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Brasil, Paraguai, Argentina e Chile / Rota Bioceânica: relações culturais no território vivido

Brazil, Paraguay, Argentina and Chile / Bioceanic Route: cultural relations in the lived territory

Brasil, Paraguay, Argentina y Chile / Ruta Bioceánica: relaciones culturales en el territorio vivido

Resumo:

O presente artigo tem como objeto de estudo os países da América Platina envolvidos na Rota Bioceânica e suas relações culturais de vizinhança. O estudo analisa as culturas materiais e imateriais que permeiam este espaço e seus entrelaçamentos na conexão entre o Centro-Oeste brasileiro e o Pacífico. Assim, não basta o foco sobre as questões logísticas que facilitarão o mercado em geral, o agronegócio, a importação e exportação de produtos, mas sim impulsionar os setores empresariais dos quatro países envolvidos na referida Rota. O projeto cria relações de convivências e estreitam as culturas territoriais. Infere-se que a relevância deste trabalho é o de salvaguardar o sentimento de pertença dos cidadãos locais em prol dos direitos de cidadania, por isso, há a necessidade de não se privar a temática como registro a preservação patrimonial. Para a realização do estudo utilizou-se o método dedutivo com uma abrangência sistêmica, por meio de uma investigação criteriosa em arquivos públicos, bibliotecas, livros, jornais, sites, assinalando as obras que fornecerão subsídios ao trabalho em tela. Os resultados apontam evidências que reafirmam e privilegiam a preservação da identidade, história e identificação cidadã.

Palavras-chave:
Rota Bioceânica; relações culturais; território vivido

Abstract:

This article has the countries of Platinum America engaged in the Bioceanic Route as its object of study, as well as its cultural relations of neighborhood. The study analyzes the material and non-material cultures permeating this space and its interlacements in the connection with the Central-West Region of Brazil and the Pacific. Therefore, it’s not enough the focus on the logistical issues that will favor the market in general, the agribusiness, as well as the importation and exportation of products, but rather to stimulate the business sectors of the four countries within the bioceanic route. The project generates relations of coexistence and narrows the territorial cultures. It is inferred that the relevance of this work is to safeguard the sense of place of the local citizens in favor of citizenship rights, thus, there is the need of not depriving the theme as a record of heritage preservation. For the accomplishment of this study, it was used the deductive approach with a holistic comprehensiveness, with a careful investigation in public archives, libraries, books, newspapers, sites, identifying the works that provided support to the present study. The findings indicate evidences that reaffirm and privilege the preservation of the identity, history and citizen identification.

Keywords:
Bioceanic Route; cultural relations; territory lived

Resúmen:

El presente artículo tiene como objeto de estudio los países de América Platino involucrados en la Ruta Bioceánica y sus relaciones culturales de vecindad. El estudio analiza las culturas materiales e inmateriales que permean este espacio y sus entrelazamientos en la conexión entre el Centro-Oeste brasileño y el Pacífico. Así, no basta el enfoque sobre las cuestiones logísticas que facilitarán el mercado en general, el agronegocio, la importación y exportación de productos, sino impulsar los sectores empresariales de los cuatro países involucrados en dicha ruta. El proyecto crea relaciones de convivencia y estrechan las culturas territoriales. Se infiere que la relevancia de este trabajo es el de salvaguardar el sentimiento de pertenencia de los ciudadanos locales en favor de los derechos de ciudadanía, por eso, hay la necesidad de no privar a la temática como registro la preservación patrimonial. Para la realización del estudio se utilizó el método deductivo con un alcance sistémico, por medio de una investigación cuidadosa en archivos públicos, bibliotecas, libros, periódicos, sitios, señalando las obras que proporcionarán subsidios al trabajo en pantalla. Los resultados apuntan evidencias que reafirman y privilegian la preservación de la identidad, historia e identificación ciudadana.

Palabras clave:
Ruta Bioceánica; relaciones culturales; territorio vivido

1 INTRODUÇÃO

A integração física das Américas faz parte de um projeto antigo dos países que compõem o Mercosul, cuja almejada integração se dará por meio de um Corredor Bioceânico, denominação esta derivada do fato de que o Corredor ligará o Oceano Atlântico ao Oceano Pacífico. O Corredor terá um percurso que cruzará quatro países. No Brasil passará pelas cidades de Campo Grande e Porto Murtinho, no Paraguai pelas cidades de Carmelo Peralta, Mariscal José Félix Estigarribia, Boquerón e Pozo Hondo, na Argentina pelas cidades de Misión La Paz, Tartagal, Jujuy e Salta, até chegar ao Chile, aos portos das cidades de Mejillones e Iquique.

Para os países envolvidos, esta ação se apresenta como uma excelente alternativa para o desenvolvimento de processos mais eficientes em relação à logística e à infraestrutura física sul-americana, fomentando o comércio e melhorando a infraestrutura do Corredor. Consequentemente levando o desenvolvimento para as regiões onde irá passar.

Este estudo tem por finalidade apresentar um breve histórico desta iniciativa, utilizando-se como base os acontecimentos a partir do ano 2000, quando efetivamente iniciou-se a ação de integração e cooperação dos países sul-americanos, com o intuito de trabalhar vários Eixos de Integração e Desenvolvimento da América do Sul. Também apresenta um breve contexto socioeconômico dos países por onde o Corredor Bioceânico passará e, por fim, apresenta os aspectos culturais contemporâneos dos espaços vividos, uma vez que as localidades por onde o Corredor passará têm o legado presente em seu patrimônio histórico cultural.

Para a efetivação do estudo a metodologia utilizada está limitada à pesquisa documental e bibliográfica, contemplando o método dedutivo com uma abrangência sistêmica, por meio de uma investigação realizada em artigos, livros, sites do governo, sendo grande parte das pesquisas de origem eletrônica, pois há carência de publicações científicas em relação ao tema abordado. Portanto foram utilizados muitos sites de notícias, matérias de jornais, revistas e jornais on-line.

2 O CORREDOR RODOVIÁRIO BIOCÊANICO

A integração física das Américas, segundo a iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul Americana e do Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (Cosiplan) - Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA) (s.d.[b]), se apresenta como uma necessidade que há muito tempo é discutida, sendo grande a necessidade de se estabelecer processos mais eficientes no que tange à logística e infraestrutura física sul-americana.

De acordo com Cosiplan/IIRSA (s.d.[b])CONSELHO SUL-AMERICANO DE INFRAESTRUTURA E PLANEJAMENTO (COSIPLAN). IIRSA (2000-2010). [S.d.]b. Disponível em: http://www.iirsa.org/Page/Detail?menuItemId=28. Acesso em: 15 mar. 2018.
http://www.iirsa.org/Page/Detail?menuIte...
, em agosto de 2000 ocorreu em Brasília a primeira reunião de Presidentes sul-americanos. Na ocasião iniciou-se uma ação de integração e cooperação para se trabalhar os Eixos de Integração e Desenvolvimento da América do Sul, os quais sofreram algumas alterações em 2004.

De acordo com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES, 2010BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO (BNDES). Avaliação dos Corredores Bioceânicos, 2010. Disponível em: https://www.bndes.gov.br/arquivos/Corredor-bioceanico/Corredor-bioceanico-produto-2.pdf. Acesso em: 23 mar. 2018.
https://www.bndes.gov.br/arquivos/Corred...
), esses eixos de Integração e Desenvolvimento (Quadro 1) referem-se “[...] às faixas multinacionais de território onde se concentram espaços naturais, assentamentos humanos, zonas produtivas e fluxos de comércio, constituindo-se em referência geoeconômica para o planejamento territorial na América do Sul”.

