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Ecodesign na perspectiva do desenvolvimento local e da sustentabilidade

Ecodesign in the perspective of local development and sustainability

Écoconception en perspective de développement local et le développement durable

Ecodesign en la perspectiva del desarrollo local y de la sostenibilidad

Resumo:

O trabalho que segue é um estudo sobre a relação entre ecodesign e desenvolvimento local. Foi realizado a partir de uma varredura de bases de dados de amplo acesso, encontrando textos que desenvolvem questões historiográficas e elaboram categorias de análise e critérios. Como resultado, observa-se que a discussão ainda está em fase de estabilização de critérios e definições e abre perspectivas para a relação entre ecodesign e dinâmicas socioterritoriais.

Palavras-chave:
design sustentável; potencial do ecodesing; impacto mínimo ao meio ambiente

Abstract:

The work that follows is a study on the relationship between ecodesign and local development. It has been carried out departing from a wide database scan, looking for texts that develop historiographic questions and elaborate categories and analytic criteria. As a result it is observed that the discussion is still in a moment of stabilization of criteria and definitions and opens perspectives for the relation between ecodesign and socio-territorial dynamics.

Key words:
sustainable design; ecodesign potential; minimal impact on the environment

Résumé:

Le travail qui suit est une étude sur la relation entre l'éco et le développement local, réalisée à partir d'une analyse de bases de données. On a trouvé des textes qui développent des problèmes historiographiques et élaborent des critères et catégories d'analyse. En conséquence, on observe que la discussion est encore concentrée sur des critères de stabilisation et définitions. Le travail ouvre des perspectives pour l´étude des relations entre l'écodesign et les dynamiques socio-territoriales.

Mots-clés:
design durable; potentiel d'ecoconception; impact minimal sur l'environnement

Resumen:

El trabajo que sigue es un estudio sobre la relación entre el ecodesign y el desarrollo local. Se realizó a partir de una exploración de bases de datos de amplio acceso, encontrando textos que desarrollan cuestiones historiográficas y elaboran categorías de análisis y criterios. Como resultado se observa que la discusión se halla en fase de estabilización de criterios y definiciones. Abrense perspectivas para la relación entre ecodesign y dinámicas socioterritoriales.

Palabras clave:
diseño sostenible; diseño potencial; impacto mínimo sobre el medio ambiente

1 INTRODUÇÃO

Há várias conceituações do Desenvolvimento Local em uso. Entre elas, destaca-se a clássica tentativa de Francisco Oliveira (2004)OLIVEIRA, F. Aproximações ao enigma: que quer dizer desenvolvimento local? In: CACCIA-BAVA, Silvio; PAULICS, Veronika; SINK, Peter (Org.). Novos contornos da gestão local: conceitos em construção. São Paulo: Polis, Programa de Gestão Pública e Cidadania/FGV-EAESP, 2004., em que ressalta o caráter polissêmico, irredutível a "modelos paradigmáticos". Segundo ele, qualquer tentativa comporta "tantas quantas sejam as dimensões com o intuito do exercício da cidadania" (OLIVEIRA, 2004OLIVEIRA, F. Aproximações ao enigma: que quer dizer desenvolvimento local? In: CACCIA-BAVA, Silvio; PAULICS, Veronika; SINK, Peter (Org.). Novos contornos da gestão local: conceitos em construção. São Paulo: Polis, Programa de Gestão Pública e Cidadania/FGV-EAESP, 2004., p. 13), no quadro de complexidade das reflexões atuais. O livro introdutório de Desai e Porter (2014)DESAI, V.; POTTER, R. E. (Ed.). The companion to development studies. 3. ed. London e New York: Taylor and Francis, 2014., por exemplo, ultrapassa os cem capítulos. Naturalmente, uma dessas dimensões é enraizada no contexto da sustentabilidade ambiental.

A sustentabilidade é uma das discussões mais importantes do nosso tempo, gerando diversos movimentos de conscientização e construção de ações efetivas, numa busca que provavelmente se propagará por muitas décadas (BARBIERI et al., 2010BARBIERI, J. C. et al. Inovação e sustentabilidade: novos modelos e proposições. REA - Revista de Administração de Empresas, v. 50, n. 2, p. 146-54, 2010.). Espera-se que seja enraizada e provoque alterações em vários campos de pesquisa, de ações organizacionais e de indivíduos. Podemos dizer que o desenvolvimento local incorpora o esforço da sustentabilidade entre as suas dimensões e esta, por sua vez, atrai várias outras áreas e conceitos, como o ecodesign, que se delineia neste artigo.

