores. .

Na produção da Cooperativa dos Produtores de Flores Tropicais do Município de Paudalho, a Copaflora, no projeto foi iniciado com 12 espécies de flores tropicais, os cooperados cada um recebeu inicialmente rizomas de três espécies, sendo que todos receberam a Heliconias Golden Torch.

Caracterização das unidades produtivas - aspectos da comercialização - vendas da produção de flores tropicais

Todos os produtores mencionaram as dificuldades de mercado como sendo o principal entrave dos produtores não-estruturados. Na verdade, pode-se depreender dos relatos dos entrevistados, que as dificuldades da comercialização dos produtores decorrem de inúmeros outros fatores entre os quais valendo mencionar: qualidade das plantas, dificuldades no pós-colheita (preparação do produto para venda e produção de arranjos), dificuldade logística, dificuldade de acesso a crédito e dificuldades no estabelecimento de estratégias de mercado adequadas ao setor. Essas últimas requereriam um fluxo de informações e conhecimento específicos que possibilitassem a identificação e seleção dos segmentos de mercado a explorar a partir de estratégias mercadológicas válidas. Isso está, de fato, muito distante da possibilidade dos produtores não-estruturados e só pode ser viabilizado através de iniciativas associativas ou cooperativistas, como é o caso da Copaflora para os produtores de flores tropicais de Paudalho.

Apurou-se nas entrevistas que, no caso da Copaflora, a venda da produção é incipiente e os cooperados, estão ainda em processo de aprendizagem sobre todo o ciclo produtivo e comercial do segmento das flores tropicais. Destaque-se que os mesmos vêm tentando estabelecer parcerias com empresas que atuam na comercialização de produtos, restaurantes, e outros locais para poder escoar a sua produção de forma mais regular. Na verdade, os cooperados têm consciência da importância do mercado consumidor, inclusive de suas potencialidades para o setor de floricultura tropical.

No que pese as dificuldades na comercialização dos produtos, os produtores não-estruturados acreditam no potencial e vendas de seus produtos, o mercado se mostra muito promissor, pois ainda existem mercados que ainda não foram explorados.

O segmento está sujeito à sazonalidade tanto na produção das flores (cada espécie obedecem ao seu ciclo natural) e, também, quanto às oscilações da procura pelos produtos durante o ano. Existem épocas do ano em que se vende mais no setor de floricultura tropical, principalmente em datas comemorativas8 8 Os principais momentos de atividades sociais em que os produtores têm mais contatos visando à competitividade do Setor é nas "feiras e exposições" considerada pelos entrevistados como muito importante, seguida pelos "eventos e workshopings" e pelas "conferências, seminários, cursos" ou "treinamentos e encontros". .

Para aproveitar determinadas épocas os produtores não-estruturados têm organizado determinados eventos coletivos, como a organização de lugares para a exposição dos produtos, demonstrando disposição para unir forças e cooperar uns com os outros.

Principais problemas citados da floricultura tropical do estado de Pernambuco

A análise dos principais problemas da floricultura tropical do estado de Pernambuco, na perspectiva dos próprios produtores, foi realizada por áreas e subáreas, (assistência técnica, crédito, comercialização/mercado, cooperação, distribuição, pós-colheita, produção, recursos humanos, regulação do setor e tecnologia da informação) conforme organização do formulário utilizado nas entrevistas.

O grupo dos produtores não-estruturado apresenta como o principal problema no setor as dificuldades no âmbito da comercialização/mercado, porque eles produzem mas não têm como escoar a produção. Dependem quase que totalmente das ações da cooperativa. Contudo, eles reconhecem tal dificuldade e têm consciência que estão numa fase de total aprendizado sobre todo o ciclo produtivo do setor.

Análise a partir das áreas dos principais problemas citados

Ainda conforme o formulário aplicado, foram hierarquizados os três problemas considerados mais graves pelos produtores, buscando-se destaca-los. Assim os três problemas apontados como "mais graves", por áreas, foram: o primeiro problema mais grave a comercialização/mercado; o segundo problema "mais grave" às áreas de produção e pós-colheita e o terceiro problema mais grave relaciona-se aos recursos humanos.