Quadro 1
Eixos de Integração e Desenvolvimento da América do Sul

Estavam presentes à reunião em 2000 em Brasília, 12 países da América do Sul, sendo eles Brasil, Argentina, Bolívia, Chile, Paraguai, Guiana, Colômbia, Peru, Equador, Suriname, Venezuela e Uruguai.

Durante a reunião surgiu a iniciativa para a criação da Iirsa, um organismo institucional que coordenasse as ações intergovernamentais, representando esses doze países sul-americanos, no que se referia à construção de uma agenda comum. A finalidade dessa agenda era impulsionar projetos de integração e infraestrutura de transporte, energia e comunicação. Essa iniciativa, durante seus primeiros 10 anos, se constituiu como um fórum importante desses países, tendo como ações

  • - El desarrollo y aplicación de la Metodología de Planificación Territorial Indicativa que dio como resultado una Cartera consensuada de más de 500 proyectos de infraestructura de transporte, energía y comunicaciones, organizada en nueve Ejes de Integración y Desarrollo (EIDs);

  • - La conformación de la Agenda de Implementación Consensuada (AIC) 2005-2010 que consiste en un conjunto de 31 proyectos prioritarios con fuerte impacto en la integración física del territorio;

  • - El desarrollo de proyectos en materia de Procesos Sectoriales de Integración (PSIs);

  • - El desarrollo y aplicación de nuevas herramientas y metodologías de planeamiento. (COSIPLAN/IIRSA, s.d.[b]CONSELHO SUL-AMERICANO DE INFRAESTRUTURA E PLANEJAMENTO (COSIPLAN). IIRSA (2000-2010). [S.d.]b. Disponível em: http://www.iirsa.org/Page/Detail?menuItemId=28. Acesso em: 15 mar. 2018.
    http://www.iirsa.org/Page/Detail?menuIte...
    , p. 1).

De acordo com Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (MPDG), atual Ministério da Economia, em 2009 foi criado o Conselho Sul-Americano de Infraestrutura. Na ocasião foi decidida a substituição do comitê de Gestão da Iirsa, por um conselho de ministros. “[...] Com essa medida, os países membros buscaram conferir maior suporte político às atividades desenvolvidas na área de integração da infraestrutura, de forma a assegurar os investimentos necessários para a execução de projetos prioritários” (BRASIL, 2015BRASIL. Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão (MPDG). Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento (COSIPLAN). Brasília-DF, 2015. Disponível em: http://www.planejamento.gov.br/assuntos/planejamento-e-investimentos/integracao-sul-americana/cosiplan-conselho-sul-americano-de-infraestrutura-e-planejamento. Acesso em: 20 mar. 2018.
http://www.planejamento.gov.br/assuntos/...
).

A partir de 2011 a Iirsa foi incorporada à União das Nações Sul-Americanas (Unasul), como fórum técnico para questões de planejamento da integração física regional sul-americana.

Para Cosiplan (s.d.[a], p. 25)CONSELHO SUL-AMERICANO DE INFRAESTRUTURA E PLANEJAMENTO (COSIPLAN). História. [S.d.]a. Disponível em: http://www.iirsa.org/Page/Detail?menuItemId=121. Acesso em: 15 mar. 2018.
http://www.iirsa.org/Page/Detail?menuIte...
“Los trabajos de Iirsa entre 2000 y 2010, y del Cosiplan a partir de 2011, se orientaron a la planificación de proyectos de infraestructura como un componente clave del desarrollo de su território”.

Ao longo dos anos, segundo Silva (2013)SILVA, M. C. Os eixos de integração e desenvolvimento da Iirsa: uma análise de regionalização. Orientadora: Marília Steinberger. 2013. Monografia (Bacharelado em Geografia) - Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF, 2013., os Eixos Mercosul-Chile e Andino eram os que apresentavam maior destaque. Ainda segundo Silva (2013, p. 42)SILVA, M. C. Os eixos de integração e desenvolvimento da Iirsa: uma análise de regionalização. Orientadora: Marília Steinberger. 2013. Monografia (Bacharelado em Geografia) - Universidade de Brasília (UnB), Brasília, DF, 2013., “[...] esses dois eixos já apresentam dinâmicas de integração concretas que correspondem aos requisitos técnicos. São áreas com grandes taxas populacionais, comércio regional”. O Corredor Bioceânico é um dos projetos de integração física para o desenvolvimento da região sul-americana, contido nos eixos de Integração e Desenvolvimento da América do Sul.

Em 21 de dezembro de 2015, ocasião em que foi assinada a Declaração de Assunção, a partir de uma reunião que ocorreu no Paraguai, os presidentes do Brasil, Paraguai, Argentina e Chile criaram um Grupo de Trabalho (GT), para a realização de estudos técnicos com a pretensão de dar início às atividades de viabilização de um Corredor Rodoviário Biocêanico, ligasse o Brasil, a partir de Porto Murtinho, no Estado de Mato Grosso do Sul, aos Portos do Norte do Chile (BNDES, 2010BANCO NACIONAL DO DESENVOLVIMENTO (BNDES). Avaliação dos Corredores Bioceânicos, 2010. Disponível em: https://www.bndes.gov.br/arquivos/Corredor-bioceanico/Corredor-bioceanico-produto-2.pdf. Acesso em: 23 mar. 2018.
https://www.bndes.gov.br/arquivos/Corred...
).

De acordo com a matéria do Jornal Topmídia News, de 22 de dezembro de 2017TOPMÍDIA NEWS. Campo Grande, MS, 22 dez. 2017. Disponível em: http://www.topmidianews.com.br/politica/presidentes-de-4-paises-assinam-pacto-para-apressar-Rota-bioceanica/81930/. Acesso em: 14 mar. 2018.
http://www.topmidianews.com.br/politica/...
, no dia 21 de dezembro de 2017, houve em Brasília uma reunião de cúpula dos chefes de Estado do Mercosul, na qual os presidentes Michel Temer (Brasil), Mauricio Macri (Argentina), Michelle Bachelet (Chile) e Horácio Cartes (Paraguai) assinaram a “Carta de Brasília”.

No documento os presidentes se comprometem a acelerar as ações para a implementação do Corredor Rodoviário Bioceânico, Corredor este que ligará o Oceano Atlântico ao Pacífico. A matéria ainda menciona que, para os respectivos presidentes, a viabilização do Corredor Rodoviário Bioceânico possibilitará uma integração produtiva para os países envolvidos, com a criação novos fluxos de comércio e investimentos, sendo gerador de desenvolvimento e emprego, além de possibilitar uma maior integração dos territórios em todo o Corredor.

Outro aspecto enfatizado na matéria do Jornal Topmídia News, de 22 de dezembro de 2017TOPMÍDIA NEWS. Campo Grande, MS, 22 dez. 2017. Disponível em: http://www.topmidianews.com.br/politica/presidentes-de-4-paises-assinam-pacto-para-apressar-Rota-bioceanica/81930/. Acesso em: 14 mar. 2018.
http://www.topmidianews.com.br/politica/...
, é que o Corredor Rodoviário Biocêanico também beneficiará o setor privado, pois haverá maior estrutura em todo o seu percurso. A matéria também menciona as universidades locais e a sociedade civil como de fundamental importância para que ocorra a implementação do Corredor. No documento assinado pelos países envolvidos identifica-se a questão da constituição de redes entre universidades e redes empresariais.