O trabalho que segue procura explorar possíveis interações entre o sistema das discussões do desenvolvimento local, combinando ou introduzindo nele algumas referências para delinear a ideia de ecodesign e, ainda, para tentar iluminar algumas das discussões que andam sendo propostas na grande área dos Estudos do Desenvolvimento. Como se pode ver, trata-se de uma busca de interlocuções publicadas em formato de papers,para caracterizar, de forma moderadamente estrutural, a discussão em um estrato da comunidade científica.

2 METODOLOGIA

No segundo semestre do ano de 2016, procedeu-se a buscas, privilegiando artigos científicos. As buscas não se restringiram a um intervalo de tempo, tendo sido utilizadas três bases de dados digitais - Google Acadêmico (scholar.google.com.br), Scielo (scielo.br) e Scopus (scopus.com/home.uri). Estas três bases de dados foram selecionadas por sua grande divulgação na comunidade de leitores, além das qualidades específicas que caracterizam cada revista científica e pesquisa em particular que serão citadas logo abaixo.

Para orientar as buscas, foi feita uma leitura de artigos introdutórios à área, sobretudo do texto de Desai e Porter (2014)DESAI, V.; POTTER, R. E. (Ed.). The companion to development studies. 3. ed. London e New York: Taylor and Francis, 2014.. A partir dessa primeira leitura conceitual informativa, foi delimitado um campo semântico, do qual se extraíram as palavras-chave utilizadas para a busca, relacionando os termos, a saber, "ecodesign e desenvolvimento local", "design for the environment", "design for the environment e local development", "design for the environment e design for sustainability".

Para definir quais artigos seriam considerados válidos, inicialmente foram lidos todos os resumos e as conclusões dos estudos encontrados a partir das palavras-chave. Em seguida, foi realizada uma leitura dos artigos completos que passaram pela triagem inicial. Por meio das referências nos artigos, foram encontrados ainda outros trabalhos. E, após essa varredura, ou screening inicial, a revisão aconteceu em duas etapas: a primeira tenta conceituar o tema, em ordem cronológica e relacionar com o campo conceitual do desenvolvimento local, da sustentabilidade e territorialidade. Em segundo lugar, os artigos foram agrupados de forma a categorizar a reflexão dos autores.

3 REVISÃO

3.1 Origem do tema

A palavra design é de origem inglesa e foi oficializada em 1588, com a sua inclusão lexical no Dicionário Oxford. Até o momento, design pode ser lido como "a plan or drawing produced to show the look and function or workings of a building, garment, or other object before it is made". Em tradução livre, tem-se um plano ou desenho produzido para mostrar a aparência e a função de um objeto. Em uma concepção mais remota, encontra-se o verbo em latim, designo, designare, que abrange o sentido de desenhar (CARDOSO, 2008CARDOSO, R. Uma introdução à história do design. 3. ed. São Paulo: Blucher, 2008.).

Segundo Naime, Ashton e Hupffer (2012)NAIME, R.; ASHTON, E.; HUPFFER, H. M. Do design ao ecodesign: pequena história, conceitos e princípios. Revista Eletrônica em Gestão, Educação e Tecnologia Ambiental, v. 7, n. 7, p. 1510-9, mar./ago. 2012., a palavra design ganhou destaque durante o século XIX, com a revolução industrial. É considerada por Cardoso (2008)CARDOSO, R. Uma introdução à história do design. 3. ed. São Paulo: Blucher, 2008. como sendo o produto de três processos históricos, a saber: a reorganização das fábricas para produção massiva, a urbanização moderna e a globalização, por meio das redes de comunicação, transportes e comércio.