Dentro da área de comercialização/mercado, os principais problemas enfrentados pelos produtores por subáreas foram: "falta de acesso a canais de distribuição" (distribuidores, representantes, varejistas, etc.). Este foi o item mais apontado como o "muito importante", seguido dos itens, "ausência de uma marca comercial reconhecida", "falta de cultura para o consumo", "assistência técnica". Em terceiro lugar aparece com os itens "alta carga tributária" e a "falta de divulgação do produto (no mercado internacional)".

Na área da produção as principais subáreas apontadas foram: as mais importantes: "adubação e/ou correção do solo" e "baixa profissionalização dos produtores", seguidas de "análise do solo", "assistência técnica", "ausência de pesquisa/estudos", "baixa qualidade do produto", "falta de qualificação de mão-de-obra", e "insumos (herbicida, inseticida)". Mesmo alguns dos produtores estruturados, apontam também como a "integração da cadeia produtiva na produção" como algo muito importante.

Registre-se que o planejamento das ações a serem realizadas no âmbito da comercialização aparece como uma necessidade fundamental a ser atendida. Neste caso, a coordenação das ações articuladas por produtores e instituições parece também constituir uma preocupação básica.

Investir na capacitação dos produtores e nas técnicas produtivas adequadas mostra-se, também, como uma preocupação a ser considerada nas ações a serem empreendidas para a consolidação do setor através da inclusão competitiva dos agricultores familiares. Parcerias e articulações cooperativas são indispensáveis para que na consolidação de uma nova etapa de dinamismo do setor.

Na área de pós-colheita as principais subáreas que são consideradas as mais importantes são: "ausência de pesquisa/estudos", seguida das subáreas de "inadequação dos meios de apoio logístico (na unidade produtiva"), "inexistência de material com informações técnicas e tecnologia pós-colheita".

Conhecimento técnico, apoio logístico adequado configuram-se como limitantes a serem resolvidos.

Na área de recursos humanos as subáreas consideradas importantes são: a "falta de pessoal qualificado (na Produção)" e a "falta de interesse da população local por treinamento". Investimentos em capacitação do pessoal, na opinião dos entrevistados, destaca-se como uma prioridade consensual.

Instituições relacionadas com o setor de flores tropicais

Entre as instituições com as quais os entrevistados tem mais interagido nos últimos anos, destaca-se como a mais importante o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, o SEBRAE de Pernambuco. A importância do Sebrae estadual tem sido apontada por todos os entrevistados ressaltando-se o seu papel no desenvolvimento do setor no Estado na década de 1990.

Já, os cooperados da Copaflora também destacam a participação do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável a Zona da Mata de Pernambuco, PROMATA, no nascedouro da cooperativa junto com o apoio da Ong CEAC (Centro de Apoio às Famílias Carentes), e a Prefeitura Municipal de Paudalho. Também foram citados, como instituições que interagem, os bancos oficiais brasileiros (BB e BNB), que liberaram financiamento para os agricultores familiares. Também merece destaque a Universidade Federal Rural de Pernambuco, a UFRPE através Departamento de Agronomia - Área de Fitotecnia - Laboratório de Floricultura no Programa de Pós-graduação em Melhoramento Genético de Plantas na Área de Fitotecnia que participa com seus alunos de pesquisa de campo junto a produtores.

Existem outras instituições governamentais e privadas que poderiam estar envolvidas direta ou indiretamente com o setor de floricultura tropical do estado de Pernambuco, porém elas não foram citadas pelos produtores entrevistados.

Ações na produção de flores tropicais - estratégia de marketing

Os agricultores familiares associados da Copaflora têm se preocupado com a criação de um selo (ou logomarca) para a cooperativa e já providenciaram a criação da marca da cooperativa. Vale mencionar as principais estratégias de dinamização mercadológica do setor de Floricultura Tropical de Pernambuco, segundo os entrevistados, a saber: i) Eventos envolvendo técnicos e acadêmicos, produtores e outros atores ligados ao setor, ii) Sensibilizando os órgãos públicos de pesquisa a se envolverem mais com o setor, iii) Sensibilização dos próprios produtores a se organizarem, iv) Feiras de negócios.