Para o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, cada país terá um foco dentro do Corredor Rodoviário Bioceânico. Para o Brasil, o Estado de Mato Grosso do Sul o agronegócio se beneficiará com uma saída para o Oceano Pacífico, “[...] permitindo tanto o escoamento da produção quanto a importação direta de insumos a preços mais competitivos” (MATO GROSSO DO SUL, s.d.MATO GROSSO DO SUL (Estado). Economia de MS. [S.d.]. Disponível em: http://www.ms.gov.br/a-economia-de-ms/. Acesso em: 16 mar. 2018.
http://www.ms.gov.br/a-economia-de-ms/...
, p. 1). O foco para o Chile será a consolidação de sua plataforma logística e o incremento do comércio entre os países, em especial para as regiões em que o Corredor passará. A Argentina se beneficiará com o fortalecimento do Plano Belgrado, que “[...] prevê investimentos em infraestrutura da ordem de US$ 15 bilhões, na medida em que cruza as Províncias de Salta e Jujuy” (MATO GROSSO DO SUL, s.d.MATO GROSSO DO SUL (Estado). Economia de MS. [S.d.]. Disponível em: http://www.ms.gov.br/a-economia-de-ms/. Acesso em: 16 mar. 2018.
http://www.ms.gov.br/a-economia-de-ms/...
, p. 1). Quanto ao Paraguai o Corredor Rodoviário Bioceânico beneficiará a região do Chaco, local de vegetação semiárida e com densidade populacional baixa, integrando-a ao resto do país.

De acordo com o Jornal O Estado, de 11 de setembro de 2017O ESTADO. Campo Grande, MS, 11 set. 2017. Disponível em: http://www.oe10.com.br/noticia/5973/Rota_bioceanica_esperanaa_de_desenvolvimento. Acesso em: 20 mar. 2018.
http://www.oe10.com.br/noticia/5973/Rota...
, a efetivação do Corredor Bioceânico, no Brasil, não beneficiará somente o Estado de Mato Grosso do Sul, mas também Goiás, o oeste do Paraná, o oeste de São Paulo, Mato Grosso e Minas Gerais.

Informa o Jornal G1, de 5 de setembro de 2017, que o Corredor irá encurtar em 8.000 km a rota marítima das exportações brasileiras dos citados estados fronteiriços de Mato Grosso do Sul para a Ásia. O Corredor irá também impulsionar a integração das culturas e do turismo nas cidades e nos países no seu entorno.

2.1 Países e cidades beneficiadas com a Rota Rodoviária Bioceânica

2.1.1 Brasil

O Brasil conta com uma população estimada em 202.768.562 espalhados em uma superfície de 8.515.759,090 km2 (IBGE, 2012INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA (IBGE). IBGE apresenta nova área territorial brasileira: 8.515.767,049 km2. Agência IBGE Notícias, 27 nov. 2012. Disponível: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/2013-agencia-de-noticias/releases/14318-asi-ibge-apresenta-nova-area-territorial-brasileira-8515767049-km.html. Acesso em: 16 mar. 2018.
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/20...
). Segundo Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços (BRASIL, 2017BRASIL. Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC). Maio tem maior superávit mensal da história. Brasília, 2017. Disponível: http://www.mdic.gov.br/index.php/component/content/article?id=2538. Acesso em: 13 mar. 2018.
http://www.mdic.gov.br/index.php/compone...
), os principais produtos exportados pelo Brasil são minério de ferro, soja e derivados, celulose, cana de açúcar, carne bovina, café, automóveis e carne de frango, entre outros. Segundo a Secretaria de Comércio Exterior, em 2018, o país que mais comprou do Brasil foi a China, seguido dos Estados Unidos, Argentina, Países baixos (Holanda) e Japão. As principais importações vêm dos países: Estados Unidos, China, Alemanha, Argentina e França (OBSERVATORY OF ECONOMIC COMPLEXITY [OEC], 2018aOBSERVATORY OF ECONOMIC COMPLEXITY (OEC). Complexidade econômica do Chile (2018a). Disponível em: https://atlas.media.mit.edu/pt/profile/country/chl/. Acesso em: 15 mar. 2018.
https://atlas.media.mit.edu/pt/profile/c...
, 2018bOBSERVATORY OF ECONOMIC COMPLEXITY (OEC). Complexidade econômica do Paraguai (2018b). Disponível em: https://atlas.media.mit.edu/pt/profile/country/pry/. Acesso em: 15 mar. 2018.
https://atlas.media.mit.edu/pt/profile/c...
, 2018cOBSERVATORY OF ECONOMIC COMPLEXITY (OEC). Complexidade econômica do Brasil (2018c). Disponível em: https://atlas.media.mit.edu/pt/profile/country/bra/. Acesso em: 15 mar. 2018.
https://atlas.media.mit.edu/pt/profile/c...
, 2018d)OBSERVATORY OF ECONOMIC COMPLEXITY (OEC). Complexidade econômica da Argentina (2018d). Disponível em: https://atlas.media.mit.edu/pt/profile/country/arg/. Acesso em: 15 mar. 2018.
https://atlas.media.mit.edu/pt/profile/c...
.

O Brasil é constituído pela união de 26 Estados, o Distrito Federal e 5.570 municípios. Dentre seus Estados, Mato Grosso do Sul se tornou um local estratégico para a efetivação Corredor Rodoviário Bioceânico (IBGE, 2012INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA (IBGE). IBGE apresenta nova área territorial brasileira: 8.515.767,049 km2. Agência IBGE Notícias, 27 nov. 2012. Disponível: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/2013-agencia-de-noticias/releases/14318-asi-ibge-apresenta-nova-area-territorial-brasileira-8515767049-km.html. Acesso em: 16 mar. 2018.
https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/20...
). O Estado se localiza na Região Centro-Oeste e, internamente, faz divisa com o estado de São Paulo, considerado, o mais populoso centro comercial, com maior parque industrial da América Latina, e com os Estados do Paraná, grande produtor de grãos, Minas Gerais, produtor de minérios, de café e de produtos lácteos, Mato Grosso, maior produtor de soja e de milho, e Goiás, com uma produção de grãos bastante diversificada (MATO GROSSO DO SUL, s.dMATO GROSSO DO SUL (Estado). Economia de MS. [S.d.]. Disponível em: http://www.ms.gov.br/a-economia-de-ms/. Acesso em: 16 mar. 2018.
http://www.ms.gov.br/a-economia-de-ms/...
).

Mato Grosso do Sul é o terceiro produtor de alimentos da Região Centro-Oeste e, pela sua localização, é um dos principais acessos ao Mercosul, pois também faz fronteira com a Bolívia e Paraguai. Além de estar interligado por ferrovias, rodovias e hidrovias dos rios Paraná e Paraguai com a Argentina e o Uruguai, “O estado de MS, pela sua localização, tornou-se o principal caminho para a Rota Biocêanica, ligando o Atlântico ao Pacífico” (MATO GROSSO DO SUL, 2016).

No lado brasileiro, Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, é mencionada por Luiz Fernando Buainain, da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e da Ciência e Tecnologia (Sedesc), como um eixo fundamental para a realização do projeto do Corredor Bioceânico, juntamente com Porto Murtinho (CAMPO GRANDE, 2017CAMPO GRANDE (Cidade). CG Notícias - Agência Municipal de notícias de Campo Grande - Rota Bioceânica. Papel de Campo Grande será fundamental, diz Secretário da SEDESC, 05/09/2017. Disponível em: http://www.campogrande.ms.gov.br/cgnoticias/noticias/papel-de-campo-grande-sera-fundamental-na-diz-secretario-da-sedesc/. Acesso em: 20 mar. 2018.
http://www.campogrande.ms.gov.br/cgnotic...
, p. 1). O município de Porto Murtinho situa-se na região sudoeste do Estado, distante 364 quilômetros de Campo Grande. Conforme o Mapa de Oportunidades de Porto Murtinho (SEBRAE, 2015SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (SEBRAE). Mapa de Oportunidades (02/03/2017) - Desenvolvimento Econômico e Territorial de Mato Grosso do Sul: Porto Murtinho - Sudoeste, 2015. Disponível em: http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%20Sebrae/UFs/MS/Anexos/Mapa%20Oportunidades/PORTO%20MURTINHO.pdf. Acesso em: 16 mar. 2018.
http://www.sebrae.com.br/Sebrae/Portal%2...
), o município limita-se, no Estado, com os municípios de Corumbá, Caracol, Jardim, Bonito e Bodoquena e com Carmelo Peralta, no Paraguai, por meio de fronteira molhada do Rio Paraguai.