Porém, a partir do início dos anos setenta, a ideia do desenho fundiu-se parcialmente com uma inspiração oriunda do âmbito ecológico. E, após a leitura dos artigos, é importante notar que é mais comum aparecer o termo ecodesign (MOVILLA et al., 2016MOVILLA, N. A.; ZWOLINSKI, P.; DEWULF, J.; MATHIEUX, F. A method for manual disassembly analysis to support the ecodesign of electronic displays. Resources, Conservation and Recycling, v. 114, p. 42-58, nov. 2016. Disponível em: <http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0921344916301550>.
http://www.sciencedirect.com/science/art...
) enquanto o termo em inglês, design for environment, aparece em trabalhos advindos da América do Norte (VELEVA et al., 2016VELEVA, V.; LOWITT, P.; ANGUS, N.; NEELY, D. Benchmarking eco-industrial park development: the case of Devens. Benchmarking: An International Jounal, v. 23, n. 5, p. 1147-70, 2016. Disponível em: <http://www.emeraldinsight.com/doi/abs/10.1108/BIJ-06-2014-0056>.
http://www.emeraldinsight.com/doi/abs/10...
). Ainda observaram-se consistirem em sinônimos os termos ecodesign, design verde, design limpo e funcional, ou seja, clean, design sustentável e design para o ambiente. Os resultados similares a esse foram relatados também por Guelere-Filho (2009)GUELERE-FILHO, A. Integração do ecodesign ao modelo unificado para a gestão do processo de desenvolvimento de produtos: estudo de caso em uma grande empresa de linha branca. 2009. 242f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) - Universidade de São Paulo, São Carlos, SP, 2009..

Alguns autores concordam que um momento especial para oficializar a conexão entre design e o conhecimento da ecologia foi a publicação em 1971 do livro "Design for the real World: Human ecology and social change" do designer Victor Papanek (PAZMINO, 2007PAZMINO, A. V. Uma reflexão sobre design social, eco design e design sustentável. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE DESIGN SUSTENTÁVEL, 1. Curitiba, setembro de 2007. Disponível em: <https://drive.google.com/file/d/0B-bAfmT1tqbfaTRTazFKVDdtejA/view>.
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; CARDOSO, 2008CARDOSO, R. Uma introdução à história do design. 3. ed. São Paulo: Blucher, 2008.).

No livro, traduzido para 23 idiomas, Papanek (1971)PAPANEK, V. Design for the real world - human ecology and social change. Chicago, EUA: Academy Chicago Publishers, 1971. discute a função do design com foco no ser humano, na ética e nos estudos de ecologia. E faz uma crítica ao modelo de estruturação da vida baseado no excesso de consumo, explorando em forma argumentativa a contribuição que os profissionais do design podem fornecer, a fim de diminuir o impacto ambiental. Segundo ele, por exemplo, na fabricação de um objeto, deve-se levar em conta as potencialidades regionais, como o clima e a capacitação pessoal.

É inegável que Papanek (1971)PAPANEK, V. Design for the real world - human ecology and social change. Chicago, EUA: Academy Chicago Publishers, 1971. foi inspirado em um discurso mais amplo que contextualiza o seu esforço de refletir sobre a preservação ambiental. No período da publicação de seu livro, os EUA saíam de uma crise do petróleo, e a preocupação com a degradação ambiental começava a tomar dimensões globais. De fato, entre 1970 e 1980, por meio de intensas reflexões, diversas organizações não governamentais ambientalistas terçaram armas numa crítica ao modelo exploratório dos recursos naturais vigentes (CASTELLS, 1999CASTELLS, M. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999.).

Um marco importante para enquadrar esse discurso, foi dado em 1987, com o encontro da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, também conhecida como Comissão de Brundtland - por ter sido presidida pela norueguesa Gro Harlen Brundtland. Esse encontro tinha como objetivo considerar os avanços da degradação ambiental e o efeito das alternativas adotadas para enfrentá-los (CASTRO, 1996CASTRO, M. C. Desenvolvimento sustentável. Revista Economia e Empresa, São Paulo, v. 3, n. 3, p. 1-12, 1996.; CAMARGO, 2003CAMARGO, A. L. de B. Desenvolvimento sustentável: dimensões e desafios. Campinas, SP: Papirus, 2003. 160p.).

Entretando, Papanek (1971)PAPANEK, V. Design for the real world - human ecology and social change. Chicago, EUA: Academy Chicago Publishers, 1971. também inspirou a evolução do pensamento centrado no ambiente dentro da vertente do design. Para Fiksel (1996)FIKSEL, J. Design for environment. New York: Mc Graw Hill, 1996., ecodesign é um conjunto de práticas de projeto, dirigidas à concepção de processos e produtos ecoeficientes, com atenção a qualidade ambiental, de saúde e segurança, durante todo o ciclo de vida desses produtos e processos.