A expectativa dos agricultores familiares da Copaflora - ambiente favorável a inclusão competitiva

Atualmente os agricultores familiares que fazem parte da Copaflora, diante das dificuldades passadas, sabem melhor como enfrentarão problemas que certamente aparecerão e não parecem temerem os percalços futuros. Os entrevistados demonstraram ter certa convicção da importância da cooperação articulada através da cooperativa para o enfrentamento de problemas comuns. É bem representativo este sentimento, como mostrado no relato de um dos agricultores familiares entrevistado:

[...] o que eu entendo é estas visitas que a gente faz, no sítio do outro, por que cada uma pessoa trabalha de um jeito, né, o cara vai pegando(conhecimento) um do outro, um do outro, ... oxente, é outra coisa, a gente sozinho não faz nada não [...]. (ENTREVISTADO B, 2008). [grifo nosso].

Isso manifesta um claro sinal da disposição de ajudar (e de ser ajudado) para ter resultados promissores, revelando um ambiente favorável à inclusão competitiva.

A coordenação das ações de cooperação a serem dirigidas na busca das soluções dos problemas mais importantes, dentre eles a comercialização do produto, constitui fator fundamental no processo de desenvolvimento local na sua área da atuação desses produtores, devendo o aprendizado sobre essa articulação/cooperação ser incorporado como premissa de um programa mais efetivo de extensão rural para o setor.

Não houve relatos de atividade compartilhada de forma sistemática entre os produtores no Setor de Floricultura, mas existem produtores que dão palestras e capacitam alguns interessados na área e esse tipo de capacitação vem se repetindo com freqüência. Ademais, alguns produtores chegam a trocam informações, quando são solicitados a fornecer flores tropicais entre si para ajudar no atendimento de demandas.

Também se constatou que a maioria dos entrevistados faz parte de algum grupo como associação e cooperativa. Porém, os produtores estruturados não dependem de associações ou cooperativas, como mencionado tem condições financeiras e operacionais muito boas, e alguns tem relacionamentos com algum tipo de associação.

Esses produtores mais estruturados e consolidados poderiam ter ganhos substanciais se pudessem conduzir mercadologicamente os não-estruturados, fazendo-os também ganhar. Trata-se da busca de uma visão empreendedora por parte dos produtores consolidados que estariam em uma atividade que já dominam e poderiam obter retornos elevados.

Na verdade, se chamados por um ente que tem credibilidade, como o Sebrae ou a UFRPE, acredita-se que a maioria dos produtores participaria na criação de uma instância que agregasse todos os produtores, pois eles demonstram interesse em ações que pudessem ser articuladas conjuntamente com os outros envolvidos com o setor.

Entre os menos estruturados, registra-se, por exemplo, que a Copaflora mantém articulada conjuntamente entre os agricultores familiares, reuniões regularmente e visitas por parte da diretoria para estimular, apoiar e incentivar os cooperados, existindo uma troca de experiências e de informações, tendo como um assunto recorrente à busca de soluções para o escoamento e venda da produção.

Levantamento dos atores sociais efetivamente envolvidos com o setor de flores tropicais de Pernambuco

Segundo os produtores, atualmente não há instituições que estejam promovendo ações específicas em torno do setor. Com relação a Copaflora, entre as instituições destacam, também o governo municipal de Paudalho, tem dado bastante apoio aos agricultores familiares; a ONG CEAC - Centro de Apoio a Pessoas Carentes - que foi a operadora de negócios do projeto inicial Promata e a UFRPE, que tem apoiado no campo da pesquisa, os bancos oficiais também foram lembrados. Os entrevistados apontaram, também, o Sebrae como sendo de muita importância nos primórdios do desenvolvimento do setor.

Possibilidades de formação de cooperação no setor de flores tropicais

Os produtores entrevistados quando solicitados a se posicionarem sobre algumas fases ligadas à sua disposição de cooperação entre si, demonstram concordar fortemente que "Pequenas empresas, operando de forma articulada, tornam mais fácil a inclusão competitiva", "Reunião de pequenas empresas facilita o desenvolvimento local" e "Cooperação e espírito empreendedor entre empresas gera maior competitividade na Floricultura Tropical".