Em função da fronteira com o Paraguai, de acordo com Mochizuke (2017)MOCHIZUKE, K. C. Influência do atendimento em saúde à estrangeiros em uma cidade fronteiriça Brasileira. Journal Health NPEPS, v. 2, n. 1, p. 241-53, 2017. ISSN 2526-1010., Porto Murtinho recebe fortes influências do lado Paraguaio, principalmente em relação à cultura, uma vez que a comunidade paraguaia, quando necessário, atravessa o rio Paraguai em busca de trabalho, assistência médica ou mesmo de moradia.

Para viabilizar o Corredor Rodoviário Bioceânico, será construída uma ponte binacional (foto 1), para a travessia da cidade de Porto Murtinho, MS, Brasil a Carmelo Peralta, no Paraguai, com investimento dos dois países.

Foto 1
Rio Paraguai - divisa entre Porto Murtinho, Brasil, e Carmelo Peralta, Paraguai

2.1.2 Paraguai

O Paraguai localiza-se na porção centro-sul da América do Sul e faz fronteiras com o Brasil, Argentina e Bolívia. Em 2011 tinha uma população de 7.356.789. Sua área de 406.752 km2, segundo o Portal Brasil Net. Os principais produtos de exportação, segundo a OEC (2018b)OBSERVATORY OF ECONOMIC COMPLEXITY (OEC). Complexidade econômica do Paraguai (2018b). Disponível em: https://atlas.media.mit.edu/pt/profile/country/pry/. Acesso em: 15 mar. 2018.
https://atlas.media.mit.edu/pt/profile/c...
, são eletricidade, soja, farelo de soja, carne bovina congelada e carne bovina. Seus principais parceiros comerciais são Brasil, Argentina, Rússia, Chile e Itália. E suas principais importações vêm do Brasil, dos Estados Unidos, da China, da Argentina e do Chile. O Paraguai é composto por dezessete departamentos e o distrito capital de Assunção. Conta com 254 municípios, de acordo com a Secretaria Nacional de Tecnologias de La Información y Comunicación del Paraguay.

O Corredor Rodoviário Bioceânico passará por três municípios do Paraguai. O primeiro é o de Carmelo Peralta, que pertence ao Departamento de Alto Paraguai, localizado no Chaco Paraguaio, e faz divisa com o município de Porto Murtinho, no Brasil. Carmelo Peralta possui cerca de 4 mil habitantes e sua economia é baseada na pecuária e o turismo de pesca. De acordo com o Jornal Fronteira News, de 5 de maio de 2017FRONTEIRA NEWS. Bela Vista MS. Carmelo Peralta completa dez anos e homenageia os fundadores. Porto Murtinho, 5 maio 2017. Disponível em: http://fronteiranews.com/carmelo-peralta-completa-dez-anos-e-homenageia-os-fundadores/. Acesso em 17 de mar.2018.
http://fronteiranews.com/carmelo-peralta...
, Carmelo Peralta “atrai os amantes da pesca esportiva do Brasil”.

O Corredor Rodoviário Bioceânico passará ainda pelo distrito de Mariscal José Félix Estigarribia. Segundo o Jornal ABC Color (2003)ABC COLOR. Los Departamentos del Paraguay y sus capitales, 09/09/2003. Disponivel em: http://www.abc.com.py/articulos/los-departamentos-del-paraguay-y-sus-capitales-716545.html. Acesso em: 10 mar.2018.
http://www.abc.com.py/articulos/los-depa...
, este distrito faz parte do Departamento de Boquerón. Além dessas localidades, o Corredor também passará por Pozo Hondo, povoado que faz parte do distrito de Mariscal José Feliz Estigarribia, já na fronteira com a Argentina, na região de Misión La Paz.

O Jornal ABC Color menciona em sua matéria de 8 de janeiro de 2012, que Pozo Hondo está localizado a 750 km da capital Assunção, nas margens do rio Pilcomayo, na área de fronteira com Argentina e Bolívia. É habitada por cerca de 50 famílias, das quais 30 são instaladas na área urbana e as demais distribuídas em uma série de estabelecimentos de gado da região.

Em relação à ponte do rio Pilcomayo, entre o Paraguai e a Argentina (Foto 2), o Jornal ABC Color (2013)ABC COLOR. Assunção - Paraguai, 16/12/2013. Disponível em http://www.abc.com.py/nacionales/pilcomayo-con-aguas-normales-650583.html. Acesso em: 15 mar. 2018.
http://www.abc.com.py/nacionales/pilcoma...
menciona que esta é usada como um ponto de encontro social entre os habitantes de Pozo Hondo e Misión La Paz. Aos sábados a população lá se encontra para conversar. Tudo parece girar em torno da ponte.

Foto 2
Ponte que liga Pozo Hondo Paraguai e Missión La Paz na Argentina

2.1.3 Argentina

A Argentina limita-se ao norte com a Bolívia e Paraguai, ao leste com o Oceano Atlântico, a nordeste com o Uruguai e Brasil. Com o Chile seu limite é pela Cordilheira dos Andes. A Argentina possui uma área de 3.761.274 km2 e 40.117.096 milhões de habitantes (INSTITUTO IGN, s.d.INSTITUTO IGN. Ministério de Defesa Presidência de la Nación. Cantidad de departamentos o partidos por provincia. República Argentina, [s.d.] Disponível em: http://www.ign.gob.ar/NuestrasActividades/Geografia/DatosArgentina/Departamentos. Acesso em: 17 mar. 2018.
http://www.ign.gob.ar/NuestrasActividade...
). Sua capital é Buenos Aires e o país está dividido em 23 províncias e 512 departamentos (INSTITUTO IGN, s.d.INSTITUTO IGN. Ministério de Defesa Presidência de la Nación. Cantidad de departamentos o partidos por provincia. República Argentina, [s.d.] Disponível em: http://www.ign.gob.ar/NuestrasActividades/Geografia/DatosArgentina/Departamentos. Acesso em: 17 mar. 2018.
http://www.ign.gob.ar/NuestrasActividade...
).

Seus principais produtos de exportação conforme OEC (2018d)OBSERVATORY OF ECONOMIC COMPLEXITY (OEC). Complexidade econômica da Argentina (2018d). Disponível em: https://atlas.media.mit.edu/pt/profile/country/arg/. Acesso em: 15 mar. 2018.
https://atlas.media.mit.edu/pt/profile/c...
são farelo de soja, milho, óleo de soja, soja e caminhões de entrega. Seus principais compradores são o Brasil, os Estados Unidos, a China, o Vietnã e o Chile. Suas principais importações vêm do Brasil, dos Estados Unidos, da China, da Alemanha e do México.