Pazmino (2007)PAZMINO, A. V. Uma reflexão sobre design social, eco design e design sustentável. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE DESIGN SUSTENTÁVEL, 1. Curitiba, setembro de 2007. Disponível em: <https://drive.google.com/file/d/0B-bAfmT1tqbfaTRTazFKVDdtejA/view>.
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, em seu artigo "Uma reflexão sobre Design Social, Eco Design e Design Sustentável", faz uma análise qualitativa das diretrizes e conceitos do design social, do ecodesign e do design sustentável apontando suas diferenças e convergências.

A autora define o design social como uma prática que conduza à melhoria da qualidade de vida, renda e inclusão social. Segundo ela, a prática do ecodesign gera um produto competitivo no mercado, cuja produção e uso causem o mínimo de impacto ao meio ambiente, além de possuir formas de mensuração de sua qualidade ambiental. E o design sustentável vai ser, então proposto, como um processo mais abrangente e complexo que contemple um produto economicamente viável, ecologicamente correto e socialmente equitativo (PAZMINO, 2007PAZMINO, A. V. Uma reflexão sobre design social, eco design e design sustentável. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE DESIGN SUSTENTÁVEL, 1. Curitiba, setembro de 2007. Disponível em: <https://drive.google.com/file/d/0B-bAfmT1tqbfaTRTazFKVDdtejA/view>.
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).

Nesse contexto, para Manzini e Vezzoli (2008)MANZINI, E.; VEZZOLI, C. O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais. São Paulo: Edusp, 2008., o termo ecodesign pode ser definido como: "modelo de projeto pautado por critérios (diretrizes) ecológicos, partindo do enfrentamento das questões ambientais, e até mesmo redesenhar produtos já bem estabelecidos". Na sugestão de Pazmino (2007)PAZMINO, A. V. Uma reflexão sobre design social, eco design e design sustentável. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE DESIGN SUSTENTÁVEL, 1. Curitiba, setembro de 2007. Disponível em: <https://drive.google.com/file/d/0B-bAfmT1tqbfaTRTazFKVDdtejA/view>.
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, algumas diretrizes podem ser lidas no Quadro 1.

Quadro1
Diretrizes para alcançar os processos do ecodesign.

Além dos critérios acima, há outros, citados por Cerdan et al. (2009)CERDAN, C.; GAZULLA, C.; RAUGEI, M.; MARTINEZ, E.; PALMES, P. F. Proposal for new quantitative eco-design indicators: a first case study. Journal of Cleaner Production, v. 17, n. 18, p. 1638-43, dez. 2009., cujos critérios, em geral, apontam para a redução do esgotamento da matéria-prima e outros tipos de impactos ambientais. No trabalho são elencadas oito categorias: redução do número de diferentes materiais e seleção das mais apropriadas; redução do impacto ambiental na fase de produção; otimização da fase de distribuição; redução do impacto ambiental na fase de utilização; extensão da vida útil do produto; simplificação da desmontagem do produto (concepção para desmontagem); concepção para reutilização e design para reciclagem.

No artigo "Sustentabilidade em desenvolvimento de produtos: uma proposta para a classificação de abordagens", Cerdan et al. (2009)CERDAN, C.; GAZULLA, C.; RAUGEI, M.; MARTINEZ, E.; PALMES, P. F. Proposal for new quantitative eco-design indicators: a first case study. Journal of Cleaner Production, v. 17, n. 18, p. 1638-43, dez. 2009. delineiam a linha histórica de quinze abordagens próximas ao tema de desenvolvimento de produtos e sustentabilidade ambiental, que ajudam a entender em que contexto histórico se encaixa o termo ecodesign. As abordagens usadas são: Desenvolvimento Sustentável, Balanço de Massa, Ecologia Industrial, Ecoeficiência, Capitalismo Natural, Emissão Zero (ZERI), Berço ao Berço, Cadeia de Suprimentos Verde, Análise do Ciclo de Vida (ACV), EcoDesign, Logística Reversa, Produção Mais Limpa, Design for Environment (DfE), QFD for Environment e Emergia. A Figura 1 adaptada dos autores resume a linha histórica (MAGNAGO; AGUIAR; PAULA, 2012MAGNAGO, P. F.; AGUIAR, J. P. O.; PAULA, I. C. Sustentabilidade em desenvolvimento de produtos: uma proposta para a classificação de abordagens. Revista Produção Online, Florianópolis, SC, v. 12, n. 2, p. 351-76, 2012.).