E concordam que "Sozinho no negócio, é difícil uma inclusão competitiva", "Grupo de empresas chama a atenção de compradores, de fornecedores e do próprio governo" e "Grupo de empresas têm mais facilidade de participação em feiras no Brasil e no exterior".

E também concordam que "Sua empresa teria vantagens se trabalhasse em conjunto com outras". Logo, demonstraram boa disposição à cooperação entre si na busca por soluções a seus problemas comuns.

Ressalta-se que, quanto ao nível de cooperação entre as empresas do setor de flores tropicais do estado de Pernambuco os agricultores familiares consideram de nível médio. Todavia, os agricultores familiares do setor de floricultura tropical do estado de Pernambuco não costumam cooperar para: comprar insumos, vender, treinar mão-de-obra, produzir, distribuir.

Levantamento da interatividade entre os atores sociais envolvidos com o setor de flores tropicais de Pernambuco - ações desenvolvidas de cooperação

Os produtores consideram as parcerias dentro do setor muito raras e, em geral, os produtores mais estruturados e consolidados julgam não necessitar das mesmas. Há, contudo, parcerias informais e embrionárias da UFRPE com algumas unidades produtivas, podendo essas iniciativas ser mais desenvolvidas no futuro.

Ademais, os agricultores familiares já fizeram parcerias com empresa de comercialização e prontamente buscam parcerias com: órgãos públicos, fornecedores, associações, universidades, Ong's, empresas do mesmo setor, empresas de outro setor.

Em resumo pode-se dizer que as possibilidades de cooperação entre os produtores e entre esses e as instituições ainda são pouco desenvolvidas. Há, contudo, uma atividade positiva por parte dos produtores no sentido de buscarem coletivamente por soluções aos seus problemas comuns. Na verdade, a cooperação institucional aparece como uma promissora alternativa uma vez que pode efetivamente conduzir a uma nova dinamização do setor através da articulação de ações e geração de sinergias.

Considerações finais

A cooperação legítima entre os produtores deve ser resultado de um entendimento entre eles sobre a necessidade de juntar forças para que todos os envolvidos saiam efetivamente ganhando, para isso necessita se basear num clima de confiança mútua.

Então, a base para o desenvolvimento de uma estratégia de efetiva cooperação deve ser composta de dois ingredientes fundamentais: confiança mútua entre as pessoas envolvidas (particularmente entre os próprios produtores); visão comum quanto às possibilidades de ganhos futuros (visão comum baseada, principalmente, no conhecimento que se tem sobre a realidade em que atuam e nas oportunidades que podem ser geradas dentro dessa mesma realidade).

Na discussão sobre as possibilidades de convergências de interesses entre os produtores de flores tropicais não-estruturados e os já estruturados e consolidados no processo de dinamização do setor de flores tropicais do Estado de Pernambuco, que fossem favoráveis à inclusão competitiva dos produtores familiares, merece ressaltar que são possíveis diversos ganhos adicionais para todos a partir de uma visão mais empreendedora por parte dos produtores estruturados e consolidados sobre a realidade e potencialidades do setor.

Acredita-se que este trabalho tenha proporcionado uma visão sobre o setor que subsidie outras pesquisas futuras que aprofundem o conhecimento sobre a floricultura tropical do Estado de Pernambuco, sejam elas de caráter qualitativo ou quantitativo. Especificamente, recomenda-se a elaboração de pesquisas que promovam o levantamento de dados quantitativos abrangentes sobre o setor. Propõe-se, também, que outras pesquisas busquem analisar a questão ambiental do setor que ajudem na antecipação dos impactos ambientais decorrentes de uma eventual expansão de sua produção.

Espera-se com essa pesquisa contribuir para uma melhor compreensão da realidade local dos produtores familiares de modo a subsidiar a elaboração, a implementação e a avaliação de estratégias, públicas e privadas e de uma extensão rural do setor, que privilegie a perspectiva dos produtores familiares, e que busquem o desenvolvimento local do Setor de Floricultura Tropical do Estado de Pernambuco.