As cidades de Misión La Paz, Tartagal, Jujuy e Salta fazem parte o futuro trajeto do Corredor Rodoviário Bioceânico. Missión La Paz, na província de Salta, faz fronteira com o povoado de Pozo Hondo no Paraguai, separados pela ponte do rio Pilcomayo. A cidade de Tartagal pertence ao departamento General José de San Martín, província de Salta, a 57 km da Bolívia. Segundo dados do Município de Tartagal (s.d.)TARTAGAL (Cidade). Historia de nuestra ciudad. [S.d.]. Disponível em: http://www.tartagal.gob.ar/about-city/. Acesso em: 19 mar. 2018.
http://www.tartagal.gob.ar/about-city/...
, a cidade é formada por grande diversidade cultural. Habitam no município sete etnias aborígenes, isto é, os wichís (o weenhayek), os chiriguanos, os chanés, os quechuas, os chorotes, os chulupíes e os aymaras. Outro elemento importante é a questão da fronteira com a Bolívia, onde há um percentual grande de habitantes originários da Bolívia.

O Corredor Rodoviário Bioceânico também passará pela província de Jujuy, ainda em território Argengino. Para Massarolo (2018, p. 1)MASSAROLO, J. As cores de Jujuy, no norte da Argentina. Correio Popular, Campina, SP, 16 jan. 2018. Disponível em: http://correio.rac.com.br/_conteudo/2018/01/turismo/515495-as-cores-de-jujuy-no-norte-da-argentina.html. Acesso em: 17 mar. 2018.
http://correio.rac.com.br/_conteudo/2018...
, Jujuy conserva os costumes dos povos que ali viviam antes da chegada dos conquistadores espanhóis, sendo esta “[...] A marca do que se pode chamar de resistência cultural se encontra no tipo físico dos nativos (mestiços de índios quechuas e calchaquis ou por outras etnias emigradas de países vizinhos)”.

2.1.4 Chile

O Chile tem fronteira com Argentina, Bolívia Peru e Oceano Pacífico, com uma área territorial de 756.950 km2 e uma população de 17.067.369 (Portal Brasil, Censo 2012). O Chile é formado por 15 regiões, 54 províncias e 34 comunas (SUB-SECRETARIA DE DESARROLLO REGIONAL Y ADMINISTRATIVO [SUBDERE], s.d.SUB-SECRETARIA DE DESARROLLO REGIONAL Y ADMINISTRATIVO - (SUBDERE). Regiones, Provincias Y Comunas de Chile. [S.d.]. Disponível em: http://www.subdere.cl/documentacion/regiones-provincias-y-comunas-de-chile. Acesso em: 20 mar. 2018.
http://www.subdere.cl/documentacion/regi...
). Seus principais produtos de exportação, de acordo com a OEC (2018a)OBSERVATORY OF ECONOMIC COMPLEXITY (OEC). Complexidade econômica do Chile (2018a). Disponível em: https://atlas.media.mit.edu/pt/profile/country/chl/. Acesso em: 15 mar. 2018.
https://atlas.media.mit.edu/pt/profile/c...
, são minério de cobre, cobre refinado, sulfato de celulose química, filetes de peixe e vinhos. Seus principais compradores são a China, os Estados Unidos, o Japão, a Coreia do Sul e o Brasil. E suas maiores importações vêm dos Estados Unidos, da China, do Brasil, da Alemanha e da Argentina.

No Chile fazem parte do Corredor Bioceânico Mejillones e Iquique. Mijillones é uma das comunas que pertence a província de Antofagasta na Região de Antafogasta e Iquique é uma das comunas da província de Iquique na região de Tarapacá (SUBDERE, s.d.SUB-SECRETARIA DE DESARROLLO REGIONAL Y ADMINISTRATIVO - (SUBDERE). Regiones, Provincias Y Comunas de Chile. [S.d.]. Disponível em: http://www.subdere.cl/documentacion/regiones-provincias-y-comunas-de-chile. Acesso em: 20 mar. 2018.
http://www.subdere.cl/documentacion/regi...
).

Mejillones segundo Senatur (PARAGUAI, s.d.PARAGUAI. Ministerio de Economia, Fomento y Turismo. Secretaría Nacional de Turismo (SENATUR), [s.d.]. Disponível em: http://www.chileestuyo.cl/#. Acesso em: 20 mar. 2018.
http://www.chileestuyo.cl/#...
), é um lugar de vida pacífica e extensas praias com águas tranquilas. Em Mejillones existem locais de mamíferos, como lontras de mar, leões marinhos comuns e do Sul, como também é possível observar espécies diversas de golfinhos. A cidade também propicia pesca esportiva e em alto mar. Iquique, de acordo com a Senatur (PARAGUAI, s.d.PARAGUAI. Ministerio de Economia, Fomento y Turismo. Secretaría Nacional de Turismo (SENATUR), [s.d.]. Disponível em: http://www.chileestuyo.cl/#. Acesso em: 20 mar. 2018.
http://www.chileestuyo.cl/#...
), é uma cidade de praias extensas. A sua zona franca faz com que receba milhares de visitantes no ano. Além do comércio a cidade também oferece uma cozinha variada, uma mistura de sabores de países vizinhos.

Ambas são zonas portuárias (Fotos 3 e 4) situadas na costa norte do Chile, no Oceano Pacífico. Elas são a última parada para o transporte terrestre de cargas do Corredor Rodoviário Bioceânico.

Foto 3
Porto de Iquique

Foto 4
Porto de Mejillones

3 O PATRIMÔNIO HISTÓRICO CULTURAL NO CORREDOR BIOCEÂNICO

Em relação aos estudos histórico-culturais dos países do cone sul da América do Sul, sendo dois na zona de influência do Oceano Atlântico, isto é, o Brasil e a Argentina, um na zona de influência do Rio Paraguai, isto é o Paraguai, e um na zona de influência do Oceano Pacífico, ou seja, o Chile, que compõem o conjunto do Corredor Rodoviário Bioceânico, é preciso refletir sobre estes aspectos nesses espaços vividos tendo em vista a preservação do patrimônio histórico-cultural neles existentes.

3.1 Primeiras Rotas Oceânicas de intercâmbio no cone sul: Brasil, Paraguai, Argentina e Chile

Com a pretensão de iniciar esse processo reflexivo e informativo sobre as primeiras rotas, é importante analisar e situar a presença de seus primeiros habitantes, aspecto fundamental para o traçado cultural do espaço em discussão que moldou a sua história e engendrou o seu patrimônio.

A data da primeira resolução do nosso país não pode ser especificada. Este fenômeno está ligado à ocupação do continente americano. Há muito tempo atrás, e simultaneamente com o avanço do gelo, a América e a Ásia foram unidas por meio de uma ponte de terra localizada no que hoje chamamos de Estreito de Behring. (VILLALOBOS, 2004VILLALOBOS, S.História de Chile. Santiago: Editorial Universitaria, 2004., p. 4, tradução das autoras).

Conforme análise do autor citado acima em sua obra História de Chile, a ocupação de seu país está ligada à ocupação do continente americano pelo estreito de Behring que liga os oceanos Pacífico e Ártico. A formação do gelo causou um baixo nível de água no Pacífico, facilitando a ligação entre a Ásia e a América. A hipótese mais aceita pelos cientistas é a de que esse foi o caminho feito pelos seres humanos que migraram da Ásia para a América, ao qual hoje de forma genérica foi realizado pelos chamamos indígenas. Esta é a explicação para a existência dos primeiros habitantes na região dos países que compõem o Corredor Bioceânico.