Figura 1
Linha do tempo dos conceitos relacionados à utilização dos recursos e minimização dos impactos ambientais

Definido, ao menos em parte, o conceito de ecodesign e sua contextualização histórica, é preciso também encontrar autores que fazem uma discussão mais abrangente do tema. Oliveira, Marques e Guedes (2016)OLIVEIRA, I. C. M.; MARQUES, A. M. D. R.; GUEDES, M. G. P. R Design social para valorização de uma identidade local - design de sistemas sociais. In: INTERNACIONAL FASHION AND DESIGN CONGRESSO, 3. Braga, Portugal: Universidade do Minho, 2016. Disponível em: <http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/41799/1/CIMODE2016_ProceedingsArtigo3.pdf>.
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falam sobre o design como um valorizador da identidade local, procedendo das transformações ambientais que ocorreram ao longo das últimas décadas, que também influenciaram as áreas do design. Agora espera-se muito mais da relação mercado-produto-marca. Espera-se que haja uma desmaterialização dos objetos e que se proponha uma valorização da cadeia do produto, valorizando seu ambiente de origem ou sua matéria-prima e, em conjunto, a comunidade e a economia local, derivando um conceito muito próximo ao de ecodesign ou de design social.

Um ponto de encontro entre os conceitos de ecodesign e desenvolvimento local pode emergir, da concepção de Desenvolvimento Local, como processo de desenvolvimento cultural e socioeconômico que surge do interior e ganha escalas externas progressivas, situando a comunidade em progressão ascendente de negociações de visibilidade e de ação coletiva (ÁVILA, 2006ÁVILA, V. F. Realimentando discussão sobre teoria de Desenvolvimento Local (DL). Interações, Campo Grande, MS,v. 8, n. 13, p. 133-40, set. 2006.). Portanto é possível que se estabeleça uma sinergia, com trocas mutuas, onde os processos de ecodesign ajudem na valorização do local e o local alcance o que Ávila (2006)ÁVILA, V. F. Realimentando discussão sobre teoria de Desenvolvimento Local (DL). Interações, Campo Grande, MS,v. 8, n. 13, p. 133-40, set. 2006. chama de condição de sujeito, e não de objeto participante.

4 REFERÊNCIAS ILUSTRATIVAS

Existe uma gama de artigos que, em vez de apresentar ou discutir o conceito, apresentam casos ou iniciativas de variantes do ecodesign, acrescentando nuances e destaques à discussão. Uma amostra dessa diversidade foi elaborada para visualização mais clara no Quadro 2.

Quadro 2
Panorama dos artigos com ênfase em Ecodesign e Desenvolvimento Local Sustentável

Os trabalhos foram categorizados em três grupos, discussão de conceitos, estudos de caso e indicadores para produção de produtos pautados pelo ecodesign. A partir dessa categorização devem emergir reflexões interessantes.

5 CONCLUSÕES

No momento em que se elabora essa exploração inicial, podem-se ver alguns fenômenos em andamento, que serão sinalizados para, em seguida, apontar possíveis direções da investigação em curso.

O fenômeno mais importante: ainda não aconteceu a estabilização conceitual. O tema do design sustentável ainda se refere à visão do mercado, e sua durabilidade ou viabilidade enquanto empreendimento, e também ao ambiente, e sua conservação como repositório de recursos. Aparece também uma tentativa de relacionar a reutilização de substâncias com a diminuição do impacto sobre o ambiente. Isso são coisas distintas, que podem gerar perspectivas importantes de discussão.

Por último, uma perspectiva de aprofundamento das investigações é o adensamento das informações, ampliando a exploração de bases de dados e suas referências conceituais, bem como a ampliação das discussões.

Como sugestão para futuras pesquisas, principalmente em estudos de caso, deve-se incluir também o aspecto da territorialidade, para além da compreensão dos processos e critérios para execução de um projeto de ecodesign, expandindo a reflexão para o cotidiano e o espaço vivido de envolvidos e interessados.

AGRADECIMENTOS

À CAPES, pela bolsa concedida.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jan-Mar 2018

Histórico

  • Recebido
    22 Maio 2017
  • Revisado
    18 Jun 2017
  • Aceito
    18 Jun 2017
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