Notas

Recebido em 7/11/2008; revisado e aprovado em 17/12/2009; aceito em 2/2/2009

  • GALIIANO, A. Guilherme. Introdução à Sociologia São Paulo: Harbra, 1981. p. 337.
  • JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia: guia prático da linguagem sociológica. Trad. Ruy Jugmann. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
  • MARCONI, Marina da Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de pesquisa: planejamento e execução de pesquisa, amostragem e técnicas de pesquisa, elaboração, análise e interpretação de dados. São Paulo: Atlas, 1986.
  • MERTON, Robert K. Sociologia: teoria e estrutura. São Paulo: Mestre Jou, 1970.
  • OLIVEIRA, Pérsio S. Introdução à Sociologia 24. ed. São Paulo: Ática, 2001.
  • TURNER, Jonathan H. Sociologia conceitos e aplicações Trad. Márcia Marques Gomes Navas. Revisão técnica João Clemente de Souza Neto. São Paulo: Marron Books, 1999. p.253.
  • TELEFLORES SILVESTRE. Buquês, arranjos, ramalhetes, cestas de flores, coroas de flores, cestas de café da manhã Av. Cons. Rosa e Silva, 1312, Aflitos, Fone: (81) 3241.8257, Recife, 2008
  • 1
    Na terminologia aqui empregada, o termo "
    Inclusão Competitiva" está sendo usado para indicar uma situação em que os agricultores familiares estão preparados para competirem no mercado mesmo na ausência de apoio assistencialista do governo ou de qualquer outro ente, público ou privado. Ou seja, produtores familiares que conseguem, a partir de sua própria produção, sobreviverem no mercado.
  • 2
    Todos os entrevistados dedicam-se a Floricultura Tropical, porém os mesmos também atuam em outras atividades rurais ou urbanas.
  • 3
    Trata-se da Cooperativa dos Produtores de Flores Tropicais do Município de Paudalho - Copaflora do Município de Paudalho-PE.
  • 4
    Essas unidades produtivas estão localizadas em: Aldeia/Camaragibe, Paudalho, Paulista e Ribeirão municípios do estado de Pernambuco.
  • 5
    Segundo relatos dos produtores, como as exportações ocorriam através de uma espécie de consócio, a formalização das exportações junto aos órgãos reguladores federais e estaduais fica a cargo apenas de um representante dos produtores, onerando-o mais desproporcionalmente por remete-lo à outra categoria de contribuinte, em função das remessas de produtos ao exterior. Para uma equalização dos custos tributários e logísticos pertinentes.
  • 6
    Todas essas espécies são muito valorizadas na produção de arranjos com flores tropicais Além das folhagens com seus diversos tipos que compõem os arranjos e buquês. Os retornos potenciais das flores tropicais e seus arranjos, comparando com a ociosidade da terra e com o emprego em outras culturas tradicionais.
  • 7
    As folhagens são um item de grande importância na floricultura tropical, uma vez que 60% dos arranjos é de folhagem. No mercado local as hastes são vendidas a centavos, os arranjos por terem a arte e acompanhados de folhagens pode sair com um preço de R$ 130,00 (Arranjo Tropical R$ 130,00 cód.: 012, Coroa com Antúrios R$ 450,00 cód.: 048), segundo fontes no site da Teleflores Silvestre (2008) (
    http://www.telefloressilvestre.com.br) e ainda os arranjos poderão sofrer variações em função da disponibilidade das flores.
  • 8
    Os principais momentos de atividades sociais em que os produtores têm mais contatos visando à competitividade do Setor é nas "feiras e exposições" considerada pelos entrevistados como muito importante, seguida pelos "eventos e workshopings" e pelas "conferências, seminários, cursos" ou "treinamentos e encontros".
  • *
    Este artigo faz parte da pesquisa mais ampla desenvolvida para obtenção do título de mestre do Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento Local (POSMEX).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      29 Abr 2009
    • Data do Fascículo
      Jun 2009

    Histórico

    • Aceito
      02 Fev 2009
    • Revisado
      17 Dez 2009
    • Recebido
      07 Nov 2008
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