É relevante assinalar que os primeiros povos que adentraram o continente americano, deixaram não só um imenso legado rico sobre a maneira como sobreviveram e sobrevivem, a religiosidade e os aspectos culturais. Para Peregalli (1994)PEREGALLI, E. A América que os europeus encontraram. São Paulo: Atual, 1994. os Incas, por exemplo, se transformaram em focos irradiadores, influenciando os araucanos no Chile e no Brasil e por outro lado os Guarani, povo que habitou o Paraguai e se espalhou também pelo território brasileiro de Mato Grosso do Sul, também absorveram influência de focos irradiadores provenientes do Peru e da Bolívia. Sarissa Araújo (ARQUIVO DE NOTÍCIAS UFJF, 2009ARQUIVO DE NOTÍCIAS UFJF. Professora da Universidade do Chile participa de conferência no ICH. set. 2009. Disponível em: http://www.ufjf.br/secom/2009/09/14/professora-da-universidade-do-chile-participa-de-conferencia-no-ich/. Acesso em: 27 mar. 2018.
http://www.ufjf.br/secom/2009/09/14/prof...
) também argumenta que

O primeiro europeu a reconhecer o território chileno foi o português Fernão de Magalhães, na sua tentativa de circunavegação do planeta sob as ordens de Carlos I, Rei da Espanha. Magalhães descobriu o estreito que liga o Pacífico ao Oceano Atlântico, em 1º de novembro de 1520, data que a historiografia chilena considera como a do descobrimento do território do país. O primeiro explorador de grande parte do território chileno foi o militar espanhol Diego de Almagro, sócio de Francisco Pizarro na conquista do Peru.

Em 1540, Pedro de Valdívia levou a cabo uma segunda expedição, com a qual se iniciou o período da conquista. Finalizada essa etapa, iniciava-se um período que duraria mais de dois séculos, durante os quais se ampliaria e consolidaria a dominação espanhola no território, com resistência dos indígenas mapuches. O Reino do Chile constituía administrativamente uma capitania-geral com capital em Santiago.

Quanto aos territórios da Argentina e do Paraguai, estes foram visitados por Juan Diaz de Sóliz. Em 1516-1517 foi oficializada a conquista do território aos espanhóis. Ao mesmo tempo, por rotas marítimas e fluviais, subordinaram as nações indígenas do cone sul do continente sul-americano. A conquista do Brasil se deu a partir de 1500, com Pedro Álvares Cabral. Diferentemente dos indígenas marcados pela influência dos Incas, os indígenas brasileiros constituíam ainda tribos seminômades que subsistiam da caça, pesca, coleta e agricultura.

Foram os conquistadores que, viajando por vias marítimas e fluviais, passaram a estabelecer contato com os povos indígenas locais. Esse contato produziu o entrelaçamento entre o europeu e o nativo e possibilitou o entrelaçamento das culturas a ponto de construir um legado cultural e patrimonial que atualmente a história está procurando colocar em destaque. Em relação ao passado histórico que está presente nos países que farão parte do Corredor Bioceânico pode-se afirmar que houve,

Neste contexto, a formação de uma identidade [que] pode também se relacionar aos vários fatores distintos e apresentar elementos de análise, que segundo Castells (1996) estabelece a partir de uma identidade legitimadora ou de resistência sob a perspectiva de sociedade civil. Contudo, o autor observa que: “A construção de identidades vale-se de matéria-prima fornecida pela história, geografia, biologia, instituições produtivas e reprodutivas, pela memória coletiva e por fantasias pessoais, pelos aparatos de poder e revelações de cunho religioso”. (SOUZA, 2012SOUZA, A. América Latina, conceito e identidade: algumas reflexões da história.PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP, Macapá, v. 4, n. 4, p. 29-39, 2012., p. 23).

Podem-se identificar, com a implementação do projeto do Corredor, os sinais de desenvolvimento da identidade desses locais. Estes podem ser avaliados com mais ênfase pelo viés geográfico, pelas instituições produtivas e reprodutivas e pelos aparatos de poder. Foram estes os aspectos que engendraram a história comum, a memória coletiva, as fantasias pessoais e a vivencia religiosa, presentes nos locais por onde passará o Corredor Bioceânico.

Dessa forma, as ligações entre a problemática da identidade e o patrimônio histórico cultural resultam as exigências para que possam acontecer a rotatividade, a mobilidade e a certificação do que se quer eleger como herança do passado que molda as formas de representação do presente. Percebe-se com a influência temporal que os símbolos patrimoniais que não desfrutaram de continuidade histórica em certas localidades.

3.2 Patrimônio Histórico Cultural nos caminhos do Corredor Bioceânico

Quanto à origem da palavra patrimônio esta é antiga. Seu percurso e sua aplicabilidade foram ganhando roupagens com o passar do tempo, sem desgaste de sua essência. Funari e Pelegrini (2006)FUNARI, P. P.; PELEGRINI, S. C. A.Patrimônio histórico e cultural. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. destacam que todo o processo histórico percorrido pelo termo até os dias atuais ainda se encontra em desenvolvimento. Eles assinalam que a palavra patrimônio é de origem latina, patrimonium, que se referia, entre os antigos romanos, a tudo o que pertencia ao pai, pater ou pater famílias, pai de família. O termo ganha, assim, parâmetros de natural, religioso, público, individual, coletivo, material e imaterial, dependendo do contexto ao qual se insere.

O termo também recebe amparo legal, por meio de formas e leis que regem o patrimônio histórico cultural brasileiro e estão presentes na Constituição Federal Brasileira de 1988, nas Leis de Diretrizes e Base da Educação (Lei n. 9.394/1996) e no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) entre outras.

Para Yánez Casal (1999)YÁNEZ CASAL, A. Património e modernidade. In: ENCONTRO NACIONAL DE MUSEOLOGIA E AUTARQUIAS, 4., 29-31 de outubro de 1993, Tondela. Actas [...]. Tondela: Câmara Municipal, 1999. p. 57-61., o patrimônio trabalha com memória, que é sinal da relação humana com o tempo e é no tempo contemporâneo que ela se manifesta. Por isso, Choay (2001)CHOAY, F.A alegoria do patrimônio. São Paulo: Unesp, 2001. destaca que o culto que se rende atualmente ao patrimônio histórico deve merecer de mais do que uma simples aprovação. O patrimônio precisa ser questionado, por ser um elemento revelador da cultura local.

O mapeamento dos caminhos Corredor Bioceânico, por um prisma histórico patrimonial e cultural, assinala a junção de países fronteiriços com um olhar que vai além de simples contemplação, pois requer uma análise de pertencimento por ser espaço que já mantém redes culturais conectoras. O início proposto para os caminhos do Corredor, como sinaliza o mapa 1, é a cidade de Campo Grande, no Brasil, seguindo por Porto Murtinho, MS; no Paraguai passará por Carmelo Peralta, Mariscal Estigarribia e Pozo Hondo; no território argentino passará pelas localidade de Misión La Paz, Tartagal, Jujuy e Salta; no território chileno passará por Passo de Jama, até alcançar os portos de Antofagasta, Mejillones e Iquique.

Mapa 1
Rota Bioceânica

Em observação ao espaço em pesquisa, o propósito desta não é exaurir estes em todos os seus aspectos históricos patrimoniais culturais, mas apontar objetos relevantes que marcam sua identidade e suas influências de vizinhanças.

3.2.1 Campo Grande e Porto Murtinho

Em Campo Grande, o aspecto cultural (material e imaterial) é caracterizado por pessoas que se estabeleceram na localidade deixando sua herança. Dentre as culturas que merecem destaque estão os indígenas de diversas etnias, os europeus (espanhóis, portugueses e italianos), os sírio-libaneses, os japoneses, os paraguaios e os bolivianos, entre outros. Quanto a Porto Murtinho, MS,

[...] a formação populacional do município de Porto Murtinho tem presente nas suas raízes a contribuição cultural das nações: Kadiwéu, Terena e também dos indígenas paraguaios Ayoréo, além da contribuição dos próprios paraguaios que migraram para a cidade. Assim, todos esses povos indígenas e paraguaios estão muito presentes nas manifestações culturais do povo murtinhense [...] outro aspecto importante, na cultura da população de Porto Murtinho, é a religiosidade, cuja maior devoção é expressa pelos fiéis a Nossa Senhora de Caacupé. (HEYN, 2003HEYN, C. A. Desenvolvimento local endógeno: análise de experiência em Porto Murtinho-MS. Orientador: Vicente Fideles de Ávila. 2003. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Local) - Universidade Católica Dom Bosco, Campo Grande, MS, 2003., p. 56).

A população de Porto Murtinho abraçou os nativos e acolheu os vizinhos paraguaios, compondo a base cultural local. Com a cultura paraguaia os murtinhenses têm em comum a devoção a Nossa Senhora de Caacupé. Além disso, os habitantes locais estabeleceram com os paraguaios laços econômicos profundos.

As relações sul-mato-grossenses com o Paraguai não se dão apenas por Porto Murtinho. Estas são feitas por um espaço fronteiriço extenso, que se estende até à Argentina. Podem-se citar, com relação ao Paraguai, sinais comuns como a chipa, a sopa, o tereré e a polca, entre outros. No caso da Argentina, o tango, considerado pela Organização para a Educação, a Ciência e a Cultura das Nações Unidas (Unesco), patrimônio cultural da humanidade (CAFESEMPO, 2015CAFESEMPO. Curiosidades sobre o tango. 2015. Disponível em: http://cafesempo.com.br/10-curiosidades-sobre-o-tango. Acesso em: 1º abr. 2018.
http://cafesempo.com.br/10-curiosidades-...
).

Os lugares, ainda que reestruturados em função de estratégias globais, mantêm uma identidade, se assentam em especificidades socioculturais e formam a base das relações de produção e organização do território. (VIEIRA; VIEIRA; KNOPP, 2010VIEIRA, M. M. F.; VIEIRA, E. F.; KNOPP, G. C. Espaço global: território, cultura e identidade.Revista Administração em Diálogo - RAD, São Paulo, v. 12, n. 2, p. 1-19, 2010., p. 10).

Acompanhando as ideias propostas pelos autores, todas as influências globais que o território recebe não interferem em sua identidade, mas percebe-se que o local de fronteira se assenta em especificidades com interações socioculturais, sendo este construído por consecutivas ações heterógenas, endógenas e exógenas. Seu território é marcado pela troca cultural e pela multiculturalidade.

3.2.2 Chaco ou Gran Chaco

O Chaco, ou Gran Chaco (território de caça), é habitado por indígenas de diversas etnias. Trata-se de um território que abrange partes do territórios da Bolívia, Argentina, Paraguai e Brasil. No Brasil, o Chaco é conhecido como Pantanal.

Chaco é uma palavra de origemquechua, portanto andina, que significa “lugar de caça”, por causa da riqueza da flora e da fauna que possuía nos tempos pré-colombianos. Havia nesta região muitos grupos indígenas e eram quatro as principais famílias linguísticas: oguaycurú, com diversos grupos étnicos como ostobas, mocovís, abipones, pilagás, mbayás, caduveos e payaguás. Em segundo lugar osmataco, onde se incluíam osmataguayo, ostonocoté, entre outros. Em terceiro lugar, podemos referir a línguavilelaque inclui a etnia com o mesmo nome, oslulee oschunupí. Por fim, encontramos também na região chaquenha indígenas pertencentes à grande famíliaguarani. (TEMPO AMERÍNDO, 2013TEMPO AMERÍNDO. O grande Chaco. Jan. 2013. Disponivel em: https://ancientamerindia.wordpress.com/2013/01/13/o-grande-chaco/. Acesso em: 1º abr. 2018.
https://ancientamerindia.wordpress.com/2...
).

Quanto às etnias indígenas da região, estas se dedicam à caça e à coleta. No lado do Brasil, os Guaycurú são cavaleiros e os Payaguá são canoeiros. Diante disso pode-se inferir que os habitantes do Chaco apresentam um verdadeiro caleidoscópio cultural.

Os povos indígenas do Chaco eram numerosos. Por causa de sua subsistência como caçadores, coletores e pescadores, as unidades tribais não eram muito maiores do que as famílias ampliadas. No entanto, dentre os diversos dialetos, os antropólogos descreveram algumas importantes associações lingüísticas: o Guaycurú, a Lengua, o Wichí, o Zamuco e o Guarani. (MARTIN; WEBB; MILLER, s.d.MARTIN, G. E.; WEBB, K. E.; MILLER, M. D. H. Gran Chaco. Encyclopædia Britannica. [S.d.]. Disponível em: https://www.britannica.com/place/Gran-Chaco. Acesso em: 1º abr. 2018.
https://www.britannica.com/place/Gran-Ch...
, p. 1).

São de essencial importância às informações oferecidas pelo site acima. A menção de que os povos indígenas do Chaco eram numerosos comprova a destruição do parque humano existente antes da conquista do território pelos europeus. A atividade desses caçadores, coletores e pescadores, ou canoeiros e cavaleiros foi descrita por antropólogos como Pierre Clastres (1934-1977), em seu livro A sociedade contra o Estado. Suas línguas principais são o Guarani, o Guaycuru, a Lengua e o Wichí.

3.2.3 Argentina

Sobre a Argentina, pesquisas e matérias divulgadas na mídia apontam para uma diversidade baseada na cultura europeia em que

[...] os povos que hoje habitam a Argentina são bastante variados, são pessoas da Itália, Alemanha, Inglaterra, Espanha, Basco, e os Irlandeses. Por causa de sua forte migração europeia, isso influenciou o desaparecimento de culturas pré-colombianas, deixando a atual falta de dominantes populações indígenas. [...] pequenas populações de japoneses, chilenos, bolivianos, paraguaios, uruguaios e também são encontrados espalhados por todo o país. (AMAUTASPANISH, 2015AMAUTASPANISH. Amauta Escola de Espanhol. 2015. Disponível em: http://www.amautaspanish.com/portuguese/destinos/aprender-espanhol-na argentina/argentina-visao/cultura-e-sociedade-195.html. Acesso em: 1º abr. 2018.
http://www.amautaspanish.com/portuguese/...
).

Quanto à população negra na Argentina, necessita:

Para entender os esforços realizados pelos militantes afro-argentinos, é necessário considerar dois fatores contextuais que os condicionam e limitam. O primeiro é a existência de “uma narrativa dominante da nação” que, ao invés das vigentes em outros países latino-americanos, não glorifica a mestiçagem, mas a brancura. [...] “narrativa dominante” se caracteriza por apresentar a sociedade argentina como branca, européia, moderna, racional e católica. Invisibiliza, portanto, as diferentes presenças e contribuições étnicas e raciais e, quando estas aparecem, as situa na distância temporária (no passado) ou geográfica (em áreas remotas, longe da capital, epicentro geográfico da Argentina branca e europeia). A respeito dos afro-argentinos, enfatiza seu adiantado desaparecimento e a irrelevância de suas contribuições à cultura local e se caracteriza, além disso, por uma notável cegueira quanto aos processos de mestiçagem e hibridação cultural. (FRIGERIO; LAMBORGHINI, 2009FRIGERIO, A.; LAMBORGHINI, E. Criando um movimento negro em um país “Branco”: ativismo político e cultural afro na Argentina. Afro-Ásia, Salvador, n. 39, 2009. Disponível em: https://portalseer.ufba.br/index.php/afroasia/about/contact. Acesso em: 12 mar.2018.
https://portalseer.ufba.br/index.php/afr...
, p. 156-7).

Frigerio e Lamborghini (2009)FRIGERIO, A.; LAMBORGHINI, E. Criando um movimento negro em um país “Branco”: ativismo político e cultural afro na Argentina. Afro-Ásia, Salvador, n. 39, 2009. Disponível em: https://portalseer.ufba.br/index.php/afroasia/about/contact. Acesso em: 12 mar.2018.
https://portalseer.ufba.br/index.php/afr...
afirma que a história afrodescendente na Argentina é sistematicamente negada e, inclusive, menosprezada e ocultada. Os afro-argentinos não vivem em comunidades, mas dispersos por todo o país e nem sempre são cotados como cidadãos argentinos. Alguns pontos do patrimônio natural merecem destaque, como demonstram as fotos 5 e 6:

Foto 5
Quebrada de Humahuaca - Cerro de los Siete Colores, Purnamarca

Foto 6
Um mirante com vista a um cerro com 33 tons (Hornocal, província de Jujuy)

A exuberância natural da Argentina compõe seu patrimônio natural e exerce o poder de contemplação humana. Assim, as regiões de Quebrada de Humahuaca - Cerro de los Siete Colores e Purnamarca, apresentam uma visão de propriedades que se estabeleceram atrás ou em frente do acidente geográfico, dependendo do foco apreciativo particular, de montanhas coloridas que se misturam à vida humana em meio a paisagem natural. Observa-se que na província de Jujuy em Hornocal pode-se apreciar o cerro com 33 tons. Ainda em Jujuy, em um passeio por entre as colinas avistam-se as sete cores das montanhas que a cercam, podendo se deparar também com grandes salinas do norte argentino. Em Talampaya, província de La Rioja, depara-se com uma beleza e impetuosidade, com uma encosta vertical e avermelhada. Ainda na província de La Rioja, aprecia-se a quebrada dos condores, uma espécie de pássaro da região. Em Salta, pode-se contemplar a quebrada das conchas.

O conceito de paisagem cultural, [...] congrega os vários aspectos e as várias abordagens correntes no campo da preservação do patrimônio, considerando sua interdisciplinaridade e a necessidade de superação da fragmentação ainda praticada. Partindo-se de uma concepção mais alargada e integradora entre a ação do homem e a natureza e entre os patrimônios material e imaterial, adotar a paisagem como patrimônio pressupõe, ao passo que admite, o constante movimento e as relações intrínsecas e inseparáveis entre conceitos e abordagens da história, da sociologia, da antropologia, da memória, da arte, da cultura, da ecologia e suas correspondências no meio físico, seja na edificação, nos objetos ou nos territórios - urbano, rural ou natural. (FIGUEIREDO, 2013FIGUEIREDO, V. G. B. O patrimônio e as paisagens: novos conceitos para velhas concepções? Paisagem e Ambiente, São Paulo, n. 32, p. 83-118, dez. 2013. ISSN 2359-5361. Disponível em: http://www.periodicos.usp.br/paam/article/view/88124/91004. Acesso em: 9 abr. 2018. doi:http://dx.doi.org/10.11606/issn.2359-5361.v0i32p83-118
http://www.periodicos.usp.br/paam/articl...
, p. 83-118).

Analisar a paisagem como bem cultural do território argentino permite o contato com os testemunhos do passado, dos turistas e dos moradores e o seu relacionamento com o meio. Além disso permite o contato com as culturas locais, com as práticas, as crenças e as tradições que são mecanismos que servem para identificar e justificar os valores reconhecidos como patrimônio cultural/natural e buscar os meios para a sua preservação.

3.2.4 Chile

Quanto ao Chile, o destino final ou o começo do Corredor Bioceânico, a ele se abre a possibilidade do encontro com o Brasil, o Paraguai e a Argentina com suas características culturais, econômicas e turísticas. O contato se dará também pela culinária e pelas bebidas, pelas músicas e pelas danças folclóricas, pela história e pelas simbologias. Tudo isso faz parte do patrimônio comum e, consequentemente, de sua cultura (Fotos 7 e 8).

Foto 7
Centolla (centóia) - “Caranguejo Gigante”

Foto 8
Os Locos (como são chamados no Chile) ou Chanque (como são chamados no sul do Peru)

A alma do lugar está exatamente nos afazeres da população que o habita. Entre as lides diárias estão a maneira de se alimentar e comemorar suas festas. Assim é o norte chileno, reflexo cultural de uma história pautada por povos que ali chegaram e criaram a sua cultura. Entre eles estão indígenas de diversas etnias e os colonizadores.

Em relação à gastronomia, afirma-se que ali sobrevivem características alimentares que não diferem dos parceiros do cone sul sul-americano e muito menos do restante do país. As iguarias marcantes escolhidas para a discussão cultural local estão representadas nos frutos exóticos marítimos, como a centolla (centóia), o Caranguejo Gigante, os locos e mexilhões, expressando seu teor cultural culinário também com o ensopado Porotos Granados, a bebida Pisco Sour, que se transformou numa marca cultural chilena.

A singularidade do folclore chileno se destaca por seus trajes coloridos, que remetem às vestes incaicas e por vezes também às pompas dos colonizadores europeus, principalmente nos vestidos armados com babados exuberantes. Esses adereços são usados para apresentações das danças regionais do trote, do cachimbo e da cueca nordina.

Como realidade transcendente, a fronteira é um limite sem limites que aponta para um além. É conceito impregnado de mobilidade, princípio este tão caro à história. Se a fronteira cultural é trânsito e passagem, que ultrapassa os próprios limites que fixa, ela proporciona o surgimento de algo novo e diferente, possibilidade pela situação exemplar do contato, da mistura, da troca, do hibridismo, da mestiçagem cultural e étnica. (PESAVENTO, 2002PESAVENTO, S. J. Além das fronteiras - fronteiras culturais. São Paulo: Ateliê Editorial, p. 35-39, 2002., p. 66-7).

As fronteiras culturais precisam ser analisadas a partir da multiculturalidade. Estas não dizem respeito aos limites políticos, mesmo que estes sejam fundamentais para representarem seu ponto de origem. Com o avanço da globalização, em especial no aspecto econômico, que também está conectado com as questões sociais, é importante pensar que não se pode negar a velocidade que a cultura de um território se renova com as necessidades surgidas em âmbito econômico, religioso, cultural e social.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os países cone sul do continente sul-americano, isto é, Brasil, Paraguai, Argentina e Chile, envolvidos no projeto do Corredor Rodoviário Bioceânico, desde suas origens, desenvolveram contatos de vizinhança, que se conectam não só por elementos culturais comuns, mas também por amplas redes de conexões econômicas.

Culturalmente, o cone sul em estudo, mais especificamente o Brasil, Paraguai e Argentina, é conhecido por seus símbolos comuns, com os hábitos gastronômicos da chipa, da sopa paraguaia, do tereré, do churrasco e do café. Quanto aos aspectos culturais esses se conectam pela dança, pelos ritmos e pelo sentimento religioso. Nisso se destacam a polca paraguaia, o tango e a devoção a Nossa Senhora de Caacupé. O Chile dialoga culturalmente mais com a Argentina e compartilha com ela as apresentações folclóricas, marcadas pelas vestimentas coloridas, herança comum com os povos indígenas que habitaram o local antes da chegada dos espanhóis.

Com a projeção do Corredor Rodoviário Bioceânico é fato o desenvolvimento de um mercado econômico não só para a região, mas por meio de planos que possibilitem atender aos estados de Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo e Paraná. O que está posto na argumentação deste artigo é que, na mesma medida que se deslancham as interações econômicas, haverá também o entrecruzamento das questões culturais.

REFERÊNCIAS

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Set 2019
  • Data do Fascículo
    2019

Histórico

  • Recebido
    07 Dez 2018
  • Revisado
    24 Fev 2019
  • Aceito
    05 Abr 2019